Eu (não) me lembro [DEGUSTAÇÃ...

Galing kay AutoraSandy

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James e Mariane se conheceram na infância. Ele era o garoto playboy cheio de amigos e ela a nerd introvertida... Higit pa

Personagens
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7

Capítulo 8

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Galing kay AutoraSandy

"Sempre há outra chance, uma outra amizade, um outro amor. Para todo fim, um recomeço." (Antoine de Saint-Exupéry – O Pequeno Príncipe)


Essa é uma das poucas vezes na vida onde o cheiro envolvente do café não me conquista tanto a ponto de me relaxar. Olho o nascer do sol da pequena janela do apartamento da mãe de Valéria e contemplo mais um dia nascendo.

Para muitos, essa cena inspira pensamento motivadores de recomeços, de mais uma chance, dar a volta por cima... A mim, causa apenas pânico.

"O que vou fazer agora?"

Está aí uma pergunta que vários adultos já se fizeram em várias fases da vida. Por vezes, isso é meio retórico, hoje não. Eu realmente preciso saber o que fazer. Não posso ficar aqui com William, mas também não posso voltar para nossa casa.

Casa... Será que é de Felipe mesmo?

"João Felipe" – minha mente zomba de mim.

Poderia continuar as analogias e metáforas e comparar meu estado atual com um trapezista ao saltar metros de altura, ou ainda um alpinista descendo um penhasco. O curioso é que, apesar da adrenalina do perigo de cada um, no fundo eles têm o chão. Eles têm a base segura.

Eu não tenho nada.

O pouco que eu tinha se relevou como uma mentira.

Ploc! – Até a lágrima salgando meu café recém-coado zomba de mim. Vejo as pequenas ondas se formando no líquido preto e, mais uma analogia me vem: cada gota do oceano é diferente, veio de um lugar e tem sua própria história.

"Você nem sabe qual é a sua!"

— Já acordada? – perguntou Valéria, mas continuei olhando para a janela, perdida em pensamentos.

Eu não queria dizer a ela que não dormi. Além de preocupá-la, poderia soar como uma ingrata.

Finalmente a encarei e vi a piedade em seu semblante. Não queria despertar esse sentimento, mas como ser diferente quando minha vida é uma farsa?

Como posso olhar para a cara de William e dizer a ele que a única verdade que temos é um ao outro? Maldição! Outra lágrima estraga o restinho do café.

Sempre me considerei uma mulher forte e destemida, mas estava cansada de buscar forças no nada. Sem esperar uma única palavra ou permissão, Valéria me abraçou forte e encostei a cabeça em seu ombro, deixando fluir a dor.

Quando meus olhos abriram, vi Will se mexer no sofá e o cobertor cair. O primeiro sorriso do dia veio, mas olhando o relógio acima, eu sabia que precisava levá-lo à escola.

— Vou procurar aquela pensão perto do asilo – comentei.

— Você conseguirá ficar lá até a reforma da minha casa ficar pronta?

Olhei para minha melhor amiga e salvadora. Ela me deu muito mais do que qualquer um faria, mas não queria ser um peso a ela e ainda tinha Will.

Suspirei derrotada. Eu tinha um pouco de economia, mas João Felipe (que estranho pensar nele assim) que guardava. Sabendo agora que nossos nomes são falsos, com certeza não seria num banco. Além do mais, ganho menos de um salário, como vou nos sustentar?

Senti o tic nervoso pulsando em minha pálpebra e já peguei meu remédio na bolsa. Eu precisava, além de procurar uma pensão, buscar um emprego no período da tarde ou um integral.

— Daremos um jeito.

— E o bonitão no parque? Você vai procurá-lo?

Sua pergunta me pegou desprevenida. Em meio a tanta coisa a resolver para termos um teto e o que comer, pensei pouco no tal James. Eu gosto de como o início do seu nome faz biquinho com a boca, como se mandasse um beijo.

Ele é tão lindo, cheiroso e charmoso. Ele tem presença e enche o lugar, mas é um desconhecido.

— Claro que não. Nem sei quem ele é.

Cessei brevemente nossa conversa, mandei William escovar os dentes e colocar o uniforme.

— Mas pelo visto, ele sabe quem você é. Se for verdade que ele é ou foi seu marido, você não gostaria de saber? Sempre se perguntou sobre seu passado perdido.

— Eu tinha ideia de como era meu passado porque Felipe me disse, no entanto, olha onde estou agora? Não posso confiar.

Passei manteiga no pão para William e fiz um pouco de achocolatado. Enquanto ele comia, segui para o banheiro e troquei minhas roupas. Optei por algo mais simples e confortável, pois estava calor e eu andaria muito durante o dia.

