ROYALS • Sirius Black

By twinskeletonx

152K 13.5K 16.3K

[FINALIZADA] Após uma mudança na carreira de seus pais, Barbra Borage é transferida para a Escola de Magia e... More

── Introdução
Capítulo 1: Bruxos ingleses
Capítulo 2: Artifícios
Capítulo 3: Rivalidade
Capítulo 4: Ato de lealdade
Capítulo 5: Fogo cruzado
Capítulo 6: Indulgência ou revés
Capítulo 7: Remetente anônimo
Capítulo 8: Entre sussurros
Capítulo 9: Aparecium
Capítulo 10: Criaturas
Capítulo 11: Incolor
Capítulo 12: Summum bonum
Capítulo 13: Mapa Rastreador
Capítulo 14: Vigilância constante
Capítulo 15: A Mui Antiga e Nobre Casa dos Black
Capítulo 16: 29ª Sagrada
Capítulo 17: Luta ou fuga
Capítulo 18: Mnemosine
Capítulo 19: Polaris
Capítulo 20: Era das Trevas
Capítulo 21: Cinza
Capítulo 22: Causas ocultas
Capítulo 23: O momento seguinte
Capítulo 24: Divergências
── Especial 40k! ♡
Capítulo 25: Legado
Capítulo 26: Canis major
Capítulo 27: Destemor e prudência
Capítulo 28: Reputação
Capítulo 29: Livre arbítrio
Capítulo 30: Finite Incantatem
Capítulo 32: Contagem regressiva
AVISO

Capítulo 31: Em três idiomas

1.1K 104 72
By twinskeletonx

Se aparatar é ruim, viajar por portais é pior ainda. A vertigem me atingiu em cheio, achei que fechar os olhos fosse melhor, mas só tornou mais enjoativo. 

Observei Sirius jogar a Chave do Portal para longe assim que caímos no chão duro de Hogsmeade, o impacto foi todo para meus pulmões e achei por um segundo que perdi a habilidade de respirar. 

Devagar, apoiei-me de lado no meu cotovelo. Vi o nuque rolar entre raízes de árvores e lama até desaparecer do meu campo de visão. Ao nosso redor, só encontrei árvores. Estamos nos bosques? Não faço ideia de que parte de Hogsmeade seja esta. Além do mais, sinto-me fraca e tonta. Percebo que a queda foi mais cruel com Sirius, que já estava consideravelmente mais machucado do que eu. Há uma expressão de dor em seu rosto e não estamos mais de mãos dadas.

Juntei toda a força que me restou para dobrar meu corpo até conseguir ficar sentada, e então me agachei, e por fim conseguiu me pôr de pé. Entre a enxurrada de pensamentos que passavam por minha cabeça, a única coisa (e provavelmente a mais idiota) que consegui me concentrar foi...

"Usamos magia fora da escola."

Sirius se apoiou em ambos cotovelos ainda caído com as costas para o chão, me olhando com um vinco entre as sobrancelhas.

"É com isso que está preocupada?" ele caçoou, mas vi seu sorriso vacilar, como se a possibilidade de sermos expulsos de Hogwarts tivesse enfim passado por sua cabeça. "Nós precisávamos usar magia para nos defendermos."

Mas eu percebi a incerteza em sua voz e sei que ele está pensando o mesmo que eu: não temos ninguém para nos defender caso algo aconteça. Nosso sobrenome não significa mais nada para nós.

Aliás, não duvidaria que nossas famílias testemunhassem contra nós, entretanto, certamente eles não arriscariam ser expostos como opositores do Ministério, muito menos como Comensais da Morte, então não acho que precisamos nos preocupar com isso por ora.

"Temos que falar com Dumbledore", falei assim que o pensamento se formou em minha mente. "Não tem mais como adiar o inevitável."

"Com certeza", Sirius suspirou, passando as mãos pelos cabelos negros, uma expressão de dor em seu rosto ao mexer a perna. "Daria tudo para não ter nascido no meio dessa gente que se acha a realeza puro-sangue."

"Sirius?" chamei, virando-me para vê-lo melhor. Ele me deu um olhar indagador. "Depois de hoje, duvido que ainda fazemos parte da realeza puro-sangue."

Ele me encarou e eu sustentei o olhar. Percebi o canto dos lábios de Sirius se repuxar, e logo nós dois caímos na gargalhada.

