O casal de irmãos iam seguindo pela cidadezinha olhando para todos os lados para ver se achavam um estábulo para deixar o cavalo, e depois procurarem um lugar para passar a noite. Pelo menos iam poder descansar um pouco antes de seguir viagem, ou melhor, antes de raptar a bruxa profetiza.
- Sabe, eu estava pensando, como vamos conseguir achar essa tal de Lyanna? - Zola perguntou para o irmão.
- Estava pensando em achar algum lugar para descansar primeiro, tirar um cochilo e a noite você ficar lá com a bruxa na cadeia, sabe para pelo menos ver como ela está, conversar com ela e garantir que vamos cuidar dela, e depois você sabe… - Indras disse mexendo as mãos como se indicando que iriam embora.
- Então, enquanto eu fico lá com a bruxa, você iria procurar a outra?
- Deve ser fácil achar uma bruxa, elas tem uma marca na testa, é só eu perguntar por aí. - disse de maneira simplista.
- É, até que você tem razão. - sua irmã concordou - Olha alí, - Zola apontou para um estabelecimento logo a frente - Uma hospedaria, deve ter um estábulo nos fundos, e vamos poder comer algo e descansar.
- Que ótimo!
Os irmãos foram chegando perto da hospedaria, e logo um funcionário viu que não eram dali e já foi correndo oferecer ajuda com o cavalo, e mostrar com quem eles deveriam falar para conseguir um quarto.
Indras já foi pegando todas as mochilas que estavam no cavalo enquanto sua irmã foi pedir dois quartos, um para o nojento do vampiro e outro para poder dividir com o irmão, já foi pedindo também para que fosse entregue no quarto dela e do irmão uma refeição bem completa, pois estavam morrendo de fome, dois dias de viagem só comendo pão duro era horrível.
Assim que o casal de irmãos entrou no quarto, uma jovem moça foi atrás levando uma enorme bandeja de comida para eles. Enquanto comiam, iam discutindo que precisavam comprar suprimentos, e algumas mantas extras para as outras duas que iriam provavelmente fugir com eles.
Depois de comerem, deixaram a bandeja com o que restou no chão do lado de fora do quarto, logo alguém viria buscar, e Zola foi para o pequeno banheiro ali para se limpar e fazer suas necessidades, enquanto seu irmão só tirou as botas e se jogou com tudo na cama.
Enquanto os irmãos comiam e descansavam, Darick foi até a cadeia, onde a jovem bruxa profetiza estava. Assim que chegou, mostrou a carta que Nikolai fez, e entregou um pequeno saco cheio de moedas para o responsável ali, exigindo ver a bruxa.
Chegaram nos fundos da cadeia, e mais parecia que a jovem de cabelos azuis estava em uma gaiola do que em uma cela, o local tinha um forte odor, era mal iluminado, sem nenhuma janela por ali.
- Ora, se não é a causa de eu estar aqui. - o vampiro disse se aproximando da jaula, tampando o nariz com um lenço que tinha no bolso - Você não me parece grande coisa. - disse olhando profundamente para a jovem, a fazendo se arrepiar inteira e ter um leve tremor, causando um sorrisinho em Dareck.
- O que o senhor vai fazer com ela? - o responsável pela cadeia perguntou.
- Meu senhor, o rei dos vampiros do norte, quer ter uma conversinha com essa daí, amanhã mesmo iremos partir.
- Ah sim, bem, ela estará esperando aqui mesmo. - o homem disse dando uma risadinha e olhando para a jovem.
Logo os dois homens saíram da pequena sala, deixando a jovem se tremendo por dentro, com os olhos cheios de lágrimas e temendo por sua vida. Ela se ajoelhou como deu naquela gaiola, colocando suas mãos e sua testa no chão, deixando suas lagrimas caírem naquele chão imundo e fazendo uma prece para a Grande Deusa Mãe, para que ela a protegesse, para que ela a de forças, para que ela lhe enviasse um anjo.
Zola não conseguiu dormir por muito tempo, logo se sentou na cama se espreguiçando e olhando para o lado, encontrando seu irmão ainda jogado na cama e em um sono profundo.
A lobisomen se levantou, calçou suas botas e foi seguindo para fora do quarto, desceu as escadas da hospedaria e foi para a frente do estabelecimento para olhar o movimento daquela cidadezinha. Ficou encostada no muro da hospedaria vendo quem passava por ali, vendo que tipo de comércio tinha por perto, e fazendo uma lista mental do que eles tinham que comprar antes de fugirem dali.
