Se a gente se casar domingo?

By thalytamartiins

3.5K 1.2K 1.1K

Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... More

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Capítulo 48 - Leila
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 11 - Danilo

80 27 22
By thalytamartiins

Volta e meia eu tomo algumas boas decisões na vida, e decidir que eu iria trabalhar como um condenado nesta sexta-feira para evitar ficar com os olhos pregados no celular esperando uma ligação daquela desalmada foi uma boa decisão. Meus funcionários não gostaram disso, afinal eles estavam crentes de que iriam começar o final de semana mais cedo. É normal que eu os libere antes do horário na sexta, mas hoje eu sequer cogitei essa hipótese.

Desde que cheguei ao escritório, tenho disparado tarefas e mais tarefas, cobrando relatórios e reclamando de tudo. Da última vez que Alexandra veio me apresentar um projeto, que indiquei um milhão de correções, ela se limitou a jogar o tablet com a planta de um edifício de oito andares sobre a minha mesa e me mostrar o dedo do meio. Temos certa intimidade para que ela faça coisas do tipo, mas ainda assim fiquei surpreso com aquela reação. Acho que foi ali que eu me toquei que estava sendo um babaca o dia todo e decidi ligar para Tales para me distrair um pouco.

O chamei para tomar alguma coisa depois do expediente, até porque Andressa está trabalhando durante a noite essa semana e ele não deve ter nada melhor para fazer. Tales é o único amigo com quem posso conversar sobre o que está me incomodando, mesmo sabendo que ele vai me amaldiçoar até o fim dos meus dias por eu ter me metido nessa situação. Ontem, em vez de ter conversado abertamente com ele sobre meu encontro com Leila, eu apenas enviei uma mensagem depois que minha mãe foi embora da minha casa. Eu bem que esperava mais uma sessão de sermões, mas meu amigo me respondeu com uma série gigantesca de carinhas chorando de rir seguidas de um "bem feito!".

Sim, bem feito. Bem feito...

Bem feito porcaria nenhuma!

Estou batendo boca com Tales pelo celular e com a tela do notebook aberta no site da Electrical Measure quando Marcinha aponta a cabeça para dentro da minha sala.

— Dr., tem uma pessoa querendo falar com o senhor no telefone... — Marcinha hesita. Ela tem me evitado o dia todo e com razão.

— Mande ir para o inferno! — Digo para minha secretária antes que ela termine de falar.

Tales ri do outro lado da linha. O desgraçado está se divertindo muito às minhas custas e eu nem posso ficar com raiva dele por isso.

Não fique estressado assim porque uma mulher não caiu no seu papinho. Não é a primeira vez que isso acontece.

Marcinha silenciosamente deixa minha sala e eu me curvo sobre minha mesa, batendo a testa sobre o tampo. Está certo que até meia noite é sexta-feira, mas já estou mais do que convencido de que Leila não vai me procurar. Já são quase 15h00, se ela tivesse considerado bem minha oferta, teria ligado assim que o dia amanheceu.

— Vou tentar uma nova abordagem. — Digo, decidido. — Talvez se eu mostrar o contrato formalizado ela mude de ideia.

Tales continua rindo.

Ela vai chamar a polícia e te denunciar por estelionato.

— Faça o seguinte, finalize o contrato com as cláusulas que irei acrescentar e venha à Eco Habitação. Depois do expediente eu vou tentar encontrá-la com o contrato em mãos, quem sabe assim ela me leve a sério.

Eu já disse que não vou te ajudar...

— Te vejo mais tarde, Tales! — Não o deixo terminar ao desligar o celular e me voltar para a tela do notebook com o endereço da Ele ctrical Measure.

Abro o arquivo com as cláusulas do contrato que pretendo que Leila assine e leio rapidamente os termos antes de anexá-lo a um e-mail destinado à Tales. Envio uma mensagem para o celular dele pedindo para que cheque o e-mail o quanto antes. Ele entende de formalidades legais muito mais do que eu, saberá organizar tudo para que pareça a coisa mais séria do mundo.

E não que não seja, eu pretendo mesmo investir dinheiro na startup se Leila aceitar se casar comigo, mas sei bem que tudo isso depende da boa-fé de nós dois, porque se não levarmos ao pé da letra cláusula por cláusula do contrato, lei nenhuma oferecerá proteção jurídica para um contrato cujo objeto principal é um casamento falso para convencer um velho rabugento a me indicar à presidência da empresa.

