Se a gente se casar domingo?

By thalytamartiins

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Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... More

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 20 - Leila

49 24 21
By thalytamartiins

Madu e Jonas não me deixaram em paz um minuto desde o dia em que Danilo apareceu na E. M., e estar com esse anel no dedo não me ajudou em nada, porque a curiosidade dos meus amigos só aumentou quando ligaram que o anel de brilhantes só poderia ter sido presente de Danilo. Um mês depois e eles ainda falam do assunto, perguntam sobre o assunto, especulam sobre o assunto e eu não aguento mais. Simplesmente não aguento mais!

No meio de tanta pressão, com os dois buzinando nos meus ouvidos e com minha mãe ligando o tempo inteiro insistindo para falar comigo, eu acabei fazendo a pior burrada da minha vida. Quer dizer, a segunda pior, pois a primeira sempre vai ser ter aceitado me casar com Danilo. Sem preparação nenhuma e sem controlar minhas palavras, acabei soltando que estava para me casar e queria que eles, pelo amor de Deus, me deixassem em paz, porque eu estava uma pilha. Estava não, eu ainda estou.

Meus amigos estão agora me encarando boquiabertos de seus computadores. Eu acho que essa seria uma boa hora para desaparecer, cortar para a próxima cena, pular o capítulo, sei lá! Queria eu viver em um livro para simplesmente arrancar essas páginas da minha vida fora, mas não é o caso. O silêncio chocado de Jonas não me preocupa muito, já Madu eu tenho certeza que vai voar da cadeira e me dar dois tapas na cara para que eu acorde para a realidade a qualquer instante.

Sobre a mesa, meu celular vibra com uma mensagem de Andressa. Ela quer me ver por alguma razão e tem que ser longe de Danilo. Por sorte, ele me avisou que ela me ligaria e que seria bom para nós dois se eu fosse o mais convincente e apaixonada que eu conseguisse. Nesse exato momento Andressa está a caminho da E. M., e nós duas vamos tomar um sorvete ou qualquer coisa do tipo que duas mulheres da nossa idade fazem nas horas vagas.

— Eu estou muito confusa com você. — Madu fala depois de um tempo. — Vocês estão juntos não tem nem um mês e já vão casar? Tipo, cadê a Leila que eu conheço há anos da minha vida?

Nem eu sei, é o que quero responder. Eu sabia que Madu não iria comprar a história do meu amor súbito, por isso o ideal seria revelar o casamento daqui uns três meses, depois de eu já ter me casado, a propósito. Mas Danilo quer se casar o quanto antes, tivemos que fazer o diabo para que o cartório conseguisse nos encaixar em meados desse mês e nesses dias todos eu não consegui abrir a boca para contar aos meus amigos o que eu estou prestes a fazer.

— A gente não vê motivos para esperar mais. — Digo sem conseguir sequer encará-los direito.

Madu fica de pé e se vira para Jonas com os olhos arregalados.

— Jonas, você está ouvindo isso? Diz que está ouvindo e que eu não estou ficando louca!

— Queria não estar ouvindo, mas estou, sim. — Ele tira os óculos e passa as mãos pelo rosto. — Leila, eu nem sempre concordo com Maria Dulcineia, mas ela meio que tem razão. Não é muito repentino isso, não?

— É um risco que quero correr, então, por favor, respeitem minha decisão.

— Respeitar é uma coisa, entender é outra muito diferente! Para mim você só pode estar sendo forçada a fazer isso, sei lá! Não faz sentido, Leila! — Madu faz uma pausa, se apoiando na mesa para recuperar o raciocínio. — Você e Danilo Torres, do Grupo Torres, das páginas de fofocas, da Marcela que é atriz e famosa... Vocês dois não fazem sentido!

— Eles pareceram ter bastante química para mim. — Jonas dá de ombros, pensativo.

— Não é isso, Jonas! — Madu solta um gritinho agudo de irritação. — Química, pele, sexo, isso não é tudo num casamento. Tem que ter algo mais, alguma motivação que faça duas pessoas que vivem muito bem sozinhas quererem passar a vida inteira juntas.

— É o que as pessoas chamam de amor, você quer dizer. — Jonas tira as palavras da minha boca.

