Se a gente se casar domingo?

By thalytamartiins

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Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... More

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 39 - Danilo

51 20 11
By thalytamartiins

Dei um salto da cadeira quando abri esse e-mail mais cedo, e mesmo agora, depois de quase meia hora olhando para a tela do meu computador, minha reação surpresa não mudou muito. Confiro pela décima vez linha por linha do texto escrito em inglês, sem conseguir acreditar no que estou lendo. Parece mentira, afinal já faz meses desde que me reuni com esses alemães e eles nunca me deram retorno, mas pelo visto reconsideraram a parceria com a Eco Habitação e querem me encontrar de novo ainda essa semana.

Passo as mãos pelo rosto mal contendo minha felicidade. Fechar um contrato milionário como esse é tudo o que eu precisava para engavetar de uma vez por todas qualquer plano da diretoria de incorporar minha empresa e sumir com ela do mapa, inclusive não vou hesitar em jogar isso na cara de Poliana quando vê-la daqui a pouco numa das reuniões que temos para hoje.

Se havia alguma dúvida quanto ao meu profissionalismo, a parceria com os alemães vai dizimar qualquer questionamento. Esse contrato não vai só reafirmar o nome da Eco Habitação e deixá-la blindada pelos próximos anos, vai fazer com que os acionistas considerem ainda mais meu nome para a presidência e isso é tudo o que eu precisava agora que as eleições estão mais perto do que nunca.

Tudo o que eu fiz para chegar à presidência, as coisas finalmente dando certo depois de tanto tempo e agora esse contrato com os alemães, sinto que os céus estão me mandando sinais de que eu vou conseguir o que tanto quero. Quero dizer, esse era o meu objetivo desde o começo, então...

Nem concluo o raciocínio, porque sei que estou me enganando pensando desta forma. Sendo honesto, eu não sei mais o que eu quero, mas é complicado jogar tudo para cima depois da briga que comprei com Marcos e meu avô. É tarde demais para olhar para trás e ter arrependimentos também, eu sei, entretanto tudo tem se confundido ainda mais nos últimos dias e as dúvidas que eu tinha no começo sobre meu futuro como presidente têm se tornado grandes demais para ignorar.

Acontece que depois do meu aniversário, as coisas entre minha família e eu melhoraram tanto, que não quero mesmo estragar tudo ao insistir na minha eleição. Eu já cheguei longe, tenho apoio de uma parte boa dos acionistas e me sinto capaz de assumir o cargo, contudo estou andando muito incomodado com tudo isso e acredito que boa parte das minhas incertezas são consequência do meu relacionamento com Leila.

Conforme avançamos, mais receio eu tenho que ela descubra a verdade sobre nosso casamento e me deteste por isso. Tenho consciência de que eu devo ser sincero com ela o quanto antes, até porque eu tenho me sentido sufocado por essa mentira mais do que nunca, mas Leila e eu não tivemos um segundo de paz essa semana. Como eu poderia simplesmente jogar esse tipo de coisa sobre ela com Bruna e o filho andando pela casa? A prima de Leila perceberia algo errado e antes que eu pudesse contornar a situação, estariam as nossas duas famílias me odiando por tabela. Não, nem pensar que eu poderia só contar tudo e correr o risco de Leila sequer me escutar. De qualquer forma, teremos tempo a partir de hoje e assim que surgir uma oportunidade, pretendo tirar esse peso das minhas costas e resolver tudo.

E por falar em peso nas minhas costas, Marcinha entra como um furacão pela porta da minha sala. Ela repassa as minhas pautas rapidamente e praticamente me arrasta para fora, para que eu não me atrase para a reunião na sede do Grupo, que nem fica longe daqui, inclusive.

