Se a gente se casar domingo?

By thalytamartiins

3.5K 1.2K 1.1K

Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... More

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 34 - Leila

63 22 9
By thalytamartiins

Minha cabeça está doendo pela falta de sono e eu estar de pé no meio desse ônibus lotado de gente falando alto só colabora para que a dor vá se tornando mais e mais insuportável. Como se não pudesse piorar, meu estômago está girando por causa do vinho barato que tomei ontem e eu estou me amaldiçoando pela milésima vez desde que tive a brilhante ideia de visitar tia Célia em pleno dia de semana para não ter que encarar Danilo de manhã.

Inferno de homem! Ele não tinha o direito de tirar o pouco de paz que me restava ao me beijar ontem à noite! Não consegui pregar os olhos nem com a porta do quarto trancada e bem protegida debaixo das cobertas. Danilo aparecia todas as vezes que eu me permitia piscar mais demoradamente, dizendo que não iria me magoar, acariciava minhas mãos e me beijava devagar, um beijo de verdade, bem diferente dos selinhos com gosto de plástico que éramos obrigados a dar na frente da nossa plateia cativa, então eu era obrigada a pular da cama e dar voltas pelo quarto para espantar a imagem dele para bem longe, o que me custou uma noite de sono.

Descanso minha cabeça no meu braço erguido que segura a barra de ferro do ônibus, tentando afastar aqueles pensamentos, mas eles só ficam mais vívidos e recorrentes conforme o tempo passa. Quase caio em cima de uma mulher quando o ônibus dá um solavanco, o que a faz me olhar de cara feia e se virar de costas para mim. Maravilha, esse dia só melhora!

Isso tudo é culpa de Danilo, porque depois de tudo que ouvi de Madu, a última coisa que eu esperava era aquele beijo. Era a gota d'água para o nosso acordo desmoronar e eu nem tenho vergonha na cara ao admitir para mim mesma que eu queria aquilo tanto quanto ele pareceu querer ontem. O porém da coisa toda é que um segundo depois ele estava se desculpando e prometendo que não ia acontecer de novo. Claro que ele iria se desculpar, era um momento de fraqueza dele, havia uma garrafa de vinho barato entre nós e eu estava ali, no lugar certo, ou melhor, no lugar errado, logo seria muita inocência minha achar que Danilo estava raciocinando direito quando fez o que fez.

Pensar assim poderia deixar as coisas mais fáceis de serem organizadas na minha cabeça, afinal nosso contrato tem como um dos pilares a ausência de sentimentos um pelo outro, mas ainda assim eu não consigo parar de me questionar sobre o que teria acontecido entre nós dois se eu tivesse apenas permitido que ele me beijasse um pouco mais. Minha pele se aquece involuntariamente só com a mínima insinuação disso e eu tenho vontade de socar a minha própria cara por ser tão carente e estúpida.

Salto do ônibus e me arrasto pelo bairro que tia Célia mora. Nem a avisei que estava vindo, mas por sorte ainda tenho a chave e posso entrar mesmo se não tiver ninguém em casa. Eu até cogitei em ir para a E. M. mais cedo e acabei desistindo antes de tomar uma decisão, pois não acho que ainda seja uma boa hora para fazer isso. Só consigo resolver um problema por vez e agora o que está fazendo minha cabeça doer é Danilo. Amanhã tento descobrir o que fazer com minha empresa que está ainda mais perto do fracasso do que antes.

Encontro tia Célia chegando em casa com algumas sacolas de supermercado nas mãos. Ela não nota minha aproximação de imediato, resmungando sozinha sobre o peso das sacolas e que João não a ajuda em nada. Realmente, aquele adolescente não ajudava em nada em casa e não deve ter mudado muito agora que não estou mais morando aqui.

— Me dá isso, tia. — Digo antes mesmo de a cumprimentar, pegando algumas sacolas das mãos dela.

— Leila! — Ela dá um pulinho assustado. — Veio visitar?

Faço que sim com a cabeça, caminhando ao lado dela pela calçada.

— Você não trabalha hoje?

