Se a gente se casar domingo?

Da thalytamartiins

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Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... Altro

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 18 - Leila

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Da thalytamartiins

Minha tia está me olhando de um jeito muito suspeito desde que acordei e eu sei que isso significa que preciso terminar de tomar o café para dar o fora daqui o quanto antes. Tia Célia não costuma se meter nos meus assuntos — apesar dela adorar ouvir atrás das portas —, tanto que para chegar ao ponto de me perguntar se tem alguma coisa errada é preciso que ela esteja muito, muito, mas muito incomodada mesmo com algo, o que parece o caso hoje, infelizmente.

Me pergunto se a cisma de tia Célia tem a ver comigo em casa a essa hora quando, em tese, eu deveria estar trabalhando. Já que faz duas semanas desde que fui demitida e até hoje não tive coragem de falar nada sobre isso com ela. Talvez agora seja uma boa hora para mencionar o investidor, meu desemprego e que eu vou ter que dar uma sumida pelos próximos seis meses.

Dou uma olhada no meu relógio de pulso, constatando que minhas meias verdades vão ter que ficar para depois, a não ser que eu queira me arrastar a pé por quilômetros até a E. M.

— Você tem que comer mais devagar ou vai sentir azia mais tarde. — Bruna alerta, mexendo o leite com achocolatado de Arthurzinho para que esfrie.

— Preciso ir logo. — Me justifico, engolindo um gole de café amargo. — Vou perder o ônibus se demorar mais alguns minutos aqui sentada.

Devolvo minha xícara à mesa e agarro a alça da minha mochila, prestes sair correndo, como quase em todos os dias da minha vida.

— Bruna comentou que você conseguiu um investidor para a empresa, é verdade?

Paro onde estou, trocando um olhar nervoso com minha prima. Ela diz um "me desculpe" sem emitir som e baixa os olhos. Se tem uma coisa que minha tia sabe é pegar os filhos na mentira, e nem preciso pensar muito no assunto para saber que antes de me interrogar, tia Célia colocou Bruna contra a parede e arrancou tudo dela. Nesse ponto, ela e minha mãe são muito parecidas, por isso evito falar com ambas quando as coisas estão bagunçadas demais.

— Pois é, tia, parece que as coisas vão dar certo dessa vez!

— E é por isso que você está levando esse tanto de roupa? — Ela aponta com o queixo para a bolsa aos meus pés. Tia Célia sabe que é normal que eu passe a semana fora de casa quando o trabalho aperta, por isso ela estar mencionando a bolsa de roupas soa estranho... e perigoso.

— É, sim. Vou ficar bem ocupada essa semana.

— Hum. — Tia Célia resmunga e se volta para Arthurzinho, que está fazendo uma bagunça com a comida.

Estou prestes a pedir a bênção dela e escapar para longe quando minha tia fala de novo:

— E esse anel aí no dedo? Você não é de usar essas coisas.

Puxo a manga da minha jaqueta jeans para baixo, para cobrir o anel. Eu sabia que ficar com isso ia me causar problemas e eu estava mais do que certa. Escolhi a jaqueta com as mangas mais compridas que eu tinha no guarda-roupa para cobrir as mãos, mas nem assim o anel passou despercebido do olhar aguçado de tia Célia.

— Achei jogado nas minhas coisas e gostei. Não é nada demais, é só bijuteria. Bijuteria bem baratinha.

Bruna afasta a cadeira e praticamente pula em cima de mim, com os olhos grudados na minha mão direita escondida sob a manga comprida. Ela avança para pegar minha mão e eu dou um passo para trás, pedindo desesperadamente com o olhar para que ela volte a se sentar, mas para o meu azar minha prima só consegue enxergar o anel e nada mais.

— Me deixa ver, Leila! — Ela faz beicinho, tentando agarrar meu braço a todo custo. — Acho que nunca vi esse anel aqui.

— Eu nunca usei, por isso você nunca o viu. — Me abaixo para pegar minha bolsa de roupas.

— Me deixa veeeer! — Ela finalmente consegue segurar meu pulso quando levanto a bolsa de roupas do chão. — Leila?! — Ela grita, abrindo a boca em um "o" de surpresa.

