Se a gente se casar domingo?

By thalytamartiins

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Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... More

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 15 - Danilo

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By thalytamartiins

Percebi que Leila realmente falava sério quando disse que faria de tudo para que nosso acordo desse certo assim que ela apareceu esta manhã usando um vestido vermelho florido, que a deixou uns cinco anos mais jovem, no mínimo. Imaginei que ela iria para a casa do meu avô em uma calça jeans desbotada e com aquela mochila velha nas costas, por isso vê-la desse jeito, tão diferente do habitual, me deixou bastante surpreso.

Não uma surpresa ruim, longe disso, porque apesar do estilo levemente diferente do que estou acostumado, ela ainda é ela e eu ainda acho que meu avô vai gostar de qualquer coisa que ela diga, principalmente se essas coisas forem as coisas que combinamos tantas vezes que diríamos. Sorrio abertamente ao pensar nisso, quase sentindo o cheiro da minha tão merecida indicação à cadeira da presidência do Torres.

Acelero pelo asfalto, batucando os dedos no volante ao ritmo da música que toca no interior do carro. A tensão de Leila é algo quase palpável no ar, contudo nem o nervosismo dela consegue ser capaz de estragar meu bom humor. Até arrisco cantarolar alguns versos, ouvindo-a sussurrar sem parar, lendo qualquer coisa escrita em um pedaço pequeno de papel em suas mãos.

Espio a letra feia rabiscada no papel e nem posso acreditar que ela escreveu um mini roteiro com respostas prontas para dar à minha família. Datas, o lugar em que supostamente nos conhecemos, há quanto tempo estamos juntos... É quase um dossiê da nossa relação. Até o detalhe importantíssimo do meu avô não saber sobre a doença dele e que a família é sensível ao assunto, portanto ninguém fala disso de forma alguma, Leila escreveu no papel, sublinhando-o diversas vezes para dar ênfase.

Acho que o porquê do meu avô não saber sobre a "doença" foi uma das únicas coisas que Leila questionou enquanto eu a instruía sobre a historinha que vamos contar para a minha família mais tarde. Ela ficou meio indignada com o fato de não termos, supostamente, contado algo tão importante e delicado para o meu avô, repetindo que era direito dele saber de tudo com clareza. Leila só concordou em não falar mais naquilo quando eu baixei a cabeça e fingi que estava prestes a chorar, afinal tudo que envolve a doença e os dias contados do vovô é doloroso demais para mim e etc., etc., etc.

Depois de uma sequência de músicas agitadas que tocariam em qualquer balada, o som de uma guitarra soa pelos alto-falantes. Aguardo alguns instantes da canção, que conheço muito bem por sinal, para ter certeza se devo ou não pular para a próxima faixa. Quando o som dos acordes dá lugar a voz marcante de Alceu Valença, tenho a certeza que eu estava esperando e levo a mão distraidamente ao botão do aparelho de som, mas sou impedido pela mão fria de Leila.

— Deixa essa. — Ela me pede, tirando a mão do meu braço como se eu estivesse em chamas. — Eu gosto dessa!

Nem questiono. Essa é a segunda vez que estamos juntos dentro desse carro e a primeira vez que Leila diz gostar de alguma música que toca. Suponho que, ou ela não gosta do meu estilo musical, ou gosta muito mesmo dessa música. Por via das dúvidas, deixo tocar.

A voz grave de Leila se une à voz de Alceu Valença no clássico refrão de Anunciação. Aperto os lábios para não rir do quanto ela é desafinada e sem ritmo. O bom é que ao menos agora ela está bem menos nervosa. Começo a cantar também, soltando a voz sem nenhuma vergonha, mesmo sendo tão desafinado quanto Leila.

Assim que Anunciação acaba, outro clássico começa: Telegrama, do Zeca Baleeiro. Me sinto de volta aos anos da faculdade, escutando músicas antigas com meus amigos num barzinho de quinta categoria e bebendo cerveja quente. Foi numa dessas que Tales e Andressa se conheceram, e agora já faz bem mais de dez anos que eles estão juntos. Andressa se infiltrou no nosso círculo de amizade e ainda roubou meu melhor amigo de mim. Uma feiticeira, como eu sempre digo.

— Se Andressa nos ouvisse cantar, ela teria uma síncope! — Comento quando a música acaba.

— A namorada de Dr. Tales?

— Ela mesma. Aquela mulher deve saber tocar todos os instrumentos existentes nesse planeta. Você precisa ver como é um saco cantar errado perto dela.

