Se a gente se casar domingo?

De thalytamartiins

3.5K 1.2K 1.1K

Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... Mais

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 46 - Leila

47 13 4
De thalytamartiins

Como de costume, minha letra está péssima. Tremi o tempo inteiro enquanto assinava na linha abaixo da assinatura elegante de Danilo e por muito pouco não manchei todos os papéis do divórcio com as minhas lágrimas. Já faziam alguns dias que eu não chorava tão descontroladamente assim, mas por um ponto final formalmente em tudo me doeu mais do que eu esperava, então as lágrimas foram pura consequência trágica do meu estado emocional.

Juro que pensei que demoraria mais para que Danilo providenciasse o divórcio como ele tinha me dito que faria quando veio à E. M. na semana passada, então eu acabei comprando uma passagem para passar uns dias na casa dos meus pais e tentar me recuperar o melhor possível do baque que foi dar fim ao meu casamento. Eu achava que com isso eu estaria mais forte quando esse momento chegasse, no entanto estou aqui assinando tudo. E chorando. De novo.

Madu e Jonas não sabem mais o que fazer comigo, ambos nem sequer têm mais conselhos para me dar. Ouvir que vai passar, que vai ficar tudo bem, que no começo é assim mesmo estava me dando nos nervos e eu supliquei aos dois que parassem com aquilo e só me tratassem normalmente, o único problema é tratar normalmente uma pessoa que desata a chorar do absoluto nada. Estou verdadeiramente com pena dos meus amigos, deve estar sendo horrível me aguentar, por isso que eu vou passar um tempo no interior, sentindo cheiro de mato e ajudando meu pai a cuidar das flores dele.

Tudo aqui na E. M., na rua, na cidade inteira me lembra Danilo. A imagem dele invade meus sentidos em momentos aleatórios, quando preciso fazer coisas importantes ou muito simples e isso tem me afetado muito. Eu preciso urgentemente me desintoxicar, eu só não queria me ausentar da empresa logo agora que as coisas estão dando certo, entretanto é disso que eu preciso por enquanto. Ninguém consegue trabalhar estando doente e eu tenho me sentido uma completa inválida, quase em estado vegetativo. Eu nem sabia que era possível ficar assim depois de um término e ainda mais na minha idade, mas ao que tudo indica o amor é uma enorme incógnita que eu provavelmente vou morrer sem entender.

Coloco os documentos no envelope branco com a logo de Tales e o entrego para Madu. Tales esteve aqui enquanto eu estava fora resolvendo algumas coisas para a viagem, o que foi bom, porque eu não sei como iria reagir. Até as ligações de Andressa e de dona Roberta eu tenho evitado, com receio do que elas têm a me dizer, então encontrar com Tales não ia ser muito bom.

— Entregue isso para Tales o quanto antes, Madu. Diga que eu tinha uma viagem marcada e não pude ir pessoalmente.

— Hm. Certo. — Ela torce a boca numa careta de desgosto.

— Se você não quiser fazer isso, eu peço a Jonas ou para qualquer outra pessoa. — Digo levemente irritada.

Madu está fazendo aquela cara com certa frequência, como se não aprovasse minhas escolhas, mesmo tendo dito mil vezes que não me julgaria, o que é irônico já que eu me sinto julgada o tempo todo por ela.

— Não precisa se irritar, eu vou mandar isso para ele amanhã de manhã. Está satisfeita?

— Estou. — Respondo ainda meio emburrada, passando por ela a caminho da sala que divido com Jonas para pegar minha mala de viagem.

— Leila... — Madu começa a dizer, mas se interrompe.

— O que foi? — Pergunto sem me virar para ela. Detesto quando Madu começa a dizer algo e depois deixa pra lá.

Encontro Jonas soterrado de papéis e planilhas assim que entro na sala. Paro por um instante diante da mesa, incerta se devo mesmo largar tudo a esta altura e ir para o interior. Há trabalho demais a ser feito, soa quase como egoísmo da minha parte deixar tudo sobre os ombros de Jonas.

— Não, não, nem pense nisso! — Diz ele, sem tirar os olhos da tela do notebook. — Eu vou conseguir dar conta de tudo, então nem pense em desistir de ir para a casa dos seus pais.

Pisco algumas vezes, um pouco atônita com as palavras dele.