— Chame como você quiser! O que importa é que não tem isso entre Leila e Danilo. Você — ela se vira assustadoramente para mim com um dedo em riste — não ama aquele cara! Caia fora dessa roubada antes que seja tarde!

— Também acho, Leila! — A voz de Andressa faz com que nossa atenção se vire ao mesmo tempo para a entrada da garagem. — Você está para cair numa roubada.

Ela está de pé jogando as chaves do carro para cima e as aparando em seguida. Tantos momentos para que Andressa aparecesse aqui e ela chega justo no pior. Madu leva as mãos à cintura, olhando de cima a baixo para nossa visitante.

— Não queria atrapalhar, desculpe. — Andressa ergue as mãos na defensiva.

— Você não atrapalha, Andressa, imagine. — Respondo ainda trêmula pela surpresa de vê-la ali. — Um instante e já vamos.

Enfio meu celular na mochila e fico de pé, evitando o olhar afiado de Madu. Torço internamente para que ela se poupe de continuar com o sermão e com a pressão na frente de uma pessoa que ela não conhece, mas a conexão de duas pessoas que não suportam a ideia desse casamento juntas é mais forte do que as minhas preces.

— Acho que não nos conhecemos. — Madu passa por mim, indo até Andressa. — Sou Madu.

— Andressa. Sou amiga do noivo dela. — Andressa aponta para mim.

— Ah, então só os amigos dela não sabiam do casamento, aparentemente. — Madu diz com tanta acidez, que meu rosto queima.

— Acho que foi uma surpresa para todo mundo, Madu. Não se sinta excluída, eu também não acredito até agora no que eles dois querem fazer. — Andressa esboça um sorriso, me lançando um olhar de conforto.

— E vocês estavam indo a algum lugar?

Balanço a cabeça de um lado para o outro, balbuciando sucessivos "não, não, não, não..." para Andressa, que apenas deixa o sorriso crescer e me ignora.

— Eu pensei em fazer alguma coisa com Leila hoje para nos conhecermos melhor, até porque não conversamos muito quando nos vimos. Você quer vir também, Madu? Vai ser ótimo ter um dia de meninas, não faço isso há anos!

Madu nem pensa duas vezes ao responder:

— É claro que sim!

Aperto a alça da minha mochila com força, desejando nunca ter aberto a minha boca mais cedo. Não era assim que as coisas tinham que acontecer, não acredito que fui tão impaciente e descuidada ao ponto de me enrolar dessa forma, depois de todo esforço que fiz para não envolver meus amigos nos meus problemas.

Jonas, que até então estava apenas observando minhas mentiras virando uma bola de neve, passa um braço ao redor dos meus ombros e beija o topo da minha cabeça, sussurrando em seguida:

— Boa sorte. Você vai precisar.

E vou mesmo.

— Como assim você não quer um vestido de noiva?! — Andressa praticamente grita no meio do shopping lotado quando eu me recuso a entrar em uma loja de noivas.

— É, Leila, como você vai se casar sem um vestido de noiva? — Madu ajuda a colocar mais lenha na fogueira.

As duas mal se conheceram e já se tornaram as melhores amigas do mundo, ambas com a finalidade de tornar minha vida ainda mais complicada. Andressa conseguiu me enfiar em um salão de beleza, depois em uma loja de roupas íntimas e agora para finalizar ela quer que eu vá ver vestidos de noiva. É fácil fingir que estou animadíssima para o meu casamento quando estou olhando calcinhas de renda, mas não sei se vou conseguir manter o mesmo sorriso no rosto vendo anáguas e bordados.

— Não precisa disso, vamos nos casar apenas no cartório. Só Danilo, eu, você e Tales, não há necessidade de me vestir de noiva nem nada. — Explico a ela, que não se convence nem um pouco.

— Não ter necessidade de se vestir de noiva é uma coisa, não querer é outra bem diferente! — Andressa cruza os braços em frente ao peito, me olhando incrédula.

— É que eu nunca me imaginei vestida de noiva, Andressa.

— Na verdade você nunca se imaginou casada. — Madu me corrige. — E mesmo assim está se casando.

