desligue as luzes
vamos perder nossas cabeças esta noite
(raise your glass)
✿
— Ah Nini, fala com a mãe, por favor! — Bianca suplicou pelo celular. — Se eu pedir, ela pode não deixar! Você que é a irmã mais velha e responsável... E sabe mentir!
— Olha, em primeiro lugar, se eu sou a irmã responsável, estamos fodidas. — Ouviu a resposta de Natalie pelo telefone e segurou o riso. Pelo menos ela tinha noção. — E tá, eu falo com ela, mas juízo! Vou falar pra mãe que você vai numa festa do pijama, mas eu quero que você me responda a noite inteira, até chegar viva no internato, entendeu?
— Sim, senhora — Bianca debochou, enquanto olhava por cima do ombro para se certificar que não havia ninguém na janela a vendo usar o celular proibido.
— Segundo, você não é de beber que eu sei. Não. Exagera. Entendeu? Se você se sentir estranha, liga na hora para a Ariele. — Natalie avisou, sabendo que podia contar com a diretora (e cunhada) para qualquer emergência. — E droga não se usa em casa de gente estranha. Se fizer questão de provar, deixa para fazer aqui em casa ou com gente que você confia! Última coisa: você volta pro internato, tá? Não quero papo de "ah, conheci um cara, vou ficar aqui", não. Vou te cobrir porque sei que você não é idiota, não me decepciona.
— Certo. Obrigada, irmã responsável que me convidou para usar drogas na própria casa — Bianca brincou, mas no fundo sentiu o coração quentinho. Ela gostava daquela relação sincera que tinha com a irmã e anotou mentalmente todas as recomendações, porque ela realmente não era muito experiente com festas ou coisas do tipo. — Não gosto muito de beber e não tenho interesse em provar drogas, palavra de escoteira. Agora, eu tenho um outro problema bem maior.
— O que foi?
— Eu não tenho nada pra vestir! — Bianca ganiu.
— Ué, só coloca uma roupa arrumadinha, mulher.
— Você não entendeu: eu não tenho! Eu trouxe só algumas roupas casuais e ia pegar o resto quando fosse para a casa dos nossos pais, mas... — Então Bianca travou, sem saber como dizer que, como não tinha amigas e praticamente não saía do quarto, achou que não faria sentido pegar roupas "pra sair". Algum dia contaria tudo o que aconteceu para Natalie, mas ainda não se sentia pronta ainda. — E-eu esqueci. Enfim, eu não tenho nenhuma roupa bonita!
— Bom, sorte a sua que... — Então Natalie foi interrompida pelos latidos esganiçados do seu Lulu da Pomerânia, Sugar. Bianca ouviu uma segunda voz feminina antes da irmã voltar ao telefone: — Desculpa, a Esther acabou de chegar da faculdade. Faz assim: me manda uma foto de todas as roupas que você tem que eu penso em alguma coisa. Acessórios também!
Bianca imediatamente seguiu a ordem e começou a espalhar suas roupas em cima da cama. Enquanto batia as fotos, ouviu, com um sorriso no rosto, Natalie receber a namorada perguntando como foi o dia e implorando para jantarem comida chinesa naquela noite. Estava louca para visitá-las no apartamento que dividiam, mas precisaria esperar até o próximo feriado.
— Feito. — Bianca anunciou, enviando a última foto.
— Ok, vamos ver... Credo, Bianca, nem uma sainha? Eu sei que é difícil deixar sua cara de rato bonita, mas pode se esforçar um pouquinho. — Bianca até estava com a resposta pouco educada na ponta da língua, mas somente porque dependia muito da irmã, deixou essa provocação passar batida. — Tá, seguinte: pega a saia do internato-
— A saia do uniforme?!
— Sim, enrola na cintura para ficar curtinha que ninguém vai perceber! Daí pega essa camiseta do Panic!, põe uma parte pra dentro da saia e coloca aquelas meias altas que você sempre usa. Tira o pingente desse colar e prende a corrente na lateral da saia pra ficar bem trevosa que nem você gosta. Não inventa de fazer maquiagem pesada, só faz aquele seu gatinho de sempre no olho e voilà.
— Ai, não é muito simples? — Bianca perguntou, tentando se vestir enquanto Natalie falava. Ela realmente não era muito experiente em festas... Achava que era que nem nos filmes em que todo mundo ia de vestido e salto alto.