Fomos ambos deserdados – quer dizer, não fui oficialmente deserdada, mas é só questão de tempo até meus pais saberem do que aconteceu. Dois bruxos menores de idade, sem família, que não se graduaram ainda, nem podem usar mágica fora da escola. Toda a situação parece tão ridícula que chega a ser engraçada.

Engraçada e... estranhamente libertadora. Acho que não tem outra forma de descrever a sensação de romper laços com essa loucura. 

Sirius se levantou e veio até mim quando parou de rir. Eu estava ocupada passando as mãos pela minha roupa, tentando ajeitá-las um pouco, mas fui surpreendida por um par de braços ao redor do meu tronco.

"Algo me diz que vai ficar tudo bem", ouvi a voz de Sirius abafada em meu cabelo.

Retribuí de um jeito estranho, pois a parte de cima dos meus braços estava confinada pelo abraço de Sirius. Coloquei minhas mãos em suas costas, na altura da cintura, puxando-lhe para mais perto de mim cuidadosamente para não machucar suas costelas ainda mais, e deitei minha testa em seu ombro.

Não percebi quando comecei a chorar.

"Eu sinto muito, muito mesmo. Não consegui resistir à Maldição Imperius. Não imagino que você consiga me perdoar por isso, mas–"

"Do que você 'tá falando, Borage?" ele me interrompeu, afastando-me de seu abraço para poder olhar em meus olhos. "Não vai se livrar de mim tão fácil assim."

"Mas–"

"Não foi sua culpa. E você conseguiu resistir."

"Depois que o estrago já estava feito."

"Não houve estrago algum", ele balançou a cabeça desdenhosamente. "Mas não pense que eu vou ignorar a situação com você e Regulus."

"Situação?"

"Ah, para. Eu percebi o clima que rolou entre vocês enquanto cruzavam a floresta."

"Por Merlin", de olhos fechados, levei uma mão à testa. "Não dá pra acreditar no que 'tô ouvindo."

"Quando ia me contar que estava tendo um caso com meu irmão?"

"Ah, Sirius, cala a boca", eu o empurrei no peito para longe, já estava rindo.

"É sério, Borage. Da próxima vez, pede pra eu me virar primeiro, assim fica mais fácil enfiar a faca nas minhas costas."

Revirei os olhos. "Onde estamos?"

"Não sei ainda", ele disse, e pelo seu semblante estava pronto para mais uma piadinha, porém seus olhos acinzentados percorreram as árvores ao nosso redor e ele só então pareceu tomar conta da localização desconhecida. "Acho que... estamos na floresta que fica atrás da aldeia. O Castelo fica ao Norte, mas entre essas árvores, sem ponto de referência, qualquer direção parece o Norte."

"Você não explora essas áreas com o veado, o rato e o lobisomem?"

"Não, aqui não", ele se justifica. "Tem muitas casas por perto. Aluado tem que ficar o mais longe possível de humanos e... Calma, o que você 'tá fazendo?"

"Procurando a Polaris!" exclamei, já distante dele. Procurei entre a densidade de folhas de árvores até encontrar uma brecha que me permitia ver o céu noturno. "Se tem algo que eu lembro das aulas de Astronomia, é do dia em que Avalon chamou Remus pra sair enquanto procurávamos a Estrela do Norte."

Sirius não gosta de admitir que gosta de Astronomia, imagino que esse é interesse comum dos Black, mas é inegável que ele entende bastante do assunto. Com um suspiro e um olhar de derrota, ele juntou-se a mim e encontrou a Polaris em questão de segundos.

Nós andamos floresta adentro seguindo a Polaris até encontrarmos a primeira estrada. Foi necessário todo o conhecimento de Sirius acerca das ruas de Hogsmeade para que encontrássemos um caminho conhecido. Ele se localizou depois de virarmos meia dúzia ruas. A caminhada foi longa, meu corpo implorava a cada dois ou três passos para eu parar. Tive câimbra e quase pude ouvir meus músculos dizendo: se você não parar, eu paro. 

Então parei, apoiei as mãos nos joelhos, respirei fundo. 

"Ei..." Sirius disse gentilmente. Levantei a cabeça e vi sua mão esticada na minha direção. A aceitei, nossos dedos se entrelaçaram. "Estamos quase–"

Estalo.

Outro estalo.

