-Duda acorda. - Ouvi uma voz de homem que não ouvia há muito tempo me chamando e abri os olhos.
-Ela acordou, ela acordou. - A enfermeira saiu do quarto correndo para avisar seus superiores e em pouco tempo tinha pelo menos 3 médicos dentro do quarto; indiferente a tudo isso eu olhava para meu pé direito com uma bota preta que imobilizava meu pé quebrado, muitos curativos espalhados pelo meu corpo e uma bolsa de soro pingando preguiçosamente.
-Desculpa , mas precisamos fazer algumas perguntas . - Um belo homem negro com sorriso largo e bastante musculoso falou com voz calma.
Balancei a cabeça fazendo sinal de positivo e o mesmo começou:
- Eu me chamo Ricardo Mozzer e os demais fazem parte da junta médica que estamos tentando entender o que aconteceu . Qual o seu nome? Você está bem? - O doutor falou enquanto uma jovem loira parecia está gravando a conversa com o celular.
-Meu nome é Maria Eduarda Loureiro Polesy , estou bem e queria saber se posso telefonar para meu marido ? Ele deve estar bastante preocupado.
- No momento a senhora não poderá fazer ligações, mas avisaremos seus familiares assim que nos informar o número do telefone que quer que liguemos.- O doutor falou se aproximando da maca em que eu estava e com uma lanterna pequena examinava meus olhos e garganta.
- É que eu realmente quero falar com o meu marido. - Falei com a boca totalmente aberta com o doutor examinando minha garganta.
- Como já falei precisamos que responda algumas perguntas. Você sabe que lugar é esse? - O doutor perguntou.
- Um hospital. -Não entendo o porque da pergunta.
- Sabe por que está aqui? - O médico bonitão continuou.
- O avião em que eu estava deve ter caído . - Respondi e aparentemente desmaiei só acordando no dia seguinte.
Assim que acordei notei a correria da enfermeira para chamar algum superior e dessa vez junto com o médico bonitão que imagino ser algo importante naquele hospital , também entrou no quarto o que parecia ser um policial de patente alta.
- Olá , como está se sentindo hoje? - Doutor Ricardo me perguntou enquanto a enfermeira trocava a bolsa de soro.
- Eu gostaria de falar com o meu marido. - Falei olhando para o policial que me olhava de maneira estranha.
- Seu marido saiu do hospital há aproximadamente 20 minutos, mas o informamos que as visitas não vão poder ser constantes até que entendamos o que realmente aconteceu. Poderia colaborar respondendo algumas perguntas? - O policial perguntou , assenti com a cabeça e o interrogatório começou.
- Como você se chama? E qual a sua idade? Qual sua profissão?- O policial perguntou enquanto um médico de cabelos vermelhos fazia anotações e uma loira gravava a conversa, na verdade eu nem os vi entrar no quarto, mas decidi focar no que era realmente importante.
- Maria Eduarda Loureiro Polesy, 25 anos , comissária de bordo. - Respondi ainda me sentindo muito fraca.
- Sabe porquê está nesse hospital?- O policial tentava ser o mais calmo possível mas notei ansiedade em seu olhar.
- O avião em que eu estava caiu , o senhor pode me informar se tiveram muitos sobreviventes? - Perguntei curiosa enquanto tentava entender tudo o que estava acontecendo.
- Lembra se aconteceu algo estranho durante o vôo? - O policial perguntou.
- Estávamos fazendo o procedimento padrão havíamos levantado vôo a pouco tempo quando o avião passou em meio a uma nuvem estranha , olhei pela janela e a nuvem estava lilás, olhei no relógio pois parecia que havíamos ficado por volta de 10 minutos dentro daquela nuvem , e foi quando começou uma turbulência e as turbinas começaram a parar . - Ouvi o barulho do aparelho que monitorava meus batimentos cardíacos acelerando e o barulho me incomodou.
- Você lembra das horas ? - O Policial perguntou.