Resolvo me concentrar no trabalho de novo, pois já que tirei o dia para fazer da vida de todo mundo um inferno, o mínimo que posso fazer é trabalhar o máximo que conseguir. Quando dou por mim são quase 17h00, e meus funcionários me encaram de seus lugares com carinhas de cachorro pidão. Me sinto um pouco mal por tê-los feito ficar até agora, o trânsito deve estar horrível na cidade e eles levarão um bom tempo para chegar em casa. Prometo a mim mesmo levá-los para beber qualquer hora para compensar o dia de hoje, mas farei isso após ter conseguido minha cadeira de presidente, claro.

O telefone da minha sala toca e eu fico tentado a quebrá-lo em pedacinhos. Achei que tinha sido bem claro que não queria falar com ninguém hoje, muito menos ser importunado, e ainda assim Marcinha está insistindo em transferir uma ligação a essa hora.

Coloco o telefone na orelha e me preparo para soltar os cachorros em cima da minha secretária:

Dr. Danilo, Dr. Tales acabou de chegar e pediu para anunciá-lo. — Ela diz rapidamente, temendo que eu desligue sem ouvi-la.

Franzo a testa. Tales é o diretor financeiro do Grupo Torres e meu amigo pessoal, não há nenhuma necessidade de anunciá-lo ou marcar horário, Marcinha sabe muito bem disso.

— Desde quando Tales pede para ser anunciado?

Acontece que ele está com uma mulher, ela disse que se chama Leila e que tem algo urgente...

— Como é? Leila?! — Corto Marcinha, levantando-me da cadeira num pulo.

Sim, senhor. Leila Dias de Souza é o nome dela. Ela tinha ligado mais cedo...

— E por que você não me disse nada?! — Praticamente grito no telefone, cortando Marcinha de novo.

Eu tentei, senhor. Eu tentei avisá-lo! — Marcinha retruca. Nem preciso vê-la para saber que ela está de saco cheio de mim por hoje.

Porém, nem sequer tenho tempo de pedir desculpas para a minha secretária pelo meu péssimo comportamento, ao ser surpreendido por Tales e Leila vindo em direção à minha sala.

Coloco o telefone de volta ao gancho e dou a volta na minha mesa, com os olhos pregados em Leila. Não importa o quanto eu me esforce, não consigo entender como um segundo antes eu estava prestes a atravessar a cidade e me ajoelhar aos pés dessa mulher e agora ela está aqui, entrando pela minha porta. Me pergunto por um instante se ela veio me esculachar de novo, mas tenho a impressão que ela não se daria ao trabalho de fazer isso.

Nem cumprimento Tales, minha atenção está inteira sobre Leila e no quanto ela parece prestes a explodir de nervoso. Não sei bem o que vai sair da boca dela, mas resolvo ser positivo. Ela não ligaria mais cedo e nem viria até aqui se não tivesse algo importante para me dizer, não é mesmo?

— Leila! Que surpresa você por aqui!

— Eu também estou surpresa de estar aqui, vai por mim. — Ela responde tão baixinho, que mal consigo ouvi-la.

Me afasto da mesa e me aproximo alguns passos dela para ter certeza de que vou entender tudo que vai sair da boca dela. Juro que tento conter meu sorriso enquanto ando, mas está difícil. Eu ganhei essa pequena batalha entre nós e ela sabe disso.

— Se você veio é porque tem algo a me dizer, não?

Leila engole em seco e me encara com o queixo erguido. Percebo que sua respiração está bastante irregular e ela aperta muito as mãos em sinais claros de nervosismo, no entanto isso não parece motivo para que ela deixe de me encarar nos olhos. Essa mulher é corajosa!

— Eu vim dizer que aceito sua proposta. Eu aceito seu pedido de casamento.

Claro que você aceita!, exulto mentalmente. Esse é o momento que começo a rir e que abro uma champanhe imaginária para comemorar minha vitória. É isso, não faço ideia de como, mas dobrei Leila e ainda a fiz vir pessoalmente atrás de mim dizer que aceita minha proposta com todas as letras.

Pelo vidro, vejo Marcinha se dirigindo até a minha sala e me aproximo mais alguns passos de Leila com uma ideia tomando forma na minha cabeça. É o que dizem, não é? Vitórias só são vitórias se há pessoas para te aplaudir de pé.

