Se a gente se casar domingo?

By thalytamartiins

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Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... More

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 41 - Danilo

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By thalytamartiins

— Eu amo você.

As palavras dela reverberam dentro de mim com tanta força, que me dou um instante para absorvê-las. Me afasto um passo, olhando Leila nos olhos, pois uma parte de mim ainda não quer acreditar que tudo isso é real.

Eu amo você, pareço escutá-la dizendo de novo e de novo e de novo.

Não ouvi errado, tenho certeza disso. Não há mais ninguém nesta casa além de nós dois, eu não estou bêbado e nem sonhando. Leila disse que me ama. Sim, ela disse que me ama! Tenho vontade de começar a rir como um idiota. Não apenas isso, eu quero gargalhar alto também, abrir a janela do apartamento e gritar que ela me ama para que o condomínio, o bairro e até São Paulo inteira escute.

Eu a vejo se retesar um pouco, incerta sobre o que pensar sobre o meu silêncio. Adoraria conseguir colocar em palavras agora o quanto o meu coração parece que vai sair do peito por ter escutado que ela me ama, no entanto nada que passa pela minha cabeça soa suficiente. Não sei se existe uma maneira certa de dizer isso ou de confessar essas coisas, eu nem esperava ouvir algo do tipo vindo de Leila tão cedo, mas ainda assim eu só quero que ela saiba, melhor, eu quero que ela sinta o quanto são intensos e verdadeiros os meus sentimentos.

Tomo as mãos de Leila nas minhas, os dedos pequenos e delicados dela estão frios e trêmulos. Na verdade, ela inteira está estremecendo, tão frágil, que sinto que um sopro poderia fazê-la desabar. Consigo imaginar o quanto foi difícil dar esse passo entre nós dois e eu me sinto mais responsável do que nunca agora que tenho ideia da dimensão do que ela sente por mim.

— Não precisa dizer nada de volta se você não quiser. — Leila engole em seco, desviando os olhos dos meus antes que eu abra minha boca.

— Leila... — Tento, mas sou interrompido pelo nervosismo hesitante dela.

— Eu só não quero que você se sinta pressionado pelo que eu disse. Quer dizer, está tudo bem se...

Não permito que ela continue falando aquilo e a silencio com um beijo. As mãos dela apertam as minhas com força, procurando apoio em mim para não cair. Eu a trago para mais perto, a abraço apertado, dando a ela o tempo de que precisa para conseguir me ouvir com clareza.

Quando nos separamos e consigo olhá-la nos olhos de novo, percebo com certo alívio que o nervosismo receoso dela se transformou em expectativa. Não consigo deixar de sorrir diante daquilo.

— Leila Dias de Souza Torres, eu amo você. — Digo devagar para que minhas palavras a alcancem com a mesma força que as dela me alcançaram. — E eu não estou dizendo isso porque você acabou de dizer que me ama, eu estou dizendo isso porque eu amo muito você, eu amo tanto você que eu nem sei como expressar isso com palavras.

Leila fecha os olhos por um instante, comprimindo os lábios para conter o sorriso. Me aproveito do momento para trazê-la para perto de mim de novo, tocando gentilmente suas costas nuas.

— Você pode dizer de novo? — Leila pergunta com cuidado, o sorriso aumentando sem que ela possa contê-lo desta vez.

— Dizer o quê? — Devolvo a pergunta, me inclinando para beijar a curva sinuosa do seu pescoço. — Dizer que eu amo você?

— Sim... — A resposta escapa num arquejo quando meus lábios se arrastam pela pele quente dela.

— Eu amo você. — Repito ao deslizar a alça fina do vestido por seu ombro. — Eu amo tanto você, eu amo a sua pele macia... — Cubro o ombro direito dela com beijos delicados, sentindo-a estremecer sob meu toque. — Eu amo o seu cheiro, seu cabelo cacheado... — Enrosco meus dedos em seu cabelo, puxando-o levemente para expor um pouco mais seu pescoço. — Eu amo você até mesmo quando você não fala comigo e dorme no outro quarto. — Sussurro em seu ouvido, mordiscando o lóbulo da sua orelha.

Leila arrasta as mãos pelo meu peito e não contenho um suspiro profundo ao sentir as unhas dela arranhando levemente minha pele através do tecido da camisa.

