Se a gente se casar domingo?

By thalytamartiins

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Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... More

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 13 - Danilo

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By thalytamartiins

Fazia algum tempo que eu não dormia tão bem quanto na noite passada. Nem sequer vi quando Sansão entrou no meu quarto e se aninhou no cobertor aos pés da minha cama, e isso considerando que ele gane como se estivesse morrendo todas as noites para que eu o pegue no colo e o coloque no colchão. Já tentei de tudo para que ele durma na própria cama, mas Sansão se recusa, e se eu tranco a porta, ele chora a noite inteira até que eu o coloque para dentro.

Sansão é uma das razões pelas quais nunca trouxe uma mulher para casa e porque fiquei apreensivo quando Leila me perguntou sobre como seria a relação dos dois. Serão cerca de seis meses, talvez menos se os trâmites da substituição da presidência correrem tão bem quanto eu espero, e nesse meio tempo haverá uma segunda pessoa nessa casa, dormindo no quarto de frente para o meu e convivendo com Sansão e eu. Sinceramente não sei como ele vai reagir a essa novidade.

Sendo bem honesto, fiquei um pouco preocupado com Leila morando aqui, embora não tenha deixado nem ela e nem Tales perceberem. Leila tem o gênio mais forte do que eu pensava e não se policia muito ao dizer as coisas, além de ser bastante irredutível quando quer. Enquanto ela colocava um defeito atrás do outro no contrato, eu só conseguia imaginá-la andando pela minha casa e torcendo o nariz para tudo. Entretanto, quando ela disse noite passada que estava disposta a fazer de tudo para que nosso acordo desse certo, esse peso foi tirado das minhas costas e eu pude me sentir mais leve com a nossa situação.

Fiquei tão aliviado que no caminho até a casa dela achei que estava sozinho no carro, precisando olhar algumas vezes para o banco do carona para ter certeza que ela continuava ali. Leila parece gostar de silêncio tanto quanto eu e nem as músicas que coloquei para tocar a fizeram abrir a boca no trajeto, que demorou mais do que eu previa, porque infelizmente para mim, Leila mora praticamente no fim do mundo.

A deixei algumas ruas antes da própria casa. Segundo ela, a família iria lhe encher de perguntas se a visse descendo do meu carro. No fim, Leila tinha total razão, pois assim que ela começou a subir a rua, vi olhos curiosos demais olhando para o carro. Entendi na hora que não é só com a imprensa que devemos ter cuidado, as pessoas também levam e trazem notícias, fazem isso tão bem quanto os jornalistas, e o pior é que não dá para comprar todas elas como faço com alguns fotógrafos que tiram fotos comprometedoras minhas.

Fora aquilo, passar algum tempo na companhia de Leila não foi tão ruim. Até comi espetinho de carne de terceira na rua, coisa que eu não fazia desde moleque, quando meu pai ainda estava vivo. O cheiro daquele negócio, o gosto, a textura... Tudo me fez lembrar do passado, de como ele gostava de comer porcaria na rua, assim como meu avô.

Tenho poucas lembranças do meu pai, eu era muito pequeno quando ele adoeceu e acabou falecendo. Tudo que consigo puxar na memória são imagens meio borradas dele vestindo uma camisa do Palmeiras, ensinando Marcos e eu a jogar futebol no quintal de casa ou dando banho no cachorro que tínhamos quando criança. Me lembro vagamente dos finais de semana na casa do meu avô, do cheiro de comida caseira e da grama molhada; dos sons de risadas e das conversas animadas. Essas coisas soam como um filme antigo para mim, desbotado e inconstante, e às vezes me pergunto se vivi mesmo tudo aquilo ou se apenas criei essas imagens na minha cabeça para amenizar a saudade que sinto do meu pai.

É doloroso pensar em pessoas que não estão mais entre nós, por isso evito as memórias como posso, e por isso também evito minha família como posso. Ou pelo menos evitava, porque meu avô tanto fez que agora vou até me casar.

— Ouviu isso, Sansão? Eu vou me casar! — Digo para meu cachorro.