— Você adquiriu um superpoder de ler pensamentos agora?

Jonas finalmente encosta o notebook para olhar para mim. Coitado, ele está exausto, os óculos já estão fazendo marcas em seu nariz.

— Você não sabia? Eu fiz um curso intensivo para aprender a ler os seus suspiros angustiados.

— Jonas...

— Não. — Ele me impede de continuar e fica de pé. — Pegue essa mala e vá esfriar sua cabeça. Eu vou ficar bem com Madu aqui.

— Tem certeza disso? — Olho por cima do ombro para Madu ainda parada no meio do escritório com o envelope do divórcio nas mãos.

— Qualquer perigo iminente eu ligo para a polícia.

Não sei como ele conseguiu, mas acabou me arrancando um sorriso. Vou até Jonas e o abraço, fechando os olhos antes que as lágrimas comecem a querer cair de novo.

— O que eu faria sem você ou sem Madu?

— Pare com isso. — Ele aperta os braços com mais força ao meu redor e apoia o queixo no topo da minha cabeça. — Tome o tempo que você precisar e volte mais forte.

— Eu vou. — Minha resposta não tem convicção nenhuma e Jonas sabe disso, mas ele escolhe não me pressionar.

Meu amigo me solta depois de algum tempo e me encara todo sério, apoiando as mãos nos meus ombros.

— Liga pra gente quando chegar.

Faço que sim com a cabeça. Deve ser a décima vez que ele e Madu repetem esse mantra de "liga quando chegar", porque ambos sabem que na casa dos meus pais internet é algo escasso e eu não sou muito adepta a ligações, mesmo tendo melhorado bastante quando se trata de atender o celular.

Pego minha mala pequena do chão e dou a Jonas um último sorriso antes de sair da sala. Ainda não pensei em quanto tempo pretendo ficar longe de São Paulo, mas me impus silenciosamente a regra de que não será mais de um mês. Minha vida não pode parar, não é mesmo? Eu não posso deixar que tudo que conquistei até agora desapareça diante dos meus olhos por causa de um problema entre Danilo e eu. Em algum momento eu vou ter que aceitar a minha nova realidade e eu espero muito que isso não demore.

Meus amigos me acompanham até o ponto de ônibus, tendo micro discussões pelo caminho que nem eles levam a sério. A presença deles me distrai e eu me sinto mais leve conforme os minutos vão passando, apesar do meu coração estar batendo na garganta.

Quando finalmente meu ônibus aparece pela avenida, eu os abraço e me despeço de verdade de ambos. Jonas me pede para descansar — de novo — e Madu se limita a me olhar daquele jeito esquisito que ela tem me olhado recentemente.

Já estou com os pés no primeiro degrau do ônibus quando me lembro que tinha algo pendente entre Madu e eu. Paro por um instante e me volto para ela:

— O que você tinha para me dizer lá na E. M.?

— Ah, não era nada.

— Madu! — Insisto. Prefiro sempre que ela diga o que pensa. Sempre.

— Ok! — Ela coça a nuca e olha para os próprios pés antes de completar: — Era só que eu espero que você não se arrependa de nada.

O motorista pede para que eu suba de vez e eu praticamente salto sobre os degraus para entrar no ônibus. Madu acaba ficando sem uma resposta para o que ela me diz e, sinceramente, eu não saberia o que responder nem se tivéssemos tido tempo. Às vezes tenho convicção do que estou fazendo, às vezes eu penso que posso estar sendo injusta de tantas maneiras...

São dúvidas demais que não têm solução no momento e eu já tomei as decisões que eu precisava tomar. Agora não me resta nada além de viver um dia após o outro e desejar que o tempo passe depressa.

Minha mãe não insistiu muito no assunto do divórcio, mas sinto que ela e meu pai ficaram bem decepcionados com as minhas novidades. Preferi omitir os meus reais motivos, me limitando a dizer que não estava mais dando certo, mesmo tendo a impressão de que minha mãe não ficou convencida com minhas desculpas esfarrapadas. Ao menos ela não colocou o dedo na minha ferida.

Meus irmãos, por outro lado, estão fazendo da minha vida um inferno. Paulo tem uma esposa grávida e uma casa bem longe da dos meus pais, mas ainda assim ele tem passado mais tempo aqui, me perturbando. Cleiton contribui significativamente para a cisma do meu irmão mais velho, resmungando que nunca teve uma boa impressão de Danilo e que demorou para que eu caísse na real.

