Se a gente se casar domingo?

By thalytamartiins

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Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... More

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 24 - Leila

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By thalytamartiins

Estou curiosa com a coleção de fotografias, mas não sei se tenho direito de perguntar sobre elas, embora estejam expostas em um lugar onde qualquer pessoa possa ver. É que não parecem fotografias comuns, daquelas que são encontradas na maioria das salas de estar das casas brasileiras. Não sei ao certo, há alguma coisa intimista nos retratos, na forma como a expressão no rosto das pessoas foi capturada, que me passa a impressão de que as fotos são mais importantes do que aparentam. Sinto que, no fundo, Danilo emoldurou e colocou em porta-retratos momentos significativos para ele e os organizou despretensiosamente na prateleira, para que ninguém desse a importância devida àquilo além dele.

Apesar do clima de tensão com a família, há muitas fotos dos avós, da mãe, das sobrinhas e até do irmão dele e isso é o suficiente para que eu saiba que a maneira dele, Danilo se importa muito com todos ao seu redor. Na maioria do tempo ele é um cara bem egoísta e inconsequente, mas olhando essas fotografias eu tenho comigo o palpite cada vez mais forte que Danilo não é nem metade do que gosta de fazer parecer.

Desvio minha atenção das fotos no momento em que Sansão sai por uma fresta apertada da porta de Danilo, sacudindo o rabinho para mim. Nos demos bem, afinal de contas, e eu me senti mais do que aliviada por isso. A mãe de Danilo tem total razão ao dizer que o filho gosta mais do cachorro do que de pessoas. Se Sansão não fosse com a minha cara, provavelmente eu teria problemas morando aqui pelos próximos meses.

Me abaixo para pegar Sansão no colo e levá-lo até a área de serviço. O coloco em seu colchãozinho vermelho repleto de brinquedinhos de borracha e encho seus potinhos com água e ração, porque vai saber que horas Danilo acordará para alimentar o pobrezinho.

Só de pensar em comida meu estômago ronca. Danilo tinha me dito que eu poderia ficar à vontade, inclusive para abrir a geladeira, mas não me senti muito confortável para fazer isso. Não somos tão íntimos assim para que eu saia pela casa revirando tudo, já basta a vergonha que passei ontem pedindo shampoo emprestado. Claro que eu poderia ter deixado para lavar o cabelo outro dia, só que se eu não tivesse tirado aquele fixador de cachos e penteado bem meu cabelo ontem mesmo, eu não iria conseguir dormir em paz, se bem que eu estava tão exausta que dormi em menos de um minuto depois que caí de costas na cama, nem mesmo me lembrei que não tinha comido nada além de bolo de casamento o dia todo.

Minha barriga ronca alto de novo e eu acho melhor sair logo daqui antes que Danilo acorde e me pegue considerando assaltar a geladeira dele. Passo pela cozinha com passos apressados, no entanto minha cabeça e meu estômago são mais traiçoeiros. Sei que Danilo não gosta de café, mas não faço ideia se ele come um pão com manteiga de manhã ou se prefere frutas e alimentos mais naturais. Pensando bem, ele tem cara de que prefere aqueles shakes proteicos com gosto de batata doce e ovos cozidos, só assim para manter o corpo que ele tem. Acho que nesse caso talvez eu possa, quem sabe, fazer uma vitamina para ele e tomar um pouco antes de me despencar daqui. É isso! Farei isso, até porque gentileza não incomoda ninguém.

Dou a volta na bancada da cozinha e caminho na ponta dos pés até a pia de mármore escuro para lavar as mãos. Olho para os quatro cantos, procurando por um liquidificador e assim que o encontro abro a geladeira moderna com baixíssimo consumo de energia para pegar frutas e leite, mas sou surpreendida com o fato de não haver nada nessa geladeira além de gelo e uma caixa de pizza. Eu deveria ter desconfiado que havia alguma coisa errada com essa casa limpa demais quando pisei os pés aqui.

