Se a gente se casar domingo?

By thalytamartiins

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Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... More

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 14 - Leila

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By thalytamartiins



— Leila, eu te amo!

Jonas se lança contra mim num abraço desajeitado e desabamos os dois sobre o sofá verde da garagem. Ele me aperta tanto que preciso estapeá-lo para que me solte, o que não adianta muito, porque Madu também cai em cima de nós dois, me sufocando ainda mais.

— Saiam de cima de mim! — Eu esbravejo, empurrando-os com toda a força que tenho nos braços.

Jonas desliza para o chão e Madu rola para o lado no sofá, aliviando a pressão sobre mim. Respiro fundo, sorvendo o ar que esses dois me tomaram com essa demonstração de afeto exagerada.

— Eu não estou acreditando que finalmente a gente tem um investidor! — Madu gargalha alto. — Eu preciso de um cigarro! E uma cerveja!

— Não precisa, não! — Eu a advirto, apontando um dedo para o nariz dela. — Agora não é hora para a gente ficar gastando nosso tempo com besteira. Temos um investidor e temos obrigação de devolver esse dinheiro à ele.

— Ou seja, precisamos trabalhar dobrado. — Jonas conclui por mim.

Madu revira os olhos, afundando-se mais no sofá, emburrada feito uma criancinha. Há anos Jonas e eu aprendemos que não se tira de Maria Dulcineia a chance de encher a cara às dez da manhã de um sábado ensolarado — ou a qualquer momento em que ela cisme que quer beber.

— Vocês são dois chatos! — Minha amiga resmunga, contudo Jonas e eu sabemos que é da boca para fora.

Ela está feliz, Jonas está feliz, eu estou...

Estou...

Estou quase ficando louca!

Me levanto do sofá e caminho distraidamente até minha mesa, onde minha mochila está pendurada nas costas da cadeira, me olhando acusadoramente. Bolei durante a noite boas desculpas para dar aos meus amigos e maneiras de fazê-los acreditar que os eventos que estão prestes a acontecer em minha vida não têm relação com esse investimento, no entanto mentir não é meu forte e acreditar nas minhas mentiras nunca foi algo que eles fingiram fazer.

Toco a alça da minha mochila com os dedos ameaçando tremer. Eu queria tanto saber o que fazer da minha vida ao menos uma vez para variar, mas quanto mais penso no assunto, mais eu tenho certeza que estou fazendo uma merda enorme.

— ...hein, Leila?

Viro meu rosto ao ouvir meu nome. Madu está deitada de barriga para baixo no sofá com um sorriso bastante suspeito no rosto. Jonas balança a cabeça de leve, o que me faz entender que o que quer que seja que Madu tenha perguntado, é besteira.

— Não quero nem saber! — Digo, fazendo um gesto com a mão para que Madu nem ouse falar nada de novo. — Aqui, os papéis. Assinem logo, por favor! — Indico um envelope pardo sobre a mesa com o queixo.

Jonas vem primeiro e assina as vias do contrato de investimento sem perguntar muito. Não tenho a mesma sorte com Madu, que lê letra por letra do contrato, semicerrando os olhos de maneira assustadora.

— Eu estou achando tão esquisito eles não quererem revelar a identidade. Vai que esse dinheiro é proveniente de lavagem de dinheiro, sei lá. — Madu se vira para mim de repente, curvando-se sobre a mesa. — E se formos usados como laranjas?

Jonas e eu soltamos um suspiro frustrado ao mesmo tempo. E lá vamos nós de novo, penso, me preparando para repetir aquela mentira pela segunda vez.

— Já te falei, nosso negócio é um risco e eles não querem a empresa envolvida nisso até terem certeza que a E. M. vai dar retorno. É ruim para o negócio deles.

— Eles quem, Leilinha? — Madu insiste. — Eu estou morrendo de curiosidade!

— Não sei. Foi Luís quem cuidou de tudo para mim e está aí no contrato que o investimento será realizado sob sigilo.