— Você pode dizer isso de novo, um pouco mais alto agora? — Os olhos de Leila se arregalam levemente, do mesmo jeito que ela fez quando a pedi em casamento na praça de alimentação ontem. — Agora! Diga agora! — Insisto.

Ela tenta se afastar, mas eu a mantenho no lugar, assegurando que Marcinha nos veja bem perto um do outro.

— Diga agora, por favor... — Eu praticamente imploro, pressionando o pulso dela de leve. É importante que Marcinha escute em alto e bom som o que Leila tem a dizer, pois as secretarias são o veículo de informação mais eficiente de qualquer empresa e eu preciso que essa notícia se espalhe.

— Está bem, está bem. Eu disse que aceito o seu pedido de casamento. Está satisfeito?

Estou! Estou tão satisfeito que a puxo para um abraço forçado e em seguida a olho nos olhos como se ela fosse o amor da minha vida.

— Ouviu isso, Marcinha? Ela aceitou se casar comigo! Conte para todo mundo. Pode dizer que eu vou me casar.

— Ah, que notícia boa! — Marcinha sorri para mim assim que termina de servir o café para Tales. — Parabéns, Dr. Danilo!

Solto os ombros de Leila e enlaço sua cintura. Ela se encolhe, incomodada, mas não diz nada. É uma farsa, espetáculos como esse serão comuns até que eu esteja sentado na cadeira da presidência.

— Obrigado, muito obrigado! Dispense todo mundo, por favor. Hoje é dia de comemorar!

Marcinha assente ainda sorrindo antes de deixar minha sala. Com sorte, até o final do expediente todo mundo no quarteirão da Eco Habitação saberá que vou me casar com Leila. Olho para a minha agora noiva e abro um sorriso aliviado. Essa mulher não faz ideia de como salvou meu pescoço.

Assim que minha secretária está fora do campo de visão, Leila tira minha mão bruscamente da sua cintura e se afasta para longe, como o próprio diabo fugindo da cruz. Ela não está mais só incomodada como antes, eu diria que a expressão eu seu rosto está mais para enfurecida do que para qualquer outra coisa.

— O que foi?

— O que foi?! — Ela dispara de volta. — O que foi isso que o senhor fez?!

Troco um olhar confuso com Tales, que assiste a tudo em silêncio. Ele dá de ombros e cruza as pernas, rindo da situação. Enquanto puder rir da minha cara e me lembrar das minhas péssimas escolhas, Tales com certeza fará isso.

— Você disse que tinha aceitado se casar comigo.

— Sim, mas o senhor não disse nada ontem sobre ficar me exibindo como se eu fosse um objeto e muito menos ficar me agarrando!

— Eu não te agarrei! — Me defendo, até porque realmente não a agarrei. — E você achou o quê? Que eu iria me casar com você e esconder meu estado civil do resto do mundo?

— Eu quero dizer que esperava assinar um contrato ou ter alguma segurança de que o senhor vai realmente me dar o que preciso antes de anunciar para o prédio inteiro sobre o casamento! — Leila revida, ainda mais irritada.

— E eu parecia estar brincando quando disse que te daria o que você me pedisse? — Questiono não menos irritado que ela.

— Sei lá, eu mal te conheço! — Leila cruza os braços em frente ao peito e me olha de cima a baixo de um jeito que manda para Saturno todo o restante da minha paciência.

— Se não confia em mim, o que você veio fazer aqui?

Leila abre a boca para responder, mas Tales é mais rápido ao se colocar entre nós dois na sala.

— Desculpa interromper vocês dois...

— O que foi?! — Leila e eu dizemos em uníssono.

— Como eu ia dizendo — Tales continua —, desculpa interromper a discussão do casal, mas vocês têm plateia, então que tal se matarem em outro lugar?

Leila e eu olhamos ao mesmo tempo para o vidro que cobre a parede da sala. Os funcionários bem que tentam disfarçar que estavam assistindo de camarote nossa briga, entretanto é nítido que eles estão se mordendo de curiosidade. Ao menos a sala tem isolamento acústico e eles não devem ter ouvido uma palavra do que falamos.

— Está vendo? Quem vai acreditar nisso agora? — Digo para Leila, que ainda está olhando para os meus funcionários pelo vidro. — O sucesso disso depende das pessoas acreditarem que é verdade, entendeu?