De longe viu passar uma jovem com um vestido verde bem simples, cabelos extremamente vermelhos e longos que estavam amarrados por uma fita no alto da cabeça, a moça carregava uma cesta nas mãos e olhava para baixo concentrada no caminho que fazia. Zola sentiu sua pele formigar e um sentimento de conforto a invadiu, de repente a jovem se virou em sua direção e a olhou, a lobisomem viu por um instante uma marca em sua testa, e logo essa marca desapareceu a deixando confusa. A jovem ruiva acenou com a cabeça para Zola e continuou seguindo seu caminho.
Zola ficou ali, vendo ela desaparecer pelo caminho.
Logo ela entrou dentro da estalagem e encontrou um senhor na recepção atras de um balcão mexendo em alguns livros.
- O senhor pode me informar sobre uma jovem com cabelos bem vermelhos? - perguntou se aproximando do homem.
- A Lyanna? - disse o homem parando de mexer nos livros - Ah, é uma menina bem esforçada viu, faz um excelente trabalho de costureira, minha mulher muitas vezes leva peças para ela ajustar ou encomenda vestidos com ela e sua madrinha.
Zola ficou estática ao saber que mesmo sem querer conseguiu achar a bruxa que seu pai falou.
- E essa jovem, - começou Zola se aproximando do senhor e se encostando no balcão - Ela mora sozinha?
- Não, mora junto com a família de sua madrinha, a pobrezinha é órfã. - o homem olhou para os lados e depois chegou mais perto da lobisomem para continuar a contar a história - Há alguns anos, Sarah que é o nome da madrinha da menina, chegou com ela aqui na cidade. Lyanna não passava de um bebê com um tufo de cabelos vermelhos, era adorável. Sarah tinha fugido da antiga cidade em que moravam, foi a cidade em que queimaram aquela bruxa lá que comandava a resistência. - o senhor chegou mais perto de Zola e falou em um tom baixo - Alguns dizem que Sarah fazia parte da resistência.
- Será? - disse Zola no mesmo tom que o homem.
- Duvido muito, minha filha. - o homem se distanciou da lobisomem e voltou a falar em um normal - Isso é só fofoca. Mas se você precisar consertar alguma peça sua de roupa, eu te indico o caminho da casa em que elas vivem.
- Realmente, meu irmão e eu precisamos consertar algumas coisinhas. - disse sorrindo para o senhor - Assim que meu irmão acordar eu vou pedir para ele vir conversar com o senhor para saber a onde elas moram.
- Claro, vou estar aqui. - o senhor bateu a mão no balcão e deu um sorriso para Zola.
A lobisomem sorriu para o homem e pediu licença, já subindo as escadas correndo e indo para o quarto em que seu irmão continuava dormindo. Zola abriu a porta com força fazendo a mesma bater na parede, e seu irmão deu um pulo da cama já puxando sua faca que estava embaixo do travesseiro.
- Mas que afobação toda é essa? - Indras perguntou enquanto se sentava na cama e voltando a guardar a faca embaixo do travesseiro, depois que viu que a pessoa que entrou com tudo no quarto era sua irmã.
- Eu a encontrei! - Zola disse sorrindo e se aproximando do irmão.
- Encontrou quem?
- Lyanna, eu a encontrei.
- Como?
- Eu estava parada aqui na frente da hospedaria, vendo o movimento das pessoas, vendo os comércios e nossas possíveis rotas de fuga, quando passou uma moça ruiva, ela olhou para mim e eu senti como se a conhecesse, e por um momento eu vi a marca das bruxas em sua testa, mas essa logo sumiu. - a lobisomem contou animada.
- Como assim a marca da testa dela sumiu? - questionou Indras.
- Eu não sei, só sei que eu a olhei e vi a marca por um instante, mas depois a marca não estava mais.
- Tem certeza que essa é a mesma bruxa que o pai disse para procurarmos?
- Absoluta. - afirmou Zola com uma expressão séria no rosto - E eu fui perguntar para o senhor que cuida da estalagem sobre ela. Ele me afirmou que seu nome é Lyanna, é uma jovem órfã que vivi com a madrinha chamada Sarah, o mesmo nome da melhor amiga de Évora.
- É, isso não pode ser coincidencia. - Indras respondeu já começando a calçar suas botas - Eu vou atrás dela, e você vai lá ver como a bruxa profetiza se encontra.