Minha tia, Arthur e até João Pedro, que estava jogando alguma porcaria violenta no celular, param o que estavam fazendo para prestar atenção em Bruna e eu. Puxo minha mão com força, mas minha prima não a solta de jeito nenhum e estar segurando essa bolsa pesada não me ajuda em nada.

— Olha isso, mãe! Brilha tanto, parece até uma joia! — Ela ergue minha mão numa euforia que me dá nos nervos.

— Que joia o quê, isso é strass, vai perder a cor daqui alguns dias! — Desconverso, puxando minha mão com mais força.

Minha tia coloca o pano de prato que estava usando para limpar a boca de Arthurzinho sobre a mesa e se levanta. Ela estende a mão para mim para que eu lhe mostre o anel. Não tenho escolha, porque se eu não mostrar é pior, só vai deixá-la tirar as próprias conclusões sozinha.

Prendendo a respiração de tanta aflição, tiro o anel do dedo e o coloco na palma aberta de tia Célia. Ela ergue o anel diante dos olhos, analisando cada pedrinha daquela coisa que, segundo Danilo, custa o mesmo que um carro popular. João Pedro também se levanta e vem bisbilhotar. Francamente, nunca achei que minha família iria parar de comer para ficar examinando um anel.

— Parece aqueles anéis que aparecem nas novelas, né, Bruna? — João cutuca a irmã com o cotovelo.

— Sim, aqueles anéis de noivado! — Bruna gargalha, apoiando o braço no ombro de João Pedro, que por pouco não é mais alto que ela. — Por que você comprou um negócio desse?

Abro a boca para dar uma desculpa esfarrapada quando tia Célia me devolve o anel e me encara com uma cara muito pior do que antes. Suor frio brota das minhas mãos e eu me encolho um pouco, porque sei que vou levar uma bronca daquelas.

— Onde você arrumou isso, Leila?

— Eu disse, tia. Comprei um dia desses, é só uma besteira, uma bijuteria.

— Eu costuro roupa de madames há anos da minha vida, Leila, e se tem uma coisa que eu aprendi com isso foi diferenciar pedraria vagabunda de pedra de verdade! — Tia Célia levanta a voz, assustando até Arthurzinho, que não deve estar entendendo nada, coitadinho. — Onde você arrumou isso?

— A senhora deve estar se enganando. Onde eu arrumaria uma joia?

— Uuuuh, isso é joia mesmo, mãe? — Os olhos de Bruna brilham de animação. Às vezes ela não sabe a hora de calar a boca.

— Anda, Leila, para de dar volta! Onde você conseguiu isso? — Pressiona tia Célia, ignorando Bruna, que murcha drasticamente.

Não tenho resposta, pelo menos nenhuma resposta na qual minha tia vai acreditar. Não quero mentir desse jeito tão descarado, muito menos quero ver a decepção no rosto dela se eu contar a verdade. O pior é que toda essa confusão poderia ser evitada se eu tivesse me lembrado de tirar o anel do dedo quando fui dormir. Mas não, eu tive que ficar olhando para isso a noite inteira com o abajur ligado, pensando em Danilo me segurando pela mão e dizendo que ele tinha dado o anel para mim e que então era meu. É que num dia eu literalmente não tinha nada e agora eu tenho um carro popular no dedo. É demais para a minha cabeça!

— Leila, eu estou falando com você! — Minha tia grita de novo e meu corpo estremece de cima a baixo.

Foco, Leila, foco!, pisco várias vezes para recobrar a razão. Olho para minha tia, que agora está mais brava do que antes. Bruna se põe entre tia Célia e eu, percebendo finalmente a gravidade da situação.

— Calma, mãe. Se Leila disse que comprou o anel, ela o comprou. Sendo bijuteria ou não, não importa. É para isso que ela se mata de trabalhar. — Bruna me defende, erguendo as mãos para acalmar tia Célia, o que não adianta muito.

— Eu só acho muito estranho você ter visto Leila descendo de um carrão, depois ela aparecer com um investidor e agora com esse anel caro! — Tia Célia empurra Bruna para o lado para me ver melhor. — Em quase dez anos que você mora aqui em casa eu nunca tive um "a" pra falar de você, Leila, não comece me dando trabalho depois de velha!

