Da guerra ao Amor

By VGOliverAutora

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No início das guerras, forjado no calor da batalha, sem nenhum tipo de pudor, onde a violência impera e o san... More

AVISOS E EXPLICAÇÕES!
Personagens
Sinopse
Prólogo
A Guerra
O Demônio
O Começo do Tormento
Uma noite sem estrelas
Novos Caminhos
A Ira do Demônio
Assuntos de Guerra
Rio de Sangue
Intrigas - Parte I
Intrigas - Parte II
O Retorno
Saudade
Desejo
Os Visitantes
Olhos de Mar
Jardim do Entardecer
Declínio no Horizonte
O Grande Torneio
Memórias
Encontros ao Acaso
Traições
Planos
Dor
Desamor
Despertar
Desolação
Mentiras e Verdades
Distorções
Lírios de Sangue
Pensamentos sem fim
As flores pelas quais sangrei
Meu paraíso em sua escuridão

Não me deixes

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By VGOliverAutora


"Omnium calamitatum maxime dolendum est superfluum"(A mais lamentável de todas as perdas é a perda do tempo)

Philip Chesterfiel

Mardok

Kassandra... Ela voltou – se para mim, o olhar vazio, a pele pálida e o corpo quase cadavérico pela má alimentação, pelo sofrimento. Kassandra nunca esteve tão magra. Pele e osso. Mesmo quando veio para o palácio ainda sim tinha algum viço, uma tez saudável. Suspirei percebendo o que meu descaso e desconfiança fez a única pessoa que me fez sentir vivo. Me fez ser mais que um guerreiro ou imperador. Me fez um homem completo. E me faria também um pai, se não fosse minha insensatez.

— O que fazes, Kasandra? Esse lugar é perigoso, venha comigo, por favor, pequena. Deixe – me consertar as coisas, sim? — Fiz menção em me aproximar, mas ela gritou fazendo – me estancar.

— Não! Fiques longe de mim... Não se aproximes de mim, nunca mais... Nunca mais... — Para meu desespero a vi titubear. Engoli em seco vendo as lágrimas banhando seu rosto magro, os olhos lindos tão opacos, a miríade de cores que eu tanto amava corroía – se em dor. Desprezei – me vendo no que aquela menina linda e inocente se transformou... No que a transformei.

— Kassandra... Por favor, deixe – me reparar tudo. — Disse mais uma vez sem saber como fazê – la descer.

— Podes trazer a minha filha de volta? Apenas isso pode reparar tudo que me fizestes. — Trinquei a mandíbula, porque era a única coisa no mundo que eu não poderia fazer.

Anat... Não posso viver em um mundo onde você não exista. — Ela não pareceu afetada pelas minhas palavras, mas consegui avançar dois passos sem que ela de fato percebesse e se alarmasse.

— Tu podes ver, meu senhor? — E abriu as mãos mostrando o jardim em ruínas.

— Assim estou por dentro... Assim como esse jardim, estou em ruínas, estilhaçada, a única coisa que eu queria era a minha criança comigo. Vejas... Estou além do reparo, meu senhor, tudo que preciso é da minha Alba.

— Achas que nossa filha, irias querer que sua mãe se destruísse dessa forma? — Argumentei e Kassandra franziu o cenho parecendo confusa.

— Velei seu sono por muitas noites e tu falavas o quanto a nossa criança era linda e feliz. O quanto ela era uma boa menina, o quanto te amavas e o quanto tu a amavas, minha cigana, ela não iria querer ver - te se flagelar dessa forma. — Aleguei. Parte das minhas noites insones ouvi Kassandra chamar a nossa filha e descrever cada nuance que via na criança. Me apaixonei pelos relatos, me apaixonei pela minha filha. A criança que para a minha mais profunda vergonha, rejeitei. Com minha intransigência praticamente matei.

— Não ouses... Não ouses falar como se quisesses a minha criança. Você a renegou! A chamou de bastarda imunda, nos abandonou, me deixou para morrer. Deixou – me no chão sangrando a minha própria sorte. Lembra – se o que te disses naquela degradante ocasião, meu senhor? — Engoli em seco para o semblante duro da única pessoa que possuía meu mundo.