Me jogo no sofá e afrouxo a gravata, contrariado. Espero que Leila esperneie e que grite comigo de novo, mas ela não faz e nem fala nada durante algum tempo. Tales caminha até a parede de vidro e fecha as persianas, bloqueando a visão das pessoas do interior da sala. De alguma forma, aquilo não me deixa mais calmo, pelo contrário. Agora tenho a impressão que as pessoas sabem que estou escondendo alguma coisa.

Tales traz Leila até o sofá e a senta de frente para mim. Eu a assisto secar dois copos d'água e depois amarrar o cabelo bem firme no topo da cabeça, ainda sem pronunciar uma sílaba. Ela parece uma máquina antiga funcionando a todo vapor, e mesmo que eu esteja me esforçando para entender o que está passando pela cabeça dessa mulher teimosa, não faço ideia do que vai sair da boca dela quando resolver falar comigo de novo.

Leila tira a mochila amarela desbotada das costas e a coloca no colo. Ela pega de dentro de um dos bolsos um caderno pequeno com capa marrom e abre numa página. Então, olha para mim com atenção.

— Sou engenheira e na engenharia tudo começa com um projeto. Precisamos disso no momento: um projeto.

Me recosto no sofá, fazendo um sinal com a mão para que ela prossiga.

— Precisamos acordar as coisas, o que podemos e o que não podemos fazer. Combinar histórias, estabelecer limites... — Leila enumera tudo nos dedos enquanto fala. — Só assim não vamos passar por uma situação como essa de novo. Isso se o senhor ainda quiser fazer isso. Se não quiser, tudo bem, eu vou embora. — Ela se mexe no sofá como se fosse se levantar.

— Não! — Digo rápido demais. Leila se senta de novo. — Nem tentamos ainda para saber se vai dar certo. Temos que ao menos tentar, não acha?

— Acho. — Ela concorda, passando os olhos pelo caderninho.

— Eu pensei em tudo que você disse, desde uma historinha por trás desse casamento até o motivo pelo qual eu não tinha apresentado você ainda para a minha família... Tudo isso. Inclusive, pedi que Tales elaborasse um contrato para nós dois.

— Ah, é mesmo! — Meu amigo coça distraidamente a cabeça. — É um bom contrato.

Ele caminha pacientemente até minha mesa e pega meu notebook. Depois de logar com sua senha e e-mail, ele vira o aparelho para Leila, que se aproxima bem da tela para ver melhor. Me lembro rapidamente de que ela usa óculos e que tem visão noturna péssima.

— São cláusulas discutíveis. — Tales assegura.

— Então vamos começar discutindo o porquê do senhor ter vindo justamente atrás de mim. Eu pesquisei seu nome na internet e não acredito que sou exatamente o seu tipo. — Leila diz num tom bastante acusador.

Fico inquieto no sofá. Não queria contar a verdade por trás desse casamento fajuto tão cedo, porque nem sequer tentamos fazer isso dar certo e ainda há a possibilidade de não dar, então quanto menos ela saber dos meus motivos, é melhor.

Tales solta um suspiro impaciente e se volta para mim:

— Danilo, se vocês não confiarem um no outro podem esquecer desse acordo.

Ele está certo. Tales sempre foi a voz da razão em meio ao caos que é a minha vida e agora não é diferente. Se eu quero que Leila confie que vou cumprir minhas promessas, tenho que começar nossa relação sendo sincero. É assim que se fecha grandes negócios e eu, como empresário, deveria saber disso mais do que ninguém.

Mas ainda assim, há algo impedindo que as palavras saiam da minha boca. Deve ser o jeito que Leila está me olhando, com os olhos castanhos semicerrados e o rosto impassível, quase uma jurada de programa de calouros mega exigente e ranzinza. Não gosto disso, de como ela parece me julgar, mesmo não estando em posição para isso.

— Basicamente meu avô quer que eu me case com uma mulher comum. Nada de modelos, nada de famosas. Apenas uma mulher simples, que goste de mim e me ajude a ser um homem melhor. — Consigo dizer por fim.

Tales balança a cabeça diante da minha meia verdade.

— E seu avô é rígido assim, para definir até o perfil das pessoas com quem o senhor se relaciona?

