Acompanhante de Luxo

Por johnsonmayi

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Já passou da hora de Ana se casar e constituir família - pelo menos é isso que sua mãe acha. Mas se relaciona... Más

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo

Capítulo 11

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Por johnsonmayi




Ana estava retraída durante a caminhada de volta até o Model S branco. Diversas vezes Christian a viu massagear as têmporas, mas quando perguntou se ela estava com dor de cabeça a resposta foi um resmungo ininteligível. Talvez ela não estivesse falando por causa do beijo, mas aquilo não parecia ser do seu feitio.

Bom, ela era do tipo que ia embora sem avisar. Ouvir Steve dizer que Ana queria pegar um táxi sozinha foi como um soco no estômago de Christian. Lembrava-o do abandono do próprio pai, que o deixara com um problema gigantesco para resolver. Já Ana ia deixá-lo com a chave do carro e o cartão de crédito dela. Quem faria uma coisa dessas?

Christian achava que não merecia aquilo. Em ambos os casos.

Tentara evitar que uma antiga cliente fizesse um escândalo na frente de Ana.Elena era chegada em um drama. Enfim tinha se divorciado do marido milionário e queria Christian só para si. Estava disposta a pagar o que fosse preciso.

Ela se recusava a admitir que Christian preferia pisar em brasas a aceitar aquilo. Insistiu por vários minutos, citando cifras extravagantes uma após a outra, e então simplesmente o beijou.

Christian sempre associaria o gosto de chiclete de canela, cigarro e uísque a Elena.

Já Ana tinha gosto de... sorvete de menta com gotas de chocolate.

Eles entraram no carro dela, que acionou o aquecedor de assentos, se afundou no encosto, apoiou a cabeça e ficou olhando pela janela, batucando nos joelhos distraída. Christian ligou o rádio para quebrar o silêncio, mas Ana o desligou de imediato e logo recomeçou a batucar. Era um movimento hipnótico, um pouco irritante.

Christian lhe lançou um olhar incomodado, mas ela nem percebeu.

Depois de saírem da cidade e entrarem no tráfego iluminado da 101S, ele cansou de se segurar e perguntou:

__Quando você faz isso com os dedos... é uma música? Como se tocasse um piano?

Ela interrompeu o movimento e sentou sobre as mãos.

__É o Arabesque, de Debussy. Gosto muito da combinação de quiálteras e oitavas.

__Então você sabe tocar? - Quando fora encontrá-la na casa dela, no centro de Palo Alto, tinha sido impossível não notar o piano de cauda que dominava a sala quase vazia. Se ela tivesse talentos artísticos além de inteligência, sucesso profissional e beleza, seria oficialmente a encarnação da mulher de seus sonhos. E tão fora de seu alcance que chegava a ser risível.

O peso das merdas feitas por seu pai ainda não havia recaído sobre ele, mas Christian não tinha quase nada a oferecer a uma garota como Ana. Só seu rosto e seu corpo, mas aquilo qualquer uma com algum dinheiro podia ter. Talvez Ana tivesse se atraído por quem ele era antes, alguém que podia se dedicar a suas paixões. Aquele cara tinha potencial. Christian quase não se reconhecia mais.

__Sei, - respondeu Ana. __Comecei a tocar antes de aprender a falar.

Ele ergueu as sobrancelhas. Além de ser a mulher dos seus sonhos, ela também era uma espécie de Mozart.

__Não é tão impressionante quanto parece, - Ana comentou com um sorriso ácido. __Demorei para começar a falar.

__Não consigo imaginar uma coisa dessas. Você parece perfeita.

Ela baixou a cabeça e soltou o ar com força. Christian perguntou qual era o problema, mas uma minivan lenta à sua frente chamou a sua atenção. Ele mudou de faixa e pisou fundo, numa ultrapassagem silenciosa. Adorava carros potentes.

Mas pensar em carros o fazia pensar em sua BMW M3, e em como a havia conseguido.

__Ela é a cliente louca, - ele contou. Christian sentiu o peso do olhar de Ana sobre si. __A mulher que você viu.

__Entendi. - Ana ergueu a mão até o nariz. Quando viu que não tinha como ajeitar os óculos, segurou o pescoço. __Você gostou de ter beijado ela?

__Eu não a beijei, foi ela quem me beijou. E não, eu não gostei.

__Se eu te fizer uma pergunta, você responde
com sinceridade? - Aquilo seria interessante.

__Sim.

__Você age de um jeito diferente quando está comigo?

__Está perguntando se eu seria um babaca se cruzar com você quando não for mais minha cliente?

Se Ana não fosse mais sua cliente, provavelmente estaria com outro cara. Ele contorceu os lábios, sentindo um gosto ruim na boca.

__Não.

__Está mentindo para eu me sentir melhor?

__Nunca menti para você. Mas cabe a você decidir se acredita ou não. - Eles não abriram mais a boca pelo resto do trajeto. Christian freou diante da casa bonita e renovada em estilo chalé em que Ana morava e estacionou na garagem para dois carros. Quando desligou o motor, os olhos dela se abriram.

__Chegamos.

Ana passou as mãos nos cabelos amassados.

__Estou quase cansada demais para sair do carro.

__Posso carregar você.

Ela tentou abrir um sorriso sonolento, claramente pensando que ele estava brincando.

__É sério. - A ideia de carregá-la para a cama parecia muito atraente naquele momento. Ele gostava de abraçá-la e, por mais estranho que pudesse parecer, queria preencher os quadradinhos. Em três anos, era a primeira vez que demorava tanto para trepar num encontro, e vê-la naquele vestido fazia sua calça ficar apertada.