Os pelos da minha nuca se arrepiaram. 

Não são estalos comuns, daqueles de fogos de artificio da Zonko's. Eram estampidos, repentinos, graves, de aparatação.

Sirius puxou minha mão antes de eu conseguir dar o primeiro passo, tropecei mas logo estava numa corrida frenética atrás dele, adrenalina vencendo dor.  Passa um zunido na minha lateral, um lampejo verde – maldições

"Eles viraram a direita!" gritou a voz que reconheci pertencer à Bellatrix.

A gritaria e as conjurações continuaram atrás de nós. Três, quatro, cinco Comensais - as vozes vinham de todos os lados, os barulhos de aparatação... Eles nunca aparatavam na nossa frente, porém. Sirius desviava com maestria pelas ruas e becos familiares de Hogsmeade. 

Suspirei aliviada apenas quando percebi os brados e exclamações ficando para trás conforme nos aproximávamos da Casa dos Gritos. Eles não teriam coragem de nos seguir. Os feitiços lançados nas trevas já não nos encontravam. A escuridão era desorientadora, mas Sirius conhecia o caminho.

"Você..." ele expirou cansado, empurrando a porta da casa com um rangido tenebroso. "Você está bem?"

Entrei rápido, murmurando um "aham" enquanto me espremia pela porta com o restinho de fôlego que me restava. A bolsa que roubei da Bellatrix continuava segura no meu ombro, mas parecia ter triplicado de tamanho após a corrida morro acima. 

O ambiente continua fantasmagórico, um mau agouro paira no ar e um arrepio perpassa minha coluna mesmo eu sabendo que a Casa dos Gritos jamais fora, de fato, assombrada. Não importa agora, de qualquer jeito. Olho para Sirius – ele parado próximo da lareira toda arranhada por garras de lobisomem, os cabelos pretos grudados no suor do rosto, uma mão no abdome recuperando o ritmo da respiração – e me concentro no pensamento de que após um longo caminho abaixo do solo, estaremos em Hogwarts. 

Finalmente. 

Estávamos a caminho do único lar que nos restou.

----

"Ugh!" Sirius reclamou, saindo de sua forma animaga e juntando-se à mim próximo ao Salgueiro Lutador, que voltou a sua natureza violenta depois do Sirius-cachorro tirar sua pata de cima do nó na raiz. "Que horas são?"

Olhei para o céu escuro. "Sei lá. Madrugada, talvez?" eu disse, e só então me dei conta: "Não acredito que ficamos lá um dia inteiro."

"Pareceu muito mais tempo."

Ouvi meu estômago roncar. Se não fosse pela Poção Revitalizadora que tomamos, não sei em qual estado estaríamos agora. Não que nosso estado atual fosse qualquer coisa próxima de invejável. 

Olhamos um para o outro, mas dessa vez não consegui sustentar o olhar. A culpa me invadiu, avassaladora; abaixei a cabeça e me deparei pela primeira vez com o estado deplorável dos meus sapatos. Se Sirius percebeu meu desconforto, não demonstrou.  

Caminhamos rumo à Torre Central. Uma coruja ou outra piava de vez em quando, pensei em Noir sozinha no Corujal, em como minha corujinha provavelmente é a única companhia que vou ter nas férias. E então pensei em como serão minhas férias, em como será voltar para a casa dos meus pais, e em quais outras opções eu tenho. A atividade na minha mente foi tão intensa que quando Sirius virou uma esquerda, eu continuei andando reto por bons dez metros sem notar.

"Aonde você está indo?" perguntei.

"Para a Torre da Grifinória, ué. Não me aguento mais em pé."

"Não, não. Vamos para o escritório de Dumbledore."

Ele soltou algo entre um suspiro e um bufo. "Não podemos fazer isso amanhã?"

"Quero falar com ele desde que recebi a carta do meu pai. Não vou esperar mais."

"Ele deve estar dormindo", disse Sirius. 

"Confira no mapa, então."

Ele se aproximou de mim, revirando os bolsos de suas vestes. A Capa da Invisibilidade de James emergiu primeiro, depois o mapa. Chego mais perto para ler, Dumblore andava pra lá e pra cá em seu escritório e havia outros dois pontinhos em sua sala.

"Achei que vocês tinham consertado o problema dos nomes."