— Sigilo, Maria Dulcineia, sabe o que isso significa, não sabe? — Jonas provoca, recebendo um beliscão bem dado nas costas.

Depois de muito reclamar e encher minha paciência para que eu dê mais detalhes sobre nossos investidores secretos, Madu resolve assinar os documentos e me entregar. Não perco nem mais um segundo para escanear tudo e encaminhar para Dr. Tales por e-mail. Ele me contata alguns minutos após confirmar o recebimento do arquivo, dizendo para que eu entre em contato com Danilo mais tarde e peça para que ele cheque a documentação, porque estará indisponível durante o dia.

Confiro as horas no canto da tela do meu notebook. É quase meio dia, então concluo que mesmo que Danilo tenha saído para alguma balada após ter me deixado em casa, a uma hora dessas ele já deve estar acordado. Digito uma mensagem rápida no celular e volto ao trabalho em seguida. Não espero que ele me responda ou que dê sinal de vida, afinal estou apenas fazendo minha parte e dando o recado, não estou começando uma conversa e nem nada do tipo.

Aquela mensagem, porém, me faz pensar em Danilo. Mais especificamente na primeira prova do nosso relacionamento fajuto amanhã, na frente de toda a família dele. Avô, avó, irmão, cunhada, sobrinhas, mãe, cachorro, papagaio...

Sinto um calafrio percorrer minha espinha. Durante meu tempo de namoro com Rafael, nunca conheci os pais dele. Não sei direito como me comportar e nem o que dizer, além das mentiras que Danilo me instruiu a contar. Entretanto, sei o quanto pessoas podem ser imprevisíveis e fico toda travada só de imaginar nas milhares, talvez milhões de situações que podem surgir e com as quais eu não faço ideia de como lidar.

Jonas me olha pelo canto do olho e eu volto a fingir estar concentrada. Se ele me perguntar o que está me preocupando tanto, será meu fim.

— No que você tanto pensa, Leila? — Ele pergunta, parecendo ler meus pensamentos.

Engulo em seco, sem coragem de encará-lo. Digito qualquer coisa no teclado, vendo letras e símbolos sem nexo algum aparecerem na tela branca.

— Esses algoritmos... — Exalo, tensa. — Há alguma coisa errada com esses algoritmos.

— Não tem nada de errado com os meus algoritmos! — Madu protesta, lançando uma bolinha de papel na minha direção. — Talvez os algoritmos da sua cabeça não estejam certos. Sai daí e vai dormir um pouco.

Meus amigos têm um pouco de sexto sentido, só isso explica o quanto eles me conhecem às vezes. As últimas semanas foram caóticas e eu estou aguentando como posso, me deixando levar por coisas que nunca achei que faria na vida. Desde ontem a minha vontade é chorar até soluçar, mas até para chorar e gritar é preciso coragem e eu tenho medo demais das perguntas que irão surgir se eu simplesmente me der o direito de deixar meus sentimentos virem à tona.

Desisto de trabalhar por hora e volto ao sofá, deixando meu corpo cair sobre o estofado gasto. Dormir ajuda a não pensar besteira, e provavelmente é disso que estou precisando no momento. Relaxo do jeito que dá no espaço apertado, permitindo que minha mente seja tomada por uma profunda escuridão, que começa pesar aos poucos nas minhas pálpebras e puxar meu corpo cansado até o sono.

Contudo, entre os sonhos que eu quero ter e a minha realidade complicada demais, Madu grita meu nome:

— Leila, seu celular!

— Atende aí! — Digo sem pensar, sonolenta ao ponto de não raciocinar direito.

— É uma mensagem. Qual é sua senha, hein? Só consigo ver um pedaço do texto e o nome de quem enviou com essa tela bloqueada! Dr. Danilo Torres. Quem é Dr. Danilo...? — Madu faz uma pausa que me arrepia até a alma.

