Se a gente se casar domingo?

By thalytamartiins

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Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... More

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 12 - Leila

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By thalytamartiins

Minha mão treme tanto ao deslizar a caneta chique de Dr. Danilo... não, de Danilo, pelo papel, que as curvas das letras cursivas parecem uma obra de arte de Arthurzinho. Olho para minha assinatura nas três vias do contrato e enrugo o nariz em reprovação. O contrato da minha vida com a letra mais feia da minha vida. É realmente a minha cara!

Pelo menos agora tenho um trabalho e eu irei receber muito bem por ele. Seis meses passam rápido e não é como se eu precisasse ser próxima de Danilo longe dos olhos das pessoas. E tem o velho também, coitado, que está para morrer sem ver o neto se casar. Apesar de não ter me dado muito bem com Danilo de cara, entendo o lado dele, pois sei perfeitamente o que é fazer sacrifícios por quem a gente ama. No fim, estou fazendo tudo isso por uma boa causa e meus pais sequer ficarão sabendo. É perfeito!

Entretanto, mesmo estando ciente de tudo isso, ainda continuo com um frio na barriga quando Dr. Tales termina suas assinaturas como testemunha e confere pela última vez as cláusulas em Times New Roman, tamanho 12.

Ele me dá uma cópia do contrato e entrega outra para Danilo. A terceira via será registrada e arquivada, tudo conforme a lei, segundo ele. Não entendo muito dessas coisas, mas qualquer leigo sabe que uma assinatura num papel no Brasil vale muita coisa. Mesmo sendo podre de rico e podendo me dar um chá de sumiço se eu fizer qualquer gracinha, Danilo tem uma imagem a zelar e pode perder tanto quanto eu. Então ambos, ele e eu, temos que dar nosso melhor para fazer isso funcionar bem.

Danilo guarda a sua via do contrato numa gaveta com chave. Isso me faz pensar que preciso de algum lugar seguro para por isso até eu me mudar para a casa dele, porque Madu e Jonas fuçam tudo na E. M., e na casa da minha tia os meninos reviram até as gavetas de calcinhas do guarda-roupas que divido com Bruna.

— Não se esqueça de me passar a conta da empresa para que eu deposite o investimento, Leila. — Dr. Tales diz aquilo pela terceira vez e eu me forço a abrir um sorriso nervoso.

— Amanhã bem cedo envio tudo para o seu e-mail.

Combinamos que o investimento seria feito de forma anônima, porque meus amigos iriam acabar desconfiando se Danilo fosse nosso investidor e meu marido também. Vai ser difícil convencê-los de que estou me casando por amor, mas se eu não tentar comprá-los com minhas mentiras, eles vão acabar descobrindo a verdade de algum jeito.

Jonas é preocupado demais e Madu me liga o dia todo. A família da minha tia está acostumada a não me ver todos os dias e pode até acreditar que consegui um investidor e que pretendo morar sozinha, só que ao contrário deles, Jonas e Madu jamais acreditariam nessa história. Eles me seguiriam, bisbilhotariam e encheriam meu saco até que eu confessasse estar casada. Então é melhor dizer uma meia verdade e pedir para que me ajudem a manter essa informação longe dos meus pais e da minha tia por um tempo, do que me atolar em mentiras e mais mentiras.

— A partir de agora somos sócios, Leila. — Danilo estende a mão para mim. — Espero que possamos nos entender bem.

Limpo discretamente o suor da minha palma e aperto a mão dele. Evito olhá-lo nos olhos, porque desde que me vi prestes a assinar esse bendito contrato há um nó na minha garganta que ameaça me fazer chorar todas as vezes que nossos olhares se cruzam.

— Eu também espero. — Digo, e estou sendo sincera. Vim até aqui atrás disso, não me permito me arrepender agora.

Mas esse maldito frio na barriga...

Recolho minha mão e dou alguns passos para trás, batendo a lateral do meu corpo no sofá.

— Acho que vou indo, já está ficando tarde e é melhor eu ir. Para casa, sabe? Minha casa. — Me atrapalho toda ao falar. Essa história de morar na casa de Danilo pelos próximos seis meses me deixou nervosa e confusa. Ele tem uma fama horrível com as mulheres, não é o tipo de pessoa com quem eu dividiria um teto jamais se eu tivesse outra opção.