Leila ri um pouco. Fico satisfeito em vê-la sorrir depois de tanto tempo calada e tensa.

— Quando eu tinha uns dez anos, meu pai me colocou numa aula de violão com meu irmão mais novo. — Ela solta mais uma risada. — Meu irmão aprendeu a tocar, ele até tem talento, sabe? Já eu...

— Não te julgo. Marcos sabe alguma coisinha de violão também, que meu pai ensinou, mas eu nunca sequer tentei aprender. Não me lembro de já ter me interessado por música ao ponto de querer tocar um instrumento.

— Eu acho interessante. — Ela dá de ombros, guardando o rascunho da nossa encenação na bolsa. — O problema é que jamais levei jeito para essas coisas artísticas. Meu irmão diz que a música tem que falar com a gente, mas eu nunca ouvi nada, juro para você!

Acabo rindo e ela me acompanha.

— Não sei você, mas eu pelo menos sempre preferi fazer atividades que não envolvessem ficar sentado o dia todo praticando a mesma coisa por horas.

— Não, não! — Ela rebate entre mais algumas risadas. — Não tenho problemas em ficar horas tentando até aprender algo. Acho que o porém é que eu nunca consegui me identificar com arte nenhuma mesmo. Digo isso para não falar que sou uma sem talento!

— Nem desenho ou pintura?

— Eu? — Leila gargalha. — De jeito nenhum! Adoraria ter sensibilidade para apreciar aqueles quadros que custam um milhão de dólares, como os quadros pendurados no seu escritório, mas não entendo nada e muito menos sei fazer alguma coisa com tintas e lápis de cor. Desenho mesmo só meus projetos, que são mais física e matemática do que arte.

— Ah, então deixe-me adivinhar, você sempre foi mais prática do que sensível, não é? Números e ciência em vez de livros de romance; a faculdade e a carreira antes do namoro e do casamento, e por aí vai...

Espero por uma resposta bem humorada, no mesmo clima que estávamos até o momento, no entanto, quando Leila diz alguma coisa, eu só consigo encontrar desconforto em sua voz:

— Certo.

A vejo tirar da bolsa o papel com o nosso roteiro de mentiras e entendo que ela deu nosso breve papo por encerrado. Pelo restante do caminho não trocamos mais nenhuma palavra, até cantar perdeu totalmente a graça. Não faço ideia de como fomos de uma conversa engraçada sobre música para esse velório, entretanto é essa nossa situação. Sei que mulheres no geral são seres complexos e que é muita audácia da minha parte tentar decifrar uma que mal conheço, mas Leila... Como diabos ela consegue ser tão difícil?

Entro na rua da casa do meu avô, em um bairro nobre e arborizado de São Paulo. Os olhos de Leila se arregalam admirando os muros altos que escondem as mansões. Não sei como ela esperava que fosse a casa do meu avô, mas só de ver sua reação diante dessas casas, eu tenho para mim de que ela não tinha noção de onde iria parar quando subiu no meu carro de manhã.

Dou seta e giro o volante para entrar na casa do meu avô. Um portão enorme pintado de branco se impõe diante de nós, e preciso colocar a cabeça para fora do carro para que me autorizem entrar. Há um tempo atrás não tinha tanta segurança para entrar aqui, mas tudo mudou quando tentaram assaltar a casa. Meu avô sempre foi meio descuidado, mais cedo ou mais tarde aquilo infelizmente ia acabar acontecendo, mas o problema mesmo foi porque o incidente apareceu em diversas notas nos jornais e até na televisão. Vovô quis atear fogo em metade da cidade por causa daquilo. Ele detesta qualquer tipo de exposição da sua vida privada, seria uma surpresa se ele tivesse conseguido lidar com a situação de cabeça fria.

— O que é isso, um palácio? — Leila pergunta quando o portão se abre, revelando a mansão.

— Não é tão grande assim.

— O quê? Como assim não é tão grande? Cabe meu bairro todo nessa casa!

— Fale isso para o meu avô, ele gosta quando elogiam a casa dele.

Estaciono meu carro ao lado do de Tales no pátio da frente da casa. Leila me encara ainda boquiaberta, sem nem fazer menção de tirar o cinto e descer.

— Não inventa de dar para trás justo agora! — Eu a advirto, sério.

