Minha Pessoa Favorita - Livro...

By autorakdepaula

918 246 41

Após ser desintegrada dentro de um canal, Haley vai parar em Ladiran e precisa arranjar uma forma de voltar p... More

Quinto Livro
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30 - Final
Livro 6

Capítulo 10

26 7 0
By autorakdepaula

6:05 p.m.

Fecho o forno e vou com a minha taça de vinho meio cheia de volta para o sofá. Do assento ao lado de Shane, tiro o laptop de Jake e, ao me acomodar lá novamente, o apoio nas coxas e recomeço o jogo.

Shane tem cinco abas de navegadores diferentes abertas no joguinho de cartas e eu duas. Quero adiantar um pouco a vida de Jake, ganhando uns centavos de dólar em seu lugar porque desde a revelação de Raj na palestra de hoje, não consegui descansar a cabeça em momento algum e quero ter Jake comigo por pelo menos uma hora esta noite em vez de vê-lo na frente do laptop até dormirmos.

Meu celular vibra no sofá, eu apoio a taça de vinho na mesinha de centro e pego o aparelho para ver quem é.

Jake: Já chegaram em casa? <3

Eu: Já <3

Jake: Querem que eu leve o jantar?

Eu: O Shane pediu para eu fazer pão pita recheado e eu já até botei no forno para a gente. Você está chegando?

Jake: Sim. Vou levar sobremesa, então. O que vocês querem?

– O Jake vai trazer sobremesa. O que você quer?

– Cinnamon rolls? – Shane sugere.

Nós dois adoramos esses rolls de canela cheios de açúcar. Ele pega a minha taça e dá um gole enquanto escrevo de volta para Jake.

Eu: Cinnamon rolls.

Jake: Okay, já estou chegando em casa :*****

Deixo o celular novamente ao meu lado no sofá e olho a sala com os pensamentos bem longe. Em Ladiran, mais especificamente, onde o pai de Raj deveria ter ficado.

Hoje saí da faculdade questionando absolutamente tudo o que um dia o falso Dr. Milton nos contou e nos ensinou. Bom, não a linguagem dos sinais porque essa eu sei que está certinha visto que no aniversário de Dean, eu liguei para ele e conversei com os seus pais por sinais e nos entendemos muito bem. Porém, todo o resto sim. A viagem ao redor do círculo cinza, quem vinha pelo vórtex do polo norte, as inúmeras histórias que ele contava sobre os Hellers que apareceram perto do esconderijo durante o tempo que ele se hospedou ali, o motivo real para ele querer voltar para a nossa dimensão e, principalmente, quais os planos dele agora que está de volta ao nosso planeta, dezoito anos depois de ter sido empurrado por Raj para dentro de um canal.

Estou com uma sensação horrível a esse respeito. Como se algo ruim fosse acontecer a qualquer momento.

– Haley, o jogo – Shane chama a minha atenção.

Acabei me perdendo nos meus pensamentos e esqueci de jogar as cartas que preciso.

– Me desculpa – falo, voltando a apertar o trackpad do laptop de Jake.

– Está tudo bem? – Shane pergunta e pega novamente a minha taça de vinho, bebericando dela. – Você passou o dia todo quieta hoje.

– Não consigo parar de pensar no que o Raj disse.

– Você está preocupada por ter trazido um Heller de volta para cá? – Shane passa a taça para mim e volta a prestar atenção nas cinco abas abertas em sua tela.

– Sim.

– Ele não foi desintegrado na Índia? Se ele tiver voltado pro mesmo ponto onde foi desintegrado, como vocês foram, ele vai estar bem longe daqui. De você, do Arthur, do Raj e do seu pai. Por que se preocupar?

– Porque ele com certeza voltou para cá com Enon para 100 pessoas. Fora que eu não sei se restaurar o Enon Hile dele também deu a ele habilidades extras.