Ouvir o nome de Danilo me acorda imediatamente. Tenho a impressão de que mesmo se eu estivesse em coma, iria acordar só de escutar mencionarem o nome dele.

— Dr. Danilo Torres? Porra, o quê?! — A voz de Madu aumenta uma oitava e eu salto do sofá, estremecendo inteira.

Meu Deus, não! Não! Não!

"Ei, Leila, eu não estava brincando ontem quando disse que..." — Minha amiga se vira para mim com a boca formando um "o" perfeito. — Leila Dias de Souza, eu quero explicações!

Praticamente voo até Madu e tiro meu celular das suas mãos, tremendo feito um pinscher ao abrir a mensagem, que inclusive não tem nada demais. Quer dizer, não tem nada demais para mim que vi Danilo comendo espetinho de carne ontem e reclamar que eu iria ter que lhe comprar remédios caso passasse mal, já para Madu a frase pela metade que apareceu na tela do meu celular pode ter sido material mais que suficiente para deduzir uma história inteira.

— Não é nada do que você deve estar pensando, está bem? — Ergo as mãos pedindo para que ela fique calma.

— Você não faz nem ideia do que eu estou pensando, garota. — Madu cantarola, girando junto com a cadeira giratória velha.

— Para de ficar se metendo na vida dos outros! — Jonas reclama, não dando a mínima para a crise que se instalou na garagem.

— Jonas, acorda! Leila e o neto do velho do Grupo Torres estão trocando mensagenzinhas e...

— E nada. — Eu a corto. — Já disse que as coisas não são assim!

— Então como são? Me explica, vai.

Explicar? Como eu vou explicar qualquer coisa para Madu se ainda não consegui construir uma historinha aceitável para contar nem para mim mesma? Eu iria mencionar alguma coisa sobre estar saindo com Danilo depois que me encontrasse com a família dele, porque se as coisas não correrem bem amanhã, nosso plano terá ido por água abaixo antes mesmo de começarmos. Mas agora? Agora o que eu faço?

Meu celular vibra com uma mensagem de Bruna perguntando se vou dormir em casa. Respondo dizendo que sim e perguntando à ela o nome de algum remédio para dor de barriga. Madu continua tagarelando sobre eu estar fugindo do assunto e eu estou fugindo de fato ao mesmo tempo em que estou tentando ajudar Danilo de algum jeito.

— Leila! — Madu estala os dedos, chamando minha atenção. — Aquele dia que ele foi no estande, na verdade ele estava atrás de você, é?

— Era, sim. — Respondo sem tirar os olhos do celular. Então percebo o erro tarde demais de novo. — Quero dizer, mais ou menos. Ele queria investir na empresa, mas não deu certo...

— Então ele resolveu investir em você? — Ela gargalha.

— Não, não é bem assim... — Olho dela para o meu celular, que se ilumina com uma foto de Sansão. — Ai, meu Deus!

Agora escuto a risada de Jonas se misturando às gargalhadas escandalosas de Madu. Sei que estou me enrolando cada vez mais, mas que merda, o coitadinho do cachorro está doente por minha causa!

— O que foi? — Madu se levanta e vem em minha direção com o pescoço esticado para ver o que tanto escrevo no celular.

Enfio o celular no bolso de trás da calça bem a tempo, impedindo que Madu veja qualquer coisa da conversa. Danilo me disse que está levando Sansão ao veterinário e que não precisa que eu cruze metade da cidade, portanto não há motivo nenhum para que eu continue trocando mensagens com ele e complicando minha situação com meus amigos.

— Você — Madu me aponta um dedo acusador —, é uma safada, sabia? Está todo mundo na internet achando que Danilo Torres está namorando uma blogueira famosa, quando na verdade quem está pegando ele por aí é você!

— Eu não... Eu não... Nós não... Ainda não... — Me embaraço com as palavras. Madu ri, tendo ainda mais certeza de que tem razão sobre mim.

— Ainda não! — Ela bate palmas, rindo ainda mais. — Ouviu, Jonas? Ela disse "ainda".