Pego minha mochila do sofá e enfio o contrato no bolso maior. Até que eu tenha onde guardar essa coisa, vou dormir abraçada à minha mochila para evitar que alguém leia isso e estrague meus planos.

— As horas voaram, hein? Já são quase oito da noite. — Dr. Tales comenta, olhando para o relógio de luxo no pulso. — Estou tão exausto, só queria dormir agora!

— Ei, não foi isso que combinamos! — Danilo reclama, mas não dou muita atenção.

São quase 20h00, droga! Terei muita sorte se eu conseguir um ônibus a uma hora dessas. Eu deveria ter sido mais cuidadosa e prestado mais atenção às horas, porque não tenho mais dinheiro para pegar um táxi e está fora de cogitação cruzar São Paulo a pé. Não sou maluca de andar sozinha à noite, prefiro dormir na portaria deste prédio até amanhã de manhã se necessário.

Com a mochila nas costas e sem mais nada para fazer aqui, estou pronta para dar o fora, quando Dr. Tales diz meu nome, me atraindo de volta para a conversa:

— Leila pode ir com você.

— O quê? Eu posso? — Não faço ideia do que eles estavam falando, mas tenho certeza de que não posso, não.

— Pode. — Ele sorri, satisfeito. — Danilo quer beber e eu prefiro minha cama. Você é a noiva dele agora, pode muito bem fazer isso por mim, não pode?

Lanço um olhar apavorado para Danilo e torço para que ele diga que não posso fazer isso e que quer ir dormir também. Pelo amor de Deus, é sexta-feira, acabamos de fazer uma coisa complicada, a única coisa que eu quero é ir embora e usar o tempo em que transito pela cidade num ônibus para pensar um pouco.

— Ah... Eu bebi ontem, acho melhor não fazer isso hoje de novo. — Dou a minha melhor e única desculpa.

— Qual é, Leila! Falando assim até parece que você não quer ficar sozinha com Danilo. — Dr. Tales deixa escapar uma risada e eu acabo me vendo rindo também, porém é por puro desespero.

A verdade é que não quero mesmo ficar sozinha com Danilo, pelo menos não hoje. Teremos que conviver por seis meses todos os dias, começando por domingo, que é quando conhecerei a família dele, então eu quero, no mínimo, aproveitar minhas últimas horas de liberdade longe desse homem.

— Está tarde. — Danilo diz por fim, me olhando todo pensativo. — Você deve estar com fome e não vai conseguir ônibus a essa hora. Vamos comer alguma coisa e depois eu te levo em casa.

— Ah, não se preocupe. Eu... eu...

Dr. Tales e Danilo inclinam as cabeças em minha direção e eu perco a capacidade de fala momentaneamente. Não consigo encontrar palavras para dispensar a companhia de Danilo sem ser grosseira, e meio que ele tem razão sobre tudo, inclusive sobre eu estar faminta. Desde que acordei não comi nada e as possibilidades de eu achar um ônibus que me leve o mais próximo de casa são baixíssimas.

— Você faria isso mesmo? Não quero atrapalhar.

— Vamos antes que fique mais tarde ainda! — Danilo pega o blazer das costas da cadeira e faz sinal para Dr. Tales e eu sairmos da sala, ignorando o quanto estou sem jeito por ter que aceitar sua carona.

Eu me dou um segundo para respirar antes de segui-los para fora. Meus ombros estão doendo de tensão e ainda sinto o estômago dolorido por causa da cerveja de ontem — ou seria porque estou nervosa demais? —, e eu estou cada vez mais certa de que não deveria beber daquele jeito em um dia de semana. Já sou fraca para essas coisas e ainda sob essas circunstâncias... Sim, eu devia estar maluca ontem. E hoje também.

A não ser por nós três e pelos seguranças, o prédio está completamente deserto a essa hora da noite e até nossa respiração ecoa alto demais no elevador. Ninguém diz uma mísera palavra no trajeto entre o último andar e o estacionamento subterrâneo da Eco Habitação. Nem mesmo Dr. Tales, que estava tentando amenizar os nossos ânimos até bem pouco tempo atrás, se arrisca a falar, o que para mim é um alívio e tanto.

Procuro ocupar minha cabeça contando coisas inúteis durante o caminho, como as lixeiras coloridas e as luzes de led de baixo consumo elétrico, até finalmente estarmos diante de um carro preto tão lustroso, que me sinto imunda perto dele. Reconheço o símbolo da BMW no capô e eu posso chutar que só as rodas desse carrão pagariam o investimento inicial da E. M. brincando.

