Any Gabrielly
Acordei no dia seguinte sentindo algo molhado beijando, ou chupando, meu pescoço. Sorri automaticamente ao sentir aquele cheiro maravilhoso. Eu nem precisava abrir os olhos para saber que Sabina estava ali. Eu adorava ser
acordada assim por ela. A noite anterior foi meio tensa. Minha conversa com Sabina foi um tanto
quanto apavorante. Ela estava estranha e eu sabia que algo errado estava acontecendo. Tinha pedido para que eu não a pressionasse a contar, na hora
eu concordei, mas era óbvio que eu iria querer saber o mais rápido possível o que estava acontecendo. Eu queria ajuda-lá de alguma forma, eu odiava ver Sabina triste e tão apavorada como ela estava, então daria um jeito de descobrir o que era.
- Bom dia, bebê. - Selou nossos lábios e cheirou meu pescoço fazendo um arrepio percorrer todo o meu corpo. Finalmente abri os olhos, dando de cara
com o rosto dela tão próximo. Por Deus, eu poderia ter desmaiado ali mesmo com tanta beleza. Fiquei apenas olhando-a por um tempo e ela sorriu sem
graça. Eu estava um pouco hipnotizada pela beleza dela, nós já estávamos juntas a tanto tempo e eu sabia que nunca me acostumaria com a pureza
que se exibia. Sabina conseguia ser ainda mais linda quando acordava. Seus cabelos bagunçados lhe davam um ar sexy. Ela tinha um sorriso confortante no rosto e me senti feliz por ve-lo. Parecia bem, o que fazia eu me sentir bem também.
- Senta aqui.. - Passou a mão por de baixo dos meus braços e me levantou, me fazendo sentar no sofá.
- Nós dormimos no sofá? – Perguntei observando o local e só então vi que Peter estava no andador me olhando. Ele estava quietinho, o que era estranho, pois ele sempre ficava agitado e resmungando aquela hora por fome.
- Acho que sim. Você dormiu no meu colo, estava tão bom que nem me dei o trabalho de levantar. Não queria que você acordasse. - Sorriu e eu segurei
seu rosto lhe dando um selinho novamente.
- Peter acordou agora? - Perguntei e ela olhou pra ele rapidamente. Os dois trocaram olhares e depois olharam para mim novamente. Eu achava extremamente estranho quando Sabina e Peter se olhavam assim. Parecia que eles conversavam por olhares. Podia ser normal se ele não tivesse só 10
meses de vida.
- Ahmm.. Não! Peter acordou mais cedo e Isa trouxe ele aqui. Eu não quis te acordar, então dei mamadeira pra ele. – Ela falou como se tivesse feito
algo errado, mas eu não me importava de Peter tomar mamadeira.
- Entendi. Tudo bem. - Sorriu aliviada. - Ele já tomou banho?
- Sim. Dei banho nele e na Isa.
- E onde ela está? - Perguntei e ela riu. Talvez achando graça da minha preocupação. Eu estava enchendo-a de perguntas. Eu era uma mãe protetora demais.
- Está por ai com Nour e Shiv. Vai voltar sabendo falar um palavrão novo. - Riu e respirei fundo. Sempre que Isa ficava com essas duas aparecia
falando alguma besteira. - Está com fome?
- Eu sempre estou com fome. - Falei e ela riu.
- É... Foi uma pergunta idiota. – Revirei os olhos. - Então, coma tudo. - Ela disse pegando uma bandeja com café da manhã em cima do criado mudo.
- Antes. Será que podemos conversar? - Perguntei e ela me olhou receosa.
- Agora?
- Sim. Agora!
Sabina suspirou pegando Peter e o sentou em seu colo.
- Ok. Estou ouvindo...
- É sobre ontem.. - Lembrei e ela suspirou alto. Estava batendo as pernas com Peter sentado nelas e ele estava adorando. Sabina estava claramente
nervosa, parecia que sairia correndo a qualquer momento só pra fugir do assunto. - Eu quero sab..
- Eu pedi pra você não me pressionar, Any. - Ela estava séria e eu suspirei. Sabina me conhecia e não era de agora. Sabia como eu era e fazia o
favor de me deixar curiosa e preocupada. Ela sabia que eu não desistiria fácil assim.
- Mas eu quero saber porque estou preocupada.
- Fica tranquila. – Pediu se levantando com o bebê resmungando em seu colo e eu bufei. Minha vontade era da com a mão na cara dela por me pedir uma coisa tão estúpida naquele momento. Mas me contive por estar na frente do meu filho. - Eu vou procurar Isa. Se troque que nós vamos na
praia. Não se preocupe, ok? Fique tranquila! – Ela deu um beijo na minha testa e saiu dali tão rápido que não tive nem tempo de impedi-la.