– Esse Heller está há mais de dez mil quilômetros daqui, e você mesma disse que ele não sabe nem usar um smartphone. Ele provavelmente vai passar mais tempo tentando se ajustar às duas décadas que ele perdeu do que usando o Enon dele para fazer mal a alguém.

– Shane, eu vim questionando tudo o que ele disse no nosso tempo em Ladiran. Ou até antes, o que ele disse que aconteceu ao longo dos livros. Tudo o que ele nos fez acreditar sobre a Terra sombra, Ladiran, ele mesmo, Hiles... Ele disse que Hiles não queriam voltar para a Terra e que ficavam desorientados ao chegarem em Ladiran, por isso iam para o lado claro e não seguiam o conselho dele de ficar pelo lado escuro, mas ele não parecia desorientado, fez o contrário de todo mundo indo para o lado escuro e passou anos planejando uma forma de voltar para cá para rever a família.

– Vai ver que os outros Hellers de Ladiran não eram tão apegados à família – Shane dá de ombros.

– O Raj matou o pai. Quão apegado ele pode ser ao Raj depois de ter sido assassinado pelo próprio filho? – questiono, tentando provar o meu ponto. – E mais do que isso, ele falava com carinho sobre a família. Será que ele sabe que o Raj o empurrou pra dentro do canal? Será que...?

– Baixinha, que diferença isso faz na sua vida? – Shane pergunta, me olhando pela primeira vez desde que essa conversa começou. – O Raj deveria ser a pessoa a se preocupar com isso, não você.

– Me preocupa porque o Raj disse que o pai tinha ódio de Encantadores e fez a cabeça dos irmãos mais velhos dele sobre nós. Fora que ele manipulou o Arthur e eu por meses. O Arthur por muito mais tempo, aliás, porque durante quase três anos ele entrava pelo menos uma vez a cada quinze dias na cabeça do Arthur, o fazendo escrever sobre Ladiran. E mais do que isso, você se lembra da prova do Professor Bollini que fizemos juntos?

– Você diz separados, porque você preferiu proteger o Jake a me contar a verdade.

– Separados porque eu amo vocês e não queria que o meu relacionamento com ele prejudicasse a amizade de vocês.

Shane volta a prestar atenção em seu jogo sem retrucar porque esse período longe da gente foi horrível para nós três e não gostamos nem de lembrar, que dirá falar sobre o assunto.

– De qualquer forma, você se lembra que o Arthur começou a escrever no livro dele no meio da prova e ficou com os olhos pretos? – pergunto.

– Claro. Foi bizarro.

– Pois é. Depois que eu parei para pensar sobre como os Hiles nos acharam e nos atacaram na faculdade pouco tempo depois disso acontecer, eu supus que essa pessoa que o "possuiu" tivesse ouvido o Professor Bollini falando sobre a prova de encantos porque na hora que ele ouviu isso, o Arthur parou de escrever. E se o pai do Raj tiver escutado "prova de encantos", passado o olho ao redor, visto que era uma sala de aula, gravado os rostos de todos nós, mandado algum sinal para os Hiles dessa dimensão, tudo isso antes de eu anular o Enon Hile da sala? Me pergunto se ele tem as mesmas habilidades que o Arthur ou se é da ordem dos intérpretes, mas Hile. Se ele consegue falar com Ladiran daqui e avisar para todo mundo que se eles quiserem voltar com 10 mil pontos de Enon para cá, eles só precisam...

– Haley. – Shane toca a minha mão, me impedindo de continuar. – Você está se preocupando com uma coisa que você nem sabe se é real. E mesmo que seja, o Arthur vai ficar sabendo de tudo o que estiver rolando, tanto aqui quanto em Ladiran, porque ele tem acesso às duas redes de comunicação, certo?

– Certo.

– Então bebe o seu vinho, esquece o pai do Raj e joga pra se distrair um pouco.