Sansão levanta a cabeça e me olha do seu ninho aos pés da cama. Ele deve estar estranhando eu ainda estar deitado tão tarde em pleno sábado. A uma hora dessas em um dia normal eu já teria saído de casa, passeado com Sansão pela quadra, feito compras no mercado — porque minha geladeira está em situação precária — e regado todas as minhas plantas, mas não estou nem um pouco disposto a fazer nada o dia todo hoje.

Rolo no colchão e pego meu celular para ter certeza das horas, apesar de perceber pela claridade no quarto que o sol já está alto. São 11h32min, quase hora do almoço. Só de pensar em comida sinto minha barriga roncar um pouco e me lembro de Leila aborrecida quando eu disse que ela teria que se responsabilizar se eu passasse mal. Sorte dela por eu ter acordado muito bem hoje, porque senão eu a faria mesmo sair daquele fim de mundo para me comprar um remédio. Está no contrato que temos que zelar pela saúde um do outro, estando vedada a agressão verbal e física.

Checo meus e-mails rapidamente, encontrando o e-mail de Tales informando que realizou a transferência do valor inicial do investimento e que eu preciso assinar alguns documentos com relação a isso. Me sento na cama, olhando atentamente para o valor transferido de uma conta pessoal minha. Nem é muito dinheiro, mas significou tanto para Leila, que alguma coisa dentro de mim se agita. Desde ontem me pergunto o quão desesperada ela estava para ter cruzado a cidade e ter ido me encontrar mesmo depois de ter rejeitado tão veementemente minha proposta.

Balanço minha cabeça para expulsar o pensamento e jogo o celular entre os cobertores. Não importa, não é da minha conta. Ela assinou um contrato, me deu sua palavra de que faria sua parte para que nosso casamento soasse o mais convincente possível e agora sou sócio da empresa dela. Estando curioso ou não sobre os motivos dela, o que fizemos são negócios, apenas negócios.

Um vulto baixinho e caloroso passa quase voando pelo corredor. Segundos depois ela volta e coloca a cabeça para dentro do meu quarto, com os olhinhos pequenos brilhantes feito bolas de gude.

— Ah, você já acordou!

Fico de pé com um sorriso enorme no rosto e corro para abraçá-la, tirando seus pés do chão.

— Menino! — Carmen ralha, me dando tapinhas nas costas. — Me coloca no chão, menino!

Eu a obedeço, pousando-a devagar em terra firme. Minha antiga-atual-eterna babá detesta que eu faça isso, ela sempre me bate e me belisca quando eu a giro no ar, mas é mais forte do que eu o impulso de abraçá-la com toda minha força. Se não fosse por essa mulher, eu não seria metade do homem que sou hoje.

— Por que está aqui hoje?

— Sua mãe me pediu para vir. Ela anda preocupada com você. — Carmen enlaça o braço no meu e começa a me arrastar para a sala. Sinto o cheiro de comida ainda no corredor e meu estômago volta a roncar.

— Juro que não entendi até agora a preocupação dela. — Me faço de desentendido, já podendo imaginar perfeitamente o diálogo que Carmen deve ter tido com minha mãe ao telefone.

— Ela disse umas coisas estranhas sobre você se casar. — Carmen deixa escapar uma risadinha. — Eu falei que nunca nem sequer vi mulher nenhuma aqui!

Começo a rir com ela. Minha mãe ainda vai enlouquecer todo mundo ao meu redor com essa obsessão por querer descobrir as coisas antes da hora. Pelo menos isso acaba amanhã, quando eu chegar com Leila de surpresa na casa do meu avô.

— Não sei de onde sua mãe tirou isso de você se casar... — Carmen tira o braço do meu e apressa o passo até a cozinha.

Ela é uma mulher de mais de 60 anos, mas é mais ágil do que eu que tenho a metade da sua idade. Carmen tem mais cabelos brancos do que pretos agora, algumas rugas se acumulando ao redor dos olhos e na pele queimada de sol, no entanto quando olho para ela circulando por uma cozinha, para preparar alguma coisa para eu comer, é como se não tivesse se passado um ano sequer desde que ela chegou na minha casa pela primeira vez dizendo que cuidaria de Marcos e eu para que minha mãe pudesse trabalhar de novo no escritório de advocacia dela.