— Claro que não, a festa numa casa, né? — Bianca confirmou. — Então tá ótimo. Você vai arrasar. — Então a voz de Natalie mudou e a segundanista sentiu um arrepio com o tom: — Aliás, tem alguém que você quer impressionar?
— Claro que não, só vou com alguns amigos. — Desconversou, porque não gostava de falar sobre seus crushs. Seria muito humilhante se não fosse correspondida.
— Tudo bem, não conta pra sua irmã que nunca te entenderia! — Natalie dramatizou, arrancando um riso da mais nova. — Escuta, se já está tudo certo, vou ligar logo para a mãe porque eu e Esther temos um encontro com um yakisoba de carne. Te aviso quando ela confirmar e boa sorte na festa, fedorenta. Se não me mandar notícias, vou avisar a Ariele para chamar a polícia! Te amo, mas não muito.
— Tchau, te odeio e manda os meus pêsames para a Esther! — Bianca gritou para o telefone e ouviu a gargalhada de Natalie antes de desligar.
Sorriu sozinha, passeando pelo quarto para ver o look indicado por Natalie nos espelhos de corpo inteiro do armário. Como era bom não ter a colega de quarto por perto! Agradeceu mentalmente por Emily ter ido viajar, mesmo que por apenas um final de semana.
Quando estava se preparando para entrar no banho, recebeu a mensagem de Natalie confirmando que dona Sônia autorizou sua ida à festa falsa, mas queria que Bianca ligasse antes de ir (do telefone fixo que as alunas tinham no quarto, claro). Enquanto agradecia, seu celular vibrou com outra mensagem, dessa vez de Daniboy.
"Vamos sair daqui umas 21h, dá 20 minutos até o Madre Cordélia"
"Obrigado por ir com a gente, Abelha"
"Prometo que vou fazer sua noite ser incrível!"
Como em um passe de mágica, aquela noite deixou de parecer uma tortura.
✿
Bianca olhou discretamente o seu reflexo na tela desligada do celular, checando pela quarta vez desde que saiu do internato se o delineador de gatinho não havia entortado completamente em um passe de mágica.
No fim, precisava reconhecer que a irmã era boa (e ela um completo fiasco): assim que entrou no carro de Andrei, onde também estavam Daniboy, Nathan e (infelizmente) Zoe, viu que a sua roupa era adequada para a ocasião e ninguém estava super produzido nem nada. Se dependesse dela, acharia que o correto era ir para qualquer festa de saltão e vestidinho.
Na verdade, se fosse sincera, Bianca diria a qualquer pessoa que odiava festas, porque era um rolê de garotas populares, desesperadas por atenção e desmioladas. Às vezes ela acreditava nisso, mas às vezes pensava que podia só, sei lá, inveja de não receber convites ou ter amigas legais para lhe acompanhar. No ano anterior, foi com a irmã, Esther e Elisa (que ainda não estudava com ela e era melhor amiga de Natalie) a uma festinha apenas porque a mais velha a estava usando de argumento para que sua mãe permitisse — "É só um encontro com um pessoal, vai ser tranquilo, mãe! Vou levar até a Bianca!" — e, bom, até que não havia sido tão ruim...
— E aí, Nanda? Chegamos, pode abrir pra gente? — Ouviu Zoe falar ao telefone enquanto contornavam os imponentes muros de pedra que circundavam a residência. Já conseguia ouvir o funk a todo o volume lá de dentro.
Bom, e apesar do estorvo que era aquela garota nova que parecia irritantemente próxima de todos os seus amigos, Bianca podia dizer que estava em boa companhia. Twister e VH estavam a caminho, junto com Bellini (estava ansiosa para rever o atleta de fanfic!) e, no pior dos casos, passaria a noite conversando sobre jogos ou qualquer outra besteira com eles.
No melhor, quem sabe ela e Daniboy-
— Quer o meu casaco? — A voz de Daniel a fez dar um pulo, como se tivesse sido pega no flagra. Ergueu o rosto e encontrou os olhos azuis presos no seus enquanto ele já escorregava a jaqueta jeans pelos ombros e deixando os braços à mostra, com as típicas pulseiras de couro. — Você tá toda arrepiada.
— Eu... Aceito, se você não for usar — Bianca respondeu, abrindo um sorriso. Ela nem estava com frio de verdade, era só um ventinho chato, mas sentiu o coração acelerar só de pensar em passar a noite com a jaqueta dele.