— Tia, por favor, eu juro para a senhora que eu não estou fazendo nada de errado. É só um anel que parece caro, mas não tem mais nada além disso. — Falo o mais convicta que consigo, tendo em vista que o que eu estou fazendo com Danilo é tudo, menos certo.

— Olha, se você tiver aceitando presente de homem para...

— Mãe!

— Tia! — Exclamo ao mesmo tempo que Bruna. Nos olhamos assustadas com o tipo de pensamento que pode ter ocorrido à tia Célia. — Meu Deus, tia, não. Só não!

— Tudo bem, Leila. — Tia Célia apoia uma mão na mesa e puxa o ar com força para se acalmar. — Eu só fico preocupada com você. O mundo é cheio de homem ruim querendo se aproveitar de mulheres como você, jovenzinhas e cheias de sonhos. Não caia na conversa de homem nenhum que vier com ideias de te fazer mudar de vida. É tudo mentira, pode ter certeza que é mentira!

— Leila nem namora, mãe, está encalhada aí tem um tempão. — João estala os dedos repetidas vezes para ressaltar quanto tempo tem que eu não namoro. Adolescente insuportável!

— É, mãe, Leila só pensa no trabalho, ainda mais agora que ela conseguiu um investidor. — Bruna reforça.

— Por isso mesmo Leila tem que ter cuidado. Agora que um investidor apareceu, só Deus para saber que tipo de pessoa vai se aproximar querendo alguma vantagem. — Tia Célia avisa, voltando para o seu lugar à mesa.

Bruna e João se sentam também. A descarga de adrenalina de minutos atrás deixa meu corpo e eu tenho que fazer um esforço tremendo para continuar de pé e não cair de joelhos no chão da cozinha. Eu imaginava que seria complicado mentir para minha família, mas não tinha ideia de que seria tão difícil assim. Me sinto como um trapo velho por ter olhado nos olhos de tia Célia, que confia tanto em mim, e dito que isso não era nada do que ela estava pensando, quando é quase tão ruim quanto ela imagina.

Me despeço de todo mundo e me encaminho para a porta, arrastando minha bolsa atrás de mim. Eu só espero que minha tia nunca mais toque no assunto desse anel e muito menos que me olhe da forma como me olhou hoje, porque não sei se sou capaz de olhar na cara dela de novo se tiver que fazer outra cena dessa.

— Leila! — Ouço minha tia me chamar assim que chego à porta. — Sua mãe ligou ontem, disse que precisa falar com você e que é para você atender a ligação dela hoje de manhã.

— Tá bom, tia! Obrigada. — Respondo, trancando a porta atrás de mim.

Já estou descendo a rua quando me vem à mente que meu celular está com Danilo, do outro lado da cidade, e que minha mãe vai ficar uma fera comigo por ignorar a ligação dela mais uma vez. Pelo menos ignorá-la é melhor do que falar o que não devo e me convencer disso é a única coisa que me mantém seguindo com esse casamento absurdo.

É aquilo que as pessoas costumam dizer, não? Os problemas nunca vêm sozinhos, eles sempre mancomunam-se com outros piores com a única finalidade de fazer da nossa vida um verdadeiro inferno. E no caso, além de toda a tensão com minha tia desconfiando até dos meus suspiros, Danilo acaba de confessar que atendeu uma ligação da minha casa.

— Eu te pedi tanto... — Digo entre os dentes. Minha vontade é de voar na gravata desse infeliz e apertá-la até enforcá-lo.

— Leila, foi sem querer. Eu achei que era meu celular, então acabei atendendo. Eu nem tinha acordado direito, se você quer saber.

Danilo se inclina um pouco para perto de mim, piscando os olhos como um cachorrinho abandonado. Cretino! Será que ele acha mesmo que eu sou uma pessoa compreensiva ao ponto de engolir as desculpinhas dele?

— Minha única exceção nessa merda de acordo era que eu não queria que minha família se envolvesse e você me apronta uma dessas! — Aperto minhas mãos com força, quando na verdade quero apertá-las em volta da garganta dele. — Como você foi fazer um negócio desses?!