Danilo destrava o alarme do carro e abre a porta do motorista, jogando o blazer no banco de trás. Fico abismada que até o som do alarme soa diferente. Gente rica é uma coisa bem interessante.

— É sério mesmo que você prefere ficar sozinho numa sexta-feira ao invés de sair com um amigo, Tales?

— Prefiro, sim. Os trâmites da substituição do seu av... — Dr. Tales se interrompe de súbito, provavelmente percebendo que estava quase dizendo algo que eu não deveria ouvir. — Enfim, eu tive trabalho demais durante a semana. E no mais, vocês dois precisam conversar à sós.

Danilo e eu trocamos um olhar desconfortável e nos limitamos a não comentar nada a respeito. Que precisamos conversar e nos entender é um fato, só não estamos dispostos a fazer isso esta noite. Tudo bem que Danilo me chamou para comer algo e se ofereceu para me levar para casa, mas foi por educação e não porque ele quer minha companhia, e eu aceitei mais ou menos tudo isso por não ter outra opção. Para mim está muito claro que não estamos minimamente inclinados a manter qualquer diálogo, apenas Dr. Tales não percebeu isso.

— Meu carro está do lado de lá — Dr. Tales indica um canto afastado do estacionamento quase vazio. — Boa noite para vocês dois!

Ele se distancia antes mesmo de nos ouvir dizer "boa noite", quase como se estivesse correndo da nossa presença, o que é totalmente compreensível, tendo em vista que Danilo e eu estamos sendo duas pessoas bastante desagradáveis desde mais cedo.

— Você vem? — Danilo me chama, já se sentando no banco do motorista.

Ele destrava a porta do carona e eu entro, me acomodando no banco de couro, que por sinal é mais confortável do que o colchão em que eu durmo. Estico a mão para fechar a porta, mas acabo a batendo com um pouco mais de força do que o necessário, fazendo um som terrível ecoar dentro do carro. Nem ouso olhar para Danilo, homens no geral detestam que batam as portas dos carros, homens ricos com carros importados não devem ser muito diferentes.

— O cinto. — Ele alerta ao dar a partida.

Coloco minha mochila no colo e me acomodo melhor no banco, puxando o cinto de segurança e o prendendo contra o corpo. Danilo arranca com o carro sem dizer mais nada e não sei se devo agradecer por isso ou ficar ainda mais nervosa, porque o silêncio dele pode muito bem significar que ele está irritadíssimo com a minha presença.

Já estamos andando há uns dez minutos e desde que me sentei estou sentindo alguma coisa pressionando minha lombar; alguma coisa flexível e áspera o bastante para me incomodar, não importa o quanto eu me mexa no banco. Tentei ignorar isso o quanto pude, mas estou ficando com uma dorzinha aguda por causa do que quer que esteja cutucando minha coluna.

Danilo me olha umas duas vezes de soslaio antes de perguntar:

— Alguma coisa errada aí?

— Tem alguma coisa enfiada no banco aqui... — Arregalo os olhos quando meus dedos se fecham ao redor de uma superfície emborrachada, comprida e consideravelmente circular numa das extremidades.

Até onde eu pesquisei na internet, Danilo é um pervertido que dorme com uma mulher diferente a cada dia da semana e eu sei bem que para dormir com alguém não precisa necessariamente ser numa cama, carros também servem, então...

Desisto imediatamente de tentar tirar aquele negócio do banco. Não estou muito interessada nos brinquedos escondidos nesse carro, de qualquer forma.

— Quer que eu pare o carro?

— Não é necessário, não incomoda tanto.

— Você está toda torta no banco, Leila. — Ele liga a seta e reduz a velocidade.

Fico ainda mais apavorada. É constrangedor demais até para mim, que sou experiente em passar vergonha.

— Não para! Por favor, não para!

Levo minha mão novamente no espaço entre minhas costas e o banco e arranco o brinquedo de uma vez, disposta a jogá-lo no banco de trás e evitar ainda mais constrangimento. No entanto, acabo apertando a borracha com força demais e o negócio emite um barulho semelhante ao de um bichinho de criança. Desde quando essas coisas fazem esse som?

