Batendo as luvas na coxa num gesto distraído, ele passou o trajeto
num estado de calma ameaçadora enquanto contemplava todos os métodos muito satisfatórios que poderia usar para ensinar à esposa absurdamente obstinada e rebelde uma lição necessária e inesquecível.. Mas — como Higgins lhe informou quando ele passou direto pelo mordomo e começou a subir a escadaria — Penelope “não estava em casa”.
Um instante antes, colin teria jurado que era impossível se sentir mais furioso do que já estava. A notícia de que a esposa o desafiara abertamente ao sair, quando ele tinha ordenado que ficasse ali, fez seu sangue ferver.
— Chame a camareira dela — ordenou Colin num tom que fez Higgins se apoiar na porta antes de sair correndo para buscar a mulher.
Cinco minutos depois, às dez e meia, Colin seguia para o baile dos Lindworthy.
Penelope desceu a escadaria com elegância no vestido mais ousado que já usara.
Ele ficava perfeito em seu corpo — ela se sentia maravilhosa, independente e ousada.
Na metade da escada, deu uma olhada despreocupada para o salão lotado, procurando por David, Kate ou a sogra.
Encontrou a sogra primeiro, junto com um grupo de amigos , e seguiu em sua direção. Penelope era um monumento cintilante e radiante, cheio de juventude e sofisticação, com os olhos brilhando tanto quanto as joias que usava, fazendo pausas no caminho para acenar com a cabeça para conhecidos.
— Boa noite, — disse ela num tom alegre, dando um beijo na bochecha da sogra.
— Você está animada hoje, minha menina — disse violet, abrindo um sorriso radiante e segurando suas mãos enluvadas. — E também fico feliz por saber — acrescentou ela — que Colin seguiu o conselho excelente que lhe dei hoje cedo e desistiu daquela bobagem de proibi-la de sair de casa.
Com um sorriso travesso, penelope fez uma mesura respeitosa e demorada, um milagre da graciosidade, ergueu a cabeça e declarou com alegria:
— Não, senhora, ele não fez nada disso.
— Quer dizer que...
— Sim.
— Oh!
Como Penelope já sabia a opinião da sogra sobre suas obrigações conjugais, aquela reação desanimada ao seu comportamento rebelde não a abalou.
Na verdade, no humor que estava, ela achava que nada seria capaz de desanimá-la. Até que, um mísero minuto depois, kate veio apressada em sua direção, parecendo em pânico.
— Ah, Penelope, como você pôde! — declarou ela, nervosa demais para se importar com a presença da Sogra. — Não há um marido neste salão que não queira esganar você. Incluindo meu marido, quando ficar sabendo! Aquilo foi longe demais, não foi engraçado! Você não pode...
— Do que está falando? — interrompeu Penelope, mas seu coração tinha disparado pela ansiedade extrema da amiga, que costumava ser imperturbável.
— Estou falando da aposta que você pediu para David registrar em seu nome no livro do White’s, Penelope!
— Em meu nome... — exclamou ela. — Ah, meu Deus! Ele não fez isso!
— Que aposta? — quis saber Lady Bridgerton.
— Fez, sim! E todo mundo aqui sabe.
— Meu Deus! — repetiu Penelope, fraca.
— Que aposta? — questionou Lady Bridgerton num tom ameaçador e baixo.
Nervosa demais para responder, Penelope deixou a tarefa a cargo de kate.
Segurando a saia, ela girou, procurando por David. E encontrou vários rostos masculinos hostis a encarando.
Quando finalmente achou o amigo, foi até ele com um olhar raivoso e o coração apertado.
— Penelope, meu amor — disse David, sorrindo —, você está mais bela do que...
Ele fez menção de pegar sua mão, mas ela se afastou, encarando-o com raiva e desconfiança.
— Como pôde fazer isso comigo?! — explodiu ela, amargurada. — Não acredito que registrou a aposta num livro e colocou meu nome lá!
Pela segunda vez desde que o conhecera, ele perdeu o controle de sua expressão entediada por um instante.
— Como assim? — perguntou ele baixinho, num tom indignado. — Fiz o que você me pediu.
Você queria mostrar para a sociedade que não vai se jogar aos pés de Colin, e registrei a aposta no lugar mais visível. E não foi fácil — continuou ele, irritado. — As apostas só podem ser registradas por sócios do White’s, então tive que colocar meu nome antes do seu para garantir que..
.
— Eu queria que a aposta fosse feita no seu nome, não no meu, e foi por isso que pedi a você para fazê-la! — exclamou Penelope, cheia de ansiedade. — Uma aposta discreta, confidencial e não registrada!
As sobrancelhas de David se uniram enquanto a raiva dava espaço para indignação.
— Não seja boba! O que você teria a ganhar com uma aposta “discreta e confidencial”?
— Dinheiro! — exclamou Penelope, arrasada.
— Dinheiro? — repetiu ele, sem entender. — Você fez aquela aposta porque queria dinheiro?
— É claro! — respondeu Penelope, ingênua. — Que outro motivo existe para fazer uma aposta?
Encarando-a como se ela fosse um espécime curioso da humanidade completamente além da sua compreensão, David explicou:
— As pessoas fazem apostas porque gostam de vencer. Você é casada com um dos homens mais ricos da Europa. Por que precisaria de dinheiro?