Leila continua imóvel, exceto pelas mãos apertando a barra do vestido vermelho. Ela só pode estar de brincadeira comigo! Desde o começo Leila sabia muito bem que meu avô é rico, então era de se esperar que ele tivesse uma casa grande. Ficar aterrorizada desse jeito por causa de uma construção é ridículo.

— Pelo amor de Deus! — Passo as mãos pelo rosto, incrédulo. — O que deu em você?

— Não sei, estou nervosa! Olha isso — ela aponta para a casa e em seguida para si mesma — e olha isso. Seu avô vai achar que sou uma piada!

Solto uma risada sem humor.

— Você, definitivamente, não conhece meu avô. — Me inclino na direção dela e destravo o cinto de segurança. — Eu disse que você estava ótima mais cedo e não estava mentindo.

Destranco a porta do carro e salto para fora. Faço questão de dar a volta e abrir a porta do passageiro para Leila, para não correr o risco dela quase quebrá-la de novo, além de ser uma boa desculpa para arrancá-la lá de dentro, caso ela continue insistindo em fazer uma belíssima imitação de pedra.

Leila tira o celular da bolsa e se olha na tela trincada, conferindo se o batom ainda está nos lábios. Como não estaria se nós não trocamos nem uma dúzia de palavras direito o caminho todo? Ela passa os dedos rapidamente pelos cachos escuros e respira fundo.

— Perfeita. — Ela balbucia, saindo do carro com cuidado e ficando de pé diante de mim.

— O quê?

— Você disse que eu estava perfeita mais cedo, não ótima. — Leila diz mais alto desta vez.

Arqueio as sobrancelhas um tanto surpreso. Nem eu me lembrava direito do que eu tinha dito mais cedo, como ela guardou aquilo na cabeça? Fecho a porta do carro, sentindo um leve incômodo com aquele excesso de informação. Leila não devia ter se importado tanto com o que eu disse, porque meu elogio esteve mais relacionado ao papel que ela iria representar do que com a aparência dela em si.

— Leila, escuta... — Começo a dizer, para evitar qualquer mal-entendido, quando algo me atinge nas costas.

Uma bola de plástico lilás e suja de lama rola pela grama a alguns metros de onde estou parado. Leila leva as mãos à boca, mas consigo enxergar bem o sorriso descarado nos olhos dela. Tenho um péssimo pressentimento sobre isso, porque justo hoje resolvi usar uma camisa branca.

— Gooool! — A vozinha fina e irritante de Ana Clara chega aos meus ouvidos.

Me viro para ver minhas duas sobrinhas correndo em minha direção com os bracinhos finos sacudindo acima da cabeça. Ana Clara se joga no meu colo, me obrigando a segurá-la, mesmo que ela não seja mais um bebê e que eu esteja ensaiando uma bronca para dar nas duas por terem me acertado uma bolada nas costas.

— Oi, tio! — Vivi abre um sorrisinho de dentes faltando quando se aproxima. Viviane não parece parente do Osama Bin Laden como Ana Clara, mas se engana quem acha que essa garota não colocaria fogo nessa casa inteira se tivesse a oportunidade.

— Oi, Vivi! — Estendo a mão e bagunço ainda mais seus cachos. Duas fitas cor-de-rosa estão caindo por seus ombros e tenho para mim que isso um dia foram laços. — Digam oi para a Leila.

No meu colo, Ana Clara aperta meu pescoço com os braços, se recusando a abrir a boca. O que essa menina não tem de idade e tamanho, tem de pirraça e ciúmes. Vivi fecha a cara no mesmo instante que percebe a presença de Leila e eu preciso de muito autocontrole para não dar um cascudo nas duas. Mal educadas!

Coloco Ana no chão e lanço um olhar bravo para as duas. Marcos é muito mole com as meninas, por isso elas estão crescendo cheias de manias. Vovô também não gosta muito das birras delas e olha que ele tem bem mais paciência que eu.

— Prestem atenção, Leila é minha namorada e futura tia de vocês. — Estendo o braço e puxo Leila para perto de mim. — Acho bom vocês duas a tratarem bem, estão me ouvindo? Agora digam oi.

Vivi e Ana Clara baixam os olhinhos para os sapatos sujos de lama e murmuram um oi de má vontade. Não é o que eu queria, porém fico satisfeito só de terem me obedecido ao menos uma vez na vida. Leila, por outro lado, parece bem descontente com a cena. Ela desvencilha o braço da minha mão e se afasta.

— Não fale assim com elas, são só crianças, Danilo.

— Elas não queriam cumprimentar você.