Me sento numa das banquetas do balcão de mármore branco da cozinha e apoio meu rosto nas mãos para observá-la andando de um lado para o outro, enquanto corta cenouras em cubinhos e coloca mais água na comida.

— Faz tempo que vi Larissa, o que ela anda fazendo?

Carmen me olha ameaçadoramente por cima do ombro.

— Deixe minha menina em paz! — Ela avisa e eu sei que está falando sério.

Larissa é a filha mais nova de Carmen, ela e eu nos conhecemos desde criança, porque Carmen às vezes tinha que levá-la consigo para o trabalho. Perturbei Larissa minha adolescência inteira, mas ela nunca me deu um beijinho sequer. Ela sempre foi muito inteligente para ficar com um Danilo adolescente e mais irresponsável do que costumo ser hoje em dia.

— E os meninos de Vitor, como estão? Da última vez que conversamos, ele me disse que Andrezinho tinha que fazer uma cirurgia, né?

Carmen se vira para mim, apoiando-se na pia pesadamente. Os netos se tornaram o ponto fraco dela. Desde que os gêmeos de Vitor nasceram, Carmen vive preocupada. Os meninos têm um problema no coração, alguma coisa sobre uma artéria não funcionar como deveria. Eles já passaram por várias cirurgias, mas parece que nunca tem fim. Vovô fez questão de pagar pelo tratamento dos meninos, só que quando se trata de doença, apenas dinheiro não resolve tudo.

— É daqui há um mês a cirurgia. — Ela suspira, deixando transparecer o quanto está aflita. — O médico vai tentar pôr uma válvula nova no coração dele.

— Maria Vitória vai precisar fazer isso também?

— Ela, não. A última cirurgia deu certo, graças a Deus. Agora só André mesmo.

— Ele vai ficar bem também, Carmen. E qualquer coisa que precisarem, a senhora ou Vitor podem me ligar, vocês sabem. Sei que ele fica sem graça de falar comigo ou com vovô.

— Ah, Danilo, seu avô já gastou tanto com os meninos, eu mesma não tenho nem cara para pedir nada para ele.

Balanço a cabeça em reprovação. Dinheiro é o mínimo que eu e minha família podemos fazer por Carmen depois de tudo que ela teve que suportar quando meu pai adoeceu. Para mim, ela sempre vai ser da família, como uma segunda mãe, mais confiável e mais amorosa do que minha própria mãe, no entanto ela e Vitor têm essa mania de achar que estamos fazendo demais por eles, quando não fazemos mais que nossa obrigação.

— Não vou discutir com a senhora sobre isso de novo. Vou ficar bravo se vocês precisarem de algo e não me ligarem. A senhora sabe que eu só finjo que trabalho, tenho tempo para ajudar no que precisarem.

Ela ri um pouquinho, desfazendo, nem que seja por uns míseros segundos, a expressão de avó preocupada. Carmen se concentra de novo no fogão, mexendo nas panelas fervendo. Sinto o cheiro do picadinho de carne com batata que só ela sabe fazer. O que eu posso fazer se eu adoro ser mimado por essa mulher?

— Vai pelo menos escovar os dentes para comer, anda!

— Só vou porque a senhora mandou!

Pulo da banqueta, correndo como uma criança pela casa até o banheiro. Sansão, que ainda estava dormindo nos cobertores no chão do quarto, apenas abre os olhinhos sonolentos quando passo, não me dando um pingo de atenção. Carmen já deve ter o enchido de ração, por isso esse interesseiro está me ignorando.

De banho tomado e com o celular na mão, porque lembrei que preciso ligar para Tales para ver a situação dos documentos que preciso assinar, volto para a cozinha. Dessa vez Sansão se arrasta atrás de mim, com tanta preguiça, que acho que ele vai cair no sono enquanto anda.

Carmen me serve um pouco de carne com arroz assim que me sento de novo numa das banquetas. Não perco um segundo antes de atacar meu prato. A comida de Carmen sempre me dá vontade de chorar de alegria quando eu a como.

A tela do meu celular se ilumina sobre o balcão, e pelo canto do olho vejo que é uma mensagem de Leila. Leila? Franzo a testa ao ver o nome dela, tentando me lembrar se combinamos alguma coisa hoje, mesmo tendo quase certeza que não.