Cleiton tem razão em alguns pontos. Pessoas ricas como Danilo tendem a enxergar o dinheiro e o sucesso como os dois únicos bens de valor na vida, e no meu caso foi bem isso que aconteceu. Eu achei que essas diferenças nunca iriam pesar entre nós dois, para no fim das contas terem sido justamente o dinheiro e o poder que moveram as vontades de Danilo o tempo todo. É isso que eu não consigo entender e que me atormenta todos os dias, como ele era uma pessoa e ao mesmo tempo outra, como ele parecia se preocupar com a família e ter a capacidade de usar essa mesma família para conseguir a presidência do Grupo.

E é por isso também que me questiono continuamente se não estou sendo injusta. Eu estive durante os últimos meses dividindo a mesma casa que ele, a mesma cama, acordando e indo dormir com Danilo e eu nunca poderia imaginar que tipo de coisa ele escondia. Olhando para trás, acho que o cara que me procurou com uma proposta bem duvidosa era mesmo capaz de algo assim, mas pensando no homem que eu conheci, por quem eu me apaixonei...

Não sei! Não sei nem por que eu continuo remoendo essas coisas quando não há mais nada entre nós dois. Eu tomei minhas decisões, eu preciso seguir em frente e ponto. Danilo também precisa encontrar o próprio caminho, afinal eu não estou sofrendo sozinha com essa separação. Nós dois precisamos passar por isso e foi melhor que tudo viesse à tona agora do que daqui há alguns anos, por exemplo, quando o tempo tivesse passado e tornado a dor maior.

Mesmo assim, acabo sempre revisitando o nosso último encontro duas semanas atrás. As lembranças são extremamente vívidas, quase posso sentir o cheiro dele e o toque de suas mãos em meu rosto. Havia tanto sentimento entre nós dois que o ar me escapou dos pulmões, e ouvir o desespero na voz de Danilo enquanto ele me pedia para que tentássemos novamente fez minhas certezas se abalarem ao ponto de eu quase ceder. Imagino que se eu recebesse alguma mensagem dele no dia seguinte com algum pedido para que eu reconsiderasse tudo, era provável que eu não mantivesse minhas convicções tão intactas, mas depois daquele dia eu nunca mais tive nenhuma notícia dele.

As mensagens e as ligações cessaram. No lugar delas, eu recebi os papéis do divórcio no meu escritório, todos já assinados, sem me dar a chance de voltar atrás. Não dá para saber se eu voltaria de fato, porém agora consigo ver com nitidez que nossa história acabou, inclusive para ele.

Meu pai acaba de regar suas amadas flores e dedica um tempinho para mim naquele fim de tarde. Assim como eu, ele não é muito de falar e isso é algo que irrita profundamente minha mãe e os meus irmãos, que se abrem para qualquer pessoa como um livro em uma biblioteca pública. Sei que meu pai gostava de Danilo, ele nos apoiou desde o início, indo inclusive contra minha mãe, e penso comigo mesma se eu não deveria ser sincera ao menos com ele sobre o que aconteceu.

— Quando você voltar para São Paulo, leve algumas mudas de rosas para sua tia. A casa dela é muito abafada e as plantas ajudam. — Ele indica com o regador para as rosas brancas que ele tanto ama.

Involuntariamente, me lembro da primeira vez que vi as rosas brancas do jardim de dona Iêda. Naquele dia, Danilo tentou fingir que estava me beijando para que Marcos não desconfiasse do nosso noivado e como consequência eu o estapeei no rosto. Um sorriso pequeno brota nos meus lábios ao pensar naquilo, foi tão desastroso que nem consigo acreditar que realmente aconteceu.

— Você está sorrindo pela primeira vez desde que chegou.

— Lembrei de uma coisa engraçada.

— Lembre-se mais desse tipo de coisa. Quando estamos chateados com alguém, temos tendência a apenas enxergar o lado negativo de tudo e nos esquecer das coisas boas, mas é importante lembrar das coisas boas também.

— E quando até as coisas boas machucam?

Meu pai pensa um pouco a respeito. Ele escolhe com cuidado as palavras antes de dizer qualquer coisa e é impossível não me comover com a preocupação sincera dele. É reconfortante ter alguém que te ame desse jeito cuidadoso e verdadeiro.