– Desculpa, Shane – digo, chateada. – Jogar pode até te ajudar a não pensar na Zoey, mas eu não consigo abstrair e relaxar sabendo que tem um Hile possivelmente com alguma habilidade excepcional e desconhecida em alguma parte do mundo e que conhece o meu rosto, o meu nome, o do Arthur e do meu pai.

Shane até para de jogar depois do meu desabafo. Não sei se fui rude e se o chateei falando desse jeito e agora estou arrependida do que disse, até porque ele está com a cara fechada, olhando para frente em silêncio.

– Me desculpa. Eu não quis estourar em você – falo e encosto o rosto em seu ombro, sobre o pano da camisa.

– Você não estourou. Só está errada quando diz que o jogo me ajuda a não pensar na Zoey.

O longo suspiro que deixa os pulmões dele me faz colocar o meu laptop e a taça de vinho sobre a mesa de centro. Agarro-me ao braço de Shane e mascaro o meu Enon para ele não se sentir exposto com o contato, apesar de eu saber que ele precisa de um afago agora.

– Eu achei que ela fosse vir – comento.

– Eu também – ele diz, frustrado. – Não me desce que depois de seis meses do melhor relacionamento que eu tive nos últimos oito anos, ela tenha me chutado da vida dela porque eu olhei para algo que estava no meio do rosto dela de um jeito diferente do que ela gostaria.

– Você jura que não pensou ou sentiu nada ruim quando viu a marca?

– Juro. Eu só não tinha visto a infecção dela até então. Se eu soubesse que isso iria acontecer, nunca teria aberto os olhos ou, sei lá, teria apagado a luz. Que merda.

– Eu sinto muito, Shane. Eu queria poder dizer que ela vai superar isso com o tempo, mas... Infecções têm muito poder.

– Eu sei. Se a sua infecção não tivesse te botado louca pelo Jake, você não estaria com ele hoje de novo depois de ter sido chifrada meia dúzia de vezes e dele ter feito sei lá o que com você a ponto de te gerar um trauma – ele solta, claramente sem pensar, porque logo em seguida me olha com uma careta. – Desculpa.

– Tudo bem, Shane. Eu sei que você está chateado com essa situação toda.

Se Shane me culpa pelo que aconteceu com Zoey ou não, eu não sei porque ele nunca me falou e nem deixou transparecer pela nossa empatia. Contudo, ele ficou bem mal por toda a viagem até Toronto e depois durante o percurso de volta até Calgary. Shane é o tipo de pessoa que precisa constantemente de um ressonador ou ressonadora ao lado dele para ajudá-lo a processar as suas emoções. Agora que voltamos para a faculdade, ele pode pedir suporte a um dos colegas que estudaram com ele no semestre passado, da turma de ressonadores, mas não sei se a compatibilidade entre a dupla precisaria ser alta como era a dele com Zoey para que ele fique bem de novo, se é que um dia vai ficar bem sem ela.

– Você está pensando em virar a página agora que sabe que a Zoey não vem pra cá? – pergunto com o olhar em seu rosto..

– Eu não consigo pensar em outra pessoa, baixinha.

– Tudo bem. – Beijo o tecido que recobre o ombro dele. – Tudo tem seu tempo, Shane. Vai que você encontra outra Encantadora com 96% de compatibilidade com você na faculdade?

– Não. Eu não quero nem sonhar com isso. É desesperador sentir o que eu sinto por ela com essa compatibilidade toda. Se eu tiver isso com outra pessoa... – Shane bufa e fecha os olhos, angustiado. – A minha vontade é de voltar a sair com pessoas comuns.

– Você não pode.

– Eu sei. Ainda mais agora, com esse tanto de Hellers ao redor. Você tem visto muitos?

– Sim. Canais de iniciação também. Cada dia mais. Espero que Edmonton nunca fique do mesmo jeito que Toronto porque em Toronto eu fiquei com medo.

– Você não vai começar a desintegrar os Hellers daqui?

