Escarlate

By ClarisseAlbuquerque

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Esta história contém cenas de sexo e não é recomendada para menores de 18 anos. More

Sinopse
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Explicação e pedido de desculpas
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Notícias da autora que sumiu
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Sobre o próximo capítulo
Capítulo 23
E-book de MCD
Capítulo 24
Explicações
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29 (certo)
Capítulo 30
Capítulo 31 e Explicação por não ter postado o final antes

Capítulo 1

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By ClarisseAlbuquerque

  Sabe aqueles dias em que tudo parece dar errado e que qualquer coisa que você vá tocar corre o risco de se desintegrar na sua frente? Hoje é um desses dias.

  A maré de azar começou logo quando levantei. Literalmente.

  Quando fui sair da cama, assim que coloquei o pé no chão, pisei em um brinco que estava caído com a ponta pra cima e que, para minha dor, se alojou no meu calcanhar. Depois enquanto fui mancando procurar algum remédio, esbarrei na luminária, a única que tínhamos, que ficava no que poderia ser chamado de sala caso fosse uma casa normal, ela se espatifou no chão.

  Cacete. Não é meu dia de sorte. Acordei com o pé esquerdo e ainda consegui fura-lo. E se já não bastasse tudo isso, minha bunda está doendo.

  – Viu o Nilson por aí? – Gerda, uma loira de farmácia com as raízes pretas, de mais ou menos trinta anos, perguntou colocando a cabeça pra dentro do quarto.

  As outras meninas que dormiam no mesmo quarto que eu estavam na "sala" compartilhando informações sobre a noite anterior e sobre os melhores clientes.

  – Acho que ele saiu. – respondi deitando de bruços.

  Minha bunda realmente está doendo. Não sei o que esses homens veem de interessante em fazer sexo anal. Para eles é tudo ótimo, mas para as mulheres é uma merda. Ainda mais quando eles parecem estar enfiando um bambu em um cano a fim de desentupi-lo.

  – Se esbarrar com ele por aí fala que eu quero falar com ele. – diz e sai andando mascando um chiclete de um jeito que me faz lembrar uma vaca mascando capim.

  Espero que não encontre Nilson tão cedo. Ainda mais hoje que estou com a bunda doendo. Ele me assusta. Não só pelo cabelo preto ralo e a cicatriz do lado esquerdo do rosto, mas também pelo seu jeito. Ele me olha de um jeito estranho que me faz ter a impressão que de uma hora pra outra ele vai me agarrar de novo. Não quero que isso se repita porque a primeira vez foi horrível.

  Quando cheguei aqui faltavam cinco dias para eu fazer 18 anos. Era menor de idade e nunca tinha transado antes. Não fazia a mínima ideia de como ia conseguir ganhar dinheiro com sexo já que não tinha experiência alguma. Ele, muito solidário, comprou uns filmes pornôs e algumas revistas com posições de sexo para eu ver. Pensando bem, acho que foi um gasto desnecessário já que ficava no quarto com as outras enquanto elas trabalhavam. Eu estava proibida de fazer qualquer tipo de serviço. Até boquete.

  No dia do meu aniversário ele me chamou até a sala dele. Um cômodo minúsculo que tinha um sofá cama rasgado e uma mesa de madeira descascada. Na minha cabeça, ele ia me dar os parabéns ou algum documento que ia permitir que eu trabalhasse, sei lá. Não entendia nada sobre o trabalho e não sabia se era necessário algum tipo de autorização para exercer a, bem, profissão. Mas seus planos eram outros. Assim que entrei na sala, ele trancou a porta e começou a me agarrar e me beijar, sua barba nojenta esfregando no meu rosto enquanto ele enfiava a língua na minha boca.

  – Quietinha. Se você der um pio, você nem vai chegar a começar a trabalhar. Entendeu? – ameaçou.

  Meus olhos estavam cheios d'água, mas não podia chorar e muito menos me dar ao luxo de ser demitida antes mesmo de começar a trabalhar. Ainda mais porque não tinha para onde ir.

  Concordei com a cabeça, engolindo em seco.

  – Boa garota. – falou descendo uma das mãos até a minha saia.

  Até hoje quando me lembro dessa cena tenho vontade de vomitar. Filho da puta!