— Hoje, não. Resolvi me dar o dia de folga.

Minha tia parece gostar da minha resposta, porque me dá um sorriso animado e aperta o passo para chegarmos logo em casa.

— Foi bom você ter vindo, Bruna vai ficar feliz em te ver. — Ela diz assim que passamos pelo portão.

— Bruna não tem estágio hoje?

— Hoje ela tinha uma reunião na escola de Arthurzinho. Nem queria te contar essas coisas, mas Bruna anda péssima com o reaparecimento do pai de Arthur.

Sigo tia Célia até a cozinha. Puxo uma das cadeiras da mesa e desabo sobre ela, ardendo de ódio desse cara que fingiu não ser pai por cinco anos e de repente aparece virando a vida da minha prima de cabeça para baixo. Eu até tento entender que é direito dele e de Arthur conviverem como pai e filho, mas na prática é complicado encarar a situação com naturalidade e racionalidade depois de ter visto Bruna sofrer sozinha e sem nenhuma ajuda dele por anos.

— Mas me diz, como está a vida de casada?

Uma confusão, uma bagunça imensa, uma montanha russa de sentimentos que tem me deixado cada dia mais perto de enlouquecer...

— Tranquila. — Respondo, forçando um sorriso para tia Célia.

— Por que Danilo não veio com você?

— Trabalho. Ele tem trabalhado muito esses dias. — O que não é mentira.

Danilo vinha reclamando bastante sobre a empresa e sobre estar sempre sem tempo para resolver tudo que precisa resolver. Às vezes eu o pego trabalhando até de madrugada na mesa da cozinha, coisa que eu costumava fazer antes de ter ido parar num pronto atendimento por nunca descansar. Ontem, além de ter chegado em casa exausto como quase todos os dias, ele chegou machucado.

Para mim é meio óbvio que Danilo se meteu em uma briga, mas me soa estranha a ideia dele saindo no soco com alguém. Que eu saiba, ele não tem nenhuma inimizade forte o suficiente para fazê-lo se desequilibrar dessa forma e, sendo sincera, eu nem consigo imaginá-lo sendo agressivo, porque eu nunca sequer já o vi levantando a voz na vida. Além disso, ainda tem o fato de que Danilo parecia prestes a chorar ontem, como se o soco que ele levou no rosto fosse a menor das dores.

— Você tem falado com sua mãe? Soube que sua cunhada e Paulo vão ter um bebê.

— Sim! —Exclamo, ficando mais animada. — Não vejo a hora do meu sobrinho nascer, tia!

— Mas não se anime demais e invente de engravidar agora, Leila. Você mal casou.

— Tia, é impossível que isso aconteça, vai por mim! — Deixo escapar uma risadinha ao ouvir o sermão de tia Célia. No entanto, meu sorriso vai diminuindo aos poucos e se transformando numa pequena pontinha de preocupação.

Até ontem eu achava que não havia a mínima possibilidade de Danilo e eu termos qualquer envolvimento, quanto mais um bebê no meio disso tudo, agora eu nem sei mais se o caminho até a cama dele é tão longo quanto eu achava. Pior ainda é meu subconsciente estúpido considerar interessante essa ideia de ir parar na cama de Danilo.

Ouço a porta da frente batendo e o som inconfundível do choro de Arthurzinho. Minha tia se apoia na mesa da cozinha e cruza os braços, esperando ver Bruna entrar arrastando o menino a qualquer momento. Minha prima grita para Arthur parar de escândalo, mas o choro só aumenta, e quando eles passam pela porta da cozinha, acontece o pior.

— Você não pode me bater! — Arthurzinho puxa o braço da mão de Bruna com força. — Meu pai disse que vai me levar embora com ele e eu nunca mais vou te ver!

— Seu... Seu pai disse o quê? — Bruna pergunta com a voz falhando.

— Ele vai me levar embora para longe de você, sua chata! — Arthur mostra a língua para Bruna e sai correndo.

— Arthur! — Bruna grita, mas o menino já está longe.