– Vou, eu pretendia fazer isso assim que tivesse a reunião com o meu pai e o Professor Morari, só que depois do desconforto geral do que descobrimos na palestra, eles adiaram o nosso encontro na coordenação para amanhã. Ainda não sei como vão funcionar essas desintegrações e nem como vai ser a equipe que vai trabalhar comigo.

Ouvimos a chave passando na porta pelo lado de fora e o assunto morre. Pego o laptop de Jake de novo, junto com a minha taça de vinho, e nós dois agimos como se não estivéssemos fazendo nada além de jogar quando Jake passa pela porta com duas sacolas na mão. Ele veste um baita sorriso no rosto, como todas as vezes que volta do voluntariado dele na polícia. Jake adora aquilo lá.

– Boa noite, família! – ele diz ao nos ver. Acho tão fofo quando ele nos chama assim, porque a verdade é que somos a família dele mesmo.

– Boa noite, meu amor – digo. Jake vem primeiro até mim e me dá um selinho.

– Boa noite, Bro – Shane responde.

– Jogando? – Jake pergunta.

– Sim. – Pego o laptop com ambas as mãos e me levanto do sofá, entregando o aparelho para Jake. – Joga aí com o Shane que eu já vou tirar os pãezinhos recheados do forno.

– Okay!

Jake assume o meu lugar, eu pego as sacolas que ele trouxe e vou para a cozinha com ambas. Acendo a luz do forno para conferir se os pãezinhos estão dourados, mas vou deixar mais uns três minutinhos por ali antes de tirar. Fico ouvindo a conversa de Shane e Jake enquanto apanho três pratos no armário, além de mais duas taças de vinho e levo até a mesa de quatro lugares que fica atrás do sofá. Em seguida, faço o mesmo com alguns talheres e a garrafa de vinho. Busco a minha taça quase vazia na mesa de centro antes de voltar para a cozinha e, enfim, tirar o nosso lanchinho do forno.

Com uma luva de proteção, puxo a travessa com dez pãezinhos pita recheados com queijo, presunto, alguns temperinhos e tomates, quase como pequenas pizzas caseiras. Mal apoio a travessa sobre a bancada, sinto o calor do corpo de Jake entrando na cozinha e se aproximando de mim.

– Como foi o seu dia? – Jake pergunta, me virando de frente para si e mantendo as mãos na minha cintura. – Deu tudo certo no primeiro dia de aula?

– Surpreendente. – Ele sorri e vem me beijar de novo. – E o seu dia?

– A superintendente me chamou para conversar na sala dela. Disse que está gostando muito do meu trabalho lá e que pode me ajudar a acelerar o processo de seleção – Jake fala animadíssimo.

– A superintendente notou um simples voluntário? – pergunto impressionada. – Parabéns, meu amor! Você realmente deve estar fazendo um trabalho extraordinário.

– Na verdade, ela disse que não nota muito os voluntários, mas como eu sou grande e forte, ficou impossível não notar.

Dou risada porque não tem nenhuma mentira na frase dele. De fato, é impossível Jake entrar em qualquer ambiente e não ser o foco de atenção imediato de todos. Até porque ele é um gostoso. A tal superintendente certamente pensa o mesmo que eu.

– Devo me preocupar com essa superintendente notando o quão gostoso você é e te chamando para a sala dela para uma conversa? – brinco.

– Se ela fosse uns quarenta anos mais nova, talvez – ele devolve.

– Sorte a minha, então – dou risada e contorno o pescoço dele com os meus braços. – Assim tenho você só pra mim.

As mãos de Jake saem da minha cintura, descendo até a bunda no momento em que ele volta a me beijar. Ele cola nossos quadris quando me puxa para perto de si, o que me dá vontade de montar nele na mesma hora e de continuar de onde paramos em seu carro hoje de manhã.

– Hey, o que vocês estão fazendo tão quietos aí na cozinha? – Shane pergunta da sala.