— Eu também não as cumprimentei. — Ela rebate. Então se vira para as meninas com um sorriso grande no rosto. — Oi, meninas! Sou a Leila. Qual o nome de vocês?

Reviro os olhos com impaciência. Eu conheço essas duas pestes desde que nasceram, não é com um sorrisinho simpático que Leila vai conseguir conquistá-las. Isso é impos...

— Meu nome é Ana Clara Borges Torres, tenho cinco anos. — Ana exibe a mãozinha com os cinco dedinhos erguidos. — Ela é Viviane Borges Torres, ela tem sete anos e é minha irmã. — Ana ergue mais dois dedinhos para formar a idade de Vivi.

Meu queixo vai na grama ao ouvir Ana Clara falando tanto com uma pessoa que ela acabou de conhecer. Esquadrinho Leila de cima a baixo para tentar encontrar a bruxaria que a fez conseguir a atenção das minhas sobrinhas, mas incrivelmente ela não está fazendo nada além de ser ela mesma.

— Eu tenho um priminho da sua idade, Ana. Ele se chama Arthur.

— Por que você não trouxe ele? — Vivi questiona toda interessada.

— Da próxima vez eu trago ele. Vocês podem jogar futebol juntos, o que acham?

Ana Clara corre até a bola suja e a chuta para nós. Leila para aquela porcaria imunda com o pé, arrancando risadinhas das minhas sobrinhas. Sinto que estou num universo paralelo.

— Você pode jogar com a gente. — Ana Clara sugere. — Você joga?

— Se o tio de vocês for o goleiro, eu jogo, sim! — Leila olha para mim, exibindo um sorriso presunçoso.

— Nem pensar! — Protesto, me afastando em direção a casa. — Vocês já sujaram minha camisa toda, não vou jogar nada com nenhuma das três hoje!

— Por favor, tio! — Ana choraminga.

— É, por favor, tio! — Leila imita a voz de Ana Clara.

— Não. Nem pense nisso. — Digo para Leila.

— Mas tio... — Ana continua choramingando, correndo atrás de mim. Vivi não perde tempo, agarra a bola lilás e corre também. Eu mereço!

Aperto o passo, ziguezagueando e desviando das duas, que tentam me alcançar com suas perninhas curtas. Viviane ri alto, enquanto Ana Clara solta gritinhos agudos de animação. Costumo dizer que essas meninas são a razão de eu não querer ter filhos, ao passo em que elas igualmente são o motivo pelo qual penso em ter filhos vez ou outra.

Ver minhas sobrinhas sorrindo me enche de alegria. Elas me lembram Marcos e eu quando éramos crianças, correndo pela casa sem as preocupações e as brigas que temos hoje em dia. As duas são uma parte boa do meu irmão e trouxeram mais luz para a vida dos meus avós, que sentem até hoje a dor da perda do meu pai, e eu sou muito grato por elas existirem.

Desisto de correr e abro os braços para que Ana Clara pule em mim. Vivi vem junto e nós três caímos sentados na grama recém-molhada, gargalhando tanto que minha barriga dói. Vejo Leila ainda parada próxima ao carro. Ela está com o celular nas mãos, sorrindo enquanto tira uma série de fotos minhas e das meninas rolando pelo chão.

— Não dá para saber qual de vocês é mais criança! — Meu avô diz, aparecendo na frente da casa apoiado na velha bengala de mogno.

Leila baixa lentamente o celular e volta a ficar rígida, olhando para vovô sem nem piscar. Ele a encara de volta por cima dos óculos, a expressão divertida sendo substituída aos poucos por rugas de seriedade. Estou longe demais dos dois para tentar mediar o que vai acontecer em seguida e só posso torcer para que Leila não entre em pânico de novo.

— Você deve ser...

— Leila. — Ela se adianta ao perceber que vovô não faz ideia de qual seja seu nome. — Meu nome é Leila.

— Ah, Leila!

Vovô olha para mim, semicerrando os olhos. Só pelo olhar dele consigo entender perfeitamente que o velho não está levando nada daquilo a sério. Tiro as meninas de cima de mim e fico de pé, sem saber se vou até vovô primeiro tentar convencê-lo das minhas mentiras, ou se vou até Leila tentar fazer com que ela pare de tremer.

É então que Leila resolve por si mesma tomar alguma atitude e avança alguns passos na direção do meu vovô. Ela endireita os ombros e estende a mão para ele, tão decidida quanto estava quando apareceu no meu escritório alguns dias atrás disposta a se casar comigo.