Ela entra na cozinha, tão atordoada que nem me vê. Suas mãos estão tremendo violentamente ao pegarem uma jarra d'água da geladeira e despejar um pouco do líquido num copo de vidro. Só depois de alguns goles trêmulos Bruna se vira para a mesa e me vê, arregalando os olhos pela surpresa.

— Leila, nem tinha visto você! — Minha prima dá a volta na mesa e caminha até onde estou, estendendo os braços para me abraçar.

Eu a abraço de volta com força, porque ela parece precisar disso agora, e só a solto quando sinto que ela consegue respirar de novo.

— Como você está? — Pergunto, apertando suas mãos de leve.

Ela respira fundo, fechando os olhos por alguns segundos. Aquilo corta meu coração, pois nem quando as coisas se complicam na faculdade ou quando Arthurzinho pega um resfriado Bruna fica tão abatida quanto está agora.

— Vamos conversar no nosso antigo quarto? — Ela sugere, sem conseguir sorrir direito, apesar de estar claramente tentando parecer que está bem.

Eu a sigo até o quarto. Fico feliz em ver que meu cantinho continua intacto, com o mesmo lençol e o mesmo travesseiro, como se eu ainda estivesse dormindo aqui. Me sento na cama com cuidado, sentindo a maciez familiar do colchão. Passei anos da minha vida nesse quarto, rolando nessa cama, e foram necessários só alguns meses para que eu me esquecesse dos dias felizes que passei aqui. Foi bom mesmo ter vindo à casa de tia Célia, assim eu coloco meus pés no chão e me lembro a qual lugar eu pertenço de verdade.

Bruna se deita em sua cama de barriga para cima e abraça um ursinho de pelúcia apertado contra o peito. Eu a espero se sentir confortável para falar. Só pelo que testemunhei da relação dela com Arthur, já posso imaginar o quão ruins as coisas devem estar.

— Leila, eu juro para você que estou no meu limite! — Ela começa depois de alguns minutos em silêncio. — Israel sumiu por anos. Anos! Não são meses ou dias, mas a merda de cinco anos e agora ele acha que pode chegar com um brinquedinho nas mãos para Arthur e um pedido de desculpas que tudo vai ficar bem.

— Você deixou que ele tivesse contato com Arthur?

— O que eu poderia fazer? Ele estava ameaçando trazer a polícia aqui se eu não o deixasse ver meu filho! Eu conversei com um advogado e ele me disse que Israel tem mesmo direito de ver Arthur quando quiser e eu não posso impedir.

— Mas Israel está fazendo a cabeça do menino, Bruna. Mal vi vocês hoje e já tive certeza de que algo não está certo.

Ela se vira na cama para me ver melhor.

— Eu sei, eu sei. Eu sinto que estou aos poucos perdendo o amor do meu filho, Leila... — A voz dela falha ao dizer aquilo. — Como ele finge não ter um filho por cinco anos e reaparece agora querendo tirar o que é mais precioso nesta vida para mim? Como ele tem coragem...

Bruna sequer consegue terminar a frase, as lágrimas começam a cair sem parar dos seus olhos escuros. Ela esconde o rosto no travesseiro, mas seu soluço inunda o quarto. Cruzo a distância entre nossas camas e me sento ao lado dela, acariciando suas costas na tentativa de lhe dar algum consolo. Eu nem consigo imaginar o quanto tudo isso deve estar sendo doloroso para ela e confuso para Arthur. Minha prima não merece isso, mulher nenhuma merece, na verdade.

— Vai ficar tudo bem, Bruna. A sua ligação com Arthur não vai sumir porque o pai dele apareceu agora.

— É só que é tão difícil. Tão difícil! Agora mesmo ele fica dizendo que vai embora com o pai, me tratando daquele jeito que você viu... — Ela volta a chorar, apertando o travesseiro com força.

— Eu acho que vocês precisam resolver isso com a justiça, sabe? Para evitar que Israel fique te ameaçando e enchendo a cabeça do menino com essas coisas.

Bruna se senta na cama, passando as mãos pelo rosto vermelho de tanto chorar.