— Bom, quando até as coisas boas machucam, coloque em seus objetivos criar novas boas lembranças.

— Ou seja... — O incentivo a continuar.

— Vá viver um pouco, Leila.

Aquilo me conforta um pouco. Eu tenho escutado muito das pessoas para ir viver a minha vida e eu já entendi que eu devo fazer isso, mas ouvir aquelas exatas palavras do meu pai me deu alguma força para realmente ir viver de novo.

Meu sorriso se torna maior, crescendo gradativamente conforme memórias boas inundam minha mente. Depois de tanto tempo, eu ergui minha empresa, eu vivi um amor de verdade sem medo de me machucar e fui feliz. Eu tenho amigos leais e muita coisa pela frente, além de uma família que, do seu jeito, faria tudo por mim. Eu posso estar de coração partido agora, mas tenho muito mais a agradecer do que reclamar.

Quando dou por mim, estou rindo de verdade de tudo, até de mim mesma. É tão estranho ouvir o som da minha risada depois de tanto tempo, é quase como se eu estivesse descobrindo uma função nova no meu corpo. Meu pai ri também, apesar de eu achar que ele não está entendendo o motivo da minha recém descoberta felicidade. Penso em explicar a ele que eu decidi tomar as rédeas da minha vida de novo, mas acabo preferindo deixar os meus motivos no ar. Algumas coisas não precisam de explicação e o que eu estou sentindo no momento se encaixa perfeitamente nisso.

Me ocupar com trabalho tem sido a melhor terapia. Tudo bem que ainda estou pagando um pouco do preço de ter ficado quase um mês no interior com meus pais, mas trabalhar exaustivamente todos os dias vem me deixando focada nos meus objetivos e cada vez mais distante de Danilo. Quer dizer, o mais distante que a minha mente consegue.

É impossível não pensar nele, mais impossível ainda não sentir falta dele todos os dias. Nos falamos pela última vez há cerca de duas semanas, quando eu disse que iria buscar o restante das minhas coisas. Enviei uma mensagem curta e simples, fiquei com o coração apertado o dia todo sem saber o que ele iria responder e no fim recebi uma mensagem curta também, bem diferente das mensagens repletas de carinho que costumávamos trocar.

Foi horrível entrar naquela casa depois de tanto tempo. Sansão e Dalila não estavam em lugar nenhum e eu não tive coragem de perguntar a Danilo o que ele tem feito para cuidar dos dois. Em compensação a ausência dos meus amados "filhos", minhas coisas permaneciam no mesmo lugar, intocadas. Lavei tudo que eu podia com produtos de limpeza novos, com cheiros diferentes, mas em tudo que eu toco ainda sinto o perfume de Danilo.

Apesar de todas as lembranças e sentimentos, o pior momento para mim enquanto estive lá foi ver que as nossas fotos ainda continuam na estante da sala de estar, no mesmo lugar, na mesma posição. Eu achei que Danilo jogaria as fotos do nosso casamento no lixo, que evitaria olhar para elas ou lembrar o que elas representam, porque é isso que eu teria feito, no entanto ele manteve tudo como sempre foi.

Passar pela experiência de revisitar minha antiga casa mexeu comigo o suficiente para me fazer passar dias quieta pelos cantos, lutando contra uma vontade crescente de ouvir a voz de Danilo. Minha única válvula de escape é o trabalho, que só aumenta todos os dias, e eu sou infinitamente grata por poder me afogar nisso com todas as minhas forças.

A produtividade da E. M. está aumentando muito, então não pudemos mais empurrar com a barriga a contratação de um funcionário. Depois de várias entrevistas com candidatos de perfis bem diferentes, finalmente concordamos por ter mais um menino no time. O nome do garoto é Renato, está no terceiro período de engenharia da computação e Madu o adorou logo de cara, o que é algo raríssimo de acontecer.

Todos os trâmites da contratação de Renato e o processo de adaptação dele à empresa consumiram o restante do tempo que eu tinha e eu consegui afastar lentamente a tristeza que estava me corroendo por dentro todas as vezes que Danilo aparecia nos meus pensamentos.

Contudo, naquela manhã de terça-feira, Andressa me ligou. E eu atendi.