Ele a ajudou a se vestir, deixando o braço casualmente apoiado em seus ombros. Imediatamente o cheiro de perfume masculino invadiu os sentidos de Bianca, um aroma cítrico fresco com hortelã. Ela nunca percebia o perfume dos outros, mas soube que aquele estaria marcado consigo para sempre.
— Obrigada. Acho que não me toquei que já está começando a esfriar — mentiu descaradamente, tentando encontrar algo para dizer e não ficar encarando os olhos azuis de Daniel que nem uma idiota por muito tempo.
— Sorte a minha, porque você ficou mais gata ainda com a minha jaqueta. — Ele deu uma piscada.
Enquanto tentava não derreter até virar uma amoeba, Bianca percebeu o olhar de relance que Zoe lhes lançou. Era difícil decifrar a expressão, "mas com certeza não estava satisfeita" pensou. Então, mostrou a língua mentalmente, esperando deixar claro que ela não iria conseguir atrapalhá-los!
— Zoe! — Uma voz feminina captou a atenção da garota alta, que esqueceu Bianca no mesmo segundo para apressar o passo até o portão da residência e envolver uma garota morena igualmente alta e bonita com os braços.
— Nanda, que saudades! — A garota de cabelos laranjas agarrou-se no pescoço da amiga em um abraço apertado.
Àquela altura, Bianca, Daniel, Nathan e Andrei chegaram até os portões de ferro que separavam a calçada do quintal arborizado. Bianca conseguiu ver muitas pessoas lá dentro, mas sob a iluminação dos projetores de luz colorida, era difícil reconhecer qualquer rosto. Claro que só estava procurando Bellini e os outros dois garotos que vieram com ele, afinal aquela era a festa de uma das ex-alunas do colégio Cruz e Souza e provavelmente ela não conhecia mais ninguém.
Daniboy, Nathan e Andrei cumprimentaram a tal Nanda como se também a conhecessem bem. Na verdade, a presença do último naquela festa era um completo mistério para Bianca. Ela sabia que Andrei era amigo dos garotos porque trabalhava na lan house, mas ele devia ter uns vinte e poucos anos! O que ele estava fazendo numa festa de adolescentes mesmo? Era um pouco estranho.
— Meu Deus, olha só quem veio!
O arrepio que atravessou sua espinha ao ouvir aquela voz foi horroroso como se mil insetos rastejassem por suas costas. Por um milésimo de segundo, imaginou que só havia se confundido, mas assim que virou o rosto, seus olhos não demoraram a encontrar a garota de cabelos castanhos alisados que se aproximava como uma víbora.
Minha nossa, por que Marcela Oliveira, um dos minions de Nicole, estava naquela merda de festa? Não era para ser dos alunos do Internato Cruz e Souza? Que droga, o coração de Bianca estava batendo tão rápido que ela até esqueceu do braço de Daniel lhe envolvendo e ficou apenas observando enquanto a outra aluna do Madre Cordélia se aproximava do portão de entrada, escancarando-o ainda mais enquanto Nanda e Zoe conversavam. Por que ela agia como se fosse dona do lugar?!
— Oi, meninos — Marcela cantarolou, olhando para cada um deles com aquele sorriso falso que ela e Nicole sempre pareciam usar quando falavam com Bianca, como se o mundo inteiro servisse para entretê-las.
— E aí, Marcela — Para o horror de Bianca, Daniel 1) tirou o braço de seus ombros para cumprimentá-la com um beijo no rosto e 2) sabia o nome daquela piranha. Nathan também a cumprimentou pelo nome!
Seu horror devia estar estampado no rosto, porque o sorriso de Marcela apenas se abriu mais quando seus olhos se encontraram novamente.
— Bi! Eu não sabia que você vinha na minha casa. Que legal, você é amiga dos meninos também! — A voz dela exalava o mesmo tom debochado que sempre usava com Bianca. Ela lhe encarou da cabeça aos pés, sem disfarçar o olhar de julgamento para sua roupa, que apesar de estar ok para a festa, tinha um estilo muito diferente do conjunto moderno de saia e cropped que Marcela usava. — Ai meu Deus, você veio usando a saia do internato. — A outra segundanista deixou escapar um risinho carregado de sarcasmo. — Nossa, você ficou linda com essa jaqueta! A Nicole e a Vanessa vão amar te ver.