- 3:33 da tarde no meu relógio de pulso. - Falei olhando para o monitor do aparelho que fazia muito barulho.
- De onde o vôo saiu e qual o destino?
- Era para o vôo ter saído as 15:00 horas mas teve um pequeno atraso e só saiu 15: 15. Saiu de Vitória e o destino era Salvador.- Puxei pela memória.
Meus batimentos cardíacos aceleraram bastante o que fez o dr Ricardo chamar o policial e falar:
-É melhor que continuemos às perguntas em outra ocasião.
O policial assentiu e todos saíram do quarto. Pouco depois o médico ruivo voltou e me deu
alguma medicação que em pouco tempo me fez dormir novamente.
...
Na sala doutor Ricardo.
-Que insanidade, você realmente acredita que o avião que se espatifou no mangue veio de outra dimensão? - O doutor Ricardo perguntou perplexo.
- Fale baixo , isso está sobre sigilo. A história dá comissária de vôo bate com a do piloto. O relógio de pulso encontrado com ela estava parado exatamente no horários da 3:33 da tarde. Pesquisei o nome dado pela moça e estranhamente nessa cidade também havia alguém com o mesmo nome e sobrenome data de nascimento tudo exatamente igual; inclusive a aparência porém Maria Eduarda Loureiro daqui faleceu com 17 anos, já o piloto tem um sósia com o mesmo nome e idade e é um piloto altamente condecorado e a passageira é sósia de uma modelo não muito conhecida.
- E você acha que ela vai acreditar nessa coisa de o marido ter acabado de sair antes dela acordar até quando? -O doutor Ricardo Mozzer perguntou ao policial.
...
O tempo foi passando e já havia uma semana que eu estava morando naquele hospital , não havia um só dia em que não entrasse policiais ou médico em meu quarto para fazerem perguntas, mas o que realmente me deixava incomodada era que sempre que eu pedia para falar com o meu marido falavam que ele havia estado ali pouco antes de eu acordar, mas eu nunca o via.
...
- 1,2,3,4,5. 1,2,3,4,5.
- O que está fazendo senhora Polesy? - A linda psicóloga de cabelos loiros me perguntou.
- Uma vez vi na internet que quando não sabemos se estamos acordados ou dormindo devemos contar os dedos das mãos, se tivermos dormindo terá menos dedos ou mais, porém se tivermos acordados terá a quantidade certa de dedos. - Respondi sentada em uma cadeira de rodas em alguma sala da área de psiquiatria.
- E porque não faz como todo mundo e apenas se belisque ? - A doutora perguntou.
- Já fiz isso não funcionou, sentir dor durante o sonho quando me belisquei. - Falei olhando para o policial parado perto da porta.
-E como sabe que não estava acordada? - A doutora perguntou enquanto fazia anotações.
- Ao contar meus dedos notei que haviam dedos a mais.- Respondi .
- Como é onde você veio? - A doutora perguntou-me deixando me sem um pingo de paciência.
- Que tipo de pergunta é essa ? De onde vim?
- Vitória ES Brasil, 29 de maio de 2023. - a dra Rafaela respondeu enquanto me olhava atentamente.
- Eu não vou responder mais nem uma pergunta enquanto não me derem um telefone para eu ligar para meu marido ou melhor quero ir para minha casa. -Falei 3 tons mais alto.
Levantei da cadeira de roda com o meu pé direito ainda imobilizado e fui andando até à porta onde pretendia sair mas o bruta montes do policial que ficava sempre me vigiando, não deixou que meu plano fosse à frente.
...
Eu já estava muito desconfiada que alguma coisa estava errada, mas minha desconfiança só se agravou quando depois da visita diária do tal policial de patente alta, ouvi parte de uma conversa com o dr Ricardo onde planejavam minha transferência. Eu ainda estava pensando em todas as hipóteses dessa transferência ser uma coisa boa ou uma coisa má, quando uma enfermeira entrou em meu quarto de supetão e rapidamente veio até a minha maca falando:
-É tudo verdade.
Duda