— Ele é. Meu avô acha que pessoas famosas não dão valor à família e que podem agregar uma fama ruim para a empresa. — Me levanto do sofá, agitado, e começo a caminhar pela sala. — E pare de me chamar de senhor, você não deve ser nem cinco anos mais nova que eu!

— Sou, sim. Tenho vinte e seis, e o senhor... Digo, você, faz trinta e um em junho. — Eu a encaro meio desconfiado e meio surpreso com o excesso de informação. Leila não se intimida muito ao explicar: — Eu disse, pesquisei seu nome na internet!

— Ah, tanto faz!

— É só que, temos um abismo de diferença e eu estou bastante intrigada com o porquê de você ter escolhido justamente a mim. É normal que eu esteja curiosa, não?

— Completamente compreensível, Leila. O que aconteceu é que o avô dele viu você numa das fotos da festa daquela blogueira em que te encontramos, lembra? Como Danilo disse que não tinha ido lá por ela, Dr. Fausto deduziu que ele estava com você. — Tales me salva ao perceber que estou prestes a me perder de novo e começar outra briga com Leila.

— Espera, ele viu aquela foto horrível? Aquela do confete?

— Exatamente aquela foto. — Confirmo com um sorriso no rosto. A visão do desespero e das bochechas vermelhas de Leila é muito satisfatória para que eu não sorria.

— E ainda assim ele quer que você se case comigo?

— Ele acha que eu estava na festa com você e eu não desmenti. O sonho do velho é me ver casado e finalmente achei uma chance para agradá-lo. Só isso.

— Mas por que tão de repente? Ele está para morrer, é?

Respiro fundo algumas vezes e me volto para Tales, pedindo socorro em silêncio. Se ele não estivesse aqui, não sei se eu sairia vivo dessa conversa com Leila.

— Dr. Fausto... Bem, ele... — Tales começa a enrolar, quando me vem uma ideia muito arriscada na cabeça.

— Sim, Leila, meu avozinho querido está muito doente. — Interrompo Tales. Caminho até Leila no sofá e me sento ao seu lado, fazendo um drama digno de dona Roberta. — É por isso os seis meses, entende? É a expectativa dos médicos.

— Meu Deus, coitado! — Leila suspira, chocada.

Tales me fulmina com o olhar, que faço questão de ignorar. Vou ouvir todo tipo de xingamento mais tarde e vou merecer tudo que ele me disser, mas mais tarde. O importante agora é fechar esse contrato e se for necessário mentir, eu vou mentir.

Leila não pergunta mais nada, ainda perplexa demais pela "doença" do meu avô. Ela parece ter muitas perguntas e muita desconfiança, e eu não posso julgá-la por isso, afinal o que estamos prestes a fazer é sério. No entanto, fico agradecido por ela guardar os questionamentos para si mesma por hora, nem que seja por causa da mentira que acabei de contar. Também tenho minhas perguntas para fazer e minhas dúvidas, só que assim como Leila, entendo que nossa relação ainda é frágil demais para que eu possa falar abertamente sobre qualquer coisa. Confiar nas pessoas leva tempo e nós dois parecemos estar de acordo quanto a respeitar nosso tempo.

Ela continua a ler o contrato, perguntando algumas coisas à Tales e anotando as respostas no caderno. Aproveito para beber água também e me acalmar. Só hoje, perdi a paciência vezes demais e esse definitivamente não sou eu. Preciso manter a cabeça no lugar se quero que meu avô acredite na mentira que inventei.

— Você tem em mente um contrato de no máximo de seis meses, então. — Leila comenta casualmente e concordo com a cabeça. — E nesse período, ao menos em público, devemos agir como se fôssemos casados, o que quer dizer que terei que me mudar para sua casa, frequentar os lugares que você frequenta e até trocar algumas carícias com você, se necessário.

— Exatamente. Como você viu, teremos um período de teste de uma semana, onde teremos que convencer minha família de que nossa relação é verdadeira. Por esse período, pretendo pagar, a título de investimento, vinte por cento do valor total do contrato.

— Trinta por cento, pelas carícias e porque eu também tenho muito a perder aqui.

Solto uma risada incrédula.

— Você está mesmo negociando comigo?

— Trinta por cento me parece um bom valor. — Tales se intromete enquanto digita no notebook, alterando a cláusula nos termos de Leila antes que eu ameace fazer mais objeções. — O que mais?

— Na sua casa tem um quarto de hóspedes? Porque não acho interessante dormir com você.