— Eu não quero dormir sozinha hoje. — Seus dedos se engancham num dos botões da minha camisa. — Eu não quero mais dormir sem você.

É a segunda declaração que eu ouço dela em menos de dez minutos. Não tenho certeza se meu coração parou de bater ou se ele só está acelerado demais para que eu o sinta dentro do peito, mas seja como for, agora tenho mais certeza do que nunca que há sangue correndo pelas minhas veias, porque nunca, nunca mesmo me senti tão vivo.

Leila roça os lábios nos meus e sorri contra a minha boca, perfeitamente ciente do quanto cada mínimo toque dela me afeta. Ela começa a liberar um a um os botões da minha camisa, sem pressa alguma. Temos todo tempo do mundo, me forço a lembrar, somos casados, somos um do outro, não há nada mais importante do que isso esta noite; não há nada mais importante no mundo do que ela e eu.

Minhas mãos escorregam até a barra do vestido dela, descobrindo partes do seu corpo que eu nunca pude sentir antes. E eu a sinto, com a ponta dos dedos, com todos os nervos e com todas as minhas células. E eu consigo desejá-la ainda mais do que eu a desejava minutos atrás.

Nosso beijo cálido se torna progressivamente mais intenso, a calma que existia até pouco tempo atrás desaparece, sendo substituída por uma necessidade quase desesperada de sentir a nossa pele uma contra a outra, sem nenhuma barreira.

Acho que é nesse momento, em algum lugar entre a sala e o quarto, entre a nossa ânsia de estarmos juntos depois de tanto tempo e o desejo queimando em nossa pele, que a primeira peça de roupa cai. Então outra também é jogada pelo chão e minha mente se abstém de pensar em qualquer coisa além de ter Leila finalmente nos meus braços.

Eu a deito com cuidado sobre a cama, pairando sobre ela e me permitindo observar os detalhes do seu rosto. Ela é linda, eu sempre soube disso, mas agora, corada e de batom borrado, ela parece brilhar.

— Eu amo você. — Digo de novo, porque é verdade e porque eu guardei essas palavras por tempo demais para economizá-las.

O sorriso dela aumenta ao ponto dos seus olhos quase se fecharem. Eu amo esse sorriso, é o sorriso que ela dá quando está feliz e eu sou o motivo pelo qual ela está sorrindo assim hoje.

Eu não faço ideia de quem eu era sem essa mulher, mas aqui, esta noite, tudo que eu quero ser é o homem da vida dela.

Acordo com algo peludo roçando meu nariz de leve. Abro apenas um dos olhos só para ter certeza do que se trata, voltando a fechá-los em seguida e ignorando a presença de Dalila deitada no meu travesseiro. Como se não bastasse Sansão, que chora todas as noites para que eu o coloque no quarto, agora Dalila também quer dormir comigo, e o pior é que é impossível controlar essa gata quando ela cisma que quer atenção.

Dalila continua se esfregando em mim, ronronando baixinho e insistindo para que eu acorde quando tudo que eu quero é continuar na cama. Estendo o braço, tateando o colchão em busca de Leila, mas acabo encontrando apenas um montinho de pelos que faz questão de babar minha mão inteira. Abro os olhos de vez, consideravelmente revoltado porque fui dormir ontem com a minha esposa e acordei com uma gata geniosa e um pug dengoso do meu lado.

Me sento na cama e Sansão não perde tempo antes de se acomodar no meu colo. Dalila toma conta de vez do meu travesseiro e exige a atenção para ela também. Ainda bem que eu tenho duas mãos ou eles começariam uma briga agora mesmo se eu fizesse mais carinho em um do que no outro.

— Cadê a mamãe de vocês, hein? Ela adora me deixar sozinho enquanto eu durmo, não é? — Pergunto a eles, não esperando nenhuma resposta de volta.

Dalila, no entanto, solta um miado agudo e entendo que ela concorda comigo. Sansão, esse traidor, nem parece me escutar. Eu sei que ele defende Leila em todas as situações, mas pelo menos agora eu tenho a gata do meu lado para equilibrar a balança.

Olho para a bagunça de roupas, lençóis e travesseiros espalhados pelo quarto e sorrio sozinho lembrando da noite passada. A mulher que eu amo, uma gata, um cachorro e um bom emprego, acho que eu só preciso de uma casa maior daqui há algum tempo para quando os filhos vierem, porque do contrário eu não tenho necessidade de mais nada para ser feliz.