Paramos o beijo para evitar problemas porque da última vez que começamos a nos beijar na cozinha, eu terminei sentada na bancada, com Jake entre as pernas e Shane quase nos pegou no flagra.

– Nada. Só estou terminando de preparar o nosso jantar. Já pode ir para a mesa – digo um pouco mais alto para ele escutar através da parede.

Tento afastar Jake de mim, mas ele tem esse olhar lascivo enquanto me seca de cima a baixo, o que torna muito difícil manter distância.

– Toma um banho comigo antes do jantar? – ele pede.

– A comida vai ficar fria e eu tomei banho assim que cheguei.

– A minha avó dizia que não faz bem tomar banho de barriga cheia. Que mal tem tomar outro banho comigo? – Jake, mordendo o lábio inferior, vem com a mão no meu peito e pinça o meu mamilo com os dedos, o que me faz notar que estou com os faróis acesos depois de beijá-lo. Novidade. Jake não precisa de nada elaborado para me deixar desse jeito. Às vezes, só de olhar para ele eu fico molhada. – Vamos? Aí eu mato a vontade que eu estou desde que nos despedimos mais cedo.

– Que vontade é essa? – pergunto interessada. Seus dedos continuam apertando o meu mamilo.

– De chupar esses bicos deliciosos, te comer contra os azulejos do banheiro e...

– Bro! Eu tô ouvindo! – Shane reclama lá de longe.

Jake e eu fazemos caras travessas e ele me solta enfim.

– Vou tomar banho... – ele fala andando de costas em direção à porta.

– Vamos comer antes. Depois você toma banho – digo pegando a travessa com os pãezinhos e levando até a mesa da sala. – A sua avó pode até estar certa sobre não tomar banho de barriga cheia, mas você não vai se empanturrar e nem tomar banho muito quente, então vem.

Coloco a travessa no centro da mesa e os meninos logo me seguem, ocupando seus lugares ali. Fico entre ambos, que logo pegam quatro pãezinhos cada, deixando dois para mim. Não são muito grandes, então dois serão suficientes para o meu estômago.

– Como foi a aula? – Jake pergunta e logo mastiga o seu primeiro pão.

– Boa. Ao contrário do curso de Ottawa, onde a gente tinha no máximo duas matérias por termo, aqui temos cinco e os horários são meio malucos. Tem um dia na semana que eu tenho aula de noite, mas não tenho de manhã. A Haley também, né, baixinha? – Shane pergunta.

– Quando o meu pai montou a minha grade, ele achou melhor eu ter pelo menos uma manhã, uma tarde e uma noite livres porque ainda não sabemos como vai ser o meu trabalho na faculdade – respondo.

– Você não ia ver isso com o coordenador antes de sair da faculdade hoje?

– Sim, mas aconteceu uma coisa que me tirou totalmente o foco disso e eu acabei vindo direto para casa.

– O que houve? – Jake pergunta preocupado.

Troco olhares com Shane enquanto mastigo o meu pãozinho e, ao engolir, o devolvo para o prato.

– Eu te conto depois – digo a ele.

– Okay – Jake concorda. Ele não é do tipo que espera para ouvir algo que claramente é um segredo, mas já deve ter se ligado que o assunto tem a ver com Hellers.

– Cheia de segredinhos ela... – Shane provoca.

– Todo mundo tem segredos. Eu não sou a única.

– Você tem segredos, Shane? – Jake pergunta.

– Eu? Não.

Monto uma cara de paisagem levando o pão novamente à boca.

– Esconder durante 5 anos que comeu a Jenny foi o quê, então? – Jake provoca.

– Eu tentando evitar problemas com essa baixinha aqui. – Ele aponta com o queixo para mim.

– Comigo? – pergunto surpresa. – Quando foi que eu emiti opiniões sobre com quem você transava?

– Você iria ficar com ciúmes, baixinha. Eu só não queria confusão – Shane morde o seu pão. – E você, Bro?