Valéria me seguiu até o banheiro e eu já estava cansada da sua inquisição, apesar de saber que ela só queria o meu bem-estar.

— Amiga. Se esconder da verdade, você também já tentou. O branquelo é um bosta de homem, mas você nunca buscou um tratamento para recuperar sua memória. Digamos que de um a dez, ele tem oito de culpa e você dois, por ser conivente.

A olhei estupefata e ela encolheu os ombros se desculpando, mas sem estar arrependida.

— Eu estava com medo de descobrir coisas ruins, além disso, sabe que sempre que forço lembrar, minha cabeça dói e por vezes até desmaio!

Valéria suspirou e eu também.

— Eu sei que você tinha medo das descobertas, mas isso não anula sua história. Já pensou em uma família? E se você teve outros filhos? E se você tem pais, irmãos... E sejamos francas, pelo que você disse, esse James não parece ter sido um marido ruim.

Sentei-me na tampa do vaso e me permiti sonhar um pouco.

Esse tempo todo eu achando que fui abandonada, mas na verdade, eu poderia ter causado muita dor em quem me amava por não estar mais por perto. E James...

— Já se passaram muitos anos. Eu estive casada até ontem. James deve ter dado seguimento em sua vida. Era o justo a se fazer.

Levantei-me e encarei minhas olheiras no espelho, passei hidratante e protetor solar, mas claramente não resolveu o grande bolsão abaixo dos olhos. Já meu longo cabelo, deixei amarrado em um rabo de cavalo e me questionei se eu ficaria melhor com ele curto.

— Pela recepção calorosa que ele te recebeu, com certeza não esqueceu de você. Tu é inesquecível, amiga – Valéria me deu um beijo na bochecha e logo depois cuspiu na pia, pois estava molhado com o protetor solar.

Comecei a rir quase histericamente e um pensamento me veio à mente.

— Pode ter sido susto, afinal, você agiria diferente se visse um fantasma? Para ele eu estava morta. Isso, se considerarmos como verdade o que ele diz.

Finalizei com um batom fraquinho e seguimos para a sala, onde Will já me esperava. Eu o deixei na escola e ignorei todas as perguntas, prometendo explicar mais tarde.

Olhei de um lado a outro com medo de Felipe aparecer. Conversei brevemente com a diretora da escola, pedindo para deixar que apenas eu pegasse Will na escola.

Ela estranhou eu não ter mencionado Felipe, mas não questionou.

Meu objetivo era sair do centro da cidade, pois as casas tendem a ser mais caras. Passando pela praça principal, vi o Sr. Geraldo e já ia me desviar quando, pela primeira vez, ele me viu e me chamou.

— Você parece a própria miséria, minha jovem. Por que acho que o herói tem algo com isso?

Sentei-me ao seu lado e nem me preocupei em defender Felipe.

— Na mosca!

— "Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga".

Ouvir a citação de Denis Diderot me desarmou. Esse velho senhor era sábio demais e parecia sentir minha energia. O olhei incrédula e ele se limitou a dizer:

— Sempre que está triste, tem a ver com ele e seu passado. Até quando vai se enganar Ana-flor?

Engoli em seco e recusei a pipoca. Olhei para a fonte de água jorrando e suspirei, murmurando baixinho:

— Acho que esse nem é meu nome.

— Isso é mera formalidade. O que interessa é quem você é, não como te chamam. Então te pergunto: quem você é?

O encarei e meu olhar era quase aquoso devido as lágrimas não derramadas e o brilho pela sabedoria provocante desse homem. Eu não sabia a resposta e ele tinha noção disso.

Levantei-me e ele também. Sem aviso, ele me deu um abraço.

— Estou orgulhoso de você. Ainda que tardiamente, sei que vai procurar as respostas certas. Saberás quem és, de onde veio e o porquê das coisas. Sua memória pode ter ido embora traumaticamente, mas isso não pode definir seu hoje e o seu amanhã. Eles pertencem, unicamente a você. Você é dona do seu destino. Não perca mais um dia de vida pelo medo.

— Ah, senhor Geraldo...

— Lembre-se, jovem Ana-flor: sua vida pertence a você! Pode ser que nunca recupere totalmente sua mente, mas não permita que isso tire de você o gostinho de descobrir mais sobre si mesma e formar seu caráter um pouquinho a cada dia.

Nosso abraço tinha gosto de despedida, então, rabisquei meu número em um papel e lhe entreguei. Não sabia se ele tinha celular, mas estava torcendo por isso.

💉📚🎶

Meus pés tinham bolhas e minha perna repuxava, quase manca de novo. O motivo? Eu estava andando há quilômetros para chegar em nossa casa.