Há exatamente dois ovos na porta da geladeira, nem mesmo um queijinho ou um presunto Danilo tem aqui para que eu faça uma omelete decente. Esse homem deve viver de vento e água, não existe outra explicação. Fecho a porta da geladeira, desistindo de fazer algo para comer, até porque não há muito que eu possa fazer de qualquer forma. Preciso me lembrar de passar no mercado mais tarde e comprar alguma comida para pôr nesta casa, pois do contrário vou morrer de fome antes do contrato terminar.

São quase 7h00 e eu nem conheço direito esse lado da cidade, então me dei o luxo de chamar um táxi hoje, já podendo imaginar o dinheiro que vou gastar daqui até o escritório novo da E. M. Meu celular vibra com uma mensagem do motorista bem a tempo e corro até meu quarto para pegar minha mochila. Estou encostando a porta para sair quando Danilo surge na porta do quarto dele só de shorts e com a cara amassada.

Por alguns instantes constrangedores nós dois não emitimos o mínimo dos sons, nos encarando como se fosse a primeira vez que estamos nos vendo na vida. Sou a primeira a desviar os olhos, contudo acabo olhando para o lugar errado, que no caso é o tronco desnudo dele. Me arrependo amargamente daquilo, porque é difícil não continuar encarando descaradamente cada detalhezinho do corpo dele em plena luz do dia. Eu me lembro bem das fotos dele sem camisa que vi na internet, mas ao vivo, sinceramente...

— Achei que você ainda estivesse dormindo. — Danilo diz com a voz rouca de sono.

Engulo em seco. Subo meu olhar para o rosto dele de novo, sentindo minhas bochechas arderem ao perceber que Danilo está aos poucos se escondendo atrás da porta, envergonhado. Maravilha.

— Eu estava saindo para o trabalho. Te acordei?

— Não, está na minha hora também. Você quer que eu te leve? Me troco num instante...

— Não precisa. — Digo bruscamente, quase em desespero. — Tem um táxi me esperando, é melhor eu ir logo. Até mais!

Encosto a porta do quarto e dou as costas para Danilo, caminhando dura como uma tábua até a porta pelo constrangimento.

— Espera, Leila! — Danilo me chama antes que eu possa sair.

Ele aparece atrás de mim vestindo uma camiseta do avesso. Essa atitude dele só me dá mais certeza que ele reparou enquanto eu o secava e ficou tão sem graça quanto eu. Muito bem, Leila, só bolas dentro até agora!

— Eu fiz essa cópia das chaves para você. — Ele estende a mão e me entrega uma chave prateada pendurada num chaveiro de metal em formato de lâmpada.

Giro o chaveiro entre os dedos, observando o metal pintado de amarelo brilhar ao ser atingido pela luz do dia. Um chaveiro em formato de lâmpada. Uma. Lâmpada. Meu Deus, qual a necessidade de fazer isso comigo? O que esse homem quer me dando uma coisa fofa dessas? Ele poderia simplesmente só ter me dado uma cópia da chave, mas esse chaveiro... Não, nem quero pensar nisso!

— Obrigada. Vou indo agora, tá?

— Bom trabalho! Me dê bons resultados do meu investimento. — Ele sorri meio sem graça, olhando disfarçadamente para as minhas mãos segurando o chaveiro, e tenho a vaga impressão de que há alguma coisa que Danilo quer me dizer.

Entretanto, não pergunto nada a respeito. Apenas giro a maçaneta e desapareço porta afora.

A nossa mudança para o escritório da E. M. está quase no fim. Conseguimos pintar dois cômodos e instalar internet, já trouxemos boa parte das nossas coisas para cá e os móveis que encomendamos serão entregues amanhã bem cedinho. Estamos tentando deixar tudo bem moderno e colorido, com a nossa cara em cada cantinho das salas.

Precisamos ainda acertar tudo a respeito dos dispositivos de medição, quem sabe até contratar mais algumas pessoas para nos ajudar com o desenvolvimento e monitoramento dos aparelhos, mas estamos encarando cada um desses problemas com um sorriso enorme no rosto. É satisfatório demais ver nossos sonhos tomando forma, ganhando cores, crescendo dentro dessas paredes.