Minha secretária, mais do que ninguém, tem visto meu esforço para passar uma boa impressão e o quanto eu tenho me dedicado nos últimos meses, então ao invés de choramingar porque eu posso deixar a Eco Habitação, ela apenas me ajuda todos os dias a melhorar. No entanto, apesar do profissionalismo, Marcinha não consegue esconder o tempo todo que minha possível saída a incomoda e hoje é um dos dias em que sinto esse tipo de sentimento vindo dela. Aliás, tenho sentido isso de toda a equipe desde que anunciei o e-mail dos alemães no meio do escritório aos berros. Todos sabem o que o sucesso nessa empreitada pode significar para os meus planos como futuro presidente e é difícil para eles ficarem felizes, sabendo que logo terão que se acostumar com outra pessoa no meu lugar.

Não dá para prever como as coisas ficarão no futuro, mas estou dando meu melhor pela empresa enquanto estou aqui e ao menos isso não é uma estratégia. Quero deixar essa empresa bem e garantir que meus funcionários tenham emprego pelos próximos anos, afinal eu devo muito a eles, mais até do que um dia serei capaz de mensurar.

Confio muito na minha equipe, me adaptei bem a eles e não sei se terei a mesma sinergia liderando outras pessoas. Eu me sinto perdido quando paro para pensar nos prós e nos contras de tudo isso e eu nem posso perguntar à Leila o que fazer, por motivos óbvios. Tales sempre achou que minha candidatura começou errado e é a mesma coisa que meu irmão e vovô pensam. No fim, eu me meti nessa sozinho e vou ter que descobrir sozinho também se estou fazendo a coisa certa.

Recolho as minhas coisas de cima da mesa de qualquer jeito e agradeço à Marcinha antes de sair. Eu que sempre odiei bagunça, estou eventualmente deixando minhas coisas fora de ordem em razão da sobrecarga de trabalho. Antes, talvez, isso me deixasse estressado e irritado, mas ser casado com uma engenheira que literalmente revirou minha vida de cabeça para baixo tem me ensinado a ser menos preocupado com coisas pequenas.

Avisto Tales assim que chego à sede do Grupo para as minhas reuniões. Ele me olha estranho, tão estranho que checo o relógio para ter certeza de que não estou atrasado. Concluo que, a menos que ninguém tenha se lembrado de me avisar sobre uma eventual mudança de horários, estou alguns minutos adiantado, isso sim.

— Eu deveria me preocupar com essa sua cara? — Pergunto assim que me aproximo.

Para minha surpresa, Tales apenas continua me encarando. Entretanto, no lugar do desgosto de segundos atrás, há certa confusão em seu rosto agora.

— Você está bem, Danilo?

— Eu? — Aponto para o meu próprio peito sem entender muito bem o que ele quer dizer com aquela pergunta em tom preocupado. — Eu estou ótimo! Bruna vai embora lá de casa hoje e os alemães entraram em contato comigo, acredita?

Espero que ele sorria, mas meu amigo ainda não parece exatamente convencido do que acabei de dizer e aquilo começa a me preocupar mais do que eu gostaria. Aparentemente, alguma coisa séria aconteceu e eu sinto que sou o único sem saber.

— Você entrou na internet hoje? — Tales pergunta cautelosamente, caminhando ao meu lado rumo ao elevador.

— Não exatamente. — Tateio os bolsos da frente da calça em busca do meu celular, não encontrando nada além das minhas chaves e a carteira. — Eu nem sei onde está meu celular, Tales, provavelmente ficou no carro ou na Eco Habitação.

— Então olha isso aqui. — Ele tira o próprio celular do bolso e procura por algo.

Antes que Tales consiga me mostrar o que há de errado, somos interrompidos por um grupo de executivos que também vieram participar da reunião. Me forço a parecer simpático e tranquilo diante deles, mas confesso que não tem sido tão fácil falar sobre minha candidatura à presidência do Grupo Torres agora que as eleições estão tão próximas. Eles demonstram apoio e isso deveria me deixar mais seguro, afinal continuo achando que darei conta do recado se eleito, só que há tanta coisa me incomodando, que não consigo ficar mais tão animado quanto antes.