  Quando tinha cerca de onze anos eu já sabia alguma coisas sobre sexo e imaginava minha primeira vez com meu primeiro namorado. Um cara lindo e forte, que fosse carinhoso e que gostasse de mim. Imaginava que não iria sentir dor, como estava escrito em um livro, e que iria ser lindo. Como era estúpida! A única coisa linda, isso na visão de um vampiro, foi a quantidade de sangue que ficou no sofá cama.

  – Você não vai sair da cama não? – Beca pergunta sentando-se ao meu lado.

  Viro o rosto para olhá-la. – Se eu pudesse não saía nunca mais.

  – O que aconteceu? – pergunta parecendo preocupada.

  Beca é minha única amiga aqui. Ela já estava aqui quando cheguei e sabe do episódio com Nilson. Foi a única que me ajudou e conversou muito comigo sobre como funcionavam as coisas aqui. Além de tirar todas as minhas dúvidas –que eram muitas – a respeito de sexo e me dar várias dicas. Quando um dos clientes fazem alguma coisa idiota ou me machucam, é para ela que conto.

  Faço bico, meu bico dramático de sempre. – Minha bunda tá doendo. – resmungo.

  Ela ri. – Cliente amador?

  Falamos que um cliente é amador quando ele não tem muita experiência e tenta fazer algo além de seu conhecimento – e capacidade – e acaba nos machucando.

  Faço cara feia. – Amador o caramba! O cara parecia um elefante. Gordo e bruto. – falo. – E ele acabou com a minha bunda. – choramingo.

  Ela balança a cabeça rindo. – Você não se dá muito bem com anal, né? – zomba.

  Balanço a cabeça. – Odeio. Bunda não foi feita pra enfiar nada. Só pra sair.

  Ela cai na gargalhada.

  –Que foi? –pergunto encarando-a.

  –Você está perdendo tempo aqui. Tinha que ser comediante. – fala levantando e indo até sua gaveta da cômoda.

  Comediante? Não me acho engraçada para isso. Na verdade, não sou nem um pouco engraçada. Nem que eu quisesse poderia ser engraçada. Os clientes não gostam disso.

  – Passa essa pomada que vai ajudar. – fala, pegando uma caixinha na cômoda e me entregando. – É anestésica. – explica, me entregando a caixa.

  – Obrigada. – agradeço.

  – De nada! Mas acho que seria melhor você se acostumar com o anal logo. – diz.

  Beca cuida muito bem de mim. Acho que ela vai ser uma mãe excelente caso queira ter filhos. Eu mesma se pudesse escolher uma mãe, com certeza escolheria alguém como ela.


———-


  –Qual é, gata? Dez reais só pra você me chupar. – um cara com aparência de ornitorrinco fala, tentando me convencer a fazer um boquete nele por dez reais.

  Porra. Dez reais não dá nem pra comprar um quilo de carne. Não que eu vá comprar, mas, caso fosse, não daria.

  –Já falei que por dez não posso fazer. – repito.

  – Vinte? – oferece.

  Porra que cara chato!

  Ele está olhando diretamente para o meu peito na parte onde meu body tem um tecido transparente.

  – Trinta. – proponho.

  Ele olha meu peito por mais um tempo e levanta o olhar para mim em seguida.

  – Trinta. – concorda tirando uma nota de vinte e uma de dez da carteira e me entregando.

  Dobro as notas e coloco dentro do short de modo que fiquem presas na tira da calcinha e dou a volta para entrar no carro.

  Credo! O carro tem cheiro daqueles biscoitos salgadinhos de queijo que têm aroma de vômito.

  Ele desabotoa e desce um pouco a calça, de modo que sua cueca fica aparecendo.

  Não consigo evitar fazer uma careta ao ver a estampa da sua cueca. Um monte de Bob Esponja em diversas poses espalhados pelo tecido. Broxante. Se eu não estivesse sendo paga e esse não fosse o meu trabalho, não faria um boquete nele nem que me pedisse de joelhos.

  Entramos no carro dele e ficamos por ali mesmo. Afinal, ele não iria querer ir para o Escarlate ou para um motel só para eu fazer um boquete nele, né?

  Ele senta e desabotoa a calça, abaixando-a um pouco e deixando a mostra uma cueca colorida, com alguns desenhos amarelos.