"Arrumamos", Sirius se defendeu com um sorriso. "Mas Dumb-lore é bom demais, então resolvemos deixar até perder a graça–"

"McGonagall e Flitwick", eu o interrompi, apontando para os pontos um de cada lado de Dumblore. "Você acha que...?"

Sirius sorri de lateral. "Estamos ferrados."

Mas o sorriso desaparece quando escutamos um miado ríspido, e a sombra de madame Nora aparece ao fim do corredor, projetada por uma luz amarelada.  A silhueta da gata apareceu primeiro, depois a de Filch corcunda e carrancudo, segurando um lampião. 

"Muito ferrados", eu corrijo. 

"Ei, vocês dois!", o zelador corre na nossa direção, desajeitado, sua capa mal-cuidada balançando à meia luz atrás dela. Madame Nora nos alcança primeiro e sibila de forma ameaçadora para Sirius. "Ah, vocês estão encrencados. Vou preparar os ganchos, tenho certeza que Dumbledore abrirá uma exceção para pendurá-los pelas orelhas-"

Filch continuou nos ameaçando com torturas medievais sem hesitar, girou ao nosso redor, nos examinando à luz do lampião. Eu expliquei muito resumidamente o que havia acontecido: saímos da escola sem permissão e as coisas fugiram do nosso controle. 

Num piscar de olhos, Sirius e eu havíamos sido conduzidos para o escritório de Dumbledore, com Filch nos puxando pelos colarinhos de nossas capas. Fomos largados em cadeiras confortáveis, minhas pernas relaxaram finalmente e a dor retornou de rebote, ainda mais forte do que antes. Segurei firmemente a bolsa de Bellatrix no meu colo. McGonnagal  e Flitwick chegaram logo depois, falavam com Dumbledore e Filch e lançavam olhares curiosos para nós dois vez ou outra. 

Recostei-me no respaldo alto da cadeira com um suspiro. Meus olhos pesavam, o ombro que sustentava a bolsa ardia, meus músculos começaram a relaxar e o sono veio, porém tenho a mais plena consciência de que a noite ainda está longe de acabar. Um grande pássaro de plumagem vermelha e  dourada –  uma fênix, reconheci – dorme com o bico debaixo da asa, empoleirado confortavelmente ao lado da mesa de Dumbledore. Tive inveja de sua tranquilidade.

Inveja de um pássaro de fogo. Tá aí algo que eu jamais achei que sentiria.

"Minerva, por favor avise a madame Pomfrey que levarei dois alunos para a ala hospitalar dentro de uma hora", Dumbledore anunciou em alto e bom tom por fim. 

"Certamente", respondeu a professora McGonagall, e se saiu da sala de imediato, apenas parando brevemente no batente da porta para lançar um olhar ilegível na direção de Sirius antes de sumir no corredor. 

"Filius," continuou o diretor; "diga aos retratos que podem parar de vigiar os corredores. Argus, vá descansar."

Professor Flitwick assentiu, mas veio até mim primeiro.

"Você está bem, senhorita Borage?"

"Cansada, professor", foi o que consegui dizer, a voz rouca seguida de outro suspiro. 

Flitwick se aproximou e fez sinal para eu me abaixar. Curvei-me até a altura de seus olhos, e então ele sussurrou: "Fique no dormitório pelo resto da semana, e não conte para os outros alunos que te liberei das aulas. Mandarei uma coruja todos os dias com os deveres, entendeu?" 

"Obrigada."

Com isso, Flitwick limpou a garganta e ajeitou suas veste azul-claras. Foi só agora que percebi que estão todos de vestes de dormir –  Dumbledore traja uma longa camisola roxa escura de seda de fada, não está com seu chapéu regular, contudo, os óculos meia-lua continuavam pendendo em seu nariz torto, estranhamente reconfortantes.  

Filch saiu resmungando por não conseguir permissão para nos torturar.

"Você deveria reler o estatuto dos bruxos menores de idade, Argus, é importante para sua profissão", professor Flitwick foi dando uma lição de moral atrás do zelador, pude escutar sua vozinha ecoando pelo corredor até Dumbledore fechar as portas do escritório.

O silêncio foi retumbante. Dumbledore caminhou devagar até sua mesa, fez um carinho nas costas da fênix e sentou-se. Cruzou as mãos sobre a mesa. 

"Vocês nos deram um susto e tanto." 