– O voluntariado é sempre ótimo. Digo, eu não prendo bandidos nem nada do tipo, mas eu vejo um pouco de como é a realidade na estação e cara... Tem uns casos aqui muito pesados. O povo de Edmonton é perigoso mesmo. Hoje apareceu um cara que entrou no LRT e esfaqueou seis pessoas aleatórias. Duas morreram. Quando ouvi isso, achei que eu estivesse no Brasil de novo.

– Em todo lugar tem crime, Jake – Shane diz.

– Mas Deadmonton não é um apelido sem motivo, Shane. Aqui realmente tem mais assassinatos do que outras partes do Canadá – explico.

– Tem mesmo e, pelo que eu pude notar, só tem piorado com o tempo. Eu vou ter um bocado de trabalho quando virar policial – Jake assume.

– Bem protegido, de preferência – digo. – Como foi o trabalho?

– Hoje teve menos movimento no shopping. Acho que por causa da volta às aulas. Nada muito emocionante. Um colega meu disse que entre final de setembro e começo de outubro vai ter uma Oktoberfest e perguntou se eu queria trabalhar por lá nas minhas folgas. Estou pensando em aceitar.

– Bro, você não vai poder beber durante o trabalho – Shane avisa.

– Eu bebo depois. Vocês estão a fim de ir? – Jake pergunta.

– Beber? Óbvio.

– Haley? – Jake pergunta após sorver um pouco do vinho.

– Por mim, tudo bem. Contanto que não seja no meu aniversário.

– Você vai fazer festão esse ano? – Shane pergunta. – Com drogas, sexo e tunt tunt?

Dou risada do "tunt tunt".

– Não, Shane. Só um bolo com a minha família mesmo – respondo. Jake me olha fazendo bico. – Com o meu namorado e amigos também, apesar do meu namorado ter ciúme dos meus amigos.

– Vamos lá, vocês já passaram dessa fase – Shane resmunga. – Vai todo mundo para a festa, o Jake vai se comportar, vamos nos divertir, comer bolo de nozes e vocês vão ignorar o resto dos convidados brincando com os irmãos da Haley até as crianças dormirem. De acordo?

Jake só dá uma levantada de sobrancelha para concordar e morde o seu segundo pãozinho. Não posso culpá-lo porque é só ter Dean perto de mim que eu esqueço do meu compromisso com Jake, mas não fico sem Dean no meu aniversário de jeito nenhum. Ainda mais podendo ser o último que passamos juntos.

Conversamos mais um pouco durante a refeição, Jake vai tomar o seu banho de barriga cheia, contra as recomendações da sua falecida avó, eu volto para a sala com Shane, onde ficamos jogando por mais um tempo até Jake voltar limpinho e cheiroso para o sofá para tomar o meu lugar diante do laptop.

Estou acostumada a ficar no mesmo ambiente que os dois enquanto eles matam monstros no computador ou no videogame, mas hoje estou fazendo força para não deixar a preocupação estragar a noite com os meus meninos. Quando canso de ficar entre os dois no sofá, sem fazer nada, até porque eles não compraram uma TV para o apartamento ainda, me despeço e vou para o quarto de Jake deitar.

Aqui só tem a escrivaninha dele, o armário e um colchão no chão. Jake até tinha a base da cama, mas ele comprou uma bem vagabunda e acabamos quebrando após umas quatro noites que dormi aqui. Em vez de gastar dinheiro com outra, ele simplesmente forrou o chão com papelão e colocou o colchão em cima.

Deito sobre os lençóis, encarando o teto por longos minutos até Jake vir atrás de mim. Ele nos fecha no quarto, pendura a camisa do seu pijama no cabide atrás da porta e vem para o meu lado só de shortinho.

Com os cotovelos apoiados no colchão, ele pergunta:

– O que aconteceu, baixinha? Qual era o segredo que o Shane não podia ouvir?

Viro-me de frente para ele.

