Jake narrando:
Após assistir tristemente Mariana sair da sala, eu tomo coragem de levantar e dar continuidade ao trabalho. Mas antes, eu caminho até o banheiro masculino do estúdio e lavo meus inchados e vermelhos olhos e tiro o excesso de lágrimas do meu rosto.
Visualizo minha aparência pelo espelho enquanto os pingos gotejam na pia.
"Vamos lá, Jake! Você vai superar isso."
Penso para mim mesmo encarando meu rosto.
E eu vou... Não sei decifrar o quão doente Amanda é, e o tamanho da minha vontade de me livrar dela.
Quero me sentir feliz e livre... Mesmo sabendo que eu não vou mais ver a Mariana, parece ser a melhor opção para ela.
Seco meu rosto e volto para as gravações.
Observo toda a minha volta na procura de seus lindos e curtos cachinhos... Ela realmente tinha ido embora.
Sinto alguém cutucando meu braço. Alguém de estatura baixa.
Viro meu rosto e encontro Emma.
- Jake, Mariana se demitiu. - Diz.
- É, eu soube. - Respondo.
- Ela disse que vocês estavam juntos. - Emma franze o cenho.
- Você não é casado? - Questiona.
- São meus os problemas. - Respondo.
Até eu explicar tudo isso para Emma, eu precisaria de umas quatro horas. E eu não tinha essa obrigação.
Deixe-a achar o que ela quiser.
Que sou um filho da puta que me aproveitei das duas.
- Ok, mas ela se demitiu por causa dessa confusão. - Emma responde também de forma ignorante.
- É um direito dela. - Respondo.
- Todo mundo está aqui por um objetivo e por decisão própria. Ela tem 21, pode responder por si. - Acrescento.
Eu já não estava me importando pra porra nenhuma! Eu conheci e me apaixonei como nunca por uma única moça, e agora a perdi, para sempre.
Emma assente em silêncio e volta ao seu Trabalho.
20h eu finalizei o trabalho de hoje. Ajudei minha equipe com o descarrego do caminhão e fui direto para casa... Casa da Amanda.
Onde moldamos e construímos do nosso jeito, no início, antes até de Júnior ser concebido, quando nosso casamento ainda existia de verdade.
Respiro fundo com pura angústia e giro a chave da portaria. Caminho pelo longo e jardinado quintal, até encontrar a entrada da sala. Retiro os meus sapatos e entro.
Júnior estava sentado no sofá, a vontade e assistindo TV. Quando me nota, abre um sorriso, desce do sofá e corre em minha direção.
Ele salta e eu o seguro em meus braços.
- Pai! - Ele grita.
Desço-o de mim e balanço seus cabelos com a mão. Já está bem grandinho para colo.
- Você já jantou, rapaz? - Pergunto.
Ele balança a cabeça e positivo e começa a falar animadamente da escola sem pausa.
O que eu faria sem isso? E o que eu farei sem Mariana?
Solto meu corpo pesado e cansado no sofá, abro meus braços e respiro fundo.
- Senta aqui. - Bato a palma da mão ao meu lado, no sofá.
Júnior para de falar e obedece.
- Onde está a sua mãe? - Pergunto.
- Ela foi na casa da vovó e já volta. - Júnior responde balançando suas curtas e gordinhas penas.
A mãe de Amanda mora aqui na frente, nada distante.
De qualquer forma Júnior e eu estávamos sozinhos nesse instante, eu precisava saber de algumas coisas.
Giro meu corpo e foco meus olhos em seu pequeno rosto inocente.
- Papai vai te fazer uma pergunta... - Digo e ele balança a cabeça em positivo.
- Não pode mentir. Tá bom? - Pergunto.
Ele balança a cabeça em positivo novamente.
- Júnior... Tá bom? - Insisto em ouvir sua voz.
- Tá bom, pai. - Ele finalmente diz.
- Quando a mamãe viajou com você, nessa última vez... Ela citou o nome do lugar? - Pergunto.
- Não. - Júnior responde de forma inocente.
- E como era lá? - Pergunto.
- Tinha uma cachoeira. - Júnior responde.
- Muito, muito grande. - Ele abre os braços.
- E você dormiu na casa da titia? - Pergunto.
- Não. Eu não vi minha tia. - Júnior responde.
Então não! Amanda não foi ver parentes coisa nenhuma!
- A mamãe te colocou dormindo em uma casa ou em um apartamento igual ao do papai? - Pergunto.
Penso na possibilidade de eles terem ficado hospedado em uma pousada ou em um hotel.
- Uma casa. - Júnior responde.
- Tinha lama perto, e a gente subiu muito, muito. - Acrescenta.
Foi uma trilha e pousaram em um chalé?
- A casa era de madeira? - Pergunto.
Júnior fica confuso e balança a cabeça em positivo.
- Lembra da casinha da árvore lá no condomínio que o papai mora? - Pergunto e ele balança a cabeça animado.