Deixo Sansão e Dalila aninhados nos lençóis e salto para fora da cama, me espreguiçando pelo caminho entre o quarto e a sala. Ouço a voz de Leila vinda da varanda e a vejo apoiada na pia da lavanderia assim que alcanço a cozinha. Ela está de cabeça baixa e com uma das mãos na boca, ouvindo atentamente alguém numa ligação.

Minha primeira reação é ficar preocupado por Leila estar logo cedo pendurada no celular, mas quando ela ergue o rosto e eu vejo os seus olhos brilhando, sei que as notícias que virão assim que ela desligar serão boas. Talvez um acerto com a família depois do estresse dos últimos dias com aquela notícia tendenciosa na internet, sei que isso a deixaria muito feliz, mas também pode ser algo com a empresa, quem sabe até uma boa proposta de serviço para a E. M. e tudo mais.

— Eu nem sei como agradecê-lo por procurar nossa empresa. — Ouço Leila dizer à pessoa do outro lado da linha.

Eu sabia! Eu sabia que eram boas notícias.

— Sim, temos um horário marcado na segunda. Até logo e muito obrigada!

Ela desliga, olhando distraidamente para a tela do celular por alguns segundos. Me aproximo dela, doido para saber quem procurou a E. M. e o que mais ela puder me contar. É difícil explicar, mas apesar de nem saber direito do que se trata eu me sinto incrivelmente feliz e orgulhoso pelo que a minha esposa tem conquistado.

— Danilo, — Leila sorri, emocionada, olhando alternadamente entre mim e a tela do celular — você não vai acreditar no que eu acabei de ouvir!

— Bom dia para você também! — Cruzo meus braços e me recosto na pia.

— Bom dia! Bom dia! Mil vezes bom dia! — Leila gargalha e fica nas pontas dos pés para conseguir me abraçar. Eu nem tento resistir e a abraço de volta.

— Estou bem enciumado com o fato dessa sua felicidade ser por causa de uma ligação, mas se você me contar o que está havendo provavelmente eu irei te perdoar por ter me deixado sozinho na cama para atender o celular.

Ela se aconchega melhor no meu abraço e eu a sinto sorrir contra meu peito.

— O dono de um supermercado procurou os serviços da E. M.!

— Supermercado, é?

— Sim! — Ela me solta e quase pula de alegria na minha frente. — Não é uma coisa enorme, mas ele tem alguns supermercados espalhados pela capital e se interessou pela proposta da E. M.

— Leila, isso é incrível! É só o segundo cliente de vocês e já é uma rede de supermercados, isso quer dizer que vocês estão alcançando muita gente com o marketing.

— Não é uma rede de supermercados, eu disse que o cara tem alguns supermercados. — Ela me corrige ainda rindo com aquele ar extasiado de alegria. — Mas sim, o marketing está dando certo. Eu mal posso esperar para contar para Madu e Jonas, eu mal posso esperar por segunda-feira, na verdade eu mal posso respirar de tanta felicidade!

Leila volta a me abraçar e eu a seguro firme, tirando seus pés do chão e a girando pela varanda. Ela sorri contra meu ombro, me abraçando com tanta força que é quase como se não quisesse me soltar nunca mais. Não reclamaria se ela não me soltasse mesmo, eu poderia passar boa parte da minha vida assim, sabendo o quanto ela está feliz e que está aqui bem perto de mim.

— Obrigada! — Diz ela com a voz embargada. — Obrigada por ter aparecido quando eu mais precisei e por ter mudado minha vida. Eu nunca estive tão feliz, eu estou até com um pouco de medo de acordar e...

— E nada. — Eu a interrompo. — Só fica assim, feliz e aqui comigo.

Agora sou eu que a abraço apertado e também sou eu que estou com medo de acordar e ver tudo que construímos desaparecer. Sinto meu coração na garganta só de cogitar essa hipótese e o pior é que eu estou bem ciente de que há uma mentira entre nós que eu preciso esclarecer o quanto antes ou posso realmente estragar as coisas.