— Finalmente! — Madu grita eufórica, pulando pelo que será nossa recepção. — Fi-nal-men-te! — Ela diz sílaba por sílaba da palavra entre gargalhadas. — Finalmente vou ter espaço para colocar meu computador!

— Finalmente vamos dar um descanso para os meus pais também, porque eles já não aguentavam mais vocês duas comendo lá em casa. — Jonas completa em tom de brincadeira.

Embolo um folheto de uma lanchonete que peguei na rua no caminho para cá e jogo na cabeça dele.

— É o sonho da sua mãe que nós fôssemos filhas dela em vez de você. Pelo menos lavamos os pratos, tá bom!

— Falando em pratos, está tarde pra caramba, não acham? — Jonas desembola o panfleto e dá uma olhada rápida nas fotografias dos sanduíches. — É melhor a gente pedir um lanche, porque pelo visto vai todo mundo cair aqui mesmo.

— Você e eu, né, Jonas. — Madu o corrige. — Leila ainda está em lua de mel, deve estar contando as horas para ir para casa.

— Ah, verdade! Às vezes eu esqueço que Leila agora é uma mulher recém-casada.

— E recém-casados não vêm a hora de voltar para casa!

Madu e Jonas explodem em risadinhas maliciosas, como dois pré-adolescentes que acabaram de descobrir o que não deviam.

Eu tinha colocado uma muda de roupas na mochila, porque sabia que com a quantidade de coisas que tínhamos que fazer na E. M., era provável que eu não fosse embora tão cedo. Por mim tudo bem, eu até prefiro ficar aqui com eles, comer porcaria e desmaiar de exaustão sobre um papelão desses do que ter que encarar meu "marido", principalmente depois do nosso encontro desastroso pela manhã.

— E aí, Leila, conta aqui para sua amiguinha solteirona os benefícios do matrimônio. — Madu se senta mais perto de mim, passando a mão pela minha bochecha esquerda. — Você está com a pele ótima hoje, inclusive.

— Para com isso! — Afasto a mão dela com um tapa.

— É sério, me conta como foi a primeira noite de casada, vai!

Jonas aperta os olhos e emite um som semelhante a uma ânsia de vômito. Ele fica de pé e bate a poeira dos shorts de surfista laranja.

— Vou comprar alguma coisa para comer, aí vocês duas podem falar disso à vontade.

— Não, Jonas... — Tento impedi-lo de sair, mas Madu tapa minha boca com a mão, fazendo sinal com a outra para que ele vá o quanto antes.

Assim que Jonas some de vista, ela engatinha até ficar sentada sobre os calcanhares bem na minha frente, me encurralando contra a parede. Não vou poder fugir nem se eu ligar para a polícia. O pior é que eu nem tenho nada para dizer, porque eu literalmente apaguei depois de tomar um banho, e ainda que Danilo e eu tivéssemos tido um jantar supostamente romântico ontem, eu não saberia como contar nada disso para Madu.

— Vai logo, desembucha! Como foi quando vocês chegaram em casa? Tinha rosas vermelhas sobre a cama, lençóis de seda, taças de champanhe? Me conta tudo!

Quase tenho uma crise de riso com a imaginação fértil dela. Acho que nem se o casamento fosse de verdade, Danilo faria algo do tipo. Eu conheço pouco dele, mas pelo que os sites de fofoca dizem, ele é mais galinha do que romântico.

— É como minha mãe disse, tudo que tínhamos que fazer, fizemos antes de nos casar. Ontem foi só mais um dia.

— Ah, Leila, pelo amor de Deus! — Madu revira os olhos teatralmente. — O homem fez aquele casamento todo fofo ontem e não te recebeu em casa com nada de especial? Que horror, o casamento de vocês é só para os outros verem, é?