Andressa tenta esconder o sorriso ao ouvir a ironia que Madu nem tenta disfarçar. Estamos nessa situação o dia todo e eu já consigo me ver dando alguns tapas em Madu para que ela pare com esse deboche irritante.

— Leila — Andressa começa, enrolando um dedo em um dos meus cachos —, eu vou entender se você realmente não quiser fazer isso, é seu casamento, você quem sabe, mas só vou entender mesmo se você me disser que não quer e não que não precisa.

Madu chega ao cúmulo de se inclinar na minha direção para ouvir com atenção o que eu irei responder. Ela está pegando no ar cada deslize que eu dou para jogar na minha cara o quão errada é a minha ideia de me casar com Danilo. Há muito tempo eu não tinha uma amiga além de Madu ou Bruna, e eu nem posso conversar com ela direito pelo receio de ser pega no meio de uma mentira. Isso está me exaurindo de um jeito, que eu poderia desabar aqui mesmo na frente dessa loja enfeitada com véus e grinaldas.

— E aí, Leila, o que você quer fazer? — Madu provoca, elevando meus nervos ao ápice.

Como não posso responder que quero fugir, eu endireito meus ombros e respondo:

— Olhar não tira pedaço, né?

Andressa dá alguns pulinhos animados e agarra meu braço, me arrastando para a loja. Ela parece muito mais a noiva aqui do que eu, e atribuo isso ao fato dela namorar há tanto tempo com Dr. Tales. Depois de dez anos de relacionamento, a ideia de casamento deve ser algo que faz parte dos planos diários dela.

Quando eu era criança, todas as minhas amigas da escola queriam se casar e ter um ou dois filhos, uma casa confortável de dois andares e um marido bonito, algumas até acrescentavam "rico" depois do bonito, dando a entender que queriam, na verdade, ter uma boa vida. Sempre procurei não as julgar por isso, afinal se casar faz parte dos desejos da maioria das mulheres, no entanto eu faço parte de uma crescente minoria que tem outros planos para o futuro, que não incluem o casamento.

Acredito que não ter namorado muito na adolescência me ajudou a manter o foco longe do casamento e, para corroborar tudo isso, ainda teve minha experiência desastrosa com Rafael. Então, enquanto uma parte das mulheres da minha idade está preparando o enxoval e sonhando com cada detalhe de uma vida à dois, eu passaria o resto da minha vida sem notar essa loja de noivas sem nenhum problema, apenas trabalhando duro para colher os frutos do meu esforço em forma de dinheiro, de preferência.

A vendedora pergunta se eu tenho algum modelo em mente, se gosto de vestidos maiores e mais bordados ou se me agrada mais o tradicional estilo sereia. Nada me agrada, mas eu me forço a sorrir para os modelos que a vendedora me apresenta, porque Madu não tira os olhos de mim e porque Andressa está muito feliz, rodopiando na frente do espelho com os vestidos brancos.

Me sento em um puff e a observo erguer um vestido branco de mangas compridas bordadas com pedrarias prateadas e pérolas. Andressa é alta, tem um rosto forte e um pescoço longo, provavelmente ficaria linda usando aquele vestido, como as noivas das revistas que Madu está folheando sem nenhum interesse.

— Você deveria experimentar. — Sugiro à Andressa.

Ela desvia os olhos do vestido e olha para mim. Percebo seu sorriso se tornando lentamente hesitante enquanto ela pensa no que responder. Não sei se eu falei alguma coisa errada, mas de alguma forma eu toquei em um ponto sensível.

— Não é meu casamento ainda. — Andressa abre um sorriso que não me convence muito. — Onde estão os modelos que você escolheu?

— Os... Os modelos que eu escolhi? — Gaguejo um pouco, procurando qualquer vestido jogado a um raio de dois metros de distância.

Madu me dá uma cotovelada nas costelas, indicando uma arara com três vestidos brancos ao lado da porta. Não olhei nenhum deles, mas serão aqueles meus escolhidos, disso não tenho dúvidas.

— Adorei aqueles! — Aponto para os vestidos.

A vendedora não perde tempo e traz a arara para o centro da sala, tirando um dos modelos para facilitar nossa visão. Andressa semicerra os olhos analisando o vestido em todos os seus detalhes e faz uma careta de quem não gostou nada do que viu.