Sirius e eu nos entreolhamos. Ele respirou fundo antes de começar a narrar  a história do início: o Natal no largo Grimmauld. Contou sobre o plano de reformar o Diretório Puro-Sangue, depois olhou para mim com expectativa, e eu tomei consciência de que ele não sabia muito mais sobre isso além do que eu tinha compartilhado.

Então foi minha vez de falar. Disse que meus pais se juntaram às famílias sagradas do Reino Unido. Falei que eles precisaram provar sua lealdade ao Diretório Puro-Sangue juntando-se aos Comensais da Morte – pulei a parte de que isso poderia ter sido evitado se eu me casasse com Sirius. Falei sobre a carta que recebi com a prévia da nova publicação do Diretório. E falei sobre o convite.

E enquanto eu contava tudo, dúvidas e mais dúvidas iam aparecendo.

"O senhor..." eu comecei, mas não sabia como perguntar.

"O senhor já sabia sobre os Comensais?" completou Sirius, colocando uma mão no meu ombro. Ele olhou para mim de canto de olho. Sinalizei sim com a cabeça, indicando que era exatamente isso que eu queria saber.

O diretor ficou quieto por longos segundos, nos encarando de maneira gentil. Puxou o ar com força, olhou para a fênix, e disse: "Os Comensais da Morte e seu líder são uma organização que já vem se formando há anos, secreta e lentamente. Ataques ao Ministério são suas atividades favoritas. Foi apenas nesse ano que as coisas ficaram mais... violentas. Há pouco tempo, nosso ministro capturou um deles. Foi então que o Ministério conseguiu atribuir todos os problemas que tivemos nos últimos anos a eles."

Meus ombros caíram, tirei a bolsa de Bellatrix do meu braço e a coloquei no chão. Dumbledore seguiu meus movimentos com o olhar. Estava triste, me senti traída e rejeitada. O peso que eu estava me forçando a suportar até o momento, cedeu.

"Meus pais..." falei, mas precisei parar para engolir o nó na minha garganta. "Não acho mais que eles tenham se mudado para cá apenas pelo convite do Ministério. Acho que já sabiam. Já conheciam essa... essa organização. Eles tentaram fazer parte do Diretório de outro jeito, eu não... Eu não aceitei. Não sei se eles queriam fazer parte assim, quer dizer..."

Sirius estava com o rosto vermelho, visivelmente irritado. Ele fez menção de dizer algo, mas o diretor levantou a mão, impedindo-o.

"A vida se tornará insustentável se você tornar um hábito se culpar pelas escolhas dos outros, Barbra", disse Dumbledore.

"Só estou dizendo que..."

Eu não sabia o que estava dizendo.

"São seus pais. Apesar das circunstâncias, te criaram, te ensinaram quase tudo o que você sabe. Imagino que é muito difícil ter que imaginá-los ao lado dos Comensais, especialmente agora que você presenciou um pouco do que eles fazem. Ver a coisa acontecendo é muito diferente do que ouvir os boatos e as histórias, não é?" Dumbledore disse. Eu assenti, mordendo o canto inferior do meu lábio, tentando não chorar. "Bem," ele continuou; "não é uma noção agradável. Mas parece que a senhorita tem pessoas ao seu redor que vão te segurar se você precisar cair", ele olhou deliberadamente para Sirius agora. "Te dizer quando suas preocupações forem válidas, e te alertar quando você estiver tomando responsabilidades que não são suas."

"Eu nunca imaginei que as coisas chegariam neste ponto", minha voz saiu quase como um sussurro. E era verdade. Nem nos meus piores pesadelos considerei que algum dia meus pais se radicalizariam desta forma.

"Imagino que vocês dois estejam cansados", disse o diretor, interrompendo meus pensamentos. "E provavelmente com dor. Logo irei liberá-los, madame Pomfrey cuidará dos ferimentos. Se bem que, pelo o que vocês contaram, eu imaginaria que estivessem em pior estado..."

"Ah..." eu ri, sem graça. "Hipoteticamente, o que aconteceria se tivéssemos fermentado algumas doses de Poção Revitalizadora sem supervisão?"

"Só por curiosidade", adicionou Sirius.

"Isso", eu completei rapidamente, recuperando um pouco do meu humor. "Por interesses puramente acadêmicos."