Tanto Nicole quanto Marcela faziam aquela coisa irritante de elogiar algo da maneira mais exagerada possível, e Bianca as conhecia o suficiente para entender que era uma forma de insulto. Sentiu as bochechas esquentando e os olhos arderem, a vontade iminente de chorar subindo pela garganta junto com gosto de bile. Ela só queria nunca ter saído do quarto.
— Nanda, depois a gente se fala, tá? — Zoe deu um beijo na bochecha da amiga e se aproximou de Marcela: — Oi, linda, bom te ver! A gente tá indo falar com a Nicole agorinha, né, Dani? Depois vocês conversam mais, beijo beijo. — Bianca sentiu novamente um braço rodear seus ombros, mas dessa vez era Zoe quem lhe guiava para longe da estudante do Madre Cordélia.
Era impressão ou ela tinha imitado o mesmo tom nojentinho de Marcela? Nunca a tinha visto falar assim. Então, como se quisesse esclarecer, Zoe falou em sua voz normal:
— Meu Deus, essas garotas do Madre Cordélia são simplesmente insuportáveis. — Ela sabia que Bianca era do mesmo internato, né? — Nossa, linda, que saia maravilhosa, adorei sua blusa. — Imitou aquela forma de falar carregada de falsidade, deixando uma gargalhada de deboche escapar em seguida.
Agora que caminhavam pelo jardim extenso em direção ao casarão de estilo rústico, Bianca conseguia ver melhor o clima da festa. Para o seu desespero, reconhecia alguns rostos do Madre Cordélia de meninas do terceiro ano. Pelas janelas enormes, conseguia ver que o interior da casa era uma extensão da festa, onde pessoas dançavam sob um jogo de luzes coloridas.
— Eu não entendi, por que ela comentou da sua saia? — Nathan perguntou, as sobrancelhas franzidas. Precisavam erguer a voz conforme se aproximavam e a música ficava cada vez mais alta.
— Nem adianta explicar — Zoe o ignorou e falou para Bianca: — Esses moleques não entendem a sutileza das piranhas nem se tomarem ela na cara. Né, Daniboy?!
Daniel revirou os olhos, mas deixou um riso escapar. Que ódio, Bianca estava tão confusa. O que diabos ela queria dizer com aquilo? O que estavam fazendo na casa de Marcela? Se ela falou de Nicole, será que os outros minions estavam ali? E agora ela não conseguia entender se Zoe a detestava ou estava tentando ser legal! Ela debochou Marcela, né? Mas tinha certeza que também sabia que Bianca era do mesmo colégio quando xingou "as garotas da Madre Cordélia".
Para melhorar, mesmo Daniel e Nathan pareciam estranhamente enturmados com a garota que a perseguia no colégio. Nossa, aquela noite estava caminhando de uma esperança de algo remotamente legal para o que parecia mais um pesadelo estranho.
— Ai! — Bianca deixou escapar quando sentiu um esbarrão no peito no exato momento em que passavam pelas portas duplas de entrada.
— Desculpa — falou a garota que tentou passar correndo. É claro que ela também reconhecia aquela voz.
Ela e Elisa se olharam por apenas alguns segundos, mas Bianca identificou os olhos avermelhados e lágrimas descendo pelas bochechas da sua antiga amiga. O choque daquela sucessão de eventos a deixou sem palavras, e no segundo seguinte Elisa já estava se afastando da casa a passos largos.
— Ei, tá tudo bem? — perguntou Daniel.
Antes que Bianca pudesse responder, escutou a única voz capaz de coroar aquele monte de merda.
— Daniel?! — Nicole perguntou assim que entraram na casa, a voz alta para se sobrepor ao volume da música. — O que você tá fazendo aqui? Você sabe que a Vanessa também vem, né? — Então, sob o cômodo escuro iluminado por luzes coloridas, Bianca viu a testa dela franzir no momento em que seus olhos focaram nela e em Zoe. — Nossa e trouxe o carregamento de vadias junto.
Não, aquilo não parecia um pesadelo. Com certeza era um.
✿
Nota da autora:
Olá amigos 💜
A energia completamente caótica desse capítulo é minha religião inteira.
Mas vocês não fazem nem ideia do completo circo que está por vir. Falo sério: daqui ao capítulo 16, é tudo a mesma noite kkkk e vai ser a sucessão de eventos mais maluca da vida de vocês 🙏
Espero que estejam gostando da história! Como sempre: por favor, não se esqueçam de deixar sua estrelinha e comentários, vocês são a melhor parte dessa história!
Um beijo enorme, desejo muita neve na vida de vocês e até segunda-feira!