— Não me deixes... Não me deixes, Kassandra. Uma vez disse que me amavas, não restou nada de mim em ti? — Falei as palavras com dor. Sentia mil facas cortar – me a carne ao vê – la desistir de tudo. De mim. De nós.

— Eu disse que se desse as costas a nós duas naquele momento, te daria as costas por toda minha existência. Sabes o quão vazia sinto - me? Sabes o quão sem importância me fizestes? O último resquício que tinhas de tu em mim, foi – se junto com a minha criança. A criança que renegastes. — Parecia que o tempo estava se movendo lentamente e para meu desespero a vi dar as costas para mim, assim como dissestes que faria, abrindo os braços em seguida se preparando para pular, para partir... Para me deixar. Me impulsionei com rapidez antes de conseguir seu intento e consegui puxá – la pela longa camisola.

A trouxe ao encontro do meu corpo, para longe do perigo presa em meu abraço e se debatendo contra o meu agarre, Kassandra mordeu – me o braço querendo soltar – se, deixei – a descontar sua dor em mim, inclusive a dor física era bem vinda quem sabe não me faria menos miserável. Kassandra continuava tentando soltar – se gritando e me amaldiçoando.

— SOLTE – ME! DEIXE – ME IR... ODEIO – TE, ODEIO – TE, ODEIO – TE. DEIXE – ME EM PAZ, EU NÃO AGUENTO MAIS, OLHAR PARA TI DÓI, MACHUCA... DEIXE – ME IR, DEIXE – ME FICAR COM A MINHA FILHA, NÃO HÁ NADA PARA MIM AQUI. AMALDIÇOOU SUA EXISTÊNCIA... MISERÁVEL, ASSASSINO. ODEIO – TE.

A mantive cativa em meus braços, sentindo seu soluços, o convulsionar do frágil corpo. O choro descontrolado, cheio de dor, de martírio, cheio de angústia. Um choro que eu sentia em minha alma, o homem e a besta sofriam pela dor dessa mulher, por causar a dor no amor da minha medíocre vida. Era como ser rasgado em dois. Daria meu império, minha coroa para que ela tivesse o que queria, mas infelizmente mesmo para um demônio como eu, parar a dor de Kassandra era impossível e isso fazia – me o mais desafortunado de todos os homens.

— Deixe – me ir... — Sussurrou entre os soluços.

— Eu não consigo... Não posso desistir de você. — Falei em seu ouvido e ela chorou ainda mais.

Carreguei Kassandra de volta aos aposentos e selei a passagem, coloquei dois soldados na porta do quarto selando também a porta da varanda e a encarcerando no quarto. Fui mais uma vez para a minha sala reservada. Sentei – me e servi – me de uma dose de arak. Não sabia ao certo como proceder com toda essa situação. Nunca precisei redimir – me por nada, nunca quis o perdão ou a aceitação de alguém, mas Kassandra não era qualquer pessoa, ela estava impregnada em meu sangue, era a vida que corria pela minha carne e o fato dela estar se matando a cada minuto, me faz querer morrer junto com ela.

Já tinha noção de como acabaria completamente com essa situação, de como colocaria a Assíria novamente nos eixos e de como deixaria Kassandra em segurança. Suspirei lembrando da forma que ela falava sobre a nossa criança perdida. Em seu sono ela dizia que Alba era a mais bela criança com seus cabelos cor de carvão e olhos brilhantes. O presente que dei a ela, mas também tirei de certa forma. Esfreguei as mãos do meu rosto com selvageria. Eu estava vivendo ou apenas padecendo de culpa? Praticamente desmaiei e me perdi em inconsciência logo em seguida como vinha acontecendo todas as vezes desde que minha existência se tornou um martírio.

...

Dias mais tarde...

Olhava a imensidão de Assur em toda sua imponência com orgulho do que havia construído. O disco alado de Assur iluminava os céus com força, anunciando o prelúdio de guerra. Em alguns dias iria retomar Anatólia, havia acordado com Aubalith, O garoto Nimari e um dos meus generais de confiança Apsu, apenas eles sabiam da mobilização para a invasão de Anatólia, a Legião de Nergal foi altamente sigilosa, se algo saísse errado saberia que um deles me traiu.