— Muito prazer em conhecer o senhor, Dr. Fausto. — Leila sorri daquele jeito largo que deixa à mostra todos os seus dentes e faz com que seus olhos se fechem. — Sou a namorada do seu neto.

Já faz uma meia hora que vovô, vovó, Valéria e Tales estão sentados ao redor de Leila emendando um assunto atrás do outro. Perguntas como "o que você faz da vida?" ou "como vocês se conheceram?" foram respondidas prontamente com "sou engenheira elétrica e estou montando uma empresa" e "eu trabalhava numa empresa de um amigo de Dr. Tales, foi ele que apresentou Danilo e eu". Agora a conversa evoluiu para "você já provou mousse de limão? O da vovó Iêda é o melhor que existe!" e "você sabe jogar buraco? Você precisa aprender a jogar, então!", e Leila está se saindo muito bem sorrindo e concordando com tudo que dizem.

Minha mãe é a única que não parece muito contente com a presença da minha adorável namorada engenheira que sequer tem perfis em redes sociais. Dona Roberta é de falar pelos cotovelos, mas está incomumente calada. Eu a estou evitando justamente por isso, porque estou ciente que ela vai despejar duas horas de lamentações nos meus ouvidos por eu não ter dito nada sobre ter uma namorada com quem pretendo me casar quando ela foi até minha casa na quinta-feira. De qualquer forma, eu não preciso que minha mãe aprove Leila, quem precisa gostar dela é vovô e eu sinto que ele já gosta.

Eu nunca tive uma ideia tão genial na minha vida inteira quanto ter proposto um casamento de fachada à essa mulher para convencer vovô de que sou o homem que ele espera que eu seja. Olhando daqui, o velho parece estar bastante feliz e satisfeito por estar testemunhando o neto que sempre se envolve em escândalos ao lado de uma menina tão doce e esforçada quanto Leila.

E nem em um milhão de anos eu poderia imaginar que Leila seria tão cara de pau. Nesse momento, inclusive, ela está usando a história sobre Sansão ter comido carne gordurosa e passado mal para envolver ainda mais minha família na nossa mentira.

— Ele ligou para você para falar de Sansão, aposto! — Valéria diz aos risos.

Leila faz que sim com a cabeça e me lança um olhar discreto.

— Eu tive que o acalmar durante todo o caminho enquanto ele dirigia até o veterinário. Danilo se preocupa mais com Sansão do que com a própria vida, por isso fiquei duas vezes mais preocupada!

Ah, claro! Se eu precisasse de Leila para salvar a vida do Sansão, coitadinho do meu cachorro. Ela simplesmente me deu tchau e sumiu um segundo após eu ter dito que não precisava que ela fosse até minha casa. Entretanto, ninguém aqui precisa saber do que aconteceu, por isso apenas sorrio quando minha família me olha, se dobrando de rir da história sobre Sansão.

Andressa, que estava ajudando Marcos a limpar a cozinha depois que almoçamos, sai da casa com uma bandeja cheia de copos e uma jarra cheia com mais suco de melancia. Não é meu sabor favorito, porém vovô, por alguma razão, adora suco de melancia, então todo mundo toma sem reclamar. Ela para do meu lado e olha para a mesa sob a tamareira enorme do jardim, onde o resto da nossa família está sentada.

— Não achei que iria viver para ver você com uma namorada, Danilo.

— Eu não achava que você e Tales durariam uma semana, mas vocês já estão juntos há dez anos. Milagres acontecem, é o que sempre digo!

— Moleque insuportável — Andressa resmunga, empurrando a bandeja para as minhas mãos. — Leila, né? Ela parece ser uma menina legal. Não a faça chorar sendo o babaca habitual!

— Por que eu a faria chorar? — Pergunto em tom de deboche.

— Porque você não gosta dela. — Andressa responde simplesmente e se volta para as pessoas na mesa, acenando quando Tales lhe manda um beijo pelo ar. — Leve o suco, eles estão esperando.

Andressa me dá as costas, mas eu a impeço, segurando-a pela alça do avental com estampa de tomates.

— Como você tem tanta certeza que eu não gosto dela?

— Talvez porque você está aqui de pé enquanto ela está lá sentada sozinha? — Ela me devolve a pergunta. — Marcos estava agorinha mesmo comentando isso comigo.