— Você tem razão. Eu já devia ter levado o processo adiante, mas eu me sinto completamente sem forças perto de Israel.

— Você não precisa se intimidar, você não está sozinha e nem preciso entender de leis para saber que você tem tanto direito sobre Arthur quanto Israel. Arthur não é uma coisa que ele pode simplesmente levar embora, Bruna.

— Ai, Leila... — Ela deixa mais algumas lágrimas caírem, as enxugando quase que imediatamente. — Sem você aqui tudo tem sido tão complicado, mas meu consolo é que você tem estado bem e feliz com um cara que jamais vai fazer com você o que Israel está fazendo comigo.

O "eu gosto tanto de você, do que você se tornou pra mim" e o "eu não queria magoar você como eu magoo todo mundo ao meu redor, mas mais cedo ou mais tarde isso vai acontecer" que Danilo disse ontem para mim voltam a girar pela minha cabeça. Acho que foi bem nesse momento que eu perdi a noção das coisas e nem me importei muito com o fato de que ele estava confessando que em algum momento eu iria me decepcionar com ele. O momento, talvez, já tenha até acontecido com aquele pedido de desculpas. Quem beija alguém e se desculpa? O quão terrível foi o que aconteceu ontem para ele ter se arrependido com tanta rapidez? E por que eu continuo pensando nisso, quando eu já tinha decidido que não era importante? É pergunta demais e eu devia estar cuidando de Bruna em vez do meu próprio umbigo.

— O que foi, hein? — Bruna se afasta um pouco para ver o meu rosto melhor. — Vocês brigaram?

— Não brigamos, muito pelo contrário. — Muito pelo contrário mesmo.

— Então o que foi?

Penso numa forma de contar o que houve sem dizer exatamente o que houve, porque preciso de uma luz ou vou surtar de tanto ficar remoendo esse assunto dentro de mim.

— É que Danilo é complicado. Às vezes eu acho que o conheço e que sei o que ele quer, mas às vezes ele é tão difícil de entender.

— Ele é assim com você ou com tudo, no geral?

— Comigo. É a forma como ele vem agindo comigo que tem me deixado sem saber o que fazer. — Me remexo na cama, escolhendo que palavras usar. — Desde que nos conhecemos, temos objetivos bem claros, mas de algum tempo pra cá eu não estou tão certa se ele dá a devida importância a essas coisas.

— Você está dizendo que ele mudou com você, é isso? Ele tem te tratado mal?

— Não! — Respondo rápido demais. — Danilo tem me tratado muito bem, cada dia que passa convivemos melhor e é mais fácil e confortável tê-lo por perto.

Me lembro das nossas caminhadas matinais com Sansão, as conversas até tarde da noite na cozinha, as mensagens que ele manda o dia todo para saber se estou bem. Essas coisas minúsculas que não significavam muita coisa para mim até pouco tempo atrás, agora estão me fazendo sorrir como uma idiota.

Bruna me olha com atenção, um sorrisinho discreto brotando em seus lábios.

— Olha, pelo que você está dizendo, se vocês já não fossem casados, eu diria que Danilo está agindo como um homem que está se apaixonando, só isso.

A palavra liga um sinal de alerta vermelho na minha cabeça, como os giroscópios de um carro da polícia.

— Apaixonando?

— Sim. Ele e você também, já que estava sorrindo até agorinha como uma bobona apaixonada! — Ela me dá um empurrãozinho de leve no ombro e cai de costas na cama, rindo.

Tento entrar na brincadeira e rir do que ela diz, mas por dentro fico ainda mais preocupada e confusa do que já estava.

Me apaixonando? Qual a possibilidade disso estar acontecendo? E o pior, qual a probabilidade disso dar certo?

Elaborei inúmeros diálogos possíveis para ter com Danilo no caminho de volta. Cheguei à conclusão que nós dois estamos confundindo o carinho que acabamos cultivando um pelo outro com uma espécie de atração e que isso precisa parar para o bem do nosso acordo. Não há nenhuma paixão no meio disso ou sentimentos de fato, é apenas uma leve confusão passando pela cabeça de dois adultos que não dormem com ninguém há algum tempo.