— Você tem certeza?

— Absoluta! Ele é perfeito. — Salto do puff e pego o vestido das mãos da vendedora, correndo com ele até o espelho imenso que cobre uma parede da sala.

Faço o meu melhor para parecer o mais contente possível com esse vestido que não possui nada de interessante. Pensando bem, que péssima escolha a minha, não há um bordado, uma pedraria, nada ao longo do tecido branco. As alças são tão finas, que acho que vão se arrebentar a qualquer momento, sem contar que do mesmo jeito que o vestido é na parte de cima, ele desce até a cauda, sem nenhuma costura para valorizar o quadril que eu tenho.

Madu aparece atrás de mim no espelho, franzindo os lábios para não rir. Ela me conhece, sabe que apesar de eu geralmente ser básica e simples no dia a dia, não escolheria um vestido tão sem graça para o meu próprio casamento. As roupas que eu visto tem mais a ver com praticidade do que com gosto pessoal, quem me dera poder usar vestidos deslumbrantes todos os dias e ficar de pé num salto sem os pés arderem com bolhas pela falta de costume.

— Acho que se a gente cortar ele aqui — Madu aponta para a cintura do vestido — e refazê-lo do zero, pode ser que fique legal.

— Pare de falar mal do meu vestido de noiva! — Prendo o vestido rente ao corpo, dando uma voltinha na frente ao espelho.

Explodimos as duas em risadas, porque de todos os ângulos esse vestido ficaria péssimo em mim. Pelo menos eu não vim até aqui disposta a levar um vestido de noiva para casa, então não há motivos para me preocupar com a beleza — ou a falta de beleza, no caso — dessa coisa.

— Quer experimentar? — A vendedora sugere.

Olho para Andressa, que está entretida digitando algo no celular. Ela sequer está prestando atenção no que estou fazendo, então depois eu posso apenas dizer que nenhum vestido aqui ficou como eu queria, para não deixá-la chateada quando formos embora sem levar nada da loja. Por favor, tudo aqui é caro e não vou deixar que ela pague por isso, como pagou pelo salão e minhas calcinhas depois de muita insistência. Amizade tem limites.

A vendedora me guia até um provador. Experimentar esse vestido é tão cômico quanto o fato de eu estar para me casar, por isso acabo gargalhando de dentro da cabine, ouvindo Madu rir também me esperando do lado de fora. Passo meus braços pelas alças finas e puxo o fecho até a metade das costas, pedindo Madu que me ajude com o resto. Agarro a saia do vestido e praticamente corro até o espelho para ver o quão ridícula eu fiquei. Porém, quando encaro meu reflexo, meu sorriso de segundos atrás simplesmente some.

Não sei como, mas o vestido serviu quase que perfeitamente em mim. As alças caem um pouco dos ombros e está comprido demais, contudo o caimento não precisa de ajuste nenhum. Passo as mãos pelo tecido branco, sem entender muito bem o que estou sentindo. Há uma palpitação estranha no meu peito e eu não sei se devo rir ou fechar a cara para o meu reflexo.

— Tá faltando isso aqui! — Andressa puxa alguns fios do meu cabelo para trás e encaixa sobre minha cabeça uma coroa de flores brancas e azuis. — Com a maquiagem, o buquê, os saltos... Leila, você vai ser a noiva mais linda desse mundo! — Ela aperta meus ombros, os olhos brilhando de animação.

— Eu desisto, não vou falar mais nada sobre isso! Mas que você ficou linda, ficou, sim! — Madu comenta, parada ao lado de Andressa.

O anel de brilhantes parece cintilar ainda mais no meu dedo anelar agora, ornando perfeitamente com o tecido branco. Os brilhantes caros me lembram o preço que Danilo está me pagando para fingir esse casamento de fachada e isso é o bastante para me trazer de volta para a realidade.

Tiro os olhos do espelho e encaro meus pés descalços aparecendo sob a barra do vestido. Isso tudo é uma mentira, eu sou uma mentira, não há motivo nenhum para fazer isso durar mais do que o necessário, nem por que fazer mais do que o necessário.

— Lembrei que preciso ir para casa. Vou só tirar isso aqui para gente ir embora, está bem?