__Não seja bobo. - Ana abriu a porta e ficou de pé com movimentos que pareceram desajeitados até mesmo para ela. Quando Christian trancou o carro e se juntou a ela na porta da casa, porém, o olhar dela era bem firme. __Não vou ter energia para uma aula hoje.

__Não precisa ser uma aula. - Ele passou os dedos no braço dela, e viu quando sua pele inteira se arrepiou. As pálpebras pesadas tornavam seus olhos mais sensuais. Ana era linda. __Posso só fazer você se sentir melhor. - Ele acariciou a mão dela, que abriu os dedos, em um convite ao toque. __Você já pagou pela noite toda mesmo.

Ela fechou a mão e se virou para a porta.

__Queria conversar sobre isso com você. Entra, por favor.

Depois de guardar os sapatos, Ana passou por seu amado Steinway na sala de jantar, desfrutando da sensação do piso de madeira sob os pés doloridos. Christian a seguia em silêncio, e ela desconfiava de que ele reparava em como o interior da casa era espartano.

Não havia nenhum enfeite sobre a mesa de jantar. Nenhum objeto decorativo à vista. Não havia muita coisa além da mesa. Ela não sabia de que tipo de madeira era feita, mas era boa. Ana passou os dedos sobre a superfície acetinada enquanto caminhava para a cabeceira, onde costumava se sentar. As cadeiras ao redor eram as únicas na casa inteira.

__Você mudou faz pouco tempo? - Christian perguntou.

Ela puxou uma cadeira para ele e esfregou o cotovelo, sem jeito.

__Não exatamente.

Em vez de se sentar, Christian foi até a cozinha. Com as mãos nos bolsos,observou o fogão, a geladeira e o freezer de aço inox, e tudo o mais que havia no espaço quase vazio. Fria, cinzenta e cavernosa, a cozinha era o lugar de que Ana menos gostava na casa. Ou pelo menos costumava ser.

Com Christian lá, assumia outro aspecto. Tornava-se um ambiente íntimo e convidativo, com lâmpadas de LED em luminárias baixas que mais pareciam estrelas. Não parecia mais um cômodo tão solitário.

__Como assim, 'não exatamente'? Um mês? Dois? - Ele abriu um sorrisinho provocador ao perguntar: __Um ano?

__Cinco anos.

Christian ficou boquiaberto, e examinou a casa com novos olhos.

__Então você gosta dessa coisa minimalista?

Ela deu de ombros.

__Passo a maior parte do tempo no escritório, então não faz muita diferença. Tenho uma cama, uma TV legal e uma conexão de internet excelente.

Ele sacudiu a cabeça e deu uma risadinha.

__Só o essencial.

_Isso é esquisito? - Como demorar para aprender a falar ou se sentir superestimulada em uma casa noturna?

__Não, acho que até gostei, - ele disse com um sorriso. __Mas alguns objetos decorativos e um ou dois sofás não fariam mal. De repente uma mesinha de centro. Ninguém precisa de muita coisa além disso.

Um nó se formou na garganta dela. Naquele exato momento, com Christian em sua cozinha, em sua casa, Ana sentia que não precisava de mais nada no mundo. Mas seu tempo juntos estava prestes a acabar.

Ela não estava pronta para aquilo.

__Você pode sentar pra gente conversar? - ela pediu.

Todo sério, ele assentiu e contornou a enorme ilha central da cozinha para
ir se sentar na cadeira indicada. Assim próximo, ele exercia uma atração magnética sobre ela, que tratou de se sentar antes que o acabasse tocando e se distraindo. Precisava manter o foco. Se falasse com bastante eloquência, talvez Christian concordasse com seu novo plano.

Ana apoiou as mãos inseguras no tampo da mesa. Em questão de segundos, começou a batucar.

Uma mão quente deslizou sobre a sua e a apertou.

__Não precisa ficar nervosa quando está comigo. Sabe disso, certo?

Ele não tirou a mão, o que a levou a analisar como se sentia. Era um toque casual e não solicitado, do tipo que em geral a fazia se fechar em si mesma. Mas naquele momento só sentia o calor do corpo de Christian, a aspereza de sua pele e o peso de sua mão. Era difícil de entender, mas seu corpo o aceitava. Somente ele.

A conclusão renovou sua determinação, e ela tomou coragem para o que viria.

__Quero fazer uma nova proposta.

Ele inclinou a cabeça de forma cautelosa.

__Está dizendo que quer estender as aulas para além da sexta que vem?

__Não quero mais aulas. A noite que tivemos juntos — tanto as partes boas como as... não tão boas — me fez perceber algumas coisas. Sou ruim de cama, mas ainda pior em relacionamentos. Acho que prefiro gastar meu tempo tentando me aperfeiçoar nisso. Nunca tinha dividido um sorvete com alguém, nem andado de mãos dadas na rua. Nunca tive um jantar que não fosse marcado por longos silêncios constrangedores, ou sem que eu acabasse ofendendo a outra pessoa sem querer e a afastando de mim.

Ele passou o polegar sobre as articulações de suas mãos enquanto pensava em suas palavras com uma expressão inabalável no rosto.

__Não vi nenhum problema de relacionamento, a não ser quando quis ir embora. E, se eu tivesse aceitado o beijo daquela mulher, teria merecido. Você se saiu bem hoje.

__Mas