Entro em casa ensaiando a conversa que pretendo ter mais tarde com Danilo, quando ele chegar do trabalho, no entanto sou surpreendida ao vê-lo andando de um lado para o outro entre os cômodos, tentando dar um nó na gravata enquanto fala ao celular. O rosto dele está meio roxo ainda pelo soco de ontem e ele parece pronto para mandar alguém se ferrar, mas se controla ao proferir respostas monossilábicas para a pessoa do outro lado da linha.

Ele vai até a área de serviço e volta de lá com um par de meias nas mãos, se sentando no sofá e as calçando de todo jeito nos pés. Estaco meus passos na entrada da sala, sem ter certeza se é uma boa ideia me colocar no caminho dele nesse momento de crise.

— Pelo amor de Deus, era só o que me faltava! — Ele passa uma mão pelo cabelo pingando água do banho recém-tomado. — Diga a ele para me encontrar no aeroporto, que chego em menos de uma hora.

Danilo desliga o celular, o jogando sobre o sofá, e volta para sua tarefa complicadíssima de calçar as meias e os sapatos. Noto uma mala pequena e a pasta escura que ele usa para guardar o notebook dispostas sobre a mesinha de centro. E lá se foi a nossa oportunidade de conversar, penso.

— Que bom que você está em casa! — Ele diz, não me lançando mais que um olhar rápido. — Vou precisar fazer uma viagem rápida para Belo Horizonte por causa do trabalho. Você cuida do Sansão enquanto eu estiver fora?

— Claro. Mas... — Hesito, sem saber se eu devo perguntar aquilo ou não. — Quando você volta?

— Até o final da semana eu já estarei de volta. — Ele responde simplesmente, reunindo seus pertences e procurando por mais alguma coisa. — Onde eu deixei...? Achei! — Danilo pega o celular de cima do sofá e o enfia no bolso.

Ele ainda para mais uma vez no meio da sala e olha em volta para confirmar se não está esquecendo nada. A gravata dele está terrivelmente torta e a camisa social azul marinho está amassada e molhada por causa do cabelo que ele não secou direito.

— Se você precisar de alguma coisa, pode me ligar.

Eu o detenho por um instante, incomodada demais com a gravata torta. Levo as mãos até o tecido para ajustá-lo, e mesmo sem tocar diretamente nele, consigo sentir que o deixei tenso com aquela proximidade repentina.

— Pronto. — Aliso a gravata, satisfeita com meu "trabalho". — Você estava parecendo um maluco!

— Ah, obrigado. — Ele olha sem jeito para a gravata cinza escuro.

Aguardo que Danilo se vire e saia correndo do apartamento, mas ele continua parado diante de mim, me encarando sem nem piscar. Tomara que ele não consiga ler pensamentos, porque ia ser bem constrangedor se ele soubesse com que intensidade eu estou pensando na boca dele nesse exato momento.

— Leila, está tudo bem entre a gente?

— Está, sim. Tudo certo. — Sorrio para ele da maneira mais sincera que consigo.

Danilo assente devagar, parecendo estar absorvendo o quanto vai acreditar nas minhas palavras.

— Vou indo, então.

— Boa viagem!

Ele sai, deixando um rastro de perfume para trás, que só consigo sentir agora, depois de soltar a respiração que eu nem sabia que estava prendendo. Espero que alguns dias longe de Danilo sejam suficientes para colocar as coisas no devido lugar e que isso seja tão eficiente quanto uma conversa de duas horas sobre as cláusulas do nosso contrato.

Entro na sala e me sento no sofá, ligando a televisão para preencher um pouco do silêncio. O álbum de casamento está aberto sobre a mesinha de centro, apesar da garrafa de vinho e da taça terem desaparecido. Me inclino um pouco para ver melhor as fotos sob a luz do dia e percebo que há mais de uma foto faltando nas páginas do álbum. Aliás, faltando não, elas foram literalmente cortadas fora!