— Deixe Leila em paz, Madu. Passou da hora dela ficar com outro cara. Rafael parece que a estragou para homens.

Meu rosto queima ao ouvir aquilo. Sei que não foi a intenção de Jonas, mas o comentário me irrita mais do que de costume. Depois que Rafael me ligou na semana passada apenas com interesse no meu antigo emprego, ouvir o nome dele já é o suficiente para me deixar desconfortável... e extremamente envergonhada.

Mas a verdade é que Jonas está certo nisso, porque Rafael realmente me estragou para homens. Nenhum cara que passou pela minha vida depois dele teve o mínimo que se espera de atenção. Desconfio de todos, afasto todos, não me dou ao trabalho de me envolver com ninguém, afinal, mesmo detestando admitir isso, tenho verdadeiro pânico de ser abandonada de novo. A E. M. se tornou meu objetivo de vida e se eu deixar outro "Rafael" me bagunçar de dentro para fora, sinceramente não sei como vou me reerguer.

Por isso, o melhor que tenho a fazer é contar a verdade sobre o investimento e o casamento aos meus amigos, para evitar que eles se preocupem com a possibilidade de me ver com o coração partido de novo. Entretanto, também sei que se eu fizer isso agora, daqui há dois segundos Madu estará rasgando o contrato e gritando comigo para que eu pense mais em mim.

Não posso deixar essa chance de ouro passar e nem posso mais virar as costas para Danilo depois de saber o que ele está tentando fazer pelo avô. Não é hora para ficar me enchendo de mais dúvidas e hesitações.

— Danilo e eu marcamos de nos ver amanhã. — Crio coragem para dizer. — Estamos conversando esses dias e eu quero conhecê-lo melhor.

— Você e metade da população feminina e até masculina desse país, né, Leila! — Madu cruza os braços em frente ao peito, surpreendentemente séria.

Eu esperava que ela fosse gritar um sonoro "eu sabia!" e que continuasse rindo e fazendo piadas, mas seu rosto continua muito fechado, perscrutando o meu centímetro por centímetro.

— Então vocês não fizeram nada ainda, fizeram?

— Madu, você não deveria perguntar essas cois...

Madu interrompe mais um sermão de Jonas, mostrando o dedo do meio para ele sem deixar de me encarar.

— Eu estou falando com a Leila!

Jonas se limita a jogar as mãos para cima e empurrar a cadeira giratória para trás, desistindo de impedir Madu de me colocar contra a parede. Fico grata por ele sempre me defender dela, mas ambos sabemos que é inútil tentar escapar dos interrogatórios de Madu, e nem que eu fosse a pessoa mais esperta desse mundo iria conseguir fugir dela agora.

— Leila?

— Não, ainda não fizemos nada. Juro.

— E pretende fazer alguma coisa amanhã, já que vão se encontrar?

Pisco, atônita. Amanhã eu pretendo fazer muitas coisas na companhia de Danilo, como, por exemplo, enganar a família dele inteira, e tenho minhas dúvidas se isso se encaixa no conceito de "fazer alguma coisa" de Madu.

— Tudo bem, tudo bem. — Madu recua. — Eu só estou perguntando essas coisas, porque me preocupo com você. Danilo, você sabe, ele se mistura com gente bem diferente de você e eu, Leila. Não vejo problemas em vocês se pegarem e tudo mais, só não deixe passar disso, ok? Não quero que você se iluda e nem se magoe.

Faço que sim com a cabeça e mesmo sem dizer uma palavra parece o suficiente para que Madu se acalme. Sei que ela só não questiona mais nada, porque consegue ver nos meus olhos a ausência de qualquer expectativa no que envolve Danilo. Como eu poderia ter expectativas, afinal? Eu mesma enfiei uma cláusula restritiva no contrato e não serei eu entre nós dois que irá quebrá-la.