Eu tinha prometido que a ajudaria com o que ela precisasse no casamento e só não me esqueci disso, como também me esqueci que eu sou uma das madrinhas. O casamento vai acontecer dentro de mais ou menos um mês e ela estava profundamente chateada porque eu sequer tinha ido ao ateliê provar meu vestido. Claro que eu adoraria dizer a Andressa que não me sinto mais confortável em ser madrinha do casamento dela quando Danilo é um dos padrinhos e ainda por cima meu par, mas como eu pelo menos posso cogitar falar isso para uma noiva à beira de um ataque de nervos e com o casamento tão próximo de acontecer?

Combinei um bom horário com ela para experimentar o vestido e me fazer o mais solícita possível depois de toda mancada que dei. Portanto, cá estou eu, de volta a uma loja de noivas com Andressa.

A costureira tenta como pode ajustar o vestido ao meu corpo, mas tanto ela quanto eu sabemos que esse vestido precisará ser refeito do zero. De todos os ângulos que me olho no espelho, não consigo ver como esse monte de tecido salmão vai ficar bom.

— Vou buscar mais alfinetes. — A moça anuncia, tão frustrada com o vestido, que chego a ficar com pena.

Andressa espera que ela saia da sala e vem até mim com passos firmes, os saltos tilintando sobre o piso de madeira.

— Há pano demais sobrando! — Ela diz, nervosa, indicando os metros de tecido caindo aos meus pés. — Olha só para isso, é quase uma cauda!

Arrisco sorrir, mas Andressa não acha graça.

— E se não ficar bom até a data do casamento?

— Ainda temos algum tempo. Vai dar tudo certo. — Eu a asseguro com o máximo de calma que consigo.

— Eu já não sei de mais nada! — Andressa se afasta de novo e se senta pesadamente em um sofá branco de aparência clássica.

Sou pega completamente desprevenida quando ela afunda o rosto nas mãos e começa a chorar. Por um instante, acho que é por causa do vestido grande e largo demais, mas me dou conta de que Andressa não choraria só porque vou parecer um saco de batatas amarrado em seu casamento. Algo mais está acontecendo e eu não faço ideia do que é.

Puxo o vestido para cima e cruzo a sala na pontinha dos pés até ela, tomando cuidado com os alfinetes no tecido ao me sentar ao seu lado. Detesto ver as pessoas chorando desta forma, eu sou desastrosa com conselhos, sempre acabo falando besteiras e perdendo o timing certo de ficar quieta. Até meu pai no meu lugar saberia o que fazer, já eu...

— Me desculpe... Me desculpe por isso. — Andressa diz entre soluços.

— Você deve estar cansada e estressada, não tem que se desculpar por colocar para fora.

Ela escorrega um pouco no sofá, de forma que sua nuca encontre apoio no encosto do móvel. Seus olhos e bochechas estão vermelhos por causa das lágrimas, mas Andressa é uma das mulheres mais fortes que eu conheço, sei que aquela pequena crise logo vai passar — ao menos é o que eu espero.

— Você não faz ideia do quanto isso tem sido um inferno, Leila. Tudo isso, até experimentar o vestido tem sido um inferno.

— Andressa, é normal ficar nervosa, parece que está dando tudo errado, mas no fim as coisas se ajeitam.

— Mas Leila, é o meu casamento, eu não deveria me sentir assim! — Andressa se endireita no sofá para me encarar. — Eu sempre sonhei com isso e agora tudo que eu quero é desistir e fugir para alguma cidade pacata no interior de Minas Gerais.

— Fique tranquila, acho que toda noiva se sente assim em algum momento.

— Você não deve ter se sentido assim.

Encolho os ombros, desconfortável com o assunto em que estamos prestes a entrar.

— Meu Deus... — Ela me olha aflita ao se dar conta de como aquilo me atingiu. — Ai, Leila, por favor, me desculpe.

— Está tudo bem. — Eu sorrio para ela sem conseguir me mostrar muito convincente.

Adoraria dizer que estou verdadeiramente bem após ter assinado meu divórcio quase dois meses atrás, entretanto não é bem assim que eu me sinto. Estar numa loja de noivas, falar de casamento, principalmente com Andressa, me revive momentos que eu gostaria que ficassem de fato no passado e que, ao contrário do que eu desejo, só se tornam mais vivos todos os dias.