Inspiro o cheiro do cabelo de Leila, buscando no cheiro dela, na maciez familiar do seu pescoço e no calor dos nossos corpos abraçados algum conforto para a angustia que está crescendo lentamente no meu peito. A voz do meu avô soa alto bem lá no fundo da minha mente com a pergunta que ele me fez meses atrás sobre escolher meu casamento ou a empresa. A minha resposta naquela época parece debochar de mim agora, afinal a minha obsessão pela presidência do Grupo pode colocar tudo que tenho agora a perder e o que eu tenho agora é muito mais valioso do que qualquer cargo.

— Meu estômago está roncando, sabe? — Ela comenta com uma risadinha e se afasta de mim.

O sorriso largo no rosto de Leila mingua um pouco quando ela percebe que estou tenso. Eu vivo me esquecendo que ela me conhece como a palma da própria mão, por isso me sinto um moleque irresponsável por estar hesitando tanto em lhe dizer a verdade sobre tudo. Agora poderia ser um bom momento, mas nós estamos tão bem depois de tanto tempo, que não me sinto no direito de magoá-la justo hoje.

Impeço qualquer pergunta que Leila tenha para fazer sobre a minha expressão aflita ao me inclinar rapidamente em sua direção e lhe roubar um beijo. É a saída mais fácil para não ter que falar nada, mas também é a melhor coisa que eu poderia ter feito esta manhã. Estar perto dela é tudo que eu preciso para afastar, ao menos por hora, minha apreensão.

A esta altura já estou convencido de que eu não vou me cansar nunca do sorriso de Leila entre os nossos beijos ou da forma delicada e ao mesmo tempo ansiosa que as mãos dela me tocam. Eu sempre anseio por mais, como se minha cabeça ainda não tivesse entendido muito bem que estamos casados e que nossas manhãs provavelmente sempre serão assim.

— Você está com muita, muita fome? — Pergunto em tom sugestivo.

— Fome? Eu nunca disse que estava com fome!

Aquilo é absolutamente tudo o que eu precisava ouvir. Alcanço os lábios de Leila novamente, tirando-a do chão sem deixar de beijá-la nem um por um segundo. Suas pernas envolvem minha cintura, as unhas arranham minha pele e eu sou guiado inteiramente pelos meus instintos pelo caminho.

Sinto o celular de Leila vibrar insistentemente contra minha nuca, onde ela o segura. Desisto do quarto e decido pelo sofá da sala no momento que percebo que ela vai atender quem quer que seja a essa hora da manhã, mas nem todos os meus esforços são suficientes para distrair a minha esposa preocupada com o trabalho. Leila escapa de mim assim que encontra a primeira brecha para checar o celular. Espio a tela, pronto para começar a resmungar se ela disser que tem que sair ou coisa do tipo.

— Leila... — Me afundo no sofá, puxando-a para cima de mim, contudo ela continua firme como uma rocha com o celular nas mãos.

— Olha isso. — Leila vira a tela para mim. — Madu me mandou uma mensagem dizendo que publicaram a retratação daquela matéria.

— Demoraram para fazer isso.

Ela ri, pinçando a tela do celular para dar zoom numa imagem.

— Postaram uma foto nossa de ontem, no restaurante, com a legenda: Danilo Torres curte noite em São Paulo com a esposa!

— Ah, mas que inferno! Será que preciso processá-los de novo?! — Exclamo, incrédulo com o fato de terem tirado fotos e ainda postado um momento privado de Leila e eu na internet depois de toda dor de cabeça que me causaram.

— Os comentários são bons, pelo menos. Estão dizendo que somos um casal bonito e que parecemos mesmo muito apaixonados.

— Nenhuma mentira até então. — Me sento melhor no sofá, já que o clima foi totalmente estragado por aquela porcaria.

Leila deixa o celular sobre a mesa de centro e se senta ao meu lado. Espero que ela reclame que mais uma vez acabou na internet por causa das minhas confusões e diga que acha melhor não sairmos em público de novo ou coisa parecida, entretanto os minutos se passam e nada do que eu espero chega.

— Você fica bonitinho bravo. — Leila diz depois de algum tempo. — Aparece uma ruguinha bem aqui quando você franze a testa. — Ela toca meu rosto onde diz haver a tal da ruga. Eu nem sabia que eu tinha rugas...

— Você não está chateada com mais essa, está?