E no mais, Madu está certíssima. Danilo se mistura com gente muito diferente de mim, com mulheres muito diferentes de mim. O cara é ex-namorado da Marcela Corrêa, atriz de novela, capa de revista, milhões e milhões de seguidores na internet. O que um homem desse iria querer comigo, que passo a semana inteira sem lavar o cabelo às vezes? De verdade, minha vontade agora é de rir da preocupação de Madu.

— Então, agora vamos ao que interessa! — Madu pega sua bolsa de cima da mesa e passa a alça pelo ombro.

Eu a observo sem entender aonde ela pretende ir no meio do expediente.

— O que você quer dizer com isso?

— Não se faça de sonsa! — Ela me segura pelo cotovelo, me arrastando para fora da garagem. — Vamos comprar calcinhas!

— Mas...

— Jonas, cuide de tudo por aqui! — Madu acena para Jonas, que no momento está tão chocado quanto eu.

Calcinha é uma coisa que a gente nunca tem o suficiente. Podemos comprar dúzias todos os meses e sempre vamos achar que não temos calcinha nenhuma no guarda-roupa. E é incrível também como uma calcinha de renda e um bom sutiã novo fazem com que nós tenhamos mais segurança até para contar uma mentira estratosférica para uma família inteira de desconhecidos. Pelo menos é assim que me sinto olhando para o novo conjunto rosa-bebê que Madu me fez comprar ontem.

Bruna abre um dos olhos e rola na cama, cobrindo o corpo até o queixo com o cobertor. Arthurzinho está dormindo debaixo das cobertas com ela, teve dor de barriga a madrugada inteira e não deixou nenhuma de nós dormir direito. Por essas e por outras que eu não penso em ser mãe, não acho que conseguiria ser tão forte por alguém tão pequeno que dependeria de mim para tudo. Até hoje não sei como Bruna conseguiu ter um bebê aos 17 anos e não perder o ânimo para entrar na faculdade depois de tanto sofrer para criar Arthur sozinha sem apoio nenhum do pai.

— Humm, está indo para onde? — A voz dela soa sonolenta.

— Tenho uma reunião importante.

Passo o vestido — que Madu também me fez comprar ontem — pela cabeça, alisando-o em volta da cintura. Acho que a última vez em que usei um vestido por usar, sem ser aqueles uniformes pretos horríveis do cerimonial onde Madu faz uns bicos, Rafael e eu ainda namorávamos. Estou sempre correndo de um lado para outro e vestidos não são práticos, apesar de me deixarem bem bonita.

— Reunião com o bonitão do carro importado, é? — Bruna volta a perguntar, se sentando na cama.

Paro de alisar o vestido e olho para ela pelo espelho.

— Não precisa me olhar assim. É que vi você descendo de um carrão quando eu voltava da faculdade. Estava para te perguntar se o dono do carro é o cara que você disse que ia salvar a E. M. aquele dia que você saiu correndo daqui de casa.

— Não. — Digo rápido demais. Bruna arqueia as sobrancelhas com a elevação momentânea do meu tom de voz. — Naquele dia eu só peguei uma carona. O cara que eu disse que ia salvar a E. M., bem... — Tomo fôlego, desviando os olhos dos da minha prima — Apareceu outra pessoa para salvar a E. M.

— É sério?! — Minha prima praticamente pula na cama de alegria.

— Inclusive, se tia Célia perguntar, diga que estou em uma reunião com um investidor. — Me viro para Bruna, o vestido girando junto com o meu corpo. — Como eu estou? Pareço uma responsável jovem dona de um projeto brilhante e sustentável?

— Deixa eu pensar... — Bruna bate com os dedos no queixo, me olhando de cima a baixo. — Parece uma responsável jovem dona de um projeto brilhante e sustentável que precisa passar um rímel e um gloss pelo menos.

Minha prima sai delicadamente da cama para não acordar Arthur e faz sinal para que eu me sente na minha própria cama. Em seguida, pega sua maleta enorme de maquiagem e se senta ao meu lado, começando a passar uma quantidade infinita de produtos no meu rosto. Sinto como se Bruna estivesse me transformando numa outra pessoa com a fumaça dos pós e com as três cores de batom que ela passa na minha boca, mas ela não deixa que eu olhe no espelho até acabar tudo.

