E tudo acontece por um motivo
Há males que vem para o bem
Eu costumava questionar quem eu era
Mas agora eu vejo
A resposta está nos seus olhos.
EVERYTHING I NEED | SKYLAR GREY
Anya
Quando abri os olhos naquela manhã eu já sentia como se tudo estivesse diferente. Eu me sentia uma pessoa diferente. Uma mulher diferente.
Meu Deus.
Tinha até medo da noite passada não ter passado de um sonho muito bom, mas ao virar a cabeça e olhar para o belíssimo vestido cor de vinho que usei esticado sobre a cadeira, me dei conta finalmente que não pode ter sido um sonho. Foi real. Real.
Meu coração acelerou e um sorriso esticou minha boca. Grande. Espontâneo. Verdadeiro.
Meus quadros foram expostos para o mundo ontem.
As pessoas gostaram.
Elas queriam comprar minhas telas. Elas queriam me conhecer. Queriam me cumprimentar pelo meu trabalho.
Uma pessoa muito influente me notou. Um conde que é conhecido por ser um dos maiores colecionadores de artes de toda Londres.
Charles Duncan.
Ele era um homem de meia idade, muito bem apessoado, gentil, galanteador, educado e muito refinado. A forma como falou comigo, tão educado e franco. Me disse coisas que eu nunca pensei ouvir, muito menos em relação aos meus quadros. Ele amou. Disse que não via uma obra tão autêntica e sentimental a muito tempo.
Ele fez uma oferta irrecusável para mim e Elliot me deixou tomar a decisão sozinha, me disse que eles eram meus e que eu tinha o direito de decidir.
Charles comprou todos os meus quadros naquela noite.
Nesse momento, eu olhava para a caixinha dourada e adornada onde todo o dinheiro foi colocado, era mais ou menos do tamanho de uma almofada e estava abarrotada. Finalmente, finalmente, eu tinha o meu dinheiro. Muito dinheiro. Mais do que eu poderia sequer imaginar.
E tudo isso só foi possível por causa do homem que eu amava. Eu o amava tanto que às vezes achava que não caberia tudo em meu peito.
Um pensamento me passou pela cabeça, enquanto eu observava encantada o modo como a luz do sol entrava pela janela e banhava o quarto, iluminando-o.
Um pensamento que também era um dos meus sonhos mais secretos. Minha casa própria. Um lar. Onde fosse meu, do jeito que eu sempre sonhei.
Cheguei a achar que nunca poderia cumprir esse desejo, mas agora eu posso. Posso ter minha casa e melhor ainda, com meu próprio dinheiro.
Com esse pensamento em mente e um sorriso gigante no rosto, eu me levantei e comecei a me arrumar para o dia, cantarolando comigo mesma.
"Porque, querido, tudo o que você é
É tudo o que eu preciso
Você é tudo para mim
Querido, cada parte
É quem você deveria ser
Porque você foi feito pra mim"
Conforme a música me deixava, eu me sentia mais certa sobre o que queria fazer. Sobre o que precisava fazer.
Amarrei metade do meu cabelo apenas para não ficar caindo na frente do meu olho e deixei algumas mechas finas caírem pelas minhas têmporas. Coloquei o mesmo vestido rosa-bebê que usei no passeio de balão que fiz com Elliot, peguei a caixinha dourada e sai do quarto.
Minha barriga roncou assim que pus os pés no corredor e decidi que poderia comer antes de colocar minhas ideias em prática. Andei até a cozinha e quando fui me aproximando escutei barulhos e alguém assobiando alegremente.
Virei a curva e tive um vislumbre da pessoa. Meu coração se contorceu. Elliot estava ali, concentrado em preparar o que quer que fosse aquilo e eu ainda não conseguia me acostumar com a beleza desse homem.
Meu estômago inundou-se com a revoada de borboletas que começou a bater as asas, enquanto eu o observava.
O modo como o cabelo lhe caía nos olhos quando ele se inclinava, a curva deliciosa de sua boca esticada naquele sorriso torto que eu tanto amava e o jeito como seus ombros se contraiam a cada movimento.
Só que não tive muito tempo para admirá-lo pois ele ergueu o olhar e me viu. O sorriso lindo se alargou e os olhos azuis claros brilharam para mim.
- Bom dia, linda - ele murmurou, largando tudo e vindo ao meu encontro. Elliot se inclinou e beijou meus lábios com adoração, logo depois recuou e sorriu para mim - Sente-se, amor. Estou terminando seu café da manhã preferido.
Sorri para ele, com o coração acelerado.
- O que foi que eu fiz para merecer uma coisa dessas?
