A INQUIETAÇÃO
LA PUSH, WASHINGTON
Embry estava cansado — muito cansado —, e estava morrendo de sono, mas quando ele fechava os olhos o sono desaparecia — e também não ajudava que a cada segundo Jacob soltava um grande ronco. Jacob tinha se transformado nessa noite, uma transformação repentina e cansativa. Aparentemente seu amigo saiu para ir ao cinema com a garota Swan, mas não contava que o amigo dela também estivesse lá, estragando o seu "encontro". Jacob acabou ficando com raiva e fez bem quando saiu em direção a floresta, se ele tivesse se transformado no cinema tudo viraria uma grande merda.
Se contorcendo no colchão que estava no chão, Embry tapou os seus ouvidos quando mais uma vez o ronco de Jacob retumbou nos seus tímpanos. Ele estava se arrependendo amargamente neste momento sobre a sua decisão de ter se voluntariado em ficar com Jacob nesta madrugada. Mas ele também ficou aliviado em saber que não precisaria ter que se explicar com a sua mãe, Billy já tinha avisado que ele ficaria na casa dos Black, o Call ficou aliviado já que não teria mais uma discussão com a sua mãe.
Decidindo sair do quarto para pegar uma água, Embry foi surpreendido com a luz da sala ligada. Com os roncos de Jacob ele não conseguiu prestar atenção em qualquer outro som. Caminhando lentamente pelo corredor a voz de Billy se fez presente.
— Escute Jace, você precisa voltar.
Jace? Embry se lembra dele. O irmão mais velho de Jacob que sempre andava com Sam e o menino Gilbert — que infelizmente cometeu suicídio aos 17 anos de idade —, ele não era visto a dois anos em La Push. Jacob sempre falava do seu irmão no começo, mas depois ele parou, e proibiu que Quil e ele perguntasse do Black mais velho.
Embry decidiu ficar e tentar escutar um pouco mais, não era como se ele fosse curioso, ele só não queria fazer barulho e atrapalhar a ligação de Billy.
— A transformação de Jacob aconteceu.
Ele escutou o tom de voz calmo de Billy se transformar em desgosto.
— Seu irmão se transformou e você ainda quer ficar longe?! — Ele escutou a repreensão no tom de voz, Embry conhecia esse tom , afinal ele sempre era repreendido por sua mãe. — Já se passaram dois anos, Jacob precisa de você e eu… preciso do meu filho.
O Call se sentiu mal quando escutou a última coisa que Billy falou, ele não sabia o sentimento de estar longe de um filho — ele nem tem filho e se tivesse sua mãe o mataria —, mas ele sabia o sentimento de abandono, afinal seu pai que ele nem sabe o nome abandonou a sua mãe quando ela ainda estava grávida.
Embry agora tinha que ficar aguentando os seus irmãos de bando enchendo a sua mente com questionamentos, se algum pai foi infiel a sua esposa, e como a sua infidelidade resultou no nascimento de uma criança. A ideia de que o pai de alguém poderia ser o pai de Embry fazia ele ficar com ansiedade e apreensivo.
— Pense sobre o assunto — Suspirando Billy continuou: — Eu estarei esperando por você na porta da frente mesmo que você nunca apareça. Adeus Jace.
A ligação foi encerrada então o Call achou melhor que ele voltasse para o quarto de Jacob e tentasse ter uma noite de sono. Mas seus planos foram por água abaixo quando escutou a voz de Billy pronunciando o seu nome.
— Eu sei que você está aí, Embry.
O barulho da cadeira de rodas do velho Billy fez ele parar e se virar apenas para ver o rosto sorridente do homem que sempre ajudou a sua mãe.
— De-desculpe eu não queria parecer intrometido — Gaguejando ele tentou se desculpar, afinal a sua mãe lhe deu educação.
O sorriso de Billy aumentou ainda mais, o que resultou nas rugas ao redor de seus olhos ficarem perceptíveis. Embry franziu a testa pensando que talvez ele parecesse engraçado quando começou a gaguejar.
— Não se desculpe meu jovem — colocando as mãos nas rodas da sua cadeira, ele viu Billy arrastá-la para a cozinha. — Me siga.
Como um cachorrinho perdido, Embry seguiu o homem.
Billy pegou duas xícaras e colocou-as em cima da mesa, logo depois pegou um bule que tinha café.
— Sirva-se — O velho apontou com as suas mãos para a mesa.
Ele fez o que lhe foi pedido. A fumaça saiu do bule e Embry colocou a xícara em seus lábios. O café estava ótimo, ele sempre gostou do café de Billy.