Aquilo me deixa em estado de alerta. De jeito nenhum posso deixar que essa ideia que está nascendo nesse momento pela cabeça da minha amiga se enraíze. Reviro minhas memórias atrás de filmes clichês românticos de onde eu possa tirar alguma ideia do que inventar para Madu, mas acho que assisti poucos filmes do gênero na vida, infelizmente.

— Bom, não é assim também, sabe?

— E como é?

Respiro fundo, formulando a mentira de um jeito que pareça verdade.

— Nós chegamos em casa e havia algumas fotografias espalhadas pela casa de alguns momentos que passamos juntos. Atrás de cada fotografia estava escrito alguma mensagem bonitinha, romântica...

Madu solta uma risada, interrompendo meu raciocínio.

— O que foi?

— Desculpa, é que é meio cafona. Sei lá, pareceu a cena da primeira vez de uma adolescente num filme americano.

É porque é, penso comigo mesma, com uma vontade tremenda de rir também.

— Eu gostei da coisa das fotos, se você quer saber. Danilo gosta de fotografar, é algo com significado para ele. — Pelo menos isso não é mentira.

— E ele te fotografou em uma lingerie provocante ontem também? — Ela me cutuca, não ligando muito para o que eu acabei de dizer.

— Madu, por favor!

— Certo, certo. Pode continuar, senhora Torres.

— Depois tomamos um banho juntos, bebemos um vinho e o resto você imagina aí na sua cabeça, porque perdi a vontade de falar!

— Não, Leila, desculpa! Desculpa, eu prometo não rir de mais nada!

Fico de pé, ignorando a choradeira de Madu. Foi bom que ela tenha achado patética a história das fotos, porque eu realmente não iria saber como terminar a história que comecei se ela me pedisse detalhes. Até ontem eu nunca tinha beijado Danilo — e estou considerando os selinhos demorados que demos no casamento como beijos — e até hoje de manhã eu nunca o tinha visto tanta pele dele pessoalmente.

Antes que eu possa impedir, a imagem do abdômen dele enche minha mente de um lado a outro. Faz tanto tempo desde que saí com um cara, que eu nem me lembro direito da sensação de estar realmente com alguém, por isso meu corpo está reagindo assim desde cedo. Hoje é um dia que Madu chamaria de "dia de aliviar a carência" e, em outras circunstâncias, ela me arrastaria para um barzinho ou qualquer lugar com algum potencial paquera que iria fazer eu me arrepender no dia seguinte. Era bem disso que eu precisava hoje, mas, infelizmente — ou felizmente? —, eu sou uma mulher casada.

Olho para a aliança dourada no meu dedo esquerdo, presa pelo anel de brilhantes. Seis meses de celibato não pareciam nada no começo até aquele homem aparecer quase pelado na minha frente. Acho que está aí uma coisa que precisamos acertar no contrato: respeitar o espaço visual do próximo e vestir roupas sempre que possível e impossível também.

— O que está passando pela sua cabeça, hein? Por acaso está pensando no que te espera em casa? — Madu provoca. Ela ainda não se deu por vencida.

Deus, como eu a odeio às vezes! Esfrego meu rosto com as mãos, desejando me enfiar em um buraco. Somos amigas há anos, já conversamos esse tipo de coisa um milhão de vezes e eu não teria problemas em dizer como me sinto, caso eu estivesse sentindo alguma coisa além de vontade de sumir do mapa.

— Você sabe que a culpa é sua por eu estar curiosa, então não faça essa cara. Quero entender o feitiço que Danilo jogou em você, só isso.

— Ele não jogou feitiço nenhum, eu apenas gosto dele, não é o suficiente? — Rebato, procurando por alguma coisa que nem sei o que é dentro de uma das caixas da mudança.

— Não? — Madu joga a pergunta de volta. — Leila, tem que existir mais do que isso e eu só implico tanto com vocês dois porque não enxergo isso em vocês. Eu me lembro quando você e Rafael se beijaram pela primeira vez no carro do amigo dele, você não conseguia parar de rir por uma semana! Já com Danilo, não sei, você às vezes parece feliz, como no casamento, e às vezes parece indiferente, como agora.