- A casa que você e a mamãe ficaram é parecida com a casa da árvore? - Pergunto.
- Sim. - Ele sorrir.
- Só que era grande! E estava frio. - Responde.
Não tenho dúvidas! Foi um chalé e uma trilha... Mas, onde?
Amanda deve juntar dinheiro escondido. Dinheiro que eu ofereço para suprir com as suas necessidades e vontades.
- Mamãe já te levou lá outras vezes? - Pergunto mais uma vez.
- Não, só uma vez. - Ele responde e desce do sofá.
- Vamos brincar! - Júnior chama pegando suas peças para montar no tapete da sala.
Amanda leva ele para outros lugares então.
Se lá fosse seu ponto de se esquipar, seria mais fácil de colocar a polícia atrás dela e provar que ela não cumpre com que diz a mim.
- Vamos brincar, filho. - Falo.
Ergo minhas mãos para ele, e ele se levanta sustentando as minhas.
- Papai só tem mais uma pergunta pra te fazer, é a última. - Acrescento seguro seus braços.
- Você contou pra mamãe sobre a tia Mariana? - Questiono.
- Não, papai. - Júnior responde olhando em meus olhos.
Ele está contando a verdade, e eu já sabia!
Nunca se deparou com Mariana e eu trocando carícias ou deitados na mesma cama. Nunca viu nada fora do comum entre nós dois, nada que o faria contar para a mãe inocentemente.
Pode ter sido Emma ou Felipe... Duas pessoas que nitidamente não estavam satisfeitas.
Emma é amiga de Amanda, e Felipe já teve a maldita honra de tocar em Mariana.
Tiro minha blusa apertada e molhada do meu corpo, e desço para o chão da sala para brincar com o Júnior.
Ficamos brincando até a volta de Amanda... No mesmo momento meu sorriso se desfaz.
Ela aparece na entrada da sala com aquele mesmo sorriso angelical aos olhos de outros e demoníaco aos meus, e tranca a porta.
- Meus meninos! Homens da minha vida. - Exclama se aproximando de Júnior.
Ele levanta e abraça a mãe.
Amanda gira Júnior para mim e agacha em sua altura.
- Olha como o papai é bonito. - Amanda diz e Junior rir.
Não consigo expressar nenhum humor a não ser nojo, mas não do meu filho. Ele está a sorrindo e concordando.
- Você não acha o papai bonito? - Amanda pergunta a ele. Júnior balança a cabeça em positivo e continua sorrindo.
- Você é igualzinho a ele. - Sussurra em seu ouvido.
- Vai tomar banho, rapazinho. - Mando.
- Amanhã você tem aula. - Acrescento.
- Vai lá. Mamãe leva a toalha para você. - Amanda diz e ele obedece a ambos.
Junior corre sem blusa e minimamente suado até o banheiro.
Me levanto do chão com dificuldade e fico em pé.
- Tem malhado bastante. - Amanda diz ainda enaltecendo a minha aparência.
- Eu vou jantar e ir dormir. Amanhã acordarei cedo de novo. - Ignoro seu elogio e penso rapidamente em uma desculpa para fugir de qualquer diálogo bobo.
- Você a encontrou de novo? - Amanda pergunta e eu paro de caminhar.
Respiro fundo, giro meu corpo e foco em seu miserável rosto.
Ela se referia a Mariana.
- Não. - Minto.
- Tem certeza? - Ela cruza os braços e inclina a cabeça para o lado.
Rosno e reviro os olhos... - Você já não está satisfeita, Amanda? - Pergunto com tom de cansaço.
- Não sei se estou. - Ela responde.
- Eu sou a mãe do seu filho, sua esposa... Não quero continuar me sentindo ameaçada por uma garota mais nova. - Amanda diz.
- E não precisará. - Respondo.
- Você está tendo tudo que você deseja. - Acrescento de forma debochada.
- Ai, que bom meu amor! - Amanda sorrir mostrando todos os dentes e bate minimamente palmas.
- Nosso casamento é muito importante para mim e nós vamos dar um jeito! Sempre há um jeito. - Ela acrescenta.
- Sempre há. - Repito como forma de resmungo e caminho para a cozinha.
Ela tinha feito panqueca e deixou três pedaços para mim.
Coloco arroz feito recentemente no meu prato e em seguida a panqueca.
- Tem suco na geladeira. - Amanda diz entrando na cozinha.
- Obrigado. - Respondo.
- Eu estava pensando em alugar um vestido de gala para a festa. - Amanda começa a falar atrás de mim.
- O que você acha? - Questiona.
Fecho os olhos por três segundos e solto o ar novamente.
- Eu não sei. - Respondo.
Mariana queria ir comigo nesta festa. Eu a queria lá.
- Não sei nem se vou. - Acrescento.
- Nós vamos, amor. - Amanda diz.
- Mesmo que você não queira, nós vamos. - Acrescenta.