A pensão nos aceitou lá, mas eu precisava entregar um adiantamento. Eu tinha pouco dinheiro comigo e sabia onde guardávamos uma quantia de emergência. Minha esperança era ir até lá, ele não estar por perto e eu pegar a grana.

Não vi seu carro e a casa estava trancada. Alívio me inundou, mas quando cheguei até nossa gaveta, ela estava vazia.

Comecei a praguejar e meu vício em café acentuou. Por mais absurdo que fosse, eu precisava de uma dose, então coei um pouco e quando fui colocar na garrafa, encontrei um papel embaixo dela.

Era uma carta de Felipe:

"Meu amor, eu nem sei por onde começar, então vou pelo óbvio: me desculpe por tudo.

Eu sei que é fraco, talvez eu também seja. Talvez, seja pior do que o normal, pois não me arrependo realmente.

Com você, pude viver verdadeiramente meus melhores anos. Deixei de ser um criminoso egoísta e me tornei um homem, um marido e um pai.

Como me arrepender se, com você, eu ganhei um propósito na vida? Você me deu isso, ou eu tomei, para falar a verdade.

Falando em verdade, eu lhe devo isso!

No dia em que te conheci, eu estava fugindo da polícia. Fui um traficante de medicamentos, pois tinha acesso fácil a eles.

No entanto, depois que você entrou em minha vida, não vi mais sentido em me arriscar no crime, até termos que voltar a São Paulo e eu precisar pegar uma última remessa. Essa foi a última, prometo.

Mas, você descobriu tudo graças aquele filho da puta playboy. Não sei se ele foi seu marido no passado, mas só de pensar nisso, fico puto! Não a quero com outro homem além de mim, mas sei que já a perdi.

Algum dia eu a tive?

Eu ouvi suas súplicas por socorro, enquanto seu carro afundava no lago. E mesmo sendo um cara ruim, não permitiria que morresse por minha culpa. Eu sempre quis dinheiro, não matar as pessoas.

Eu a salvei primeiro e você me salvou logo depois.

Sentirei saudades de você e de William. Podemos não ter o mesmo sangue ou ter dito "sim" diante um juiz ou padre, mas nesses quase cinco anos, eu fui seu marido, seu protetor, seu homem e pai do seu filho.

Errado ou não, eu fui seu tudo e você a minha. Então, você pode tentar me esquecer, mas ao contrário do seu passado perdido no tempo, eu sempre serei aquele que marcou sua vida.

Você nunca disse isso direito, mas eu sim e por isso finalizo como lhe dizia todos os dias: eu te amo.

João Felipe."


Meu coração bateu forte e me deixei cair. Amor, acho que nunca senti por ele, mas eu gostava dele sim. Ele era um bom pai para William e no meio das minhas crises, me abraçava. Em meio às minhas dificuldades, me apoiava.

Por mais absurdo que soe, eu sou grata a ele e pensar que eu e Will poderíamos estar mortos se não fosse por ele, me atormenta.

Segui para nosso banheiro e vi nossas coisas lá. Eu tinha que dar um jeito em minha vida e esquecê-lo, mas não sabia como.

Enquanto a água lavava-me, mentalizei ela levando Felipe também para bem longe dos meus pensamentos, coração e da minha vida.

Quando estava seca, com roupa trocada e já arrumando tudo para buscar William, escutei sirenes. Meu coração voltou a retumbar. Abri a porta, já imaginando que Felipe havia sido pego e eu poderia ser considerada sua cúmplice.

Dois carros pararam diante minha porta, e meu coração, que há poucos segundos estava disparado, de repente parou, bem como minha respiração.

Saindo de um desses carros, estava ele. Alto, charmoso e com uma forte presença. Seus cabelos estavam meio bagunçados e seus olhos iguais aos de Will me encaravam com verdadeira adoração.

Uma memória, quase uma voz, preencheu meus sentidos:

"Eu te adoro".

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

E o coração? 💓O meu também retumbou. Mesmo João Felipe sendo um criminoso, ele não mentiu em tudo: ele realmente salvou ela e o seu filho... E ela só conhece ele, não tem como não gostar.😬

Mas James está aí, disposto a conquistá-la mais uma vez.

Aliás, antes disso, 2 personagens roubaram a cena aí: quem  aí gostaria de uma amiga como a Valéria e o Senhor Geraldo?🙋🏻‍♀️

E... No próximo capítulo James e Mariane, finalmente se encontram de forma descente e ele lhe faz uma proposta. Ela que não tem mais nada, vai aceitar?

Até a próxima página e se gostou, me conte aqui o que está achando e deixa aquele votinho sincero. 

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