– Você se lembra do Encantador com Enon Hile que eu falei que conheci em Ladiran? O que estava lá antes do Arthur chegar?

– Lembro. O que tem ele?

– Hoje descobrimos que o nome dele não é Dr. Milton, ele não é um Encantador e enganou todos nós. Na verdade, ele é o pai do Raj, que o Raj empurrou para dentro de um canal 18 anos atrás.

Jake franze o rosto inteiro.

– Como vocês descobriram isso? – ele pergunta.

– Nós vimos uma foto do Dr. Milton de verdade, que não tinha nada a ver com o homem que eu conheci em Ladiran. Aí o Raj fez um Shaanti para ver as memórias do Arthur e quando se deparou com o rosto do pai, o nosso mundo foi abaixo. Agora eu estou preocupada com o que esse Hile pode fazer conosco. Eu me lembro do Raj contando que ele empurrou o pai para dentro do canal porque ele tinha encontrado amor e amizade no Encantador que ele queria proteger, o amigo dele, mas não no seu pai, que era um Hile e só propagava ódio e medo. Fiquei pensando se enquanto ele se passava pelo verdadeiro Dr. Milton, o pai do Raj também estava fingindo ser legal conosco e o motivo para isso. Estou preocupada com o que ele pode vir a fazer se nos encontrar aqui. Na teoria, ao voltar, ele foi mandado para o mesmo lugar onde foi desintegrado, que fica em Jaipur, na Índia, longe pra caramba daqui. Só que eu estou com um pressentimento ruim sobre isso.

– Por que ele iria querer fazer algo contra você? Você ajudou o cara a voltar para cá.

– Porque ele sabe que eu...

Freio a língua no segundo em que vejo que o meu motivo não pode ser exposto assim.

– Porque ele sabe que você...? – Jake repete, aguardando eu continuar.

Estou tão tensa agora que não me ocorre nada para dizer.

– Não, você tem razão. – Abano o ar. – Acho que estou me preocupando à toa. Na verdade, eu fiquei com medo de que ele agora saia espalhando por aí para outros Hiles que Ladiran realmente existe e, sei lá como, o nosso planeta acabe sendo enviado para lá no final das contas.

– Se ele estava tentando sair de lá, por que ele iria querer voltar? – Jake toca o meu braço.

– Porque ele é um Hile e Hiles gostam daquele inferno.

– Você também e odiou.

– Eu não nasci com esse Enon em mim. De repente, isso faz diferença. Bom, não importa. O meu receio é que como o número de Hiles aumentou muito, se ele espalhar para todos que Ladiran é real e melhor do que aqui, acho que vão faltar Encantadores ou desintegradores para matar todos os Hiles que ele manipular, como me manipulou e eu nem desconfiei. O Raj uma vez disse que Hiles podem ser muito verdadeiros ou muito ardilosos e, infelizmente, eu conheci a versão ardilosa e nada verdadeira do pai dele.

Encolho-me na cama suspirando por não poder prosseguir com esse assunto sem me denunciar. Jake se aproxima ainda mais, me fazendo deitar sobre o seu peito, e acaricia os meus cabelos. Desmascaro o meu Enon e percebo que apesar de estar tentando me dar conforto, ouvir sobre desintegradores, Encantadores e Hiles sendo ardilosos não é do agrado dele. Jake está pensando nos pais agora, na falta que sente deles, se perguntando se eles estão em Ladiran também e se terá a chance de, um dia, caso a Terra seja transportada para lá, reencontrá-los na dimensão Hile.

– Você realmente acha que a vida em Ladiran seria tão ruim assim se a Terra fosse mandada para lá? – Jake pergunta.

– Eu não estou disposta a descobrir, Jake. Bilhões de pessoas, sem contar os animais e a natureza, vão morrer se esse desastre acontecer. Se eu puder evitar que Hiles tentem uma loucura dessas, eu vou.

– Como você evitaria? Prendendo os Hiles?