— Creio que você escutou tudo não é? — A pergunta saiu dos lábios do anfitrião da casa.
Lambendo os lábios Embry concordou hesitantemente.
— Eu tinha vindo para pegar água então escutei a sua voz, se eu soubesse que você estaria em uma ligação, não teria saído do quarto — Ele desviou seus olhos dos de Billy, envergonhado consigo mesmo por tal ação.
Levando o café para os lábios ele escutou Billy suspirar.
— Você por algum motivo me lembra do meu menino mais velho — Os olhos de Embry se arregalaram, espantado por tal fala. — Curioso e sempre tão gentil e educado. Claro que as coisas mudaram quando ele cresceu. Ficou mais fechado e o seu interior de criança morreu.
Embry tomou coragem e encarou o homem que estava desabafando na sua frente. Ele nunca teve uma conversa sentimental com o pai de Jacob, Embry sempre lembra de quando Sarah — mãe de Jacob — aparecia na sua casa para tomar café com a sua mãe. Elas eram grandes amigas.
Ele viu os olhos de Billy brilharem com lágrimas, talvez as lembranças de seu filho o machucam. O Call queria abraçar o velho, porém, ele tinha uma grande timidez que sempre vencia.
— Você lembra dele? — A voz grave e gentil perguntou.
"Sim"
Ele pensou.
— Lembro — ele afirmou, tomando mais um gole de seu café, Embry continuou: — Ele estava sempre na garagem com o garoto Gilbert e Sam. Jacob sempre ia incomodá-lo implorando para que Jace levasse eu, Jacob e Quil na praia.
Uma risada escapou de ambos. Ele ainda podia lembrar de um Jacob pendurado nas pernas do seu irmão implorando para fazer castelo na areia de La Push. Embry lembra que Jace sempre sedia e levava os meninos para a praia. Sam e o menino Gilbert sempre iam juntos com eles, e eventualmente, depois de um tempo, Leah também se juntou.
Embry apoiou o seu quadril na mesa e continuou a beber da sua xícara quase vazia.
— Não comente com Jacob sobre a ligação — A voz do homem saiu como um sussurro. — Agora com os seus genes ativados a sua raiva aumentou, vai ser fácil para ele sentir a raiva reprimida que ele tem por seu irmão.
O Call assentiu. Ele iria ficar de boca fechada e quando se transformasse tomaria cuidado para que Jacob não visse a lembrança da conversa.
— Pode contar comigo Billy, eu não irei contar nada a Jacob.
Billy achou engraçado o jeito de Embry falar. Ele parecia um soldado aceitando o comando de seu chefe. Billy sempre reparou nos traços que o menino Call puxou de Tiffany, os olhos castanhos, as maçãs do rosto definidas, o rosto delicado — mesmo que depois da sua transformação ele tenha ficado com o rosto mais maduro —, a gentileza e educação. Não surpreende que algum homem da reserva tenha caído na beleza da mulher, todos admitiam que a sua beleza era esplêndida ainda mais quando jovem.
Porém a beleza da Call não fez com que Billy fosse infiel a sua tão amada esposa. Ele sempre amou Sarah e nunca seria capaz de tal maldade, sua esposa foi considerada a jovem mais bonita nos tempos de escola e o jovem Billy sempre se gabou de como conseguiu conquistá-la. Ele teve lindos quatro filhos com quem amava e nunca trocaria a vida que teve por nada, muito menos por um momento de diversão.
As lembranças de sua família reunida trouxe um sorriso feliz para os seus lábios.
— Vá dormir, quando amanhecer será um dia cansativo. — Indagou Billy enquanto colocava a sua xícara na mesa.
Embry fez o mesmo enquanto se desencostou da mesa e largou a sua xícara.
— Boa noite Billy. — Ele não esperou a resposta, seus olhos estavam quase fechando de tanto sono, ele precisava dormir.
O menino entrou no quarto e viu Jacob com a boca aberta e baba escorrendo por sua bochecha. Ele fez uma careta de nojo e se jogou no colchão. Bocejando os seus olhos fecharam para um descanso merecido.
• • •「◆」• • •
"Você está distraído Embry" A voz de Sam retumbou na sua cabeça. Eles estavam treinando e Paul sempre conseguia acertá-lo — não que isso não fosse comum entre o bando, ele sempre perdia na luta com o Paul—. " Precisa se concentrar mais."
Grunhindo Embry avançou em direção ao lobo cinza, mas rapidamente ele se encontrou batendo com o corpo em uma árvore.