- Eu não tenho essa obrigação. Iria apenas para ser mais conhecido e conhecer mais profissionais da minha área. - Respondo focando meus olhos nela.
- Na verdade, vida... Você tem essa obrigação. - Amanda retruca.
- Porque sua mulher está insistindo, muito, muito e muito. - Ela imita voz de neném e faz bico. Amanda se aproxima do meu rosto e eu me afasto.
- As pessoas precisam saber que nossa família está intacta e unida! Nove anos de casamento tem que ser usado como exemplo. - Amanda finaliza.
- Amanda... - Falo seu nome com puro cansaço.
- Eu não estou pedindo, Jake! - Ela me interrompe e se altera.
- Você pode dormir no sofá, no quintal, pode me negar beijos e afetos... Por mim você pode dormir até dentro de um puteiro! Mas essas coisas quem decide sou eu! - Acrescenta gritando.
- Escuta. - Rosno e me inclino até seu tamanho.
- O Júnior está acordado, na porra do banheiro. - Sussurro cerrando meus dentes. Exijo que ela não grite agora. Eu detesto que meu filho ouça e participe desse tipo de coisa.
- Eu acho que vou precisar sair amanhã. - Amanda começa a falar e cruza os braços feito criança.
- Vou ir na casa de uma prima, lá em Pará. - Acrescenta.
Largo meu prato encima do balcão e me aproximo dela brutalmente.
- Amanda, chega! - Grito. Ela pisca os olhos assustada, caminha para trás e engole seco.
- Você quer ir nessa merda de festa? Nós iremos. Agora chega! Me deixe jantar, por favor! - Finalizo a fala com o rosto próximo ao dela. Entre dentes e com a voz baixa.
Ela pisca os olhos afastando o espanto que causei e engole seco novamente.
- Ok amor. - Sorrir, como se nada tivesse acontecido.
- Vou escolher os vestidos, então. - Ela pula entusiasmada e abre ainda mais o sorriso.
- Tá. - Respondo e ela sai da cozinha a procura de seu celular.
Mariana narrando:
Supliquei para Scarlet vir passar a noite aqui, porque não conseguiria dormir sem colocar tudo para fora.
Ela trouxe Davi. Puxei a beliche e eles deitaram confortavelmente.
Contei tudo a ela, tudo menos os programas de que ele realizava.
Ponta por ponta, desde o nosso primeiro encontro, até nossa primeira transa. Contei também da pílula do dia seguinte e de como tudo foi desmoronado.
Ela não imaginava que Jake ainda era casado e por isso quis muito a nossa união... Diz Scarlet, que meus olhos brilhavam como nunca... Mas isso aí foi só um início para se ferrar.
Me sento um lixo e descartada.
- Ele jamais largaria a família, Mariana... - Scarlet admite com um tom tristonho.
- Sinto muito... Mas isso é típico de caras casados. - Finaliza.
Eu estava deitada de bruços, olhando para baixo e ouvindo atentamente os seus conselhos.
Não sabia como seguir em frente.
Eu deveria ficar deitada até a dor passar?
É assim que se supera?
Como esquece-lo se já fazia parte das minhas rotinas?
Se eu sabia que nos finais de semana eu o viria e pelas manhãs nossos olhares sempre se cruzariam?
As cenas de Jake e eu abraçados em sua cama, gargalhando dentro de um restaurante e até caminhando silenciosamente pela praia a noite... Não saíam da minha cabeça.
Ele dizia que eu o fazia bem... E ele melhorava os meus dias também.
Jake mudou tanta coisa por mim e eu mudei todos os meus princípios por ele.
Nós não tínhamos nada haver, mas tínhamos um grande potencial.
Uma boa compatibilidade, um idêntico propósito... Roteiro perfeito para ser apresentado encima de um palco.
União de momentos perfeitos que se formaram uma história sem nome, mas especial.
Há quem ainda tenta reivindicar um nome, e ainda há quem desconfia ou tenta entender esse quase algo...
Mas sem pensar no medo, a gente viveu... Sem explicação nenhuma nós fomos compatíveis e antes que houvesse nome, o roteiro se encerrou!
Em nossa escrita haviam alianças planejadas para esse final.
Mas o vazio que assistiu na plateia, gritou "corta!", antes do nosso planejado desfecho.
E foi aí, que perdemos o nosso papel...
É que durante a atuação nos esquecemos da nossa verdadeira posição, colocando no pedestal somente o que a gente quer.
Nós como meros personagens de uma história sem fim, não tivemos o direito de concorrer um Oscar e nem de realizar o que a gente quer...
Porque é só quando o set se esvazia que o nosso elenco começa a atuar, e mesmo assim você me diz que nossa história foi real...
Mas toda vez que o diretor grita "corta!", todas as câmeras desativam, toda a magia se acaba, cada um vai para a sua casa... E nada mais fica igual...
Jake, nossa história nunca foi e nunca será contada... Mas nosso "a gente" tinha um grande potencial.
Ei! Vocês estão preparados para o próximo plot twist?