Danilo olha para dentro da garagem da E. M., onde Jonas e Madu transitam de um lado para o outro tentando ouvir nossa conversa.

— O pior foi o que eu disse quando atendi.

— Que foi...?

— Eu mencionei nosso casamento sem querer. — Ele dá dois passos para trás, percebendo o perigo. — Achei que era Marcinha, minha secretária, lembra dela? Eu pedi ontem à noite para que ela verificasse a disponibilidade dos cartórios e... — Ele me olha com a testa franzida de apreensão. — É melhor que eu cale a boca, né?

Passo as mãos pelo cabelo, não acreditando nas coisas que acabei de ouvir. Com uma cajadada só Danilo conseguiu atender uma ligação que tenho evitado há dias e ainda contar o maior dos meus segredos à minha mãe. Se ela tem a brilhante ideia de ligar para minha tia depois de todo o estresse que tivemos de manhã, eu não quero nem ver onde essa história toda vai dar. Não posso deixar que isso aconteça, preciso falar com minha mãe antes que ela ligue para tia Célia e as coisas piorem consideravelmente.

— Meu celular. — Peço com impaciência. Se eu continuar olhando para a cara de Danilo, vou acabar tentada a agredi-lo de verdade e o contrato me impede de fazer isso.

Danilo passa o braço pela janela do carro e pega meu celular do painel. A primeira coisa que reparo quando ele me entrega o aparelho é que a tela está lisinha e sem nenhuma marca, com uma película de vidro para protegê-la de futuras quedas. A carcaça arranhada também foi trocada e há uma case de silicone amarela cobrindo as laterais e o fundo do celular.

— Pensei que te dar um celular novo não era uma boa ideia depois da cara que você fez ontem por causa do anel, por isso achei melhor só trocar algumas coisas quebradas. — Ele se explica, apontando para o anel de brilhantes, que foi a razão para uma das maiores dores de cabeça da minha vida.

— Se você acha que eu vou ficar menos brava agora que vi a gentileza que você fez pelo meu celular, você está muito enganado! — Deslizo o dedo pela tela nova, buscando o número da minha mãe na agenda. — Mas obrigada.

Ele exibe um sorriso satisfeito. Eu o ignoro, clicando sobre o nome da minha mãe e colocando o celular para chamar. A bateria está totalmente carregada e eu me recuso a olhar para Danilo e agradecê-lo por ter recarregado meu celular também. Ele não vai me comprar com isso depois de ter pisado tão feio na bola.

Leila? — Minha mãe atende no quarto toque.

Me afasto de Danilo para conversar com minha mãe com um pouco de privacidade. Nem sei como vou enrolá-la depois da burrada que Danilo fez, mas não posso deixar que ela fale com minha tia primeiro.

— Tia Célia disse que a senhora queria falar comigo.

Sua tia Célia ou o homem que atendeu seu celular de manhã? — Minha mãe dispara com certo tom de ironia em sua voz. — Ele até falou de um casamento com você, Leila. Quem é esse homem?

Olho por cima do ombro, procurando por Danilo encostado no carro, entretanto não o encontro por perto. Sigo com os olhos até a garagem, vendo o filho da mãe conversando todo animado com meus amigos. Quando eu me afastei, eu esperava que ele pegasse o carro e fosse embora, mas é óbvio que ele não ia fazer isso, podendo complicar ainda mais a minha vida. Eu só espero que Danilo tenha a decência de não falar mais do que a boca de novo.

— Não é nada do que a senhora está pensando, então nem pense em falar disso com o pai e os meninos. Foi uma confusão, um mal entendido, nada para senhora se preocupar.

Mal entendido, é? — O tom sugestivo dela me deixa alerta. — Por causa desse mal entendido que você não tem mais tempo para atender o celular e nem para na casa da sua tia?