Dumbledore permaneceu sério. Por um momento, achei que eu havia piorado nossa situação. Mas então o diretor olhou para a janela pensativo. "Bem, isso explicaria as raízes de Mandrágora que desapareceram. No universo das hipóteses, é claro."

Sirius sorriu para mim, depois voltou sua atenção para Dumbledore. "O senhor sabe em quantos eles são?" sua voz saiu mais sóbria desta vez.

"Muitos", suspirou Dumbledore. "Estão infiltrados em quase todos os lugares."

"Com todo o respeito, o senhor considerou investigar os alunos da Sonserina?" sugeriu Sirius.

Dumbledore ajeitou a postura. "O que te faz pensar que são apenas Sonserinos? Barbra, por exemplo, foi convidada."

"Eu sei, mas... Grifinórios entre os Comensais da Morte?" Sirius perguntou em tom de deboche. "Fala sério."

"O mundo não é dividido entre Grifinórios e pessoas má intencionadas, Sirius."

Sirius remexeu os pés, desconfortável e algo irritado. "É, acho que a vida seria fácil demais se fosse assim."

Ficamos quietos depois disso, cada um mergulhado em seu próprio mundo de pensamentos. Dumbledore cantarolava baixinho uma música do Coral de Sapos. A fênix acordou e se remexeu.

Então dei um longo suspiro, minha garganta seca de tanto falar. Sirius despertou de seu devaneio e assumiu a conversa novamente, detalhando como fomos até o covil dos Comensais, o que aconteceu lá, compartilhou sobre as torturas que sofreu da própria prima, e como escapamos.

Dumbledore ficou quieto enquanto explicávamos. Ele assentia de vez em quando, nunca nos interrompendo. Percebi que Sirius tomou o cuidado de não revelar suas habilidades com animagia. Disse que passamos pelo Salgueiro Lutador por sorte, que a árvore tentou nos atingir mas não conseguiu. O diretor ergueu uma sobrancelha, mas não verbalizou sua desconfiança.

"E então Flitwick nos achou no corredor", eu finalizei a história quando Sirius terminou de contar sobre o Salgueiro. 

"Regulus estava lá?" perguntou Dumbledore. Eu confirmei com a cabeça. "E os alunos estão escapando da escola o mês inteiro para essas reuniões?" 

Assenti de novo. "Tenho a lista das novas famílias sagradas, se o senhor quiser."

"Agradeço, senhorita Borage. Tenha certeza que as providências necessárias serão tomadas." 

Nesse momento, a fênix começou a abrir as asas levemente. Algo parecia a incomodar, Dumbledore percebeu também. 

"O que há com a Fawkes?" Sirius perguntou. 

A ave virou a cabeça, mirando um de seus olhos pretos e penetrantes em mim. Franzi o cenho. Abri a boca para falar, mas o pássaro já tinha voado em minha direção. Me encolhi instintivamente para o lado de Sirius, porém Fawkes não tocou em mim. Em vez disso, ela pegou a bolsa de Bellatrix que eu deixei no chão, a agarrou com suas garras e voou até Dumbledore, largando a bolsa bem na frente do diretor. 

"Mas que caralho-" Sirius se interrompeu, passando um braço por meus ombros e olhando nada amigável para o pássaro. 

Dumbledore fez um carinho em Fawkes, mas seu olhar estava voltado para nós. "O que é isso, Barbra?"

"Ah..." eu tinha esquecido da bolsa. "Bellatrix manteve esta bolsa por perto o tempo todo. Estava protegendo-a, acho. Não sei o que tem dentro."

"Você a roubou?"

Minhas bochechas ficaram vermelhas. "Sim."

"Por quê?" perguntou o diretor.

Dei de ombros. "Parecia importante."

Dumbledore me encarou por cima dos óculos meia-lua. "Muito bem."

Sirius levantou primeiro. Forcei minhas pernas a suportarem meu peso por mais um pouquinho, apoiei ambas as mãos na beira da mesa de Dumbledore e espiei enquanto ele abria a bolsa de Bellatrix.

"Merlin", Dumbledore sussurrou, então olhou para Fawkes. 

"O que é, professor?" Sirius quem questionou primeiro.

Dumbledore enfiou a mão na bolsa. Ela era pequena, mas, para minha surpresa, o diretor colocou seu braço inteiro lá dentro. A bolsa só pode estar sob o Feitiço Indetectável de Extensão. Dumbledore começou a puxar algo brilhante, comprido. Uma espada. Seu cabo cheio de pedras vermelhas, isso são rubis de verdade? 

