A Profecia

05

 
    Indras entrou dentro da casa e Sarah indicou a mesa para que ele se sentasse enquanto ela preparava um chá para eles. O lobisomem ia olhando tudo em volta e constatou que a casa era pequena e bem simples, mas muito bem arrumada e com cheirinho de bolo ou biscoitos, era uma casa bem acolhedora e o fez se sentir muito bem.

     Sarah terminou de fazer o chá e levou para a mesa junto com algumas coisinhas para eles comerem, tudo isso em silêncio e sendo observada pelo lobisomem. Quando terminou de arrumar tudo na mesa, puxou uma cadeira e se sentou ao lado de Indras, começou a servir o chá e colocar uma fatia de bolo para ele comer.

    - Então, - Indras começou dizendo meio que sem saber por onde começar a puxar assunto - Como que você conheceu meu pai?

    - Lutava ao lado dele a uns anos atrás - Sarah respondeu dando de ombros enquanto cortava um pedaço de bolo para ela.

    - Isso deve ter sido legal- Indras respondeu bebericando um pouco do chá.

    - Sei que deve ter um monte de perguntas, e que com certeza deve estar se sentindo confuso e perdido nesse negócio todo.

    - Totalmente, eu nem sei por onde começar.

    - Só queria que Lyanna chegasse para podermos ter essa conversa de uma vez por todas, ela também está tão perdida quanto você, se não mais. - Sarah disse suspirando.

    - Ela é filha mesmo de Évora? É a bruxa da profecia, a toda poderosa? - ele perguntou se aproximando da mulher.

    - Ela realmente é filha de Évora, mas eu não sei se ela é a Grande Bruxa que todos estão esperando.

    - Como assim? - Indras estava se sentindo cada vez mais confuso com tudo.

    Sarah deu um longo suspiro e olhou para a porta de entrada da sua casa com o pensamento longe, relembrando os últimos dias que esteve com sua grande amiga.

     Sabia que não iria conseguir proteger Lyanna para sempre, e que logo ela iria partir para sua própria jornada, mas seria bom ter alguém que ficasse de olho nela e a ajudasse quando precisar.

    - Évora teve a filha sozinha no meio da mata, ninguém sabe quem é o pai da menina, só que um dia ela apareceu grávida e decidiu que seria melhor ir desfazendo o acampamento, mandou várias pessoas para as cidades, para viver suas vidas, criar laços e famílias até que o chamado viesse.

    - Chamado? O que seria isso? - Indras perguntou se interessando cada vez mais na história.

    - O chamado seria quando a Grande Bruxa iria se levantar, seria quando nós iríamos finalmente lutar ao lado dela, quando iríamos tomar o poder que nos foi tirado.

    - Então, tem pessoas por aí espalhadas só esperando a hora de lutar?

    - Isso aí, - Sarah deu uma piscadinha e bebericou um pouco do seu chá, - Na verdade, Évora foi só um rosto para a resistência.

    - Como assim?

    - A resistência tem desde a queda das raças e da ascensão dos vampiros, existe a mais de mil anos, e nunca foi desligada. Existem vários acampamentos com várias raças se ajudando e vivendo no meio da mata só esperando o chamado. Évora foi a bruxa elemental do fogo que nasceu depois de quase mil anos, então ela usava de seu poder para deixar os vampiros loucos e recrutar e salvar várias pessoas, mas ela não era a líder.

    - Então porque todos acham que ela era a líder e que a resistência acabou com a sua morte?

    - Porque não precisamos de vampiros e nem de pessoas intrometidas se interessando nos nossos negócios - Sarah deu de ombros como se fosse a coisa mais óbvia.

    Indras estava chocado com as coisas que Sarah estava falando para ele. Nunca iria adivinhar isso, ou pensar que existia um grupo de pessoas nas sombras somente esperando a hora de lutar. Não que isso fosse ruim, muito pelo contrário, ele achava isso o máximo e ficou feliz em saber que não estaria sozinho lutando contra um exército de vampiros, ele estava impressionado com isso, pois por muito tempo ele viveu com medo e fez tudo o que os vampiros mandavam com medo dos castigos, com medo da morte, não a dele mas a das pessoas que ele amava.

    Saber que tinha pessoas dispostas a arriscar tudo para se verem livre finalmente, o dava forças para continuar e lutar.

    - Já que Évora não era a líder, quem que é? - Indras pergunta.

    - Não sei, somente os responsáveis pelos acampamentos que se encontravam com ele.

    - Ele?

    - Sim, um homem e o mais chocante, um vampiro.

    - Um vampiro fundou a resistência? - Indras disse, ou melhor gritou totalmente chocado com tal revelação.

    - É eu sei, eu fiquei do mesmo jeito quando Évora disse que um vampiro que liderava a resistência e salvava várias pessoas das crueldades que a sua própria raça causava.

    - Isso é loucura, - Indras disse se levantando e andando pelo local passando as mãos pelo cabelo. - Mas e a Lyanna, o que ela tem haver com essa profecia? Ou o que eu e minha irmã temos?

    - Quando Évora deu à luz a menina, a Deusa Mãe veio ao seu encontro.

    - A própria Deusa? - Indras parou de andar e olhou estupefato para Sarah.

    - Exatamente, a Deusa apareceu para ela poucos segundos depois que Lyanna nasceu. Évora nos disse que a Deusa passou a mão pela testa da menina e sua marca desapareceu, que a menina seria uma peça fundamental para que a nova era começasse, só que ela não estaria sozinha - Sarah se levantou e chegou perto do lobisomem, pegou as suas mãos e olhou bem dentro dos olhos dele - Você e sua irmã também são peças fundamentais para a nova era, a Deusa disse sobre o nascimento de vocês e que os seus destinos estavam entrelaçados.

    - Mas a Lyanna não é a Grande Bruxa?

    - Eu não sei, só sei que vocês estarão juntos e eu realmente espero que essa bruxa que surgiu com uma nova profetiza possa dar mais detalhes sobre o caminho que vocês devem trilhar.

    - Isso tudo é tão confuso - Indras saiu de perto da pequena mulher e voltou a andar, sua cabeça dando voltas e mais voltas com as coisas que acabara de ouvir.

    - Só quero que você esteja do lado de Lyanna, que a proteja e a ajude a se encontrar, ela é uma moça tão delicada, inocente e um pouco medrosa. Ela não sabe o que a espera, aliás nenhum de vocês, mas eu sei que Lyanna teve uma criação um pouco mais privilegiada sem passar por grandes dores ou sacrifícios, e ela pode demorar um pouco para aceitar que ela vai ter que lutar e provavelmente tirar a vida de alguém.

    - Eu vou cuidar dela, - Indras prometeu.