Por sorte, a primeira reunião começa logo e o assunto é importante o bastante para me manter focado. A incorporação das empresas é a primeira pauta e isso é basicamente o que estão tentando fazer com a Eco Habitação há meses. Fiz questão de trazer comigo uma pilha de relatórios otimistas sobre o desempenho da minha empresa, tudo bem explicado nos mínimos detalhes para tirar da cabeça desses velhos de terno a ideia absurda de sumir com a identidade da empresa que eu criei com tanto zelo, além de ter mencionado ocasionalmente sobre a proposta dos alemães, que se der certo vai trazer muito dinheiro para o bolso de todo mundo.

Com tantos números positivos disponíveis ao meu favor e com o apoio indireto do meu avô, que investiu na linha de materiais de construção sustentáveis, dar o assunto por encerrado quanto a incorporação da Eco Habitação a qualquer outra subsidiária do Grupo Torres acabou nem sendo tão complicado, contudo nem todo mundo na sala de reuniões teve a mesma sorte.

Eu entendo, são cortes de gastos, uma coisa comum no meio de uma crise econômica, mas ainda assim é triste presenciar o fechamento de algumas empresas menores. É impossível não pensar que se a Eco Habitação não tivesse dado retorno, como Marcos queria que não desse, poderia ser a minha empresa fechando as portas hoje. As pessoas que eu empreguei, as paredes que eu ajudei a pintar, os projetos que eu vi nascerem e serem construídos... Tudo terminaria nesta reunião. É uma perspectiva bem desanimadora e eu compreendo completamente o clima ruim que paira sobre a sala e os olhares quase acusadores na minha direção.

Na reunião que se sucede, os olhares hostis para mim só aumentam, incluindo do meu irmão, que está presente em nome de vovô. Na verdade, Marcos mal está olhando na minha cara e eu nem consigo imaginar que merda fiz desta vez para merecer aquele gelo todo, já que até ontem nós dois estávamos sob uma relativa paz. Claro que as coisas entre nós dois não melhoraram do dia para a noite, mas estou realmente surpreso com a atitude dele hoje.

Em dado momento, ofereço minha opinião sobre certo assunto em discussão e a tensão piora. Os executivos mais velhos não escondem os olhares para mim e eu me vejo verdadeiramente incomodado com aquilo. Detesto que as pessoas falem sobre mim pelos cantos, prefiro que digam na minha cara, porque não sou obrigado a adivinhar o que estão pensando.

Poliana, que até agora parece contrariada com a decisão da diretoria de manter a Eco Habitação ativa, reúne alguns papéis sobre a mesa e olha diretamente para mim ao dizer:

— Tenho certeza que você vai continuar trabalhando para fazer do Grupo Torres tão rentável quanto a Eco Habitação, Danilo, até porque você já se mostrou bastante competente durante esses anos, apesar de... — Ela se interrompe ao receber um olhar atravessado de Marcos. — Enfim, vamos para o próximo tópico.

Estou prestes a perguntar o que ela estava para dizer, mas Tales dá início a próxima discussão e eu perco o momento.

É então que algo me ocorre. Tales foi o primeiro a me repreender mais cedo e agora Marcos está todo esquisito. É certo que sinto uma vibração meio ruim vinda das outras pessoas nesta sala também, contudo ainda que eu tenha estragado os planos da diretoria do Grupo de acabar com a minha empresa, eu só fiz o meu trabalho e isso não é exatamente um motivo para que estejam me tratando assim de uma hora para outras.

Me lembro que Tales tinha algo para me mostrar no celular antes de entrarmos no elevador mais cedo. Se é algo que está sob o conhecimento de todo mundo aqui, provavelmente está na internet. Passo minhas mãos pelo rosto, sentindo uma leve inquietação se instalar no peito. Puxo o notebook de Tales mesmo sem a permissão dele e digito meu nome na barra de pesquisas de um site de buscas. O resultado que vejo na tela não poderia ser outro: escândalo!

Quase começo a rir da situação. Estou casado há meses, venho sendo diligente com meus compromissos e trabalhando como um condenado, mas ainda assim conseguem envolver meu nome ao nome de Simone numa matéria idiota em um site sem credibilidade. É claro que todo mundo estaria mesmo me olhando torto depois disso, foi do mesmo jeito quando me enrolei com Marcela e a reputação do Grupo foi parar na vala por minha causa. Agora, todo mundo deve estar pensando que vai acontecer a mesma coisa e no meio de uma maldita crise financeira.