Não dou a oportunidade para que Andressa e Madu questionem minha mudança de humor repentina. Saio da sala já tirando o vestido pelo caminho e deixando minhas amigas sem entender muita coisa do que acabou de acontecer.

Enquanto visto minhas roupas e calço meus tênis velhos, não paro de pensar que não quero nunca mais chegar perto de um vestido de noiva, nem desta loja, nem de qualquer outra, muito menos da sensação horrível que apertou meu peito ao me ver naquele espelho.

Não estou me casando de verdade, não preciso de um vestido e nem desse anel. Eu preciso do investimento para levantar minha empresa e só isso importa.

Assim que salto no ponto de ônibus e começo a subir a rua rumo a casa da minha tia, vejo algo que definitivamente não deveria estar aqui. Estaco meus passos e ajusto os óculos contra meu rosto para ter certeza que minha mente não está me pregando uma peça, mas quanto mais olho para a BMW preta estacionada a alguns metros de onde estou, mais me convenço de que não estou tendo um pesadelo ruim.

Danilo e eu não nos vimos desde que voltamos ao cartório para marcar a data definitiva do casamento. Eu estive ocupando a cabeça com as coisas da E. M. e com qualquer outra coisa que não fosse o casamento, que pensei poucas ou nenhuma vez em Danilo. Ele também deve ter andado ocupado esses dias, tanto que até as mensagens que me enviava eram curtas e simples, como a que ele me enviou para avisar que Andressa me procuraria. Em nenhuma delas estendemos a conversa além do necessário, nos dedicando, quando muito, um "boa noite" ou um "obrigada" no final das mensagens e só.

Olho para os dois lados da rua, para garantir que ninguém da minha casa está por perto, e só me aproximo do carro quando estou certa de que Bruna não vai me flagrar outra vez. Pelo vidro, vejo Danilo sentado no banco do motorista, com o celular na orelha. Algo me diz que ele está ligando para o meu número e por precaução tiro meu celular da mochila, que pisca sem parar com o nome dele na tela.

Deslizo o dedo sobre o ícone verde e atendo a ligação:

— Oi?

— Ah, finalmente! — Danilo se mexe no banco. — Onde você se meteu? Por que não atendeu o celular?

— Eu estou aqui agora. O que você quer?

Danilo deve ter ouvido algum resquício da minha voz do lado de fora do carro, porque vira o rosto em minha direção assim que acabo de falar. Uma leve confusão passa pelo rosto dele, seguida de um balançar de cabeça irritado. Ele faz sinal para que eu entre no carro e não há nada que eu queira fazer menos no momento, no entanto não posso virar as costas e deixar meu investidor falando sozinho.

Me sento no banco do carona, sem nem tirar minha mochila das costas. Espero que seja rápido, o que quer que ele tenha para dizer de tão importante que o fez sair do outro lado da cidade sem nem saber direito onde me encontrar. Aliás, essa é a primeira coisa que me ocorre quando penso direito em Danilo aqui, na rua da minha casa, quase 18h00 de uma quarta-feira.

— Como você sabia que eu estava vindo para casa? Você por acaso está me seguindo?

— Por que eu te seguiria? — Ele soa quase ofendido. — Andressa me disse que você não parecia bem mais cedo e que estava vindo para casa. Quando passei na E. M., você já tinha saído.

— Você passou na E. M.? Eu te disse para não ir mais lá!

— E que escolha eu tinha se você não atende o celular?

Aperto meu celular, que está vivendo no silencioso por causa da minha mãe. Ninguém importante me liga, apenas minha mãe ou minha tia, então achei melhor silenciar qualquer som para evitar que Madu ou Jonas atendessem minha mãe achando que estão fazendo um favor.

— Agora sei como minha mãe deve se sentir quando eu a ignoro.

— Você costuma ignorar sua mãe também? — Pergunto realmente surpresa. Achei que só eu cometia esse pecado.

— Minha mãe só me liga para me pedir alguma coisa ou para reclamar. — Danilo responde de forma casual, e pode ser minha imaginação, porque a relação dele com a mãe e o irmão não parece boa, mas eu noto alguma amargura em sua voz.