Eu queria esganar Sabina. Queria que ela confiasse em mim pra qualquer coisa como eu confiava nela. Queria que fosse mais aberta comigo em qualquer assunto, mas Sabina sempre foi assim, me poupava dos dramas dela e eu sempre tinha que descobrir o que se passava. Não é agora que vai ser diferente. Ela queria que eu me sentisse bem com ela e achava que me incomodaria. De uma coisa Sabina não sabia, eu me importava com ela.
Horas depois que Shiv e Nour trouxeram Isa do shopping nós fomos a praia, que era quase em frente a casa onde estávamos. O lugar era
simplesmente lindo, o clima estava ótimo e eu poderia até me mudar com Sabina e as crianças pra lá algum dia. Isabela estava feliz e Peter estava bem mais calmo. Ele costumava ficar agitado quando eu o deixava longe de Sabina por conta do trabalho. Era a mesma coisa com Isa, mas ela era maior e já entendia um pouco o ritmo da vida das mães.
Nós estávamos andando pela praia. Bom, eu estava andando com Peter no colo e Sabina estava um pouco mais a frente correndo com Isabela. Eu
estava sorrindo como uma idiota vendo as duas brincarem. Eu não queria nem lembrar que em poucos dias teria que voltar a minha rotina normal
e ficar longe delas. Por Deus, minha vontade era largar esse vida só para ter isso todos os dias. Eu já até tinha pensado nisso, já havia pensado em
desistir, mas tinha quase certeza que Sabina não aceitaria, assim como eu também não acharia justo se fosse com ela.
- Isa, você está me falando que gosta da Sofia? De namorada? - Sabina perguntou espantada depois de Isa ter falado que as duas eram namoradas
como a gente.
- Falei que a gente brinca que eu sou você - Ela apontou para Sabina. - E Sofia é a mamãe Elly. - sorriu sapeca e Sabina, assim como eu ficou
olhando para Isabela tentando entender aquele sorrisinho.
- E o que vocês fazem? - Sabina perguntou receosa antes que eu fizesse a mesma pergunta.
- Tudo que vocês fazem
- TUDO? - Eu e Sabina gritamos e Isabela se assustou.
- A gente só brinca, mães. - Falou inocente e um pouco assustada. Me senti culpada por pensar que Isabela fazia essas coisas. Embora ela fosse muito
esperta, mas ainda era um bebê. - No momento ela está fazendo shows e eu estou gravando filmes. - Ela disse inocente e eu ri sem muita vontade, assim como Sabina. Nós duas sabíamos o quanto aquela distancia nos maltratava.
Depois de um tempo ali eu e Sabina resolvemos entrar na água confiando que Isabela olharia Peter enquanto isso. Os dois ficaram brincando na areia
e nós duas entramos. Sabina não desgrudava de mim nenhum segundo e eu estava adorando aquilo. Estava mais carinhosa que o normal e eu sabia que
sofreria por conta disso quando eu voltasse a fazer os shows. Era uma tortura ficar longe dela, eu não aguentava mais. Não suportava ter todo esse carinho dela e depois ter que enfrentar a distancia e o mínimo tempo que eu tinha pra falar com ela. Sabina sempre aproveitava muito quando me tinha por perto, já eu ficava sofrendo com antecedência, mas mesmo com tudo eu estava feliz. Ela parecia estar feliz assim como eu, então resolvi esquecer por um momento os problemas que nós tínhamos e resolvi me importar só com ela.
- Não se preocupe, não tem ninguém aqui. As crianças estão bem. Qualquer coisa Isabela corre pra dentro de casa com o bebê. – Sabina falou enquanto andava comigo mais profundo. Eu estava com os braços entrelaçados no pescoço dela e as pernas na cintura. Estava receosa de ir para longe e deixar as crianças sozinhas e ela estava me tranquilizando. - Sabe uma coisa que eu sei? - Perguntou chamando minha atenção que até então estava nas crianças na areia.
- O que você sabe?
- Eu sei que eu te amo. - Disse calmamente sorrindo e logo depois suspirou, fazendo meu coração vir na boca. Ta aí uma coisa que eu nunca iria me acostumar, ouvi-la dizer que me amava. Parecia que eu nunca me acostumaria. Era sempre como na primeira vez, era a mesma sensação, o mesmo frio na barriga.
Fechei os olhos e rocei meu nariz pelo dela, nossas respirações misturadas. Se tem uma coisa que eu sei nessa vida, é que algumas pessoas você só consegue amar e amar e amar, não importa o que aconteça. E Sabina era essa pessoa em minha vida. Eu só sabia ama-la de uma forma diferente todos os dias.
- Saiba que eu te amo mais. - Confessei sentindo um certo nervoso. Eu estava me sentindo uma idiota. Não era como se eu já fosse casada com
aquela mulher e já tivesse filhos. Parecia que o tempo longe dela faziam as coisas soarem melhores quando estávamos juntas.