— Eu não estou indiferente, eu só não fico confortável de falar da minha intimidade com ele para você!

— E não precisa falar se não quiser, claro. Eu só queria ouvir você falar qualquer coisa dele, de preferência que ele te trata bem e que te ama, por exemplo.

— É claro que ele me trata bem, Madu, e é claro que ele me... — Me interrompo no meio da frase. Amor é uma palavra com significado para mim, não consigo dizê-la em vão e Madu sabe disso mais do que ninguém.

Ela me olha sem nem piscar, atenta a cada uma das minhas reações. Danilo e eu não somos sequer amigos, qualquer sentimento além de uma leve simpatia entre nós dois soa falso e absurdo, por isso até mesmo cogitar a hipótese de dizer algo do tipo me dá vertigem. Achei que eu estaria livre desses questionamentos depois que me casasse, mas meus problemas em manter essa farsa parecem só estar no início.

Madu solta um longo suspiro diante do meu silêncio e balança a cabeça, parecendo mais decepcionada do que incrédula.

— Ok, vou parar de te perturbar, mas esteja avisada que se ele te fizer chorar, eu vou parti-lo ao meio!

As palavras dela aliviam um pouco da tensão dos meus ombros e eu me permito sorrir. Pelo menos Danilo não corre risco de vida, já que sem sentimento é impossível que ele me magoe. Para mim, está ótimo assim, melhor só se os meses passassem voando e o divórcio viesse bem rápido para que eu possa sair da casa dele.

Ela muda de vez de assunto e começa a falar sobre fofocas de gente famosa que viu recentemente na internet. A maioria das pessoas que Madu cita eu não faço ideia de quem são ou com o que trabalham, mas não ouso interrompê-la. No meio de um escândalo e outro, Madu acaba tocando no nome de Marcela Corrêa, a atriz famosa que foi namorada de Danilo por algum tempo.

Não me toco imediatamente que falar da ex-namorada do meu "marido" deveria ser um assunto meio delicado para mim até Madu morder o lábio inferior e me pedir desculpas. Francamente, nem se Danilo fosse mesmo meu marido eu deveria me incomodar com isso, ele não sendo nada para mim incomoda menos ainda.

— Tudo bem, eu não tenho direito de sentir ciúmes do passado dele, Madu. — Asseguro.

Devo ter sido bem convincente, porque em seguida Madu continua com a fofoca e até pega o celular para me mostrar o vídeo em que Marcela briga com um garçom porque, supostamente, ele a entregou um drink errado.

— Me empresta seu celular, o meu ficou sem bateria. — Ela guarda o próprio aparelho no bolso de trás da calça jeans cheia de buracos propositais.

Tiro meu celular do bolso, desbloqueando-o rapidamente antes de entregá-lo a ela. Madu desliza o dedo pela tela, abrindo um sorriso meio suspeito e então ergue os olhos para mim.

— Dr. Danilo Torres quer saber a que horas você chega.

Tomo o celular das mãos dela num piscar de olhos. Não sei como fui dar essa mancada de não ter trocado o nome de Danilo no contato. Se Madu já estava me perturbando sem ver isso, agora ela vai me torrar a paciência dobrado.

Passo os olhos pela mensagem de Danilo, que não contém nada além de "que horas você vai para casa?". Penso em responder que não volto hoje e talvez nem amanhã, mas paro com os dedos pairando sobre o teclado. Por que ele quer saber a que horas eu volto? Desde quando isso é importante para ele quando eu tenho uma cópia da chave?

— O que foi, Leila? Danilo está enchendo a casa de fotos de vocês dois de novo? — Madu não perde uma chance, é impressionante.

Mas, por algum motivo, fico pensando naquilo. De manhã, Danilo parecia querer me dizer alguma coisa e eu sequer fiquei mais um pouco para ouvir. Dormi ontem como uma pedra, nem mesmo conversamos direito, então talvez ele queira conversar hoje, quem sabe até esclarecer algumas coisas, como a necessidade de vestirmos roupas dentro de casa. Isso é bom, é algo que eu quero muito falar e que ajudará bastante na nossa convivência no futuro.