Os dois combinaram o que cada um iria fazer e saíram do quarto. Descendo as escadas da hospedaria, deram de cara com Darick que vinha chegando trazendo consigo uma bruxa e uma humana. O vampiro sorriu para os irmãos e disse que tinha passado no bordel e pedido um lanchinho e uma diversão para a noite, fazendo com que o estômago dos irmão se revirasse e sentisse pena das mulheres que estavam com ele.
Zola explicou que ficaria de guarda na cadeia junto da bruxa profetiza, alegando que ela poderia tentar algo para fugir, e o vampiro aprovou sua atitude, enquanto Indras disse que uma das suas calças estava com um rasgo, e soube de uma costureira ali perto, mas que logo voltava para fazer guarda para o vampiro.
Quando saíram da hospedaria, cada um pegou um caminho.
Indras ia caminhando e olhando tudo em volta, reparando nas pessoas que viviam naquele vilarejo. Constatou que não tinha nenhuma bruxa que andava pelas ruas, então as únicas bruxas que viviam naquele lugar deveriam fazer parte do bordel, e de vez em quando alguma bruxa patrulheira acompanhada de um lobisomem deveria passar para não deixar a floresta e seus animais tomarem a cidadezinha.
Logo ele encontrou a casa onde o senhor tinha dito que morava Sarah e Lyanna, e bateu na porta. Foi recebido por uma mulher baixinha de cabelos castanhos claros e uma mecha branca que se destacava.
- Pois não? - a mulher perguntou se encostando na porta e encarando Indras com uma cara desconfiada.
- Sarah?
- Quem quer saber? - a mulher cruzou os braços em frente ao corpo e fechou ainda mais sua expressão.
- Meu nome é Indras, sou filho do Mateo, eu…
- E não é que o filho daquele cachorro velho é bonito. - a mulher disse dando risadas e abraçando o lobisomem, o pegando de surpresa - Venha, querido, entre. - disse fechando a porta. - Acho que temos algumas coisas para conversar, não é mesmo?
- Eu suponho que sim. - Indras respondeu já entrando na casa.
Zola chegou na cadeia e foi falar com o responsável que iria ficar de guarda da bruxa profetiza. O homem a olhou de cima a baixo e viu sua postura ameaçadora e constatou que ela logo seria um dos lobisomens que veio com Darick para levar a tal bruxa, ele não viu problema nenhum ela ficar ali na cadeia, até pediu para ela tomar conta de tudo, já que ela queria ficar ali, então ele tiraria uma noite de folga.
O homem mostrou onde ficava cada coisa dentro da cadeia, e depois mostrou onde ficava sua casa e que em qualquer dúvida ou se acontecesse qualquer coisa ela poderia o chamar.
Zola esperou o homem juntar as suas coisas, trancou a porta assim que saiu e foi conferir quem estava ali. Assim que percebeu que não tinha ninguém na cadeia além dela e da bruxa, foi para a sala dos fundos, a sala que o homem tinha apontado falando a onde a profetiza se encontrava.
Antes mesmo de entrar na sala, a lobisomem já conseguia sentir o forte odor que emanava do lugar. Assim que entrou, olhou para todos os lados procurando a mulher, a viu em uma gaiola, ela estava ajoelhada e com o rosto no chão, seu corpo tremia um pouco e Zola percebeu que ela estava chorando enquanto murmurava algumas coisas.
Zola foi se aproximando devagar da bruxa de cabelos azuis e estendeu sua mão para a tocar pelas grades da gaiola. Assim que a tocou, a bruxa se assustou e levantou o seu rosto com pressa.
- Me desculpa, eu não queria assustar você. - Zola foi logo se desculpando.
- Quem é você?
- Meu nome é Zola, eu vim aqui para te ajudar.
- Ajudar? Como assim? - a jovem bruxa se permitiu sentir uma pontada de esperança, se aproximou mais das grades da gaiola as segurando com as duas mãos e colocando seu rosto bem próximo.
- Eu vim aqui para…. - Zola se aproximou e colocou uma das mãos em cima da mão da bruxa, logo a expressão no rosto da bruxa deixou de ser aterrorizada e passou a ser neutra, seus olhos antes que eram azuis escuros passaram a ser totalmente brancos, um vento começou a soprar jogando os cabelos azuis da bruxa para trás e assustando a lobisomem.
Zola tirou a mão da bruxa e deu dois passos para trás, assustada com tudo o que tinha acontecido.
O vento parou, os olhos da bruxa foram voltando ao normal, e ela olhou para Zola com um sorriso de alívio em seu rosto.
- Você estava na minha visão, é você meu anjo!