- Isso eu não te garanto - Rebateu sorrindo contra a pele do meu pescoço, sua caricia entre minhas mechas de cabelo estavam me deixando
completamente mole. Cravei de leve minhas unhas em sua cintura e a puxei mais para mim, acabando com qualquer espaço entre nós. A sensação de te-
la tão perto era ainda mais maravilhosa. - Disso você nunca vai saber! - Foi tudo que ela disse antes de colar os lábios nos meus. Suspirei entre seus
lábios sentindo uma corrente elétrica balançar meu corpo intensamente.
Beijávamos-nos com calma, com paciência, como se estivéssemos dentro de uma bolha onde o mundo inteiro havia sido esquecido. Eu não estava
ouvindo mais nada. Ela me apertava com força contra o corpo dela, fazendo um calor tomar todo o meu corpo. Seus dedos apertavam minhas mechas
cada vez mais forte. Ela chupou meu lábio inferior com força e levei minhas mãos até seu pescoço apertando meus dedos na carne dela. Aquilo estava tão bom que eu poderia beijar Sabina por horas. Aquele beijo estava maravilhoso, daqueles que nos tira o ar dos pulmões e nos deixa com vontade de mais. Separou os lábios e xinguei mentalmente. Eu estava tão tonta que até esqueci de abrir os olhos.
- Continua me beijando, cretina - Pedi e ela riu. Abri meus olhos e fitei os seus ainda fechados. Sorri a dando um selinho.
- Eu ouvi alguém chamando. - Olhou para areia e vi que Isa nos chamava. Ela estava falando alguma coisa, mas eu não conseguia entender nada.
- Vamos lá ver o que ela quer. - Falei e Sabina segurou meu rosto colando nossos lábios novamente. Suspirou alto e se afastou ainda sorrindo. Por Deus, eu amava o sorriso dela.
- Nós terminamos isso depois. - Ela beijou minha testa e me puxou para subir nas costas dela. Ela foi nadando até perto da areia e quando chegamos
eu desci como uma desesperada, fazendo com que ela quase se afogasse.
- Oh meu Deus, você está bem? - Perguntei a ajudando a levantar. Ela limpava os olhos, seu rosto estava com um pouco de areia e a ajudei a limpar.
- Estou. Vai ver o que Isa quer. – Ela disse e eu assenti indo rapidamente até a menina que estava de joelhos na frente de Peter.
- Abre a boca, Peter! - Isabela dizia e só então pude ver a boca e as bochechas dele cheias de areia. - Mãe, Peter tá comendo areial Pelo amor de
Deus! – Ela disse um pouco desesperada e me segurei para não rir.
- Abre a boca dele! - Sabina apareceu do nada e abriu a boca de Peter, ele rapidamente cuspiu a areia. - Meu Deus menino, tá com fome, porra?
- Melhor a gente entrar. Está ficando frio aqui. – Falei e Sabina concordou. Já estava escurecendo e aquele vento gélido podia fazer mal. Peguei as coisas e segurei na mão de Isabela e Sabina que estava com Peter no colo e nós entramos.
...
Eu estava sentada na cama tentando prestar atenção em um filme de animação que havia colocado para assistir com Isabela. Agora ela dormia com a cabeça nas minhas coxas e Peter dormia no meu colo com a boca no meu peito. Eu queria levantar e colocar os dois na cama corretamente, mas se eu me mexesse algum dos dois iria acordar, mas não tinha jeito. Sabina não estava ali, havia ido a algumas horas em uma reunião resolver algo que ela frisou ser realmente importante. Segurei Peter com um dos braços e
puxei Isabela devagar um pouco para o lado e ela levantou assustada.
- Calma, sou eu. - Falei e ela assentiu ainda muito sonolenta. Coloquei Peter no carrinho e voltei a cama. Me deitei me cobrindo logo em seguida e
Isabela se aconchegou a mim colocando a cabeça no meu peito e a chupeta na boca.
Fiquei um tempo ali lutando contra o sono. Eu queria esperar minha esposa chegar, mas já estava tarde e eu estava me sentindo cansada. Estava quase pegando no sono quando Sabina passou pela porta. Parecia ter certeza de que eu estava acordada, pois não se importou nem um pouco de fazer uma barulheira. Parecia aflita e vi preocupação em seus olhos.
- Ok, Elly. Precisamos conversar! - Ela quase sussurrou com as mãos na cintura, talvez por causa das crianças que estavam dormindo.
- Aconteceu alguma coisa grave? - Perguntei receosa e estremeci quando ela assentiu. Eu já estava preocupada, eu podia estar me precipitando como sempre, mas o olhar apavorado dela não me dava outra escolha. - Pode falar..
