Ouvi um barulho que me fez acordar quase com pulo, Eny parecia ter batido à porta da sala com mais força do que devia só para me acordar.
- Você acordou? - A enfermeira me perguntou sorrindo enquanto colocava o pão sobre a mesa. - Eu tenho mesmo um bilhão de perguntas para te fazer, mas se quiser tem uma escova de dente nova no banheiro, croissant de ontem, pão de sal quentinho e o café eu fiz antes de ir à padaria.
Levantei do sofá em que dormi e fui escovar os dentes antes de tomar café da manhã.
Depois de fazer minha higiene pessoal voltei para sala e tomei café enquanto Eny me fazia um bilhão de perguntas e depois de responder todas as perguntas comecei:
-Eny você sabe de algum lugar que consigo minhas lentes de contato sem precisar me consultar com antecedencia?
- Sim , eu conheço uma pessoa digamos que nós já fomos íntimos na época da faculdade. Eu te lego lá depois do café . - Eny falou se levantando da cadeira e indo até seu quarto.
Enquanto falava :
-O carinha que desmaiou ontem não é de se jogar fora.
- O nome dele é Rafael , ele é muito gente boa , ele era o melhor amigo da Duda daqui e o Rafa do meu mundo também já foi o meu melhor amigo, porém a gente acabou brigando quando ele soube que eu estava transando com Jean. Com quem eu casei. -falei com a boca cheia te pão com presunto e queijo.
- O Rafael tinha ciúmes de você?
- Eny, ele era meu melhor amigo na época, acho que ele só não queria dividir minha amizade com qualquer outra pessoa. Comecei dar atenção para Jean e pelo visto o Rafa não gostou muito disso.
A enfermeira me levou ao consultório do seu amigo que resolveu o problema da lente de contato de grau para mim, já que joguei a minha fora assim que acordei no hospital.
Na volta para casa pedi para quê Eny parasse em frente à academia que no meu mundo é minha.
- Eu sou a dona dessa academia na minha dimenção, Jean é meu marido administrador da academia.
-E deixa eu adivinhar aqui ele é aquele bonitão que não perde uma oportunidade de tirar uma casquinha das garotas da academia.- Eny falou analisando Jean.- Você o ama?
-O meu Jean é totalmente
diferente desse: O meu é romântico, sempre me leva e me traz para o aeroporto toda vez que eu vou viajar, ele faz questão de saber todas as datas importantes, coloco
minha mão no fogo pela fidelidade dele.- Falei enquanto via o Jean desse mundo se posicionar atrás de uma garota deixando o seu membro encostar na moça enquanto ele ensinava como fazer o agachamento de maneira certa.
- Eu não coloco minha mão no fogo por ninguém gosto muito da minha mãozinha.- Eny falou .
-Estranho, é como se eles fossem irmãos gêmeos, um é o gêmeo bom e o outro o mau. - Falei ainda olhando para Jean e agradecendo a Deus pelo meu marido ser totalmente diferente dele.
-E qual é o gemeos do mau? - Eny perguntou segurando o riso. - Eu só queria deixar bem claro uma coisa: você não sabe porque veio para aqui, eu não faço ideia se algum dia irá voltar para o seu mundo , você está pensando em ficar sozinha enquanto estiver aqui mesmo que isso leve 10 , 20 ou 30 anos?
- Eny , eu sou casada.
- Maria Eduarda qual é a parte do 10, 20 ou 30 anos você não entendeu? Você pode simplesmente nunca mais consegui voltar para o seu mundo; e aí vai ficar sozinha esse tempo todo? E será que o seu marido vai fazer a mesma coisa? Essa hora todos no seu mundo já devem saber desse avião que sumiu do nada, seus pais, marido e amigos já devem está desesperados. Seu corpo não vai aparecer, mais em algum tempo vão te dar como morta. Quanto tempo você acha que seu marido vai ficar solteiro?
Por alguns segundos fiquei pensando em tudo o que minha nova amiga falou, mas como já estava acostumada a fazer , apenas tirei qualquer pensamento de dúvida da minha cabeça e apenas respondi:
- Tenho certeza que Jean deve está arrasado, gastando todo o nosso dinheiro para me procurar.
...
Jean...
-Não acha que seria melhor colocar gente para procurar o corpo da sua esposa?
- Mãe eu não irei gastar um centavo para procurar uma pessoa que eu não quero encontrar. Se eu encontrá-la não ficarei com todo aquele dinheiro e o pai da Duda já colocou metade da cidade atrás dela.
- Eu estive pensando...Jean , será bom para sua imagem se daqui a um ano e meio você trouxesse a Kira e sua filha para morar com você.
- Não mesmo, eu mal me livrei de uma e vou casar com outra? Essa é minha grande chance de viver tudo o que eu não pude quando era mais novo. Tive que casar com a Duda graças a seu plano...
- Jean , pense bem onde você estaria se não fosse o meu plano, se não estivesse casado com a Duda seria apenas um professor de educação física qualquer , a Kira e sua linda filha estariam morando na casa da mãe dela e talvez você também, kira estaria trabalhando em um supermercados ou em uma loja qualquer e você iria reclamar que ela estava gastando dinheiro demais com a garota e que nunca sobrava dinheiro para você tomar uma cerveja com os amigos. Kira pode acabar com sua imagem de bom moço se contar que você pediu para que ela saísse da escola e esconder a gravidez para que você tivesse a vida que tem hoje. Se o senhor Loureiro já está com raiva de você imagina se ele souber que você sempre teve uma amante e ainda tem uma filha mais velha do que o seu casamento e ninguém nunca soube.
- Ai que merda, nem morrendo a Duda me deixa em paz.
...
Rafael...
Naquele mesmo dia sem opção tive que trabalhar, minha primeira paciente era Juliana ou Jujuba como ela gostava de ser chamada, Juliana era a paciente mais nova que eu já havia atendido, mas sua mãe me escolheu porque já havia sido minha paciente a um ano atrás. A menina tinha medo de escuro e repetia constantemente que sonhava que havia caído em um poço, a menina sempre acordava gritando e a mãe dela a trazia duas vezes por semana para as consultas minha mais nova paciente com apenas 6 anos de idade.
A mãe dela já havia levado a garota deste a centro espíritas até a igrejas devido o horário que a garota costumava acordar : por volta das 3:00 da madrugada.
Apesar de não ser um especialista em crianças resolvi atender a menina pela semelhança com meus pesadelos no mesmo horário.
Depois de atender a Jujuba , fiquei pensando e se não fosse nada sobrenatural ? e se tivesse um horário que esse véu, linha, parede ou seja lá como se deve chamar essa coisa que divide as dimensões ficasse mais fracas e conseguimos ter contato de alguma forma com coisas que aconteceram ou que acontecem naquela dimensão.
Depois de pensar isso eu mesmo não entendi direito o que acabara de pensar, porém resolvir passar na casa de Felipe assim que terminasse de atender meus pacientes.