Ele voltou para perto das panelas e começou a remexer seu conteúdo, que estava com o cheiro delicioso e fez meu estômago roncar novamente.
- Você fez muito sucesso ontem a noite e achei que merecia uma forma de comemorar - Elliot respondeu, e olhou brevemente para mim por cima do ombro e me lançou um sorriso que esbanjava orgulho e admiração. Meu coração gaguejou.
Sorrindo, me sentei à mesa, apoiando a caixinha na superfície e observei-o me servir de bolo de chocolate com sorvete, que eu prontamente aceitei e comecei a comer, suspirando de prazer ao sentir o gosto delicioso.
- Isso está perfeito - murmurei, fechando os olhos por um segundo.
- Assim como eu - ele declarou, sorrindo largamente.
Revirei os olhos, tentando conter o sorriso.
- Claro que você diria uma coisa assim - Coloquei mais uma colher de comida na boca, observando-o franzir as sobrancelhas para mim.
- Eu sou sincero, amor - defendeu-se.
- Sei disso - eu ri.
Me concentrei em terminar de comer, pensando na melhor forma de abordar o assunto que eu tanto queria. Minhas mãos começaram a suar de ansiedade e receio, mas assim que olhei para o homem que eu amava, me encarando com paciência e atenção, como se soubesse que eu tinha alguma coisa para falar, meu nervosismo foi cedendo e finalmente consegui respirar com mais facilidade.
Tomei fôlego e soltei tudo de uma vez só:
- Eu estive pensando. Sobre o que aconteceu ontem e todo aquele dinheiro que ganhei, e como o sr. Charles disse que queria ser avisado assim que eu tivesse uma nova coleção. Pensei que talvez, eu tivesse dinheiro suficiente para comprar uma casa - puxei a caixinha dourada para mim e entreguei-a a ele, para que pudesse ver - Eu não sei se é o suficiente, mas gostaria que você desse uma olhadinha, por favor - expliquei, encolhendo os ombros. E continuei: - Sempre tive um sonho de ter minha própria casa. Desde sempre. Como você sabe, não pensei que algum dia alguma coisa tão incrível quanto aquela ontem aconteceria, mas aconteceu. E isso me deu esperanças de finalmente poder conseguir realizar esse sonho. Eu só queria que você me dissesse se estou ao menos perto de conseguir isso.
Suspirei, enquanto esperava-o processar tudo que acabei de dizer. Elliot me estudou por alguns segundos, então colocou a mão sobre a minha, olhando diretamente em meus olhos.
- Meu amor - ele começou, com carinho - Você não só está perto de realizar seu sonho, como você pode.
A surpresa me atingiu em cheio.
- Eu posso? - sussurrei, ainda sem acreditar que dentro daquela caixa tinha tanto dinheiro assim, e eu nem fazia ideia do quanto.
Ele assentiu para mim.
- Claro - continuou, abrindo a tampa da caixa, deixando a mostra seu interior para que eu pudesse ver - Olhe. Você vendeu todos os seus 26 quadros para o maior colecionador de toda Londres, um sujeito podre de rico. Você tem o suficiente para comprar até três casas, se assim desejar.
- Meu deus - murmurei, meus olhos se enchendo de lágrimas e meu coração batendo em disparada.
Eu realmente não havia entendido a enormidade de tudo que tinha acontecido, até aquele momento. Três casas. Nossa. Isso é muito, muito, muito mais do que eu pensava.
É inacreditável o quanto nossa vida pode mudar de maneiras incrivelmente inesperadas em um período de tempo mínimo. Ontem eu não passava de uma empregada, hoje eu sou uma pintora famosa, que teve todas as suas obras compradas e agora estava absurdamente rica. E todos estavam ansiosos pela minha próxima coleção que eu ainda nem ao menos começara a pintar.
Olhei para o homem à minha frente e comecei a rir. Simplesmente rir. Como nunca na minha vida tinha feito antes. Porque era inacreditável, ou melhor inimaginável, que eu uma simples e reles empregada agora podia estar rica. Jesus. Acho que estou ficando um pouco louca, ou estou sonhando.
Elliot me observava atentamente, provavelmente tentando entender meu surto de risos descontrolados. Tentei me acalmar e parar de rir, mas então flashes de memória me invadiram, meus pais, Edgar, Mary, Nathaniel, Morgana. Tantas pessoas e as únicas que deveriam me amar e me apoiar incondicionalmente nunca o fizeram por mim.