Meus olhos disparam automaticamente para a prateleira repleta de porta-retratos de Danilo e meu coração erra uma batida ao encontrar uma das fotografias faltantes em uma moldura de vidro translúcido em uma posição de destaque em relação às outras. Corro para conferir aquilo de perto, sorrindo incrédula para nós dois na foto, trocando alianças no nosso casamento de fachada, mas parecendo realmente o casal mais feliz e apaixonado da face da Terra.

Não sei o que Danilo pretende com esse tipo de coisa, contudo, pelo menos por hoje, ele conseguiu acabar completamente com as minhas estruturas e ainda bem que estamos há quilômetros de distância a uma hora dessas.

Sansão estava inquieto demais durante a noite, choramingando na porta do quarto de Danilo e arranhando a madeira sem parar. Tentei fazê-lo dormir comigo, mas ele devia estar sentindo falta demais do dono e só sossegou quando abri a porta do quarto dele e o coloquei lá dentro. Quero dizer, sossegou enquanto eu também estava no quarto, porque bastou que eu saísse para que aquele dengoso iniciasse mais uma sessão de choro.

O resultado de todo o dengo de Sansão foi nós dois dormindo na cama de Danilo. Quem precisa de um bebê quando se tem um cachorro cheio de opiniões como esse, que até mesmo obriga os donos a fazer o que ele bem quer? Contudo, não posso reclamar, porque gostei de ter dormido aqui, sentindo o cheiro de Danilo nos travesseiros. Acho que me acostumei bem mal a isso durante os dias em que dona Roberta esteve conosco em casa.

Depois de tomar meu café reforçado, levo Sansão para dar uma voltinha. Não tem a mesma graça fazer isso sozinha, mas ele precisa gastar um pouco de energia ou não me deixará em paz mais tarde. Ele é pequeno e gordinho, e ainda assim consegue correr mais rápido do que eu e me deixa cansada nos primeiros minutos de caminhada.

Sansão resolve fazer xixi numa árvore, abrindo uma torneirinha infinita enquanto eu fico de pé, como uma guarda-costas. Aproveito os minutos em que ele me deixa ficar parada para checar meu celular, mas Danilo ainda não mandou nenhuma mensagem. Estou seriamente tentada a enviar algo perguntando se correu tudo bem na viagem, mas não quero atrapalhar e não quero que a minha preocupação com ele pareça outra coisa.

— Leila! — Alguém chama meu nome, me fazendo virar a cabeça de um lado para o outro para ver quem é.

Dona Roberta vem se equilibrando em saltos finíssimos em minha direção e aparentando estar bastante ansiosa para me alcançar. Olho para Sansão, que achou outra árvore para fazer mais xixi, e deixo escapar um suspiro. Melhor eu esperar que ele termine o que tem que fazer, dona Roberta, em algum momento, conseguirá me alcançar.

— Leila, meu bem, como você está? — Ela me abraça apertado assim que se aproxima, arfando pelo esforço da caminhada.

— Vou bem, e a senhora?

— Ah, você deve imaginar... — Os ombros de dona Roberta tombam um pouco e uma tristeza que eu não tinha percebido ainda toma conta do rosto dela.

— Não acho que sei ao certo o que aconteceu.

— Danilo não te contou o que houve entre ele e Marcos na empresa?

— Não... — Balanço a cabeça negando, mas as peças começam a se encaixar aos poucos e eu fico horrorizada ao entender tudo. — Ele e Marcos brigaram? É isso?

— Trocaram socos, acredita? Vim aqui a essa hora na esperança de falar com Danilo antes dele ir para a Eco Habitação. Você sabe, ele não atende nenhuma ligação minha, como sempre.

— Ele viajou a trabalho. — Explico, perplexa demais ao saber que aquele hematoma no rosto de Danilo era fruto de uma briga com o irmão.

Tenho dois irmãos e vivíamos em pé de guerra quando crianças, mas nunca chegamos ao ponto de realmente nos machucar, tanto física quanto emocionalmente como Marcos e Danilo estão fazendo um com o outro. Nem sei os motivos deles para a briga que culminou naquele hematoma, mas a única coisa em que consigo pensar é que a rixa entre os dois precisa acabar de uma vez por todas.