Entretanto, de tudo que poderia me preocupar no momento, a única coisa que me vem à cabeça é o meu casamento. Se até os velhos da diretoria estão sabendo disso, é óbvio que Leila também está e é isso que me faz ficar de pé no meio da reunião tão de súbito, que Tales para de falar. Peço uma licença apressada e praticamente corro porta afora. Estou torcendo para que meu celular esteja no carro, porque se eu tiver que voltar à Eco Habitação...

Droga! Me lembro tarde demais de que preciso voltar à Eco Habitação para terminar de assinar alguns documentos urgentes. Esse dia não poderia ser pior!

Escuto Marcos me chamar repetidas vezes, mas não paro de andar nem por um segundo, pelo contrário. Ele me alcança e eu nem me viro para ele, preocupado demais para escutar sermão do meu irmão mais velho sobre uma coisa que eu nem fiz.

— O que te deu para sair assim? Ainda temos algumas pautas. — Marcos diz, puxando meu braço para que eu pare de andar.

— Você sabe muito bem o que me deu.

— Mas sair assim da reunião só vai te prejudicar mais com a eleição, Danilo. Você parece que nem pensa nas coisas!

Me volto para ele, incrédulo com o que eu acabei de ouvir.

— Você acha mesmo que eu estou preocupado com isso agora?

— Você devia, já que quer se eleger.

Abro minha boca para contestá-lo, mas sei que Marcos está certo. Eu deveria estar preocupado com a repercussão disso dentro da empresa, principalmente às vésperas de fechar um contrato gigantesco com uma empresa internacional. Deu tanto trabalho convencer os alemães e trazer os acionistas para o meu lado, e agora além de provavelmente perder meu contrato, vou perder a presidência porque eu me envolvi no meio dessa bagunça. No mínimo, eu deveria estar pensando em uma forma de limpar meu nome antes que isso faça da minha vida o inferno que eu conheço bem, mas eu só consigo pensar em Leila lendo aquela notícia mentirosa e me pedindo o divórcio.

— Eu não fiz nada dessa vez, Marcos. Essa foto que está circulando na internet é totalmente fora de contexto e eu tenho certeza que posso resolver isso com duas ligações, mas agora eu preciso ir para casa e salvar meu casamento.

Meu irmão respira fundo, parecendo sopesar o quão sincero eu pareço ter soado. Aquilo me deixa ainda mais angustiado, porque se Marcos, que é sangue do meu sangue, precisa pensar se acredita em mim ou não, o que esperar de Leila, que estava começando a confiar em mim agora?

— Eu não faria isso com ela, Marcos. Eu juro que não faria.

— Você não precisa tentar convencer a mim ou ao resto do mundo, Danilo. Se é a opinião de Leila que importa para você agora, é só para ela que você deve satisfações.

Sinto que consigo respirar de novo ao ouvir aquelas palavras vindas dele.

— Obrigado. — É tudo que eu digo antes de sair quase correndo de novo.

Fico preso na Eco Habitação por mais tempo que achei que ficaria após ter vindo assinar alguns documentos que não poderiam esperar que eu resolvesse minhas pendências. Tentei entrar em contato com Simone, porque agora sei que era sobre isso que ela queria falar comigo quando me ligou e me enviou mensagens que nunca foram respondidas, no entanto ela parece fora do ar justo hoje. Minha única alternativa foi pedir a Marcinha que acionasse o melhor advogado desta cidade para mover um processo o quanto antes contra o site que publicou a matéria e eu espero que isso baste por enquanto.

Leila fez questão de não atender o celular a tarde inteira e eu estou apavorado com isso, pois eu a conheço para saber que quando ela está imensuravelmente brava, sua primeira reação é não falar com ninguém. Por precaução, liguei para Jonas para sondar como estavam as coisas e o que ele me disse me deixou ainda mais preocupado. Leila voltou mais cedo para casa e, aparentemente, está furiosa. Quando penso em Leila, não consigo pensar no adjetivo "furiosa", mas agora...