Essa pergunta, apesar de lógica, exigiria que Penelope discutisse questões íntimas demais.
— Não posso explicar — disse ela com tristeza —, mas me desculpe por colocar a culpa em você.
Aceitando o pedido de desculpas com um aceno de cabeça, David parou um lacaio que passava e pegou duas taças de champanhe da bandeja, entregando uma para a amiga.
— Será que existe alguma chance de Colin não ficar sabendo da minha aposta? — perguntou ela pouco depois, num tom ansioso, ignorando o silêncio pesado que subitamente tomava o salão.
David, que sempre prestava atenção em tudo, lançou um olhar curioso ao redor e, então, voltou-se para a escadaria, seguindo a direção que todos encaravam.
— Quase nenhuma — disse ele, irônico.
Com um gesto indiferente da mão, o aristocrata indicou que ela olhasse para a entrada no mesmo instante em que o mordomo dos Lindworthy anunciava um nome no qual Ondas de choque e empolgação percorreram a multidão, e Penelope ergueu a cabeça, encarando horrorizada a figura alta e ameaçadora vestida completamente de preto, que descia a escadaria com ar determinado.
Ela estava a menos de quinze metros do marido, mas, quando Colin chegou ao último degrau, o mar de gente no salão pareceu se aproximar dele como uma enorme onda, causando uma explosão de cumprimentos e uma cacofonia ensurdecedora.
O rapaz era mais alto que a maioria das pessoas ali, e, do canto onde estava, Penelope observou enquanto ele sorria discretamente e fingia prestar atenção no que as pessoas diziam, sem parar de analisar a multidão — procurando por ela, para seu pavor. Em pânico, a jovem engoliu o restante do champanhe e entregou a taça vazia para David, que lhe passou a dele.
— Beba a minha — disse o amigo. — Você vai precisar.
Penelope olhou ao redor como uma raposa em busca de esconderijo, analisando cada trajeto possível e voltando atrás quanto percebia que a deixariam na linha de visão direta do marido.
Sem poder sair de onde estava, ela se pressionou contra a parede e, sem pensar, levou a taça de David aos lábios no mesmo instante em que encontrava o olhar da Lady Bridgerton, que estava à direita que a fitou com um ar estranho, tranquilizador, e disse algo para kate.
Um instante depois, sua amiga abria caminho entre a multidão que cercava Colin, vindo na direção de Penelope e David.
— Nossa Sogra pediu por favor para você não resolver beber demais pela primeira vez justamente hoje, e para não se preocupar, porque Colin vai saber exatamente como se comportar quando descobrir que você está aqui — informou kate assim que os alcançou, num tom nervoso.
— Ela disse mais alguma coisa? — perguntou Penelope, precisando desesperadamente ser tranquilizada.
— Sim — respondeu kate, concordando com a cabeça. — Ela me pediu para ficar grudada em você e não deixá-la sozinha, não importa o que acontecer.
— Meu Deus! — explodiu Penelope. — Mas ela não tinha dito para eu não me preocupar?
David deu de ombros.
— Talvez Colin ainda não saiba da aposta, então tente se acalmar.
— Não estou preocupada só com a aposta — informou Penelope, observando Colin, tentando prever para onde ele iria quando conseguisse se libertar da multidão, para que pudesse seguir na direção contrária. — Meu medo é ele descobrir que estou...
Alguém à direita de Colin lhe disse algo, e ele virou a cabeça; seu olhar analítico observou rapidamente a parede em que ela se apoiava... passou por kate, passou por David, passou por Penelope... e, então, voltou, se fixando na esposa como uma dupla de pistolas mortais.
— ... aqui — concluiu a jovem num tom desanimado, enquanto Colin a encarava, paralisando-a com o olhar, deixando bem claro que iria atrás dela assim que pudesse.
— Acho que ele acabou de descobrir — brincou David.
Afastando o olhar do marido, Penelope buscou um lugar seguro para se abrigar antes de ele sair da frente de sua única rota de fuga — um lugar onde não parecesse que estava se escondendo.
A coisa mais segura a fazer, concluiu ela num impulso, seria se misturar aos setecentos convidados e tentar desaparecer na multidão até Colin perdê-la de vista.
— Vamos “passear”, minha querida? — sugeriu David, obviamente chegando à mesma conclusão.
Um pouco aliviada, Penelope concordou com a cabeça, mas a ideia de “passear” logo ficou menos interessante ,Sem parar, ela se inclinou para colocar a taça de champanhe sobre uma mesa e quase gritou quando uma mão apertou seu antebraço com crueldade e a virou.
Ao mesmo tempo, Colin surgiu na sua frente, fazendo um ótimo trabalho em isolar os dois da vista dos convidados.
Apoiando um braço na parede, o rapaz a prendeu com o corpo ao mesmo tempo em que parecia um cavalheiro tranquilo tendo uma conversa levemente íntima com uma dama.
— Penelope — disse ele num tom calmo que escondia a fúria em seus olhos — Apesar de sua aposta e de sua desobediência ao vir aqui hoje mais do que merecerem um castigo público, vou lhe dar duas opções. Quero que você preste bastante atenção nelas.