Levo a mão ao aparelho, mas Carmen me impede, me dando um tapa ardido no braço.

— Come primeiro. — Diz ela, e então espia a tela do celular. — Leila E. M. pode esperar.

Seguro a mão gordinha de Carmen e levo aos lábios carinhosamente.

— Ela não pode esperar, não.

Abro a mensagem, que não tem mais que duas linhas, dizendo:

"Bom dia! Recebi a primeira parte do investimento. Os detalhes dos trâmites estão com Dr. Tales, mas se precisar de alguma documentação extra, me contate no e-mail em anexo".

Mal acabo de ler quando chega uma segunda mensagem:

"Dr. Tales pediu para avisar que estará indisponível hoje, por isso encaminhei o e-mail. Desculpe se eu estiver incomodando".

Bufo, abrindo o teclado para respondê-la. Olho para as letras, com os dedos apenas esperando que eu tenha alguma ideia do que escrever, mas nem mesmo o tradicional "ok" que uso para qualquer coisa me parece o suficiente.

— Coisa ruim, é? — Carmen especula.

Encaro o celular por mais uns segundos antes de desistir de escrever qualquer resposta e voltar a comer.

— Não, imagina.

Carmen não pergunta mais nada, me deixando quieto para comer o quanto quero. Contudo, a atitude dela me incomoda. Ela sabe que quando estou irritado ou frustrado com algo, a melhor atitude é sempre me deixar em paz, para que eu pense até me acalmar ou solucionar o que está me incomodando. Mas não tem nada me incomodando. Mesmo. Não há motivos para Carmen não estar falando comigo sobre um assunto aleatório.

Encosto o prato e ergo os olhos para ela, que se afasta um pouquinho do balcão.

— A senhora quer saber quem é Leila?

Carmen pigarreia, levantando-se da banqueta. Ela não gosta muito de saber dos meus "rolos", porque minha mãe a enche o saco depois para lhe contar tudo o que sabe sobre mim.

— Ele resolveu levantar, é? — Carmen foge do assunto, apontando para Sansão que se aninha aos meus pés.

— Olha só para a senhora desconversando, hein!

— Não é isso, menino! — Ela enruga a testa e se abaixa para fazer carinho em Sansão. — Ele ficou deitado o tempo todo, nem quis a ração que eu coloquei mais cedo

Largo o prato de vez. Sansão rejeitando ração é estranho, dormindo o tempo inteiro com Carmen zanzando pela casa é mais estranho ainda. Ele a adora, fica atrás dela para cima e para baixo quando ela está aqui e nem lembra da minha existência.

Me ajoelho diante dele, colocando a mão em sua barriga. Sansão geme baixinho quando pressiono os dedos de leve, num indício claro de que está com dor.

— Liga para o veterinário para mim, Carmen? O número está na porta da geladeira. — Peço à ela, que se apressa para ir buscar o número.

Pego Sansão no colo e o levo até seu colchão na área de serviço. Ele é um fominha que come qualquer porcaria que acha pela frente, por isso tenho que tomar cuidado com tudo, desde pequenos objetos até restos de comida. Carmen também tem muito cuidado com as coisas por causa desse meu "bebê" esfomeado, mas minha mãe esteve em casa na quinta-feira, cozinhando ainda por cima, então pode ter deixado alguma coisa fora do lugar, dando uma oportunidade perfeita para Sansão comer e ficar doente. E conhecendo meu cachorro como conheço, o que quer que seja que ele engoliu, os vestígios estão em sua cama.

Estou para ligar para minha mãe e falar umas poucas e boas quando vejo que a culpa do mal estar de Sansão é toda minha. Ou quase.

Há papel pardo rasgado e pedaços quebrados de espetinho por toda a cama de Sansão. Me lembro de ter deixado o pacote sobre a mesa da cozinha antes de tomar banho e me deitar. Eu deveria ter comido aquilo ontem, guardado num lugar seguro ou descartado direito no lixo, mas não, simplesmente esqueci o bendito espetinho em qualquer canto, sabendo que a coisa mais fácil para esse cachorro é puxar a toalha da mesa e comer o que quer que estiver sobre ela.

