Elizabeth
Fecho o grande livro, de capa de couro ressecada, em um tom desbotado de laranja. Guardo o livro na cesta de devoluções e olho ao redor na biblioteca da faculdade.
Minhas colegas estão ao fundo, no corredor de direito, com livros maiores que o meu e aceno com um pequeno sorriso, enquanto junto minhas coisas.
Olho ansiosa para a pasta transparente... uma entrevista para ser assistente! Meu coração está em êxtase. Estou louca para contar as minhas irmãs. Juli vai ficar orgulhosa, mas precisa dar certo primeiro.
Caminho lentamente para o dormitório, pensando em como vai ser o dia de amanhã, uma entrevista às nove e depois ir para casa, depois de uma longa semana de simulados teóricos, finalmente começaremos o teste final.
A matéria de restauração é simplesmente linda, porém clama por detalhes e muito muito cuidado, sempre me perco em obras de artes, pensando nas mil coisas que poderia fazer para deixá-las resistentes e novamente contar sua história.
Sempre há algo para restaurar na Itália, principalmente em cidades renascentistas. Eu acredito que com um curso de especialização,posso me tornar uma grande restauradora de peças.
Além disso, esse estágio como assistente, vai permitir que eu possa trabalhar com grandes artistas da Itália! E sei que vai ser fascinante.
Entro no enorme prédio do dormitório feminino, são seis andares com pelo menos dez dormitórios em cada andar e em cada dormitório, há quatro garotas, uma mulherada e tanto! Algumas mais malucas que outras.
Subo quatro lances de escadas, buscando chegar no segundo andar, caminho pelo largo corredor branco e na sexta porta, eu procuro minhas chaves e adentro no dormitório.
Eu gosto das minhas colegas, Antonella, Bella e Paola são ótimas, muito focadas, tranquilas e assim como eu, odeiam essas festas baderneiras.
Antonella e Paola cursam direito, Bella cursa literatura e eu Artes. São cursos bem diferentes, mas é legal contar os problemas que temos em cada área.
E todas nós, amanhã, temos uma entrevista para cargo de assistente, por isso tanto afinco nos estudos.
Organizo minhas pastas com documentos e coloco tudo em uma mochila, coloco um casaquinho rosa pastel e fecho a mochila com o coração ansioso.
Quero tanto contar a minhas irmãs, mas ainda não posso fazer isso. Essa espera é de matar.
Sigo para o banheiro, tomando um banho e vestindo um macaquinho de tecido de viscose azul claro com flores pequenas, penteio os longos cabelos rubros e coloco uma tiara azul marinho na cabeça. Troco meus brincos de flores douradas, por pequenos pontos de luz pretos. E por fim, calço sapatilhas em tom nude.
Saio às pressas do dormitório em direção ao refeitório, passo meu cartão de estudante depois de pegar a fila e pego meu prato. Sorrio ao ver pequenas Bruschettas, salada caprese e uma grande fatia de lasanha, ao lado uma pequena taça com tiramisú.
Que delícia! Parece que alguém estava de bom humor.
Depois do jantar, sigo caminhando tranquilamente para o dormitório, observando o anoitecer, são quase oito horas da noite, espero que as meninas tenham voltado, a senhora Carmela é uma general e a qualquer sinal de erro, todo mundo é castigado.
Caminho pelo pátio, subindo o primeiro lance de escadas, quando ouço um grande apito ecoar. Oh não! Suspiro implorando para não haver o segundo.
No código da senhora Carmela, um apito é aviso, dois é alerta e três é punição e reunião geral. Essas meninas do sexto andar sempre aprontam, fogem toda noite e criam festas com os meninos. Isso sempre atrapalha as outras.
Ouço o segundo apito e estaco no lugar, junto com algumas meninas que também estão subindo. O terceiro apito e vem e resmungando descemos de volta para o pátio.
Droga, só falta ela proibir de irmos para casa de novo!