Sirius arregalou os olhos. "É a espada de Gryffindor?"

Dumbledore já tinha tirado o objeto inteiro da bolsa. Eu arregalei os olhos, reconhecendo-a. Vi em Hogwarts: Uma História. A espada de Godric Gryffindor é real. 

O diretor levantou-se com cuidado, segurando a espada com as duas mãos. Pendurou na parede acima da lareira, ela se encaixou perfeitamente, como se aquele suporte tivesse sido fabricado especificamente para ela. E talvez tivesse mesmo.

Dumbledore começou a andar pelo escritório, de um lado para o outro, mexendo na sua barba e olhando para o chão. De repente, correu até uma estante, pegou uma caixa azul e a abriu. Uma nuvem de fumaça densa e perfumada pairou ao seu redor, imagens que eu não consegui decifrar dançavam no ar. 

Olhei para Sirius. Ele deu de ombros, tão confuso quanto eu.

"Entendo..." o diretor disse finalmente. Fechou a caixinha e estava passando pela porta do escritório já quando disse: "Preciso enviar uma coruja para um antigo amigo."

"Cada dia mais estranho", murmurou Sirius.

Na ausência de Dumbledore, olhei pensativa para os quadros dos ex-diretores de Hogwarts que cobrem as paredes do escritório. Deve ter pelo menos uma centena de quadros, a maioria homens, pintados em estilos de arte diferentes ao longo dos anos, até os mais recentes em fotografias bruxas. Alguns estavam dormindo, outros não faziam questão de esconder que estavam prestando atenção na conversa que tivemos com o diretor atual.

"Eu..." Sirius começou, puxando-me de volta à realidade. "Eu não te agradeci. Teria morrido lá se não fosse por você."

"Percebi que Bellatrix não iria me atacar por causa dos meus pais. Se ela não estivesse tão irritada com você, eu não teria tido tempo para bolar um plano."

Sirius riu. "Somos uma boa dupla: eu tiro as pessoas do sério e você aproveita a oportunidade para atacar."

"Quem é a moça que salvou meu trineto?"

Levei a mão ao coração para me acalmar do susto. Eu nunca vou me acostumar com os quadros falantes, nunca. A pergunta veio de um homem muito branco, alto, de cabelos negros e rosto bastante magro, as maçãs do rosto tão destacadas que ele mais parecia um esqueleto coberto de pele macilenta. Estava dentro de uma moldura dourada, na qual lia-se: Fineus Nigellus Black, diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts de 1880 a 1925.

Olhei confusa para Sirius que, por sua vez, deu um sorriso lateral.

"Que foi? Você não é a única que tem um antepassado famoso."

Fineus ajeitou a postura no quadro, satisfeito. Ele abrira a boca para falar, mas Sirius não lhe deu essa chance, pois rapidamente complementou:

"Famoso por ser o pior diretor que Hogwarts já teve, mas, ainda assim, famoso."

"Moleque petulante. Por causa de crianças como você, eu odiava meu trabalho. E ainda é traidor de sangue."

Sirius riu. "Vejo que você andou visitando sua moldura lá em casa."

"Sim, e pelo o que ouvi não é mais sua casa."

"Graças a Merlin!" Sirius levantou as mãos exageradamente, sua expressão facial era de puro alívio. "Foi a Walburga que te disse isso? Diga-a que fiquei muito satisfeito com a notícia."

"Seu-"

Antes que Fineus pudesse xingar Sirius, Dumbledore retornou. 

"Venham. Madame Pomfrey está pronta para recebê-los." 

Encarei a espada de Gryffindor antes de sair da sala. 

Dumbledore lançou um Lumos enquanto descíamos as escadas, meus pés doem tanto que considero apoiar-me em Sirius, até perceber que ele também está mancando. Então engulo a dor e sigo Dumbledore, novamente cantarolando aquela música do Coral de Sapos.

Estávamos no corredor da ala hospitalar quando avistei um furacão ruivo. 

"Eu só quero saber se Sirius e Barbra estão na enfermaria!" Lily gritou com a madame Pomfrey, que estava com as duas mãos na cintura e uma expressão de pouca paciência. "Já procuramos pela escola inteira, ninguém os vê desde ontem!"