Quando finalmente sou liberado e posso dirigir para casa, ainda enfrento um trânsito dos diabos, que consegue me atrasar ainda mais. Sinto que o universo está conspirando para que eu me ferre hoje e eu talvez mereça toda essa conspiração de fato. Mais cedo ou mais tarde todo mundo tem que acertar as contas com a vida, eu só não esperava que a minha conta chegasse justo quando tudo parecia estar dando certo.

Nem ouso olhar para o relógio antes de entrar no apartamento. As luzes estão quase todas apagadas, exceto pela luz mais fraca da varanda, que Leila insistiu em trocar, porque era um gasto desnecessário, segundo ela. Atravesso a casa a passos hesitantes, sem saber o que esperar da nossa conversa, que eu desejo com todo o meu coração que não termine mal.

A encontro sentada na caminha de Sansão, com meu cachorro no colo, enquanto alisa as orelhas da gatinha, que se aninhou ali por perto. Ela não percebe minha presença de imediato, quem me nota primeiro é Sansão, que pula do colo de Leila para fazer festa aos meus pés. O rosto da minha esposa se vira na minha direção e meu coração despenca no peito, porque consigo sentir de onde estou o quanto ela está chateada.

— Ah, você chegou! — Ela diz, apoiando-se na parede para ficar de pé.

— Eu tive alguns problemas para resolver. Tentei te ligar, mas você não atendeu.

— Eu não vi tocar, deve ter descarregado a bateria. Desculpe.

Recuo um passo. Claro que o celular pode ter descarregado e ela pode não ter visto, isso acontece com mais frequência do que eu gostaria que acontecesse, mas duvido muito que tenha sido esse o motivo para ela não me atender. Leila está brava comigo, brava não, furiosa, como Jonas disse, e eu não sei o que fazer. Na verdade eu acho que vou morrer sem saber o que fazer com relação a Leila quando ela se retesa assim.

— Você deve estar me odiando, né?

— Ódio é um sentimento muito forte, mas eu estou bem chateada no momento. Você viu a quantidade de compartilhamentos? E o que estão dizendo? Parece um inferno!

— Entendo... — Balanço a cabeça de leve, desviando os olhos dos dela.

Os comentários são sempre a pior parte e o que estão dizendo sobre Leila e eu é ridículo, porém muita gente parece acreditar naquilo. Não existe outra mulher nos meus pensamentos desde que Leila apareceu na minha sala e aceitou se casar comigo, mas como Marcos disse, o importante é que Leila saiba disso, o resto não importa.

— Escuta, eu sei que é difícil acreditar em mim, mas eu posso garantir que tudo isso é um mal entendido e que eu não tenho nada, nada mesmo com Simone. Aquela foto foi tirada de um ângulo ruim, eu só pedi desculpas a ela e nada mais. Eu não faria isso com você, eu...

— Eu sei. — Leila corta meu discurso.

Olho para ela, meio atordoado com a resposta.

— Você... sabe?

— É claro que eu sei, Danilo. O que foi? Você acha que eu estou com raiva porque estão falando que você me traiu? Você acha mesmo que isso passou pela minha cabeça? Nós dois nem estávamos juntos na época, então mesmo se fosse verdade eu não tenho direito de ficar com raiva especificamente por isso. Meu problema com essa situação é outro!

Não respondo de imediato. Ela não ter pensado naquilo me deixou mais leve, não posso negar, afinal significa que ela ainda confia em mim. Contudo, não pensar que eu a traí não quer dizer que ela esteja menos chateada. Eu me lembro de como me senti um lixo quando o escândalo com Marcela explodiu na internet e todo mundo neste país tinha uma opinião para dar sobre a minha vida. Só de imaginar que Leila está sentindo algo semelhante por minha culpa, eu tenho vontade de bater na minha própria cara.

Tento alcançar as mãos dela, mas Leila se esquiva no último instante, aumentando a distância entre nós dois.

— Eu vou consertar tudo isso, prometo.