Todas as garotas descem, a maioria com cara de tédio e algumas, a do sexto andar com semblantes assustados.
— Atenção! — Carmela diz em tom firme. — As colegas de vocês estavam com esses senhores ali. — A general aponta para os garotos que nos olham assustados — E adivinhem! Estavam aos beijos numa mini festinha!! — Diz horrorizada. — Vocês não sabem as regras?!!! — Ela esbraveja olhando para todos. — Nada de irem para casa! Estão de suspensão! Ninguém sai do campus, não importa o motivo! Se saírem eu vou saber e se eu saber…! Os pais serão notificados!
Não! Não. Droga. Amanhã eu e as meninas temos a entrevista!
Saio correndo, com o coração a mil, envio uma breve mensagem para uma das meninas e corro em direção a reitoria. Isso não está certo, não tivemos culpa alguma!
Depois de quase uma hora de desabafo, a reitora entendeu o caso e eu e minhas amigas fomos autorizadas a ir nas respectivas entrevistas, conseguimos também que as pessoas certas fossem punidas e não todo o dormitório.
A faculdade é famosa por sua qualidade e rigidez como um internato, com muitas regras a cumprir, quem não concorda que se retire, ninguém é obrigado a ficar lá, existem outras faculdades, mas alguns parecem não entender isso.
Pela manhã de sábado, após um banho,visto uma camiseta vinho, com algumas frases escritas em branco, uma calça jeans bege e tênis baixos, prendo o cabelo em um rabo de cavalo alto.
No rosto, uso um pouco de blush, rímel e um batom nude, um pouquinho de perfume e busco minha mochila, colocando celular, fones e carregador.
Saio apressada do dormitório, depois de um café e corro ao ponto de ônibus mais próximo para ir até a entrevista no centro.
Após alguns minutos, chego ao enorme prédio, no centro da cidade, com quinze minutos de antecedência.
O prédio é bonito, bem estruturado e o design interno tem um estilo para cada um, é colorido mas tem tons neutros, é abrangente e minimalista, é rústico e moderno.
Me aproximo da recepção do prédio, uma senhora sorri e se aproxima.
— Olá, posso te ajudar?
— Oi, Sou Elizabeth e tenho uma entrevista marcada. — Devolvo o sorriso.
— Ah! Muito bem, pode ir até o vigésimo sexto andar e falar com a senhora Giordanna.
— Obrigada. — Sigo em direção aos elevadores
Assim que a porta se abre, adentro na cabine metálica, noto um homem ao fundo e me acomodo do outro lado.
— Bom dia! — Saúdo gentil.
— Bom dia! — Ele devolve a gentileza, mas com um jeito…meio seco?
Olho para o painel de andares e noto que ele vai para o mesmo andar que eu, acho que ele percebe que eu também vou, pois segue o meu olhar e espera eu apertar o botão.
As portas se fecham e a cabine começa a se mover, nos mantemos em silêncio e eu torço os dedos na frente do corpo um tanto ansiosa, não sei o que esperar dessa situação e ao mesmo tempo estou em êxtase.
As portas se abrem e o homem faz um gesto para eu sair primeiro.
— Obrigada! — Sorrio de canto e saio da cabine em direção a recepção.— Olá, senhorita Giordanna? — Pergunto à moça que sorri e afirma com a cabeça
— Olá, sou eu mesma e você quem é?
— Sou Elizabeth, vim para a entrevista.
— Ah! Muito prazer! Pode aguardar um pouquinho? Vou avisar o responsável.
Eu sigo para algumas cadeiras, na lateral do hall e noto o homem caminhando para uma das salas, depois falar algo com a senhora Giordanna. Mantenho meu olhar nos pés e aguardo ansiosa, torcendo os dedos.
— Senhorita Elizabeth? — Giordanna me chama e eu me levanto. — o sr. Benevitti vai recebê-la, naquela sala. — Aponta
A sala que o homem do elevador entrou! É ele? Será que vou trabalhar com ele? Ele é bonitão!