— Tales acabou me contando tudo, eu deveria ter tido mais cuidado, me desculpe.

— Seu Fausto, dona Roberta...?

— Todos já sabem. — Ela completa a pergunta que eu estava prestes a fazer. — Danilo é realmente um babaca. Ele conseguiu fazer uma coisa decente, que foi ter se casado com você, e ao mesmo tempo fez tudo errado ao se casar com você.

Encaro minhas mãos vazias, notando que até a marca da aliança já desapareceu do meu dedo anelar.

— As coisas aconteceram como tinham que acontecer. — E realmente acredito nisso.

Eu procurei por Danilo, eu aceitei os termos do contrato e foi decisão minha permitir que aquela cláusula fosse quebrada. Danilo e eu tínhamos alguma coisa a aprender um com o outro, então apesar das mentiras, eu fui feliz... E não me arrependo.

— Você quer que eu troque vocês de par na cerimônia?

Balanço a cabeça negativamente. Depois de vê-la chorando pelo estresse desse casamento, eu jamais me atreveria a me tornar um problema. Serão apenas algumas horas e não é como se eu detestasse Danilo. Há mais de um mês para que eu prepare meu psicológico, tenho fé que vou conseguir fazer isso bem.

— Então vá à festa do meu casamento com um novo namorado! — Andressa praticamente salta no sofá ao dar aquela péssima ideia. Ela é terrível!

— Eu não tenho um novo namorado.

— Pois consiga um até o casamento.

A animação repentina dela me diverte, mas não por muito tempo. Andressa me pedir para aparecer com um homem na festa do casamento provavelmente quer dizer que...

— Danilo já tem alguém? — A pergunta me escapa antes de sequer me ocorrer não dizer aquilo em voz alta.

A vida dele não devia me interessar mais, meu coração não devia estar tão acelerado e muito menos minha garganta devia estar tão apertada. Mas aquela possibilidade, aquela mínima possibilidade me desestabiliza por completo. Eu definitivamente não estou pronta para ouvir que ele seguiu em frente e nem sei se algum dia eu estarei pronta para isso, apesar de ser algo inevitável.

— Leila... — Andressa começa, buscando pelas minhas mãos trêmulas. — Eu não posso te dar qualquer tipo de certeza, porque não convivo com ele vinte e quatro horas por dia, mas conhecendo Danilo como eu conheço, eu acho que vai demorar um pouco mais para que outra mulher entre na vida dele.

Respiro aliviada e me envergonho por aquilo. Eu estou mesmo feliz por ele não estar com ninguém? Meu Deus, o que eu tenho me tornado?

— Ele merece alguém bacana. — Solto minhas mãos das de Andressa e fixo o olhar no meu reflexo no espelho do ateliê. Talvez, se eu pensar bastante nisso, eu acredite nas minhas próprias palavras.

— Você também merece. — Ela fica de pé e encara meu reflexo também. — Na verdade, eu acho que vocês dois se merecem.

É patético e completamente sem sentido o que ela diz, mas algo dentro de mim, algo mais forte e que eu venho tentando suprimir desde que revisitei aquela casa, me obriga a sorrir.

Oi, pessoal, como vão?
Postei mais cedo porque estou viajando e pode ser que eu não tenha tempo mais tarde! Espero que vocês tenham gostado dos capítulos, apesar da sofrencia. De algum jeito tudo vai dar certo, confiem em m mim hahahaha
Muito obrigada por tudo. Nos vemos no próximo domingo ;)

Bjx,
Thaly :>

Continue lendo

Você também vai gostar

Black Rose De jack

Literatura Feminina

154K 12.2K 23
Travis Blake é misterioso e surpreendente perfeito, garoto de atitude que por trás de sua jaqueta de couro guarda um passado triste e pesado que deix...
1.7K 92 22
Emilly Scott, uma bailarina que sonha em se apresentar na Broadway se muda para New York com o propósito de se dedicar ao seu sonho, ela entra em uma...
6.1K 1K 13
Talvez haviam cansado da rotineira realidade. Ou talvez, apenas quisessem uma novidade. A verdade era que, Luca, um rapaz com uma tendência a ser irr...
9.2K 595 6
Bárbara Todd está de volta a Connecticut para ingressar na universidade dos sonhos. Na sua primeira noite de volta à cidade, Babi se depara com um ro...