— Danilo, o veterinário quer saber se você sabe se Sansão comeu alguma coisa estranha. — Carmen diz da cozinha.

— Fala que ele comeu dois espetinhos de carne bem gordurosa ontem.

Volto para a cozinha ainda com Sansão nos braços. Pego meu celular com uma das mãos e abro novamente a conversa com Leila. Agora tenho algo para escrever e espero que ela tenha decorado bem as cláusulas do contrato, como decorou os trâmites burocráticos do investimento.

"Ei, Leila, eu não estava brincando ontem quando disse que você iria ter que se responsabilizar se aquele churrasquinho me fizesse mal".

A resposta dela vem um segundo depois:

"De jeito nenhum que vou sair daqui para ir te comprar remédio. Ligue para uma farmácia e diga que está com dor de barriga."

— Danilo, o veterinário quer ver o Sansão. Você pode levá-lo na clínica daqui a meia hora? — Carmen pergunta com o telefone na orelha.

— Posso, sim. Diz que já estou a caminho, por favor.

Ouço Carmen transmitindo minha mensagem ao veterinário e depois vir correndo ao socorro de Sansão, que só geme no meu colo, com a barriga emitindo sons cada vez mais altos.

Meu celular vibra com mais uma mensagem de Leila, agora surpreendentemente mais preocupada:

"Quer me contar o que você está sentindo? Minha prima está cursando enfermagem, pode ser que ajude se eu falar com ela."

Tiro uma foto de Sansão de barriga para cima e envio para ela com a legenda:

"Ele comeu os espetinhos que eu trouxe para casa e agora está assim. O que você vai fazer a respeito?"

Entrego Sansão para Carmen e me adianto até o quarto para vestir pelo menos uma camiseta antes de sair.

Estou com as chaves do carro na mão e pronto para correr com meu cachorro para o veterinário quando meu celular vibra de novo.

"Acho que não tenho seu endereço, mas se você me passar chego aí num instante (ou o mais rápido que o trânsito permitir)."

Nem consigo acreditar na cara de pau dessa mulher, que tem mais consideração pelo meu cachorro, que ela nem conhece, do que por mim.

— Que descarada! — Xingo alto demais.

— Danilo? — Carmen me encara com as sobrancelhas arqueadas.

— Não é com a senhora, Carmen, desculpe. — Me explico, digitando rapidamente no celular uma última mensagem para Leila.

"Não precisa, já estou a caminho do veterinário. Mas vou guardar o recibo da consulta para te cobrar no futuro, já que agora você é uma empresária prestes a alçar o sucesso."

Carmen me entrega a caixinha com Sansão. Eu o espio deitado lá dentro e sinto um aperto no peito em vê-lo naquela situação por um descuido meu.

— Cuidado enquanto dirige. Deixa o celular num canto, não fique digitando nada no volante! — Carmen resmunga. Eu apenas sorrio para ela e faço um sinal de positivo, para que ela saiba que vou tomar cuidado, e então passo correndo pela porta.

Já dentro do elevador, meu celular vibra no bolso com uma mensagem recebida. Leila.

"Me dê notícias do Sansão. Se precisar de mim, me ligue."

Guardo o celular sem ter mais nada a dizer, apesar de ter a leve impressão que de eu deveria responder essa mensagem com mais alguma coisa.

Meu celular volta a vibrar e eu o pego do bolso com um sorriso curvando os cantos da minha boca para cima. Já posso até imaginar a mensagem dela: "Ah, e me desculpe por alguma coisa". Leila, tão previs...

Meu sorriso se desmancha ao ver de quem é a mensagem.

Deslizo o dedo pela barra de tarefas e leio o conteúdo por ali mesmo, para não precisar abrir a mensagem e, consequentemente, ter que respondê-la.

De: Simone Lisboa

"O que vamos fazer hoje à noite? 3:)"

Meu Deus, que saco! Será que ela faria da minha vida um inferno como Marcela fez se eu a bloqueasse?

Por via das dúvidas, resolvo arriscar.

Simone Lisboa: bloqueada.

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