Minha mãe é sempre a primeira a me apoiar quando eu digo que estou interessada em alguém, mas o problema é que ela não se contenta em só apoiar minhas escolhas em segredo. Ela quer contar para o meu pai, para os meus irmãos, para os meus vizinhos e por aí vai. Minha mãe quer sempre saber demais e para mim é quase impossível mentir quando ela está disposta a tudo e mais um pouco para descobrir o que eu escondo dela. Parte de mim se sente bem culpada em guardar segredos quando estamos longe uma da outra há tanto tempo, só que uma parte mais esperta de mim sabe que nem mesmo as mães precisam saber de tudo.

É por essas e por outras que não quero que minha mãe sonhe com a existência de Danilo. Serão apenas seis meses, nós temos um contrato muito do questionável e ela vai sacar na hora que ver nós dois juntos que há algo muito errado. Se isso acontecer, para que ela descubra todo o esquema por trás do casamento é um piscar de olhos e eu não suporto nem cogitar a ideia dos meus pais descobrindo o que eu estou fazendo por dinheiro.

Dentro da garagem, Danilo solta uma risada alta. Jonas está ao lado dele, se dobrando de rir também. Não sei se fico feliz ou preocupada com a situação que está se desenrolando a alguns metros de mim. Tudo isso é tão impossível e confuso, que me sinto no meio de uma comédia romântica.

Escuto minha mãe chamando minha atenção e me forço a voltar para a realidade mentirosa em que eu estou.

— Mãe, eu juro para a senhora que eu não estou namorando ninguém. Ontem eu fui numa reunião com uns investidores e esqueci meu celular com um amigo, o que te atendeu. Ele é meio lerdo e não fala coisa com coisa quando acorda. Não o leve a sério, por favor.

Então por que ele ficou tão nervoso? Parecia que estava fazendo algo que não devia! Por acaso vocês andam fazendo algo que não deviam, Leila?

Engasgo com as perguntas. Nunca, nunca mesmo vou perdoar Danilo por ter plantado a semente da desconfiança na cabeça da minha mãe.

Vejo aquele descarado apontando para mim de dentro da garagem, fazendo Jonas e Madu rirem ainda mais. Eu ainda não disse para eles sobre o casamento, nem mesmo que estamos numa espécie de relacionamento, mas pelo visto não vou ter dificuldade em convencê-los de nada.

Leila?

— Oi, estou aqui! O que a senhora estava dizendo?

Eu estava perguntando se...

Preciso admitir que Danilo é bem carismático. Não faz nem dez minutos que ele se enfiou dentro da garagem e parece já ter conquistado irremediavelmente todo mundo, até Madu que é o ser humano mais desconfiado que conheço. Ele tirou o blazer e está enrolando as mangas da camisa social, sem deixar de falar um segundo sequer. Jonas faz um sinal para que ele o acompanhe e os dois desaparecem do meu campo de visão, junto com Madu. Tenho certeza que esse homem saiu de dentro de um livro, porque é impossível para mim que exista uma pessoa tão cara de pau e folgada desta maneira.

Leila, você está me ouvindo?

— Estou sim, mãe. — Não ouvi absolutamente nada. — É que eu estou bem ocupada agora, mas eu ligo para senhora mais tarde. Dê um beijo no pai por mim e avise Cleiton que não tenho tempo para procurar a peça do computador que ele me pediu, que ele procure na internet mesmo.

Leila, eu não terminei ainda, eu preciso te falar que nós estamos indo...

— Tchau, mãe! — Desligo o celular e o enfio no bolso de trás da calça.

Danilo é uma bomba relógio que dispara coisas irresponsáveis o tempo todo, e apesar de continuar bajulando minha mãe para que ela esqueça o que houve de manhã ser importante, alguma coisa me diz que é mais importante arrastá-lo para fora da E. M. e despachá-lo de volta para onde ele veio.

Cruzo a rua quase correndo, subindo a rampa da garagem com a cabeça fumegando de nervoso. Não é nem hora do almoço e eu já passei raiva pelas próximas duas semanas, então tudo o que eu não preciso é de... Danilo sentado na minha cadeira e mexendo nas minhas coisas?

Não consigo nem conceber o que eu vejo! Até onde isso vai?

— O que vocês estão fazendo? — Pergunto ríspida, cruzando os braços em frente ao peito.