Barsim estava organizando as tropas para a neutralização de Ur, por isso não estava a par da organização de Legião de Nergal. Apertei a mureta do jardim em pedaços e me senti fraco. Kassandra continuava a me ignorar, não suportava minha presença, era desesperador, mas ainda sim preferia seu ódio, seu descaso a não tê – la próximo a mim de forma alguma. Era como uma doença, um vício, uma dor necessária. Senti uma presença conhecida, mas não me dignei a sair do lugar.

— Primo... Sabias que iria te encontrar aqui. Precisei resolver questões com Serena sobre a criança que ela espera. Resolvi que mesmo não sendo minha irei assumi – la, apeguei – me a alcunha de ser um pai.

— Sabes que a criança não é sua. — Afirmei. Havia mandado investigar e pelo que descobri era provável que a criança fosse cria de um dos conselheiros antigos ao qual a puta mantinha em sua teia, enquanto o tolo do meu primo achava que tinhas exclusividade.

— Provavelmente não o és. Mas não posso ter plena certeza, pois infelizmente tive coito com a prostituta em um período próximo. Mas Andreyna está receptiva com a criança. Eu disse que a futura mãe não a queria e que a renegava, usarei a criança para me aproximar e farei de Andreyna a sua mãe. — Ardiloso.

— Irás matar a prostituta quando der a luz? Achei que tinhas desistido da ideia. — Questionei – o.

— Serena está dando – me muitos problemas, exige casamento e além disso desconfio que ela passou informação para Hana e Elif. No mais direi a Andreyna que a puta morreu no parto. Estarei perdido e sozinho para cuidar de uma vulnerável criança. Ela já me permite tocá – la com mais intimidade, logo a farei minha definitivamente. — Assenti dando minha benção desde que a escrava insolente se mantivesse longe de mim e continuasse cuidando de Kasandra eles teriam minha aprovação. Olhei novamente para o horizonte pensativo.

— Já se perguntaste o quanto vales uma vida? — Soltei de repente.

— Não estou entendendo, primo.

— Deparo – me olhando essa vastidão que conquistei, que conquistamos e a qual governo... E me pergunto se é a isso que se resumirá a minha existência. Se vale a pena ser lembrado e temido. Reflito que nada do que eu conquistei compensa ter perdido algo que eu nem sabia que possuía. Que eu não fazia ideia que era importante. — Refleti sobre minhas palavras.

— Liderarei pessoalmente a Legião de Nergal até Anatólia. — Aubalith encarou – me incrédulo.

— Estás louco, Mardok? A Legião de Nergal é para ser uma linha de frente, para distração. Estás querendo se matar, inferno!?

— E já não estou eu morto, primo? — Rebati sua inquietação.

— Não podes fazer isso, Mardok!

— Confies em mim, Aubalith. Eu posso e vou.

— Mas...

— Apenas confie. — Eu iria para morte com a cabeça erguida. Talvez depois que me fosse Kassandra conseguisse ser feliz.

— É por causa da cigana? Em algum momento vocês se entenderão, Mardok. Ir para a porra da linha de frente e morrer não fará diferença. A deixe ir, liberte vocês dois, caralho! — Aubalith falava exasperado.

— Não posso faze – la feliz, tampouco posso vê – la partir e viver sem mim, sou egoísta demais para viver sem Kassandra.

— E a solução és tentar matar - se?

— De – me algum crédito, Aubalith, sou o demônio Assírio por um motivo, vencer o invencível. Está nas mãos dos Deuses, se for da vontade deles que eu volte, voltarei ainda pior do que fui. — Falei sorrindo.

— Estás louco!

— E eu não o fui sempre? — Saímos para a área sigilosa onde os soldados mais poderosos do meu exercito treinavam. Essa seria a minha mais derradeira e cruel batalha. Fosse o que fosse eu teria uma morte digna ou uma volta triunfante. E se eu voltasse não mediria esforços para fazer Kassandra voltar a amar – me. Pois se os Deuses me permitissem viver era porque eu poderia me redimir.

A sorte estava lançada.

Oi meus jambos sentiram a minha falta, rs? Postando rapidinho antes de entrar no trabalho.

Espero que gostem. Bjs

*Música na Mídia Billie Eilish  feat Khalid - Lovely

Obs.: Deus Sumério Nergal, Nirgal ou Nirgali era o deus da guerra e da morte. Tinha por esposa a deusa Eresquigal. Ele também foi um deus do submundo.

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