  Levo as mãos até sua calça, abaixando-a mais um pouco e não consigo evitar uma careta ao identificar os desenhos amarelos.

  Não acredito que ele está com uma cueca do Bob Esponja! Está explicado por que ele só consegue que alguém faça um boquete nele se pagar.

  Morrendo de nojo, e completamente sem vontade, faço o melhor boquete que consigo, dada as circunstâncias.

  Desço do carro e deixo-o no carro com um sorriso de orelha a orelha e a cueca um pouco melada. Passo as costas da mão na boca e cuspo no asfalto.

  – Essa não é uma coisa muito legal para se fazer na frente do cliente. – Beca diz quando volto para calçada.

  Dou de ombros. – Que se dane. O cara era broxante! Ele tinha uma cueca do Bob Esponja. Pelo amor de Deus!

  Ela ri. – Sério? Que sem noção! – fala fazendo careta, mas volta com sua cara sexy assim que um carro para e alguém grita "Ei, oncinha gostosa!".

  Beca está com um vestido vermelho bem apertado de um ombro só, que mostra todas suas curvas bem definidas. Já eu, estou com um short jeans claro na altura das nádegas e um body preto com tecido transparente que mostra minha barriga e minhas costas, além de por pouco não mostrar parte dos meus peitos. Meu pé ainda está doendo e a sandália vermelha de salto que estou usando não está ajudando nem um pouco. Ainda bem que a pomada fez efeito e minha bunda parou de doer.

  – Gostei da roupa. – uma voz rouca fala no meu ouvido.

  – Valeu, Nilson. – agradeço sem ao menos precisar me virar para ver de quem é a voz. Conheço essa voz horrível de longe.

  Seu corpo está bem próximo do meu e posso sentir sua respiração quente e com cheiro de bebida no meu pescoço.

  Por sorte, um Fox vermelho estaciona e um cara com aparência de vinte e poucos anos faz sinal para que eu me aproxime. Nunca fiquei tão feliz em ver um cliente.


———-


  São quase três e meia. O cliente acabou de sair aqui do Escarlate. Provavelmente era um playbozinho rico, porque ele pagou o dobro do valor da hora. Ninguém faz isso. Pelo contrário, os clientes costumam pechinchar. Fala sério! As pessoas pechincham até na hora de pagar por sexo.

  Separo um quarto do dinheiro para entregar a Nilson. É assim que funciona. A gente tem que dar metade do dinheiro dos programas para ele. Mas como recebi o dobro, vou ficar com o valor da hora mais metade.

  Estou cansada, mas ainda tenho que voltar pra rua. A gente costuma ficar lá até as quatro. Ainda bem que não falta muito.

  Dou uma olhada no espelho antes de sair, retoco o batom e escovo o cabelo, que está parecendo o de um espantalho.

  – Cliente gatinho esse que saiu daqui agorinha, hein? – Juliana comenta quando saio do quarto. Ela está parada no corredor fumando um cigarro e soltando tanta fumaça pela boca que parece um dragão.

  – Ahã. – murmuro e vou andando em direção à porta. Odeio cheiro de cigarro. E odeio a Juliana. Essa vaca loira com olho de cobra adora roubar os meus clientes mostrando o peito ou falando alguma sacanagem. Cachorra.

  A única coisa que faço ao voltar para a rua é um boquete num cara gordo e careca que me oferece cinquenta reais. Não sei o que há de tão extraordinário para os homens em ter alguém chupando seu pau.

  Volto para o Escarlate antes das outras meninas e tomo um banho assim que chego.

  Sempre me sinto nojenta quando volto para cá. Não consigo dormir sem tomar banho. Parece que fico com o cheiro desses homens estranhos e sinto o meu corpo imundo. Às vezes sinto isso porque ele realmente está.

   A água está morna. Mais para fria do que para quente. O chão está com uma mistura de fios de cabelos loiros e pretos, além de ter uma calcinha fio dental vermelha pendurada no registro. O piso perto do ralo está quebrado e a cortina está com um rasgado enorme do lado esquerdo. Sempre quando entro aqui para tomar banho imagino como deve ser tomar banho em uma banheira, dessas que mostram na televisão. Deve ser bom. Mas apenas imagino porque sei que isso está muito, muito distante da minha realidade.

  Na verdade, qualquer coisa boa está muito longe da minha realidade.

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