Ele não entendia o porquê de estar tão distraído ultimamente, é como se o seu lobo estivesse inquieto e para ajudar a garota Swan estava sempre ligando para a casa de Jacob o que fazia o garoto ficar ainda mais nervoso e descontando no bando. Embry estava a ponto de arrancar a garganta de Jacob só pra ver se ele pararia de falar de Bella, mas ele acha que nem isso ajudaria. O Call estava feliz por finalmente ter o seu amigo no bando, assim ele não teria que ficar mais longe do seu melhor amigo, entretanto, quando os pensamentos de Jacob explodem para todas as cabeças tudo o que ele mais queria era voltar no momento em que Jacob não se encontrava ali.
"Eu acho que sei o porquê dele estar tão distraído", Paul falou em uma voz brincalhona. "Aquela garota que ele gostava finalmente deu atenção pra ele ou melhor para os seus novos músculos".
O único que não caiu na gargalhada com o resto do bando foi Sam, ele sempre é o único que não brinca ou faz alguma piada. Embry as vezes tem vislumbres do passado de Sam, seu alfa era bastante sorridente e um adolescente brincalhão como todos os outros, o Sam do passado não é nada como o do presente.
Embry soltou um bufo enquanto passava por Paul e empurrava ele de lado.
"Cala a boca Paul! Ela não estava olhando para o meu corpo." Indagou Embry, mas até ele sabia que essa não era a verdade.
Ele sempre gostou da sua colega de classe, Elizabeth, um nome bonito dado para uma garota que tinha uma beleza inexplicável (isso na opinião de Embry), ele nunca foi notado por ela, as coisas mudaram depois que ele se transformou e voltou para a escola totalmente diferente. Cabelo cortado, músculos que antes ele nem pensava em ter, ficou extremamente alto, e o mais importante a tatuagem em seu braço direito. Todas as meninas estavam de olho nele como se ele fosse uma presa que elas atacariam em algum momento. Então Elizabeth finalmente falou com ele, o Call não conseguia parar de gaguejar e ficou parecendo um tomate de tão vermelho que estava. Paul e Jared ficam enchendo o seu saco todos os dias.
"Se você diz" essa foi a voz de Jared que estava ao lado de Sam.
Uma lembrança apareceu na mente de todos, entretanto, não era de nenhum dos quatro lobos mais jovens e sim de Sam. Nela estava Sam, o irmão mais velho de Jacob e o garoto Gilbert, os três na praia de La Push conversando e sorrindo. Até que o cara pálido começou a zoar Sam.
"Sam está apaixonado por Leah", o Gilbert falou, enquanto suspirava e se virava para o irmão de Jacob com a mão no coração."Estamos perdendo o nosso precioso Sammy, Jay".
"Ele irá nos abandonar, para ficar com ela, precisamos sequestrar Leah!" Os dois garotos caíram na risada com as suas palhaçadas.
"Vão se ferrar! Nunca irei abandonar vocês, somos os babacas da região lembram? Nunca deixamos um ao outro", O jovem Sam de 17 anos lembrou os seus dois melhores amigos de apenas 16 anos.
A lembrança foi embora tão rápido de como ela apareceu. Um rosnado pode ser escutado entre eles e lá estava Jacob rosnando para Sam, a memória do seu irmão trouxe a raiva para o seu lobo.
"O treino acabou, todos vocês voltem ao normal, Emily fez café", A voz do Alfa deles fez seus lobos recuarem levemente.
Embry foi o primeiro a correr para uma árvore e voltar ao normal, colocando uma bermuda jeans e seus tênis que estavam guardados na floresta ele correu para a casa de Sam. Ele estava morrendo de fome e não esperaria pelos outros.
Ele fez o chamado de lobo e logo entrou correndo na casa de madeira e deu um grande abraço em Emily — que deixou uma pequena risada sair de seus lábios com o carinho do Call.
— Sente antes que seus irmãos cheguem — Emily avisou enquanto dava um pequeno tapa em Embry.
Ele fez o que foi pedido e sentou pegando rapidamente um muffin de chocolate — ele adorava os muffins de Emily e gostava ainda mais dos que tinham muito, muito chocolate.
— Como foi o treino?
Engolindo o resto do muffin Embry respondeu:
— Cansativo, Paul não parou de encher o meu saco e eu não conseguia prestar atenção em nada. Fiquei com pena da árvore que teve que aguentar o meu corpo sendo jogado nela dez vezes. — Levantando as duas mãos Embry enfatizou o número de vezes que Paul arremessou ele.