O riso morreu em mim tão rápido quanto surgiu. Eu sei, sei bem demais, que eles não mereciam que eu ficasse desse jeito, muito menos me sentisse desse jeito, mas não conseguia evitar, era mais forte do que eu. Não sei se algum dia vou conseguir superar essa parte da minha vida, mas do fundo do meu coração eu sabia que tinha que tentar. Pelo meu bem e pelo bem das pessoas ao meu redor. Eu merecia coisa melhor. Eu merecia ser tratada diferente.
Elliot apertou minha mão, atraindo minha atenção para seu rosto. Ele parecia preocupado, seus olhos procuravam os meus em busca de algum sinal. Eu respirei fundo e seu olhar se suavizou quando encontrou o meu.
- Você está bem?
Sorri para ele, conseguindo processar tudo dentro de mim da melhor maneira possível.
- Sim, eu só não imaginava a enormidade de toda essa situação - indiquei a caixa em cima da mesa e depois desviei o olhar, sentindo meu coração se contorcer.
- Mas não foi só isso - ele adivinhou, sabiamente. Sua voz baixa e gentil - O que a está incomodando, meu amor?
Às vezes eu tinha a sensação de que ele me conhecia melhor do que eu mesma.
- Eu sei que é bobagem e não deveria ficar pensando neles, mas... - hesitei, então tomei fôlego e contei: - São os meus pais. Eles nunca acreditaram que eu conseguiria alguma coisa com a pintura, nunca nem mesmo prestaram atenção nos meus quadros, sempre disseram que era uma perda de tempo e dinheiro. Mas agora, eu tenho a prova de que eles estavam enganados. Redondamente enganados. Uma vez eu ouvi deles que eu nunca seria alguém na vida, que ninguém nem mesmo saberia o meu nome, porque ninguém sequer prestaria atenção em mim. E agora eu só estava pensando que independente de tudo que eles já fizeram ou me disseram não foi capaz de mudar o que eu sou hoje, ou foi capaz de impedir que as coisas boas acontecessem na minha vida. Acho que de certa forma, me sinto grata por ter esperado tanto tempo, por todas as dores que passei, porque cada uma dessas coisas só me deixou mais forte e foi capaz de me preparar para esse momento.
Meu olhar encontrou o dele, que brilhava de admiração e amor.
- E eu te agradeço muito por me ajudar a ver isso, meu amor. Depois que te conheci minha vida nunca mais foi a mesma, eu não fui a mesma. Você me ajudou a ver que não importa o que eles digam, eu mereço coisa melhor na minha vida, eu mereço pais que me amem e me apoiem de verdade. E eu já tinha isso, Mary e Nathaniel. Acho que apenas estava com medo de admitir e perdê-los logo depois, mas é a verdade. E vocês não tem ideia do quanto eu os amo. Todos vocês. Vocês foram minha luz. Vocês me deram esperança quando eu não tinha mais forças para lutar. E principalmente, vocês me ensinaram o que significa amar alguém e isso, é sem dúvida, uma das melhores coisas que se pode fazer por alguém.
Meu coração e todo o meu ser agora estava aliviado por colocar tudo aquilo em voz alta. Elliot estava com os olhos brilhando pelas lágrimas, mas ele sorriu para mim. Um sorriso torto e malicioso, que ao mesmo tempo conseguia demonstrar todo seu amor e orgulho.
- Eu sei que você sabe, mas não me canso de dizer o quanto estou orgulhoso de você - Sua voz estava rouca e deixou meu corpo todo arrepiado - Eu amo tanto você, Anya.
- Também te amo, Elliot - sorri para ele.
- Acho que está na hora de sairmos em busca da sua casa dos sonhos perfeita - ele anunciou, ficando de pé e puxando-me junto pela mão.
Meu coração saltou.
- Jura?
O cantinho de seus olhos se enrugou quando seu sorriso se alargou, enquanto ele me guiava em direção ao seu peito largo.
- Juro. E leve o tempo que demorar, nós vamos encontrar a casa perfeita para você, do jeitinho que você sempre desejou.
- Obrigada - murmurei, sorrindo.
- Eu que agradeço por ter você, meu amor.
Então ele me beijou, e todo e qualquer pensamento se dissipou. Éramos eu e ele, nossos corações e almas se entrelaçando e se amando em um momento só nosso. E aquele dia ficaria para sempre gravado em meu coração como o dia em que o homem que eu amava me mostrou que não importava nossas diferenças, porque no fim das contas foram elas que nos uniram.
☆☆☆
Eai, gostaram?
Eu tô simplesmente muito orgulhosa e apaixonada pela evolução da Anya, minha neném está finalmente se aceitando e percebendo todo o amor que a cerca 💜💜💜
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OBRIGADAA
Beijos de luz 💜