— Com certeza estou menos incomodada do que você.

— Posso processá-los de novo.

Leila dá de ombros e abre um sorriso.

— Não publicaram nenhuma mentira, como você mesmo disse, e eu posso suportar que as pessoas saibam que sou casada com o homem mais bonito dessa cidade, fique tranquilo.

— Da cidade, Leila? — Pergunto, fingindo uma indignação que talvez não seja tão falsa assim.

— Ah, certo. Da cidade é um exagero, né? Do bairro é melhor. — Leila responde, sem sorrir desta vez, tão séria que minha autoestima é levemente abalada.

Cruzo os braços em frente ao peito e posso sentir a bendita ruga se formando na minha testa, porque apesar de tentar ignorar, estou remoendo o que ela disse mais do que eu devia.

— Fala, Danilo, eu sei que você quer falar alguma coisa! — Leila insiste. Percebo indícios em sua voz que me fazem pensar que estou sendo feito de bobo.

— Não gostei disso aí! — Admito, por fim. — Eu deveria ser o homem mais bonito do mundo para você, não? Não, eu deveria ser o homem mais bonito do universo, da via láctea, da...

Ela não me deixa terminar meu monólogo ao se acomodar no meu colo e me fazer perder as palavras no meio da frase. Leila segura meu rosto com as mãos e deixa no meu nariz um dos seus beijinhos delicados.

— Quanto drama... — Ela beija minha testa. — Você não tem mais idade para isso, sabia?

Acabo rindo, mesmo querendo muito ficar bravo no momento. Bem que me avisavam que o amor faz a gente se sentir adolescente de novo. Agora, por exemplo, me sinto com 14 anos de idade na frente da garota que eu gosto, e nada parece mais ridículo e cômico nesse mundo. Por Deus, o que eu me tornei?

— Não se trata de beleza, nunca foi isso. — Leila volta a falar, passando os dedos pelo meu cabelo bagunçado. — Sempre foi o que há dentro de você e você sabe disso. Eu me apaixonei por você e me apaixonaria mil vezes, mesmo que você não tivesse dois dentes da frente ou fosse careca ou não tivesse esse rosto. Desde que você continue a ser você, Danilo, você vai continuar a ser o homem da minha vida.

— O homem da sua vida?

Ela se inclina para mais perto, para sussurrar a resposta no meu ouvido:

— O único homem da minha vida. — Leila encosta levemente os lábios na minha pele, que se arrepia em resposta. — Agora, me leva para o quarto?

E eu acredito que eu não preciso nem responder àquele pedido.

Marcinha está irritada comigo com toda razão. Eu desapareci o final de semana inteiro e se Leila não tivesse uma reunião com o cara dos supermercados pela manhã, talvez eu não tivesse nem pisado os pés na Eco Habitação hoje.

Minha secretária ficou sem notícias do contrato com os alemães e meio mundo já deve tê-la colocada maluca por causa disso desde que o expediente começou. Sinto que eu devo desculpas a ela por ter sido descuidado, já que agora ela terá que correr com a nossa equipe jurídica para organizar os detalhes da assinatura dos contratos, mas mesmo sabendo que a situação é séria, eu não consigo parar de sorrir.

— Dr. Tales ligou mais cedo perguntando se o senhor estava vivo. Ele disse nestes termos, inclusive. — Marcinha comenta, deslizando o dedo pelo tablet prateado.

— Ah, vou ligar para ele mais tarde. Estou com fome, que horas são? — Olho para o relógio no canto da tela do meu computador, constatando que ainda falta um pouco para o almoço.

— O senhor parece realmente disposto a escapar do trabalho hoje.

— Sim. Na verdade, eu tenho pensado em maneiras de limpar minha agenda nas próximas semanas.

Ela respira fundo e evita fazer contato visual comigo. Me sinto um péssimo chefe todas as vezes que coloco Marcinha nessas ciladas. Minha agenda está complicada, a empresa está crescendo e eu sei que não posso tirar uns dias de folga justo quando há tanta coisa para se fazer, entretanto...

— Marcinha, eu tenho trabalhado muito, muito mesmo, eu sequer aproveitei minha lua de mel, então eu estava pensando em viajar por alguns dias. — Tento convencê-la, fazendo a minha melhor cara de cachorrinho pidão. Não funciona muito bem com Leila, mas Marcinha tem um pouco mais de pena de mim, ou pelo menos era o que eu achava.