Danilo acende a luz no interior do carro e eu consigo enxergar com exatidão o que está em minhas mãos. Ele estende o braço e pega a coisa de mim, balançando a cabeça em reprovação.

— Desculpa, é do meu fi... — Ele pigarreia, colocando o brinquedo sobre o painel do carro. — Digo, do meu cachorro.

Eu observo o objeto sobre o painel e uma risada sobe a minha garganta. Meu Deus, o que eu estava pensando? É só um brinquedo de borracha em formato de osso. Por isso o comprimento e o formato meio circular da extremidade. Eu sou uma idiota! Uma completa idiota!

— O que foi? É engraçado que eu tenha um cachorro, é?

— Não, não é isso... — Respondo sem conseguir segurar minhas gargalhadas, que só aumentam. — É só que, sei lá... Esquece!

Danilo para num sinal e se vira para mim, as mãos apoiadas despreocupadamente no volante.

— Quer ver uma foto dele?

— De quem?

— Do Sansão, meu cachorro. — Danilo sorri largamente e percebo seus olhos brilhando ao falar do cachorro.

Faço que sim com a cabeça, não se impede um pai ou mãe de pet de falar sobre seu filho, é desumano quase. Ele tira o celular do bolso e procura uma foto na galeria. Imagino que pelo nome, Sansão seja um rottweiler ou qualquer outro cachorro de grande porte, contudo...

— Um pug! — Minha boca se abre em surpresa quando Danilo vira o celular para mim. — Ele é tão fofinho!

— Sansão é, sim. Olha isso! — Ele passa algumas fotos até chegar a uma imagem de Sansão vestindo uma fantasia de bombeiro, com capacete de segurança e tudo.

— Você quem vestiu isso nele?

— Era carnaval. — Danilo dá de ombros, sorrindo ainda mais.

O sinal abre e ele arranca o carro novamente. Os animais costumam despertar o melhor das pessoas e com Danilo não é diferente, pois ele continua sorrindo ao dirigir pelo trânsito caótico de São Paulo em plena sexta-feira, aliviando ao menos um pouco o clima ruim entre nós.

— Você acha que Sansão vai gostar de mim?

— Hum... — Danilo estala a língua e me lança um olhar rápido. — Ele não gosta de pessoas que falem muito alto e que lhe neguem um carinho. Se você falar com jeitinho e oferecer um chinelo, é possível que vocês façam amizade.

Antes que eu possa controlar meus pensamentos, me vejo criando uma imagem de Danilo com o cachorro no colo, acariciando as orelhinhas dele com todo o cuidado do mundo. É uma imagem divertida e quase inacreditável, porque Danilo é um homem grande e forte, além de ser meio ríspido e bastante dissimulado, logo imaginá-lo todo bobo por um pug gordinho é bem incomum para a ideia que eu tinha dele como pessoa até minutos atrás.

— O que você quer comer?

Pisco algumas vezes, caindo na real de que esse era um dos motivos pelos quais estamos sentados lado a lado nesse carro. Me afundo um pouco no banco, insegura. Danilo é um homem tão elegante, deve gostar daqueles restaurantes caros com vinhos de R$50.000,00 e eu nem tenho roupa para frequentar um lugar desses.

— Pensei em comida japonesa, você gosta?

Meu estômago gira só de pensar no cheiro de peixe cru. Provei comida japonesa uma única vez para nunca mais fazer isso de novo.

— Conheço um restaurante japonês, que...

— Que tal aquilo? — Interrompo Danilo, apontando para uma barraquinha de churrasquinho de gato na rua.

— Você está brincando, né?

— De jeito nenhum! Sente o cheiro! — Eu inspiro profundamente para dar ênfase. — Minha boca encheu d'água. A sua não?

— Leila, comer isso no meio da rua não parece uma boa ideia. E se você passar mal? — Danilo argumenta, me dando a mais plena certeza que ele nunca deve ter parado na rua para comer um churrasquinho na vida.

— É o que minha avó sempre diz: o que não mata, engorda.

— Eu não quero morrer, muito menos engordar.

— Bom, ainda assim eu acho que vale a pena!

Ele suspira, considerando argumentar mais alguma coisa, mas desiste a tempo.

— Se é isso mesmo que você quer...

Danilo dá a seta no carro e reduz a velocidade, procurando por uma vaga para estacionar.

E eu? Eu não estava mentindo para não ter que comer comida japonesa quando disse que minha boca se encheu d'água com o cheiro de carne de terceira sendo assada na rua.