O Call voltou a comer quando novamente sentiu a inquietação em seu corpo, ele se remexeu na cadeira de madeira e voltou a comer o seu muffin com uma quantidade absurda de chocolate.
Ele escutou os outros chegarem, Paul entrou primeiro e quando ele viu a mesa cheia de muffin o seu corpo agiu sozinho e se jogou pegando três deles.
A indignação tomou conta de Embry.
— Cara, os muffins não vão sumir. Por que o desespero?
Paul deu uma rápida olhada em sua direção.
— Jared e Jacob estão chegando.
E com essa fala Embry pegou quatro muffins e colocou em seu prato. Ele conhecia a fome de Jared e principalmente a de Jacob — esse que quase comeu todo o bolo de aniversário de 17 anos de Embry. Os dois lobos famintos entraram pela porta e foram rapidamente para a mesa, pegando quase todos os muffins.
— Eu avisei.
Embry revirou os olhos e só prestou atenção em sua comida.
— Então, como está a escola? — Emily perguntou para todos os quatro garotos sentados na mesa de madeira.
Eles se entreolharam decidindo se deveriam ou não falar sobre isso. As notas de Embry estavam péssimas, as notas das suas provas eram horríveis e ele estava realmente pensando que talvez não conseguisse se formar.
— Estou melhorando. — Embry falou.
Surpreendentemente os outros três concordaram com a mentira dita por ele.
• • •「◆」• • •
A escuridão se apossou do céu, as estrelas brilhavam indicando que estava na hora de todos dormirem porque amanhã seria um novo dia. Abrindo a porta da sua casa, Embry soltou um suspiro quando avistou a sua mãe sentada no sofá. Ele pensou que ela estaria dormindo e teria cansado de esperar que ele chegasse, porém, Embry se enganou. Fechando a porta ele se preparou para a longa noite que teria que escutar as reclamações de sua mãe.
— Você chegou atrasado.
— Eu sei, me desculpe. Ajudei Emily em algumas coisas.
Ele passou por ela e tentou ir direto para o seu quarto, quando escutou a voz da sua mãe, rígida.
— O que você anda fazendo Embry? Por que anda tanto com o Sam?
Ele franziu o cenho e virou em direção a mulher sentada que agora estava olhando em sua direção.
— O que você está insinuando? — O Call perguntou. Ele não precisava que sua mãe fosse mais uma das pessoas que pensava que ele estava em uma gangue comandada por Sam, algumas pessoas até falam que ele vende drogas!
— Escutei algumas coisas ao redor da reserva.
— Pensei que você fosse uma mulher que dá ouvidos para o que os outros falam.
Sua mãe se levantou do sofá e Embry sabia que tudo pioraria.
— Eu não dou a mínima para o que eles falam, mas você como o meu filho deve me dizer o que há de errado. — A Call se aproximou dele e colocou a mão em seu rosto. — Por quê está tão distante de mim Embry?
O coração do quileute apertou, ele não queria que sua preciosa mãe se sentisse rejeitada, sozinha e infeliz. Se ele tivesse coragem de dizer que virou um lobo grande e que o seu dever é proteger todos da reserva, com certeza diria. Embry não queria colocar sua mãe em perigo e nem que o segredo do bando fosse exposto.
— Eu não estou distante mãe, só estou passando mais tempo com os meus amigos.
Uma coisa que Embry não sabia era mentir, sua testa enrugava e a ponta dos seus dedos tocavam repetidas vezes. Tiffany sabia disso, mas estava cansada demais para discutir com seu filho, o seu trabalho levou toda a sua energia.
— Só tente passar mais tempo com sua mãe, irei ficar feliz conversando com você sem gritar.
Ambos soltaram pequenas risadas. Embry sentiu a mão de sua mãe escorregando de seu rosto.
— Boa noite mãe. — Ele se abaixou na altura de sua mãe e deu um pequeno beijo na sua bochecha.
Embry caminhou para o seu pequeno quarto e desabou na cama macia. Pensamentos tomaram conta de sua mente, como tudo mudou tão rapidamente, em uma hora ele era um menino normal como os outros e agora ele é diferente, pode se transformar em um lobo que tem o tamanho de um cavalo, um arranhão cura mais rápido que um corpo deveria curar, sua temperatura é tão elevada que faz ele nem usar a coberta. Ele é feliz, não se engane. Embry ama os seus irmãos de bando e fica super feliz com tudo o que está acontecendo, afinal Jacob está do seu lado agora, porém, Quil não está, e ele deseja que o seu melhor amigo se transforme logo para que o buraco que ele sente em seu peito possa ser preenchido. Talvez assim, ele se sinta completo.