— Isso seria perfeitamente possível se o senhor não estivesse prestes a deixar o cargo, Dr. Danilo, mas como não é o caso, eu, pessoalmente, não recomendaria uma viagem de última hora.

Ela me atinge onde mais dói. Meus funcionários têm frequentemente soltado coisas do tipo, como se quisessem me lembrar o tempo todo que eu estou para cometer um erro.

— Ligue para o meu avô, por favor. Diga que eu pretendo almoçar com ele e Marcos, se possível. Diga que é importante e que podemos ir numa churrascaria se ele quiser.

Sei que Marcinha estranha minha súbita mudança de assunto e sou grato por ela ser sempre discreta o bastante para não dizer nada a respeito.

Tanto minha secretária, quanto meus funcionários e até Tales sempre tiveram toda razão sobre a minha candidatura à presidência do Grupo Torres. Nunca fiz isso pelos motivos certos e eu precisei quase perder os poucos laços com a minha família para compreender isso. Está na hora de começar a fazer as coisas do jeito certo e eu não quero mais perder tempo.

Churrasco é a isca perfeita para vovô, todo mundo da nossa família sabe disso. Ele parece satisfeito com a carne gordurosa em seu prato, comendo com tanto gosto, que tenho medo que ele se engasgue. Marcos está me fulminando com o olhar por ter atraído nosso avô para essa armadilha cheia de colesterol que pode entupir as veias dele, só que ou era isso ou provavelmente nenhum dos dois largaria as coisas na empresa para almoçar comigo.

Estamos no mesmo restaurante em que vovô me disse há alguns meses atrás que não me achava apto para assumir a responsabilidade gigantesca que é o Grupo Torres. Ele estava certo, não sei como eu pude ser estúpido ao ponto de não entender isso na época.

— Sabe o que cairia bem com essa carne? — Meu avô pergunta de forma retórica, apontando o garfo para mim. — Uma boa cerveja gelada.

— Danilo, não! — Marcos diz antes que eu sequer possa piscar. — Cerveja já é demais.

— Eu não ia pedir cerveja a essa hora do dia, Marcos. O que você pensa que eu sou?

— Você está entupindo ele de comida gordurosa! — Meu irmão me acusa.

— Ah, mas vocês já vão começar a brigar? — Vovô larga os talheres, o rosto vermelho de irritação. — Vocês só estão ficando carecas, porque continuam presos na adolescência!

— Eu não estou ficando careca! — Rebato, levando as mãos involuntariamente ao cabelo.

— Você ainda não, mas seu irmão está. — Vovô dá de ombros.

— Não estou não, vovô! — Marcos se defende, conferindo discretamente seu reflexo numa colher.

Vovô não responde, voltando para o seu almoço e ignorando completamente a apreensão do meu irmão. Coitado, ele está mesmo com algumas entradas laterais no cabelo e o que me preocupa é que Marcos nem é tão mais velho que eu, logo a situação capilar atual dele será a minha situação capilar no futuro. Pelo menos Leila já disse que me amaria até se eu fosse careca, então ao menos com meu casamento eu não precisarei me preocupar.

Marcos pigarreia, levando a taça d'água até a boca e dando um gole demorado antes de começar a guiar nossa conversa por outro rumo.

— Eu soube dos alemães. Parabéns por ter conseguido o contrato, vai ser muito bom para a Eco Habitação.

O elogio de Marcos me arranca um sorriso grande e imediato demais. Quando foi a última vez que ele me disse que eu tinha feito alguma coisa direito? Quando eu era criança? Sinceramente, nem me lembro, e talvez por isso as palavras dele tenham me deixado tão contente.

— Sim, parabéns, Danilo! — Vovô também me parabeniza e posso notar certo orgulho em seu olhar. Orgulho de mim, vovô está orgulhoso de mim.

— Bom, é só nosso primeiro contrato internacional e eu acho que para o primeiro deu tudo muito certo.

— A Eco Habitação ainda vai crescer muito na sua mão, menino. — Vovô estende o braço sobre a mesa para me dar dois tapinhas no ombro.