Para finalizar, Bruna ainda modela meus cachos rapidamente e faz duas tranças finas nas laterais do meu cabelo, puxando-as para trás da minha cabeça e unindo-as com um lacinho delicado. Depois, ainda insiste em me dar uma das bolsas dela para usar e me faz trocar os tênis que eu estava calçando pelo par de sapatilhas pretas que ganhei de presente de tia Célia no último natal.

Finalmente minha prima me deixa olhar no espelho e preciso admitir que estou bem mais apresentável agora, em meu vestidinho vermelho rodado com estampas de pequenas flores brancas. Fazia algum tempo que eu me sentia tão bonita assim e o sentimento é tanto que tenho vontade até mesmo de tirar algumas fotos.

Pego meu celular de cima da cama e desbloqueio a tela, quase caindo para trás quando vejo três chamadas não atendidas de Danilo e algumas mensagens dele dizendo que já está me esperando há algumas quadras da minha casa.

— Ai, droga! — Enfio documentos, chaves e algum dinheiro na bolsa minúscula de Bruna e saio correndo porta a fora.

Passo por tia Célia e João feito um furacão, como de costume, e me coloco a correr rua abaixo. Em algum momento da minha vida vou ter que aprender a chegar na hora para os meus compromissos, porque desta vez a correria foi tanta que sequer passei perfume. Droga! Como eu esqueço do perfume? E se alguém me abraçar?

Avisto o carro de Danilo parado sob uma árvore. Ele está do lado de fora, encostado na lataria enquanto digita algo no celular. Pela primeira vez desde que nos conhecemos ele não está vestindo um terno chique que custa mais do que minha vida. Hoje, Danilo parece mais despojado em jeans azuis e camiseta branca, além de um par de óculos escuros que ficaram muito bem nele. Ele não parece irritado pelo menos, o que quer dizer muito se tratando dele.

Me aproximo, ensaiando desculpas mentalmente, mas Danilo ergue o rosto para me encarar antes que eu consiga sequer dizer um "olá, me atrasei porque estava passando batom!". Arrisco um sorriso, sem saber o que falar e nem onde enfiar minhas mãos. Para piorar minha situação, ele tira os óculos, me olhando das sapatilhas até os meus fios de cabelo frizzados pela correria.

— O que foi? — Pergunto, entrando gradativamente em pânico.

Danilo tinha dito que queria que eu fosse eu mesma o tempo inteiro, porque são de pessoas como eu que o avô dele gosta. No entanto, sob o olhar dele, começo a duvidar sobre eu estar eu mesma o suficiente.

— Pelo amor de Deus, o que foi? — Insisto quando Danilo não fala nada. — Quer que eu troque de roupa? Levo só uns minutos, se você...

— Não precisa. — Ele diz depois do que parece uma eternidade. — Você está perfeita assim, Leila.

— Perfeita? — A palavra me escapa num sussurro incerto.

Danilo sorri e abre a porta do carro para que eu entre.

— Perfeita. — Ele repete.

E mesmo não querendo, me vejo acreditando nele.

Oi, gente! Quase no fim do domingo, mas ainda é domingo, portanto posso considerar que estou dentro do prazo (?). Me deem essa colher de chá, vai, eu tive que estudar o dia todo :(
Ah, devo dizer também que me atrasei porque tentei fazer umas montagens legais para as mensagens de texto trocadas no capítulo anterior, mas não consegui, pelo menos não do jeito que eu tinha imaginado. Quando eu tiver um tempo, vou tentar fazer algo legal de novo.

Ah, eu espero bastante que vocês estejam gostando. Sou muito grata por cada leitura, por cada voto e por toda confiança.

Nos vemos no domingo que vem!

Bjx,

Thaly :)

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