- O que sua mãe vai fazer se descobrir que já fomos pagas pra fingir um namoro? - Perguntou se sentando perto de mim na cama e demorei um
tempo para assimilar a pergunta. Eu já estava confusa.
- Vai ficar decepcionada por eu ter escondido e mentido pra ela. Vai ficar brava. - Falei tentando parecer calma. Ela suspirou fortemente e passou a
mão nos cabelos impaciente. Eu só queria entender.
- Seus fãs também, não é? - Perguntou e franzi a testa. Eu não estava entendendo nada e aquela enrolação estava me deixando irritada.
- Sabina, vá direto ao ponto.. - Pedi e ela assentiu segurando minha mão. A mão dela estava gelada, assim como a minha. Também estava nervosa.
- Acontece que eu e Alex não vamos trabalhar mais juntos e ele por raiva falou que vai contar pra todo mundo sobre o marketing que fizemos. - Engoli seco ao ouvir aquilo. Fiquei parada como uma idiota tentando entender aquela informação. Meus sentidos estavam desorientados e minha cabeça doía. Aquilo não podia estar acontecendo. - E você sabe que ele sempre foi próximo de mim e vão acreditar nele. Alex disse que vai falar que
isso ainda é marketing.
- Sabina, ele não pode fazer isso. Isso é mentiral - Eu estava claramente apavorada. Minha mãe ia me matar. Já estava vizualizando na minha mente
as pessoas falando sobre isso. Por Deus, eu odiava quando Sabiany era o assunto do momento, principalmente quando era por algo ruim.
- Fica tranquila, ok? Nós sabemos lidar com isso. E eu vou estar com você o tempo todo, todos os dias. Vou te acompanhar. Não vamos ter problemas e
qualquer coisa é só ser sincera. Não temos que provar nada a ninguém. - Ela falava tranquilamente com um sorriso maravilhoso no rosto.
Fechei os olhos respirando fundo fortemente. Meu cérebro estava demorando muito para processar. Massajei as temporas tentando entender o que ela tinha falado. O que Sabina tinha na cabeça afinal? Por que diabos ela não iria mais trabalhar com Alex? E por que estava falando como se fossemos nos ver todos os dias? Aquilo era impossível! Não com a vida agitada que nós tínhamos. Eu queria entender, então resolvi perguntar.
- Por que vocês não vão trabalhar mais juntos? E como assim vai me acompanhar, Sabina? Eu não estou entendendo nada – Falei tudo tão rapidamente. Era nítido a confusão na minha cabeça. Ela suspirou alto e segurou meu rosto. Ficou me olhando por um tempo e por Deus, Sabina não estava me ajudando me olhando daquele jeito. Parecia que ela faria o anuncio da vida dela.
- Tudo bem. Antes de falar quero que entenda algumas coisas. Eu te amo e você sabe disso mais do que qualquer pessoa - Ela começou e fiquei a
encarando como uma débil mental. Eu não conseguia nem imaginar o que ela iria dizer, mas estava amando ouvir aquelas coisas dela. - Hoje eu vi que é preciso se arriscar pelas coisas que você se importa. Quando as pessoas se importam umas com as outras, sempre dão um jeito de fazer as coisas darem certo. Você mesma já me disse isso um dia. E eu quero que isso dê certo e mesmo que você não entenda o que eu fiz, saiba que foi apenas para evitar que isso tudo acabasse. - Sabina falava e os olhos dela estavam lacrimejando. Eu podia jurar que já havia morrido umas 30 vezes só naquele tempo. Ela estava me torturando.
- Sabina, por tudo que é mais sagrado, o que diabos você fez?
- Tudo bem. Eu fui até Alex e desmarquei qualquer tipo de compromisso, evento e gravações pelos próximos.. - Ela olhou para o teto e parecia estar
pensando. - 15 anos. Ou mais ou menos. Não sei. - Falou e eu estava mais uma vez incrédula. Então aquilo significava que. - Resumindo: Eu estou
parando de ser atriz, pelo menos até as crianças crescerem. Estou fazendo isso por você e por eles. Eu só quero que você entenda que eu não vou te
deixar ir. Mesmo que você me peça, que você mereça ou que as coisas fiquem insuportáveis. Eu não vou te deixar ir porque isso seria o mesmo que
me deixar ir. E eu não posso fazer isso. E não vou. Nunca. Sei que foi errado não te falar nada antes, mas você nunca aceitaria isso. Mas de verdade,
Any, eu não aguentava mais. Então fiz o que eu achava que devia ser feito. Então, por favor, não me julgue. Fiz isso pra poder ficar perto de você, eu deixo de fazer mil coisas por você, só pra poder ficar perto. Te dar apoio e ficar do teu lado sempre pra poder te ajudar como já devia ter feito a muito
tempo. Eu fiz isso por você.