– Desintegrando todos eles – respondo séria. Ele comprime os olhos. – Uma vez você me perguntou se eu me perdoaria se matasse alguém e eu disse que dependendo do motivo, sim. Para mim, esse é um excelente motivo.

– Então você me desintegraria sem culpa se eu decidisse voltar a seguir o que os meus pais tentaram me ensinar?

Se fosse possível desintegrá-lo, certamente eu não o faria sem culpa, como não fiz no passado.

– Eu nunca te desintegraria, Jake, nem se você quisesse me matar. Se você morrer, eu morro junto – digo, tentando parecer romântica, mesmo que só esteja dizendo uma triste verdade. – A minha vida sem você tem um vazio tão insuportável que eu não quero sentir de novo nunca mais.

Ele me olha enamorado.

– A minha também. – Jake encosta a boca na minha testa e coloca o meu braço sobre sua barriga, me fazendo abraçá-lo. – Nunca mais fico longe de você, baixinha.

– Nem eu. Mas você não está falando sério sobre voltar a seguir o que os seus pais te ensinaram, né? Você não concorda com a ideia de matar todo mundo para levar a Terra para Ladiran, certo?

– Não, Haley. Não concordo com nada disso. Não concordava antes e certamente não concordo agora. Nesse momento, eu só quero ficar em paz com você e com o resto do mundo, quietinho para que nenhum desintegrador maluco descubra quem eu sou e me tire de você porque, como você já disse, se eu morrer, você morre junto, e eu quero que você viva muito ainda. Aqui comigo.

Jake encaixa a coxa entre as minhas e se vira de frente para mim, me dando alguns selinhos carinhosos. Quando ele segura o meu rosto com a sua enorme mão, a nossa empatia me passa que esse assunto está encerrado porque agora ele quer me provar na prática tudo o que disse. Ele não demora nada para me puxar para cima de seu corpo e enfiar as mãos por baixo da regata do meu pijama para tirá-la.

Encosto os seios diretamente contra o peito nu dele enquanto nos beijamos mais um pouco, numa renovação deliciosa e quente como o inferno graças a essa compatibilidade de 94% que faz parecer que o verão em Edmonton se assemelha ao verão no Vale da Morte. Já estou acostumada, mas às vezes sinto como se a minha pele fosse queimar contra a dele.

Quando Jake aparta nossos lábios, ele abocanha os meus seios, ainda deitado no colchão e eu suspiro. Ele faz dos meus mamilos gato e sapato, beirando o limite entre o prazer e a dor que, graças ao Universo, nunca foi ultrapassado, então só me deixa escorrendo entre as pernas mesmo.

Em pouco tempo, estou de costas no colchão e ele termina de tirar as nossas roupas, ficando em cima de mim enquanto eu lambo o seu pescoço e ele desliza o pau pelo meu clitóris, se lambuzando com a minha umidade. Ele só para de me provocar quando eu faço o mesmo em seu pescoço, o que o leva a se enterrar dentro de mim e me faz gemer na hora.

Do nada, o calor do corpo de Jake some e eu sei que essa será a última noite que passaremos juntos por algum tempo.

Continue Reading

You'll Also Like

3.5K 424 7
Maia Fernandez está prestes a fazer uma viagem. Dois dias num maravilhoso chalé na companhia dos seus melhores amigos. É véspera do dia dos namorado...
31.1K 3.6K 25
Charlotte Evans era mais uma garota típica e normal vivendo em sociedade num planeta chamado Terra. Uma jovem tímida, mas tagarela e criativa. U...
437K 47.4K 36
Ariel Caldwell tem problemas, e não é nada comparado ao uso abusivo de álcool e drogas. Ou aos pircings e tatuagens espalhados pelo seu corpo. Seu pa...
123K 5.6K 24
As duas são sequestradas após sair do trabalho e vendidas pelo "Mercado Humano" Para os dois Híbridos de plena importância no mundo sobrenatural. �...