As risadas dos meus amigos cessam e eles trocam alguns olhares que sei bem o que significam. Eles sabem direitinho quando eu não estou para brincadeira e, definitivamente, eu não estou para brincadeira!

— A gente só estava mostrando um pouco da E. M. para Danilo. — Jonas se arrisca. No geral, tenho mais paciência com ele do que com Madu, portanto é sempre ele que me enfrenta nos meus raros picos de estresse.

— E eu estava dizendo para os seus amigos que perdi uma ótima oportunidade de investir num bom projeto. — Danilo sorri largamente para mim, brincando com uma chave de fendas que estava sobre a minha mesa. — Pelo menos eu não perdi a chance de investir em você, que é o que há de melhor nessa startup.

Madu prende os lábios para não rir, enquanto Jonas vira o rosto para a parede mais próxima para não me encarar. Danilo é o único que não percebe que é o momento perfeito para encerrar com as gracinhas e evaporar. Também, o que eu posso esperar de um cara que faz tudo o que eu peço para não fazer?

— Danilo, a gente precisa tratar de alguns assuntos, então se você não se importa.

— Ah, qual é, Leila, ele acabou de chegar! — Madu argumenta, me surpreendendo tanto, que não tenho nem palavras para respondê-la. — Quer dizer, é que o papo estava agradável.

— Verdade, Leila. — Danilo ri um pouco. — Eles estavam me contando como você estava tímida para falar de nós dois.

— Nós dois? — Minha voz não sai mais que um sussurro de tanta indignação. Traidores, meus dois melhores amigos são dois traidores!

Atravesso a garagem e tiro minha chave de fendas da mão de Danilo. Ele nem se move para se levantar da minha cadeira, o que só consegue aumentar ainda mais minha irritação. Só de olhar, percebi que ele mexeu numa papelada que estava sobre minha mesa e eu vou ter uma trabalheira enorme para colocar tudo de volta no devido lugar. Tudo bem que tudo que toco se torna uma bagunça, mas é a minha bagunça!

— Você não tem que trabalhar, Danilo?

— Será que eu tenho que trabalhar?

Danilo se inclina um pouco para a frente na cadeira e pega minha mão. Ele gira o anel de brilhantes no meu dedo, com um sorriso descarado estampado no rosto. Uma onda desconhecida de calafrios percorre minha pele, arrepiando de leve os pelos dos meus braços e me fazendo ter vontade de saltar para longe desse homem.

Solto minha respiração devagar para me acalmar. Não posso nem pensar em me comportar como uma maluca e estragar qualquer expectativa que meus amigos tenham de acreditar que estou namorando de verdade.

— E se você vir comigo? — Danilo fica de pé, levando uma mão ao meu cabelo.

Deus, meu Deus, por que ele tem que apelar tanto?

— Eu tenho que trabalhar. — As palavras soam esganiçadas pela força que estou fazendo para não tirar a mão dele de cima de mim.

— Ela tem um tempo, sim, Danilo. Pode levar. — Madu faz um gesto com as mãos, nos dispensando.

— Faz essa mulher respirar um pouco, por favor! — Jonas arremata.

Traidores, me apunhalando pelas costas! Como meus amigos não têm o mínimo de vergonha na cara de fazer uma coisa dessas comigo?

— E aí, vamos respirar um pouco?

Sem escolhas, balanço a cabeça fracamente, concordando. Danilo tira as mãos de cima de mim por um instante para pegar minha mochila pendurada nas costas da minha cadeira, voltando a me segurar pela mão em seguida. Alívio dura pouco no meu caso, é impressionante.

Enquanto ele me arrasta para longe, me pego pensando que desde que conheci Danilo, me sinto constantemente presa debaixo d'água, então não posso evitar enxergar a ironia na desculpa dele de me levar para respirar, já que isso é a única coisa que sou incapaz de fazer estando ao lado dele.

Ooooi! Como vão?

Postei até um pouquinho mais cedo hoje hahaha ♥

Espero que gostem, finalmente estamos entrando NAQUELA fase da história

Muitíssimo obrigada por cada leitura, cada comentário, cada estrela...

Nos vemos semana que vem.

Bjx,

Thaly :)

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