Decido que é melhor resolver o que tivermos que resolver logo, para que ele volte para a casa dele e eu vá para a minha. Não é da minha conta o que acontece entre Danilo e a família dele.

— O que houve para você ter vindo atrás de mim assim?

— Ah, Andressa me disse que você pareceu chateada por um vestido de noiva.

— E você veio até aqui por isso?

— Leila, você ficou chateada com um vestido, o casamento é daqui alguns dias e você não atendia o celular. Pensei que você tinha desistido, sei lá!

Não consigo acreditar neste homem. Ou ele não acredita muito na minha palavra e na minha assinatura naquele contrato, ou ele...

Afasto o pensamento antes que ele tome forma. Temos um acordo e uma cláusula que deixa bem claro que há uma linha que não podemos cruzar jamais para o bem dos dois. Me permitir achar que Danilo ficou, nem que seja um pouquinho só, preocupado comigo, me leva para mais perto dessa linha intransponível do que eu sou capaz de admitir para mim mesma.

— Se você veio aqui só para isso, fica tranquilo. Sério mesmo, domingo eu estarei no cartório! — Levo minha mão a tranca da porta, disposta a sumir dali o quanto antes.

— Por que você não quis levar o vestido de noiva, então? Andressa também me disse que ficou bom em você.

— Eu não preciso de um vestido de noiva para assinar uns papéis num cartório domingo de manhã. Esquece isso e vai para casa, por favor!

Danilo não parece nenhum pouco a fim de encerrar nossa conversa, mesmo que eu já esteja me afastando como uma fugitiva da polícia. Eu o ouço fechando a porta do carro e apressar os passos para me alcançar. Um segundo depois a mão dele se fecha ao redor do meu pulso, me impedindo de dar mais um passo.

— Você tem certeza de que está bem? Você não parece bem, parece meio transtornada.

E eu estou mesmo completamente transtornada e confusa, e piorando lentamente parada aqui no meio da rua com Danilo me segurando pelo pulso a uma distância tão curta. A única coisa que preciso agora é ir para casa, tomar um banho e organizar minha cabeça, longe dele, longe de Andressa e sua euforia com casamento, e longe de Madu me lembrando o tempo inteiro do quão mentirosa eu sou.

Olho para qualquer direção para não ter que encará-lo e preparo minha desculpa para escapar o quanto antes, no entanto vejo algo tão assustador quanto Danilo parado na minha rua sem me avisar.

— M... M... Mãe? — Digo num fio de voz.

Danilo se vira imediatamente para onde estou olhando, se deparando com a mesma coisa que eu: minha mãe me encarando como se soubesse todos os meus segredos. Com ela, estão meu pai, meu irmão mais novo e Bruna, todos com malas nas mãos e com queixos caídos. Droga! Mil vezes droga!

Meu irmão caçula larga uma mala no chão e dá alguns passos na minha direção. O olhar dele vai do meu rosto até a mão de Danilo, ainda no meu pulso, e ele conclui exatamente o que deve estar parecendo nossa cena no meio da rua em pleno entardecer da grande São Paulo.

— Ah, então é por isso que você não atende. A senhora tinha razão, mãe. Leila desencalhou!

Minha família desata a rir com a "novidade", enquanto eu, mais do que nunca em toda minha vida, só quero me sentar no chão e chorar.

Acho que esse livro deveria que se chamar: Para Leila, a paz nunca foi uma opção!

Oi, gente! Como vão? Espero que bem :)
O desenvolvimento da história toda é bem lento, sinto muito mesmo por tantos capítulos imensos e quase nada de emoção. Eu estava experimentando uma construção lenta realmente, algo que me desse a ideia de mais solidez nesse relacionamento, porque sempre que vejo essa premissa, as coisas evoluem muito artificialmente, e a proposta do livro é justamente trazer imperfeições dos personagens o tempo todo, desde as inseguranças ao pior que às vezes passa pela nossa própria mente.

Comentários aleatórios a parte, muitissimo obrigada por estarem acompanhando até aqui! Fico muito feliz por cada estrelinha e comentário, mesmo que eu esteja tão atolada que não consigo responder.

Nos vemos no próximo domingo!

Bjx,

Thaly :)

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