— Por favor, faça isso o quanto antes! — Ela dispara com o que eu identifico ser uma leve impaciência na voz. — Eu te pedi tanto para tomar cuidado e não envolver meu nome nesse tipo de coisa, Danilo. Eu te disse tantas vezes!

— Mas não foi minha culpa, Leila, tiraram tudo do contexto!

— Eu sei disso. — Leila passa por mim e entra na casa. — Mas logo meus pais vão saber disso e eu não sei como vou conseguir explicar as coisas para eles.

— Seus pais... — Fecho meus olhos brevemente, percebendo o tamanho do problema e os motivos dela para estar tão perturbada com a proporção que as coisas estão tomando na internet. — Eles vão ficar bem chateados, não vão?

— Sim, claro que vão! Minha mãe vai me encher para que eu me divorcie de você, meu pai vai ficar muito decepcionado e os dois nunca mais vão te olhar do mesmo jeito. Até que eu explique para eles que não é nada disso e que a gente nem estava junto de verdade na época dessas fotos... — Ela para de falar e respira fundo. — Olha só o tamanho da dor de cabeça, como eu vou explicar que estamos casados desde março, mas só estamos juntos há menos de um mês?

— Você tem toda razão, eles não podem saber! — Tateio meus bolsos, procurando meu celular para tentar falar com Simone de novo. — Eu vou dar um jeito nisso, vai ficar tudo bem até amanhã de manhã.

— É bom mesmo, porque está sendo complicado ignorar as ligações do meu irmão.

Paro de digitar uma mensagem para Simone e volto minha atenção para Leila.

— Eu nem sei como me desculpar por estar fazendo você passar por isso. — Arrisco me aproximar alguns passos dela. — Nada disso nunca mais vai se repetir, eu te garanto. Eu fui irresponsável, eu devia ter imaginado que na primeira oportunidade fariam isso comigo de novo, mas...

— Mas você não pensou que poderia afetar os outros com as suas atitudes. — Ela me interrompe. — O seu problema é esse, você acha que está sozinho no mundo, quando há muitas pessoas que se importam com você e são afetadas pelas escolhas que você faz.

Aquilo me atinge com tanta intensidade, que não consigo sequer reagir. É difícil escutar coisas do tipo vindas dela, porque eu me importo com ela mais até do que eu me importo com a minha própria empresa. Contudo, poucos meses atrás eu não tinha essa visão sobre Leila ou sobre o nosso relacionamento, tanto que quando meu avô pediu para que eu escolhesse entre meu casamento e o Grupo Torres, eu nem pensei duas vezes antes de colocar a empresa acima do meu relacionamento.

Hoje eu não penso mais daquela maneira, Leila ocupa um espaço grande demais e eu não consigo conceber a ideia de magoá-la, mas entendo que ela ainda se sinta insegura quanto a tudo, afinal é uma mudança muito brusca para pouco tempo, até mesmo eu ainda estou tentando me acertar com os meus próprios sentimentos. Minha única certeza é que eu a quero comigo e que eu farei o necessário para que ela não queira me deixar.

— O que eu posso fazer para a gente ficar bem?

— Ah, Danilo... — Leila esfrega as têmporas e deixa escapar mais um suspiro cansado. — Só tenta fazer as pessoas pararem de falar de nós dois. Agora eu só preciso dormir, está bem?

Ela não quer conversar, então acho melhor ficar na minha e não insistir num assunto que só vai gerar mais desconforto. Leila tem a própria maneira de lidar com situações de crise, e se ela precisa de tempo para digerir tudo isso para tentar me perdoar, eu preciso dar isso a ela.

— Acho que vou para o quarto.

— Tudo bem. Eu vou tomar um banho primeiro, comer alguma coisa e já vou deitar também.

Ela concorda com a cabeça e começa a caminhar pelo corredor. No entanto, em vez de abrir a porta do meu quarto, ela abre a porta do quarto de hóspedes.

— Você não vai dormir comigo?

— Não até você resolver essa situação. Pense nisso como um incentivo. E boa noite!

Ela desaparece dentro do quarto e eu preciso respirar fundo algumas vezes para me acalmar depois daquele banho de água fria.

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