Respondo por fim que estou à caminho e ele me responde de volta com uma carinha sorridente, o que é muito estranho por sinal. Franzo a testa encarando o emoji. Primeiro, o chaveiro de lâmpada, agora um emoji. Danilo é tão aleatório!

— Estou indo para casa.

— O dever te chama?

Finjo nem ter ouvido o som do duplo sentido na frase dita por Madu.

— Você e Jonas fiquem atentos amanhã de manhã, porque posso não chegar a tempo de receber os móveis com vocês.

— Sim, capitã! — Madu presta uma continência ridícula.

— Até amanhã! Não se matem, por favor. — Passo os braços pelas alças da mochila, já me encaminhando para a porta.

Esbarro em Jonas quando estou saindo do prédio e quase derrubo os copos de refrigerante que ele está equilibrando nas mãos. Ele fica uma arara porque estou indo embora depois dele ter ido comprar lanches para Madu e eu, mas sei que a raiva vai passar assim que os dois devorarem o hambúrguer que era para ser meu.

Não faço ideia das horas em que os ônibus passam por aqui, por isso acabo me enfiando num táxi de novo. Já gastei mais dinheiro em um dia do que no mês inteiro e ainda vou gastar mais, já que me lembrei que preciso comprar alguma coisa para cozinhar naquela casa, se não quiser dormir com o estômago roncando de novo.

Com quatro sacolas de supermercado nas mãos, chego ao apartamento antes de Danilo. Coloco água para ferver e aproveito para alimentar Sansão e tomar um banho enquanto isso. Só me lembro que eu deveria ter comprado shampoo depois de ter molhado todo meu cabelo. Vou acabar tendo que comprar dois frascos de shampoo no final das contas, um para mim e outro para Danilo, se eu continuar usando as coisas dele assim.

No entanto, preciso admitir que o shampoo dele é muito mais cheiroso do que os que costumo usar e deixou meus cachos bem mais macios. Posso imaginar que deve ser bem caro, a julgar pela marca do cosmético, mas ao menos vale a pena. O cheiro do shampoo é tão bom e marcante, que assim que abri o frasco me lembrei de Danilo na manhã em que fomos à casa de Seu Fausto pela primeira vez. O cabelo dele estava molhado e apesar do perfume importado, ele tinha exatamente esse cheiro também.

Já vestida e pronta para cozinhar um belíssimo macarrão ao molho branco, que é uma das poucas coisas que cozinho bem, envio uma mensagem para Danilo perguntando se ele ainda vai demorar muito. Coloco uma música para tocar no celular e boto a mão na massa, cantando um verso e outro. Sansão ziguezagueia entre meus pés, implorando por um petisco, nada incomodado com minha cantoria desafinada. Ele é tão pidão, que ainda bem que não me esqueci do perrengue que Danilo passou depois dele ter comido os espetinhos de carne gordurosa, ou eu teria cedido e dado a ele um pedaço de comida humana.

O cheiro de comida enche a casa inteira, do jeito que eu gosto. Verifico o celular algumas vezes, mas não há nem sinal de Danilo, mesmo já tendo se passado mais de uma hora que perguntei quando ele chegaria. Cogito a hipótese de enviar uma mensagem para Tales perguntando notícias de Danilo conforme as horas vão passando e ele não aparece nem online, mas acho que seria invasão demais. Eu não sou a mãe dele, afinal.

Acabo comendo sozinha para não ver a comida esfriar. Sansão se senta comigo no sofá e assistimos juntos a alguns programas ruins na televisão. A última vez que checo minhas mensagens é por volta das 23h00 e ainda não há uma resposta para quando Danilo chegará em casa. Pego no sono depois disso, com Sansão aninhado próximo ao meu rosto e meu celular na mão, ainda esperando.

oie!! perdão pela demora, gente :(

muitissimo obrigada pelo carinho de sempre. espero que estejam gostando ♥

nos vemos no próximo domingo.

bjx,

thaly :)

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