— Você e meu avô vão se entender bem. — Danilo comenta, me assistindo devorar o terceiro espetinho de churrasco com farofa pronta.

Tomo um gole do meu refrigerante para ajudar a descer a comida seca e me viro para ele.

— Por que você acha isso?

— Porque ele gosta de fugir às vezes para comer essas porcarias gordurosas.

Quase engasgo com a farofa.

— No estado dele? E vocês não fazem alguma coisa para impedi-lo?

Danilo passa o próprio churrasquinho na farofa e arrisca uma mordida depois de ter ficado por muito tempo só me olhando comer. Ele mastiga bem devagar, tão devagar que começo a ficar agoniada.

— Isso é bom! — Ele finalmente diz ao engolir a carne. E então come mais um pedaço.

— Claro que é bom.

— Porém, se eu passar mal por causa disso, você precisará se responsabilizar e cuidar de mim.

Começo a rir, cuspindo um pouco de farofa sem querer. Limpo a boca com as costas da mão e o encaro de cenho franzido.

— Eu sou sua noiva, não sua mãe!

— E noivas não podem cuidar dos noivos? — Ele me encara de volta, indignado. — Quão desalmada você é?

— O quão dramático você é?

Danilo dá de ombros e morde mais um pedaço do churrasquinho, mastigando a carne com mais gosto dessa vez. Olho de relance para a dona da barraquinha, que esteve nos observando o tempo todo, e até ela parece satisfeita em vê-lo comendo sem tanta cerimônia. Involuntariamente, fico feliz também. Primeiro por estar comendo algo que eu gosto e não precisar pagar por isso, e segundo por Danilo estar comendo comigo.

Ele poderia ter criado caso e se recusado a parar o carro quando sugeri o churrasquinho, mas parou, mesmo resmungando, e está fazendo esforço para experimentar coisas que fazem parte do meu mundo. É um gesto bem pequeno e eu sei que não devia estar tão animada, entretanto não consigo evitar enxergar isso como um sinal de que ele irá fazer sua parte para que nosso acordo dê certo.

Acho que era isso que eu precisava, que ele mostrasse de algum jeito que posso confiar nele, apesar das circunstâncias péssimas ao nosso redor.

— Danilo. — Digo, séria.

— O que foi? — Ele inclina um pouco a cabeça na minha direção, levemente preocupado com a mudança brusca no tom da minha voz.

— Eu só queria dizer que pode não parecer, mas eu sou muito grata por você ter aparecido do nada como a minha "melhor opção". Na verdade, você era a minha única opção e se depender de mim, eu não vou deixar nada, absolutamente nada mesmo dar errado.

Estou suando dentro das roupas quando acabo de falar. Nem a minha entrevista de emprego na Solar foi tão complicada quanto dizer essas verdades para Danilo. Mas eu precisava falar isso, precisava devolver o voto de confiança que ele me deu. É assim que as coisas funcionam e eu nunca vou me perdoar se estragar tudo.

— Você me pegou de surpresa — ele abre um sorriso sem graça. — Eu gostei disso. Gostei de ser sua "única opção", então.

Gostaria de ter mais alguma coisa para dizer e segurar nosso papo por mais algum tempo, porém minha mente entra em pane completa e eu fico muda, parada como uma árvore — uma árvore com as orelhas e bochechas queimando — diante de Danilo, sem saber o que fazer com as mãos ou para onde olhar.

Meu celular vibra no bolso de trás da calça e eu quase o derrubo na calçada, para variar. Deslizo o dedo pela tela e vejo a quinta mensagem de Bruna perguntando se deu tudo certo e se voltarei para casa ainda hoje, porque tia Célia está sozinha.

Tia Célia! Me esqueci completamente que Bruna tinha faculdade e que eu precisaria estar em casa umas duas horas atrás, para não deixar minha tia muito tempo apenas com os meninos.

— Será que nós podemos ir?

Danilo assente, tira algumas notas da carteira e paga pelo que comemos.

E então, deixando a mim e a dona da barraquinha boquiabertas, ele pede mais dois churrasquinhos para viagem antes de irmos embora.

Olá! Como vão vocês? ♥

Espero que estejam gostando da história! Muito obrigada por cada voto e cada comentário, é tudo muitíssimo importante pra mim.

Beijox,

Thaly :)

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