Me sobressalto ao ouvir aquilo. O que diabos essa mulher está pensando que faríamos estando na mesma casa?

— O que você...?

— Tem um quarto de hóspedes, sim, Leila. Vocês não terão que manter qualquer relação conjugal. — Tales me atropela tentando acalmar meus ânimos de novo.

— Eu só queria que o contrato ressaltasse que nós não teremos qualquer envolvimento sentimental também, Dr. Tales, por favor.

— Você por acaso gosta de homem, Leila? — Pergunto sem sequer perceber que estou sendo indelicado.

— Danilo! — Tales exclama, como minha mãe faria se estivesse aqui.

— Eu não quis ofender, eu perguntei isso porque estaremos debaixo do mesmo teto durante alguns meses. A carne é fraca e Leila pode...

— Insira entre as cláusulas que o contrato perderá imediatamente a validade se qualquer um de nós passar dos limites físicos e afetivos durante a convivência. — Leila me interrompe, sem alterar a voz.

— Tudo bem para você, Danilo? — Tales nem esconde o sorriso.

— Eu já ia sugerir isso de qualquer forma.

Na verdade, eu não ia. Não achei que precisasse, até porque Leila não faz meu tipo e eu tenho a mais plena consciência de que estou apenas realizando um negócio, nada mais. Em nenhum momento pensei na nossa relação como algo que pudesse chegar ao contato físico, então não vi motivos para deixar tão explícito que isso seria motivo para a quebra do contrato. Ela está fazendo isso pelo dinheiro; eu, pela presidência do Grupo Torres. Temos nossos objetivos e eles não caminham para nenhum tipo de relação afetiva. Mas se ela quer assim, tudo bem, não tenho motivos para discordar.

— Eu gostaria que minha família não fosse envolvida nisso. — Leila diz, tamborilando os dedos na capa do caderno. — São só seis meses, eles não precisam saber de nada.

— Você vai passar seis meses morando comigo, não acha que eles sentirão sua falta?

— Eu posso lidar com isso, não se preocupe.

— Nesse caso, precisamos tomar cuidado para a imprensa não divulgar nada sobre o casamento, Danilo. Pode ser ruim para Leila. — Tales sugere, e eu concordo.

Não quero esses abutres estragando minha reputação de novo. Marcela conseguiu acabar com minha vida por um bom tempo colocando essa gente no meu pé e não quero que Leila passe pelo que passei. Em seis meses nós dois não estaremos mais casados e seguiremos nossa vida como se nunca tivéssemos nos conhecido, portanto envolvê-la no meio dos meus problemas com Marcela e sites de fofoca é a última coisa que quero.

Tales lê o contrato em voz alta e olha de Leila para mim, aguardando que qualquer um de nós dois se manifeste. Quando não dizemos nada, ele acrescenta:

— Mais alguma coisa que queiram alterar ou inserir no contrato?

Balanço a cabeça em negativa. Leila, no entanto, hesita um pouco antes de dizer à Tales para imprimir o contrato. Confesso que aquela reação dela me pega de surpresa. Até o momento Leila vinha sendo firme, negociando cláusulas e acrescentando suas próprias exigências, e então, por uma fração de segundos eu a vejo vacilar... E não gosto disso.

Quero perguntar o motivo para aquela incerteza que vi nos olhos dela, mas acabo sendo egoísta demais e temendo a resposta. Não posso permitir ficar compadecido por qualquer lamentação que ela tenha e deixá-la desistir de tudo. Não importa o que está incomodando Leila, tenho certeza de que vai passar.

Vai passar, porque preciso dela. E ela de mim. É assim que funcionam os negócios.

Continue Reading

You'll Also Like

1.7K 92 22
Emilly Scott, uma bailarina que sonha em se apresentar na Broadway se muda para New York com o propósito de se dedicar ao seu sonho, ela entra em uma...
138K 15.3K 27
Camila é uma jovem que depois de terminar seu relacionamento, resolve curtir a vida sem se importar com nada e após uma louca noite de curtição, sua...
16.5K 2.1K 30
Ela, uma mulher que acaba de descobrir um segredo sobre sua origem, apesar de ser indecisa sobre seu futuro profissional está completamente decidida...
516 188 10
Nao foi por acaso você estar aqui no meu perfil então Leie este maravilhoso conto e mude a sua vida...