— Estou tão cansada dessas brigas, Leila, que nem sei mais o que fazer com Danilo.

— Eu imagino que...

Me interrompo ao perceber que Sansão não está mais fazendo xixi na árvore. Olho ao redor, mas não o vejo em lugar nenhum.

— Algum problema?

— Sansão. Ele estava aqui há um instante e agora... — Paro de falar ao escutar alguns latidos familiares. — Um momento, dona Roberta.

Saio correndo em quase desespero, seguindo os latidos e ziguezagueando pela área arborizada do condomínio. Vejo o rabinho em formato de rosquinha de Sansão sacudindo entre as folhas de uma moita verdinha, avançando sobre alguma coisa e se afastando em seguida.

— Sansão! — Chamo por ele, mas sou totalmente ignorada.

Me aproximo fervilhando de nervoso, pronta para dar a maior bronca nesse fujão, que por muito pouco não me mata de susto ao desaparecer dessa forma. Pego a guia e dou um puxãozinho de leve, para afastá-lo da moita, mas é em vão. Sansão parece decidido a ficar latindo para essa planta o dia todo.

— O que você viu aí, hein? — Fico de joelhos ao lado dele e olho mais de perto entre as folhagens.

Um par de olhos amarelados muito assustados me encaram de volta, tremendo de medo de Sansão e seus latidos estridentes. É um gatinho preto, pequeno e magrinho, que muito provavelmente foi abandonado por alguém. Me coloco entre Sansão e o gatinho, impedindo-o de avançar sobre o pobrezinho, e o resgato de dentro das folhagens.

— Olha só para você, pequenino... — Sorrio comigo mesma ao ver que, na verdade, é uma gatinha. — Pequenina. — Me corrijo. — Alguém deixou você aqui, foi?

A gatinha mia baixinho, fazendo meu coração cortar. Ela parece estar faminta, dá para ver as costelas em sua barriguinha murcha. Há uma mancha branca muito charmosa em seu peito, que está toda suja com alguma coisa que grudou aqui e secou, deixando seu pelo todo áspero. Tenho a impressão de que ela machucou uma das patinhas dianteiras também, mas vou deixar para um veterinário examiná-la melhor.

Arrastando um Sansão muito mal humorado pela guia, volto para onde deixei dona Roberta. Ela solta uma risada ao ver a pequenina aninhada junto ao meu peito.

— O que é isso? Um novo membro da família?

Olho para a gatinha agarrada a mim, como se eu fosse uma super-heroína capaz de protegê-la do mundo, e sorrio de volta para a minha sogra.

— Aparentemente, é uma nova membro da família, sim.

Oie! Sei que já é tarde, mas ainda é domingo hahaha

Postei 4 capítulos hoje, porque é possível que eu não consiga atualizar na próxima semana, pois estarei em outra cidade para fazer uma prova (me desejem sorte).

Espero que tenham gostado dos capítulos e, por favor, continuem curtindo e comentando, apesar de não me sobrar muito tempo para respondê-los como sei que devo, fico muito feliz mesmo em saber o que estão achando da história.

Muito obrigada desde já!

Até o próximo domingo... 05/06 :)

Bjx,

Thaly ;)

Continue Reading

You'll Also Like

18.9K 703 10
Para o governo, Anne era a melhor espiã que existia em todo a Inglaterra. Para eles, Anne era o tipo de garota que colocava serviço acima de tudo, la...
778K 49.2K 134
Alex Fox é filha de um mafioso perdedor que acha que sua filha e irmãos devem a ele. Ele acha que eles têm que apanhar se acaso algo estiver errado...
50.9K 7K 19
(HISTÓRIA COMPLETA) Elizabeth Fernandes, com certeza, não é a pessoa mais quieta e comportada que você irá conhecer. A nossa heroína é conhecida por...
3.2M 272K 169
Somos aliança, céu e fé.