Tenho um calafrio só de pensar em admitir que Andressa pode estar certa, mas a verdade é que ela está mesmo certa. Desde que chegamos, achei melhor dar espaço para Leila conversar com minha família e lidar com eles como achasse melhor. Nos sentamos lado a lado no almoço e só, nem mesmo conversamos muito, usando a comida como desculpa para não trocarmos uma palavra. Estamos agora cada um em um canto: ela com minha família e eu sozinho aqui, trocando mensagens com alguns encontros casuais. Qualquer um que nos visse iria achar que somos bons amigos ou que nos conhecemos há algum tempo e nos damos bem. Somos qualquer coisa, menos um casal apaixonado.

Leila deve ter percebido que minha conversa com Andressa não está sendo das melhores, porque o sorriso dela desaparece em questão de um piscar de olhos e sua testa se enche de vincos de preocupação. Merda, Andressa! Essa mulher conseguiu plantar a semente da discórdia em duas cabeças ao mesmo tempo.

— E esse seu cabelo aí, não está na hora de você pintar, não? — Eu a provoco, soltando o avental.

Andressa passa a mão pelas mechas que agora não são nem castanhas e nem loiras, e fecha a cara.

— Você não tem que cuidar da sua vida, não? — Ela praticamente rosna, voltando para dentro da casa cuspindo fogo.

Seguro direito a bandeja nas mãos e caminho na direção oposta à de Andressa. Tenho em mente me sentar ao lado de Leila, segurar sua mão ou fazer qualquer coisa que dê a entender que estamos realmente juntos, porque se Andressa e Marcos não estão convencidos, ninguém aqui deve estar. Para o meu azar, antes que eu consiga sequer chegar até a mesa, Leila se levanta e se afasta com o celular na mão.

Sirvo um pouco de suco para vovô e me sento com ele, olhando a todo instante para o jardim, ainda sem sinal de Leila. Me lembro da cara preocupada que ela fez ao ler uma mensagem no celular e em seguida me pedir para levá-la para casa no dia em que paramos na barraca de churrasquinho. Algo dentro de mim se agita, ela pode estar com problemas.

— Leila demorou um pouquinho, não? — Vovô sussurra no meu ouvido. Ele aponta com o queixo para o jardim, indicando que eu vá atrás de Leila.

Não penso muito, apenas me levanto e sigo os passos dela. Até onde sei, as meninas estão na sala vendo televisão, Marcos e Andressa estão limpando a cozinha e as pessoas na mesa não virão atrás de nós. É um bom momento para Leila e eu conversarmos e ajustarmos mais alguns detalhes da nossa história, que está começando a ficar inconsistente.

Encontro Leila curvada diante de uma roseira branca, levando as pétalas cuidadosamente ao nariz. Ela parece mais curiosa com a roseira do que admirada com sua beleza ou cheiro, como a maioria das pessoas estaria. Me aproximo em silêncio, observando-a franzir a testa ao tocar as folhas da planta.

— O que você está fazendo?

Leila salta para trás, derrubando o celular no chão.

— Isso é jeito de chegar nas pessoas?!

— Você sumiu. — Me abaixo para pegar o celular dela. — A tela já era, hein?

— A tela já foi há muito tempo.

Leila estende a mão para que eu a devolva o aparelho. Estou prestes a entregá-la o celular, mas vejo o vulto de Marcos entre as plantas do jardim e meu sentido toma outro rumo. Meu irmão não nos nota de imediato, compenetrado digitando alguma coisa no próprio celular. Aposto um relógio da minha coleção que é um acionista do Grupo.

— Danilo? — Leila avança alguns passos, indicando o aparelho na minha mão.

Marcos vira o rosto em nossa direção assim que ouve a voz de Leila. Ele esboça um sorriso quando nossos olhos se encontram, e uma ideia muito ruim me ocorre, por culpa integral de Andressa e do que ela me disse antes.

Leila estende a mão e segura o celular, mas eu o puxo de volta, colocando-o no bolso. Ela bate com um pé no chão e solta um suspiro resignado, se preparando para começar a me xingar.

— Fique quieta, por favor. — Peço, desviando os olhos de Marcos, que ainda nos observa à distância.

— Eu só quero que você me dev...

Não a deixo terminar. A ideia ruim que eu tinha na cabeça se torna uma atitude ruim e eu puxo Leila pelo pulso, mantendo-a presa junto ao meu corpo. As mãos pequenas dela espalmam meu peito e ela reage me dando alguns tapas, que sendo sincero não doem tanto assim.

— Você está maluco?!

Eu a ignoro completamente e me inclino para beijá-la.

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