"Pois você deveria estar na sua Sala Comunal, já passou muito do toque de recolher", retrucou Pomfrey.

"Eu tenho permissão do monitor para estar aqui!" Lily exclamou novamente, exasperada, apontando para um Remus sem graça atrás dela. 

A porta ao lado da ala hospitalar se abriu. "Algum sinal do Sirius?" perguntou Xeno, aproximando-se de Lily e Remus esbaforido.

"Não", foi Remus quem respondeu, "Algum sinal da Barbra?"

"Não. Mais difícil de encontrar do que um sapo lunar... Apesar de que, suponho eu, eles devem ser comuns se você estiver na lua..." Xeno pôs uma mão no queixo, olhando para o céu noturno através da janela.

Sirius virou-se para mim, um sorriso verdadeiro estampado em seu rosto. Finalmente. 

"Estão nos procurando?" ele perguntou. 

Quatro pares de olhos arregalados se voltaram à nós, seguidos de suspiros, e graças à Merlin, e abraços. E depois "eu estava preocupado!" e também "eu vou matar os dois!" (Remus e Lily, respectivamente).

"Meninos", Dumbledore disse calmamente, passando os olhos pelo grupinho que nos esperava. "E senhorita Evans, também. Peço que deixem as perguntas para depois. Avisem o senhor Potter e o senhor Pettigrew que eles estão bem, e deixem-nos descansar."

Ao falar em Potter e Pettigrew, o barulho de sapatos batendo contra o piso rapidamente se aproximou de nós. James estava todo descabelado, pior que o normal. Mas estava sorridente e pulou em Sirius para lhe dar um abraço, depois fez o mesmo comigo, com menos intensidade Peter apareceu também, suspirando aliviado ao nos ver.

Xeno fez algo que nunca tinha feito antes: me deu um abraço. Um abraço rápido, meio desajeitado, e eu pude entender que isso significava que bom que você está bem. Ele me soltou e deu um tapinha amigável no ombro de Sirius, antes da madame Pomfrey nos puxar para o dentro da ala hospitalar.

"Sirius?" chamei, já deitada na maca. Estamos lado a lado. Madame Pomfrey acabou de me dar uma poção analgésica. Com meu corpo relaxado, o sono não demorou para aparecer novamente.

"Sim?"

"Je t'avais prévenu."

Ele soltou uma risada nasalar, debochada. "Você realmente acha que prestei atenção nas aulas de francês que meus pais me obrigavam a fazer?"

"Te lo dije."

"Bateu a cabeça, Borage?"

Dei um sorriso fraco. Com os olhos pesados, entreabertos, avistei madame Pomfrey entregando um cálice para Sirius, mas ele não o bebeu. Em vez disso, ficou me encarando meio preocupado, e com um último suspiro antes de deixar o sono me levar embora, eu falei em inglês com o sotaque britânico mais forçado que consegui:

"Eu te avisei."




.

N/A: Eu sempre digo: demoro a atualizar, mas sempre volto. Juro que vou terminar essa fanfic, obrigada a todas vocês que ficaram comigo até aqui, aos novos leitores, e aos que precisarão voltar alguns capítulos para se lembrar aonde paramos kk

Este capítulo foi o penúltimo de Royals *grito interno* Agora só falta o 32 e o epílogo. Em fevereiro/2023 a fanfic completa três anos e eu 'tô bastante emocionada com tudo que aconteceu desde que essa jornada começou. Vou deixar pra falar mais sobre tudo o que estou sentindo no epílogo, já 'tô preparando uma nota de adeus.

Até logo!

Continue Reading

You'll Also Like

139K 17K 22
A vida de Isabella Miller é um autêntico turbilhão: cursa direito por influência dos pais e divide o apartamento com uma amiga. No entanto, sua rotin...
184K 15.6K 35
Amberly corre atrás dos seus sonhos em outro país deixando o passado pra atrás e ainda frustada com o término e a traição do ex que ficou no Brasil...
48.6K 5K 16
★ ━━━ INEVITABLE HEROES ━━━ ★ [Concluída] Supernova - substantivo feminino, ASTRONOMIA: Estrela maciça que, num estágio avançado de sua evolução, e...
99.8K 6.9K 50
"- Eu não sou estranha. - argumentei Percy fez uma careta - Não, você é sim. É super estranha. Abri a boca em choque, então comecei a rir. - O que...