Marcos desvia o olhar, dando mais alguns goles na água que já começou a esquentar. Eu posso imaginar no que ele está pensando nesse momento e, felizmente, meu irmão é maduro o suficiente para guardar aquilo para si mesmo. Se fosse eu no lugar dele, provavelmente já teria estragado todo o clima do nosso almoço para não perder a oportunidade de dizer que disputar a presidência é uma péssima escolha e que eu sou mesquinho e imaturo. Ou era. Não sei quando eu mudei minha prioridades no meio de tanta confusão, mas definitivamente eu não sou o mesmo Danilo de meses atrás, e perceber isso me dá uma sensação incomum de alívio.

— Eu estive pensando em expandir a Eco Habitação. — Digo, hesitante. Se vovô e Marcos me disserem agora que é uma ideia ruim, é provável que eu desista disso nessa mesa, no entanto eu sinto que preciso compartilhar isso com os dois. — Ainda não temos um plano formado nem nada do tipo, é só um plano futuro que pareceu bom depois do investimento nos materiais de construção sustentáveis. — Me apresso em acrescentar.

— Não posso dizer que estou surpreso. O investimento tinha essa finalidade. — Vovô sorri para mim, satisfeito.

Semicerro meus olhos para ele. Eu sabia que vovô estava tentando de algum jeito me mostrar que continuar na Eco Habitação era a melhor coisa a se fazer. Em outros tempos, ouvir isso dele me deixaria com muita raiva. Hoje, porém, eu só quero agradecê-lo por isso.

— Você tirou a empresa do chão, se você acha que é a hora, então é a hora. — Meu irmão diz com cautela e eu me preparo para o questionamento que vem a seguir: — Mas é meio arriscado planejar algo tão ousado agora, não?

— Não. — É minha resposta imediata. — Um dia você me disse que em algum momento eu teria que escolher entre o que eu queria e o que eu deveria fazer, Marcos. Eu estou escolhendo agora. Eu estou escolhendo ficar na Eco Habitação.

O silêncio chocado de Marcos e de vovô me faz ficar com os nervos à flor da pele e eu começo a duvidar se escolhi o melhor momento e lugar para dar aquela notícia. Me afundo na cadeira enquanto os segundos se arrastam sem nenhuma reação dos dois.

Conhecendo meu avô e meu irmão como eu conheço, espero que ambos comecem a jogar na minha cara todas as dores de cabeça que tiveram por minha causa. Eu mereço realmente escutar cada uma das reclamações que eles tiverem entaladas na garganta, quem sabe até ganhar algumas bengaladas na cabeça, como Tales sempre diz que eu mereço, afinal eu sempre espero o pior vindo das pessoas, sempre espero que não me entendam e que não me apoiem. Marcos sempre esteve certo ao me sugerir terapia também, a propósito.

— Isso significa que você não quer a presidência do Grupo? — Marcos é o primeiro a falar, a incredulidade fazendo sua voz ficar ainda mais grave.

Concordo devagar com a cabeça, ainda sem conseguir encará-los.

— Eu nunca deveria ter me metido nisso, para começo de conversa. E eu... — Me permito respirar fundo no meio da frase para que minhas palavras soem mais claras quanto possível. — Eu sinto muito por tudo.

— Meu Deus, você está se desculpando mesmo? — Marcos franze a testa. Ele deve saber mais do que ninguém o quanto tudo está sendo difícil para mim.

— Eu sei que me desculpar e desistir não vai ser o suficiente, os acionistas vão querer me matar e vou ter que suportar algumas pancadas sozinho, mas, de verdade, eu sinto muito.

Marcos se recosta na cadeira e troca um olhar estranho com vovô, que esteve absurdamente quieto desde que comecei a despejar tudo isso sobre eles.

— Eu posso saber o que te fez mudar de ideia, Danilo? — Vovô pergunta genuinamente curioso.

Fico feliz em respondê-lo com sinceridade:

— A minha família. Minha família me fez mudar de ideia.

Vovô concorda com a cabeça, os olhos fundos dele estão marejados e o rosto continua vermelho, mas não mais de irritação. Pela primeira vez em muito tempo, eu sinto que ele está verdadeiramente orgulhoso e satisfeito ao olhar para mim.

Eu tenho a confirmação ali, naquele instante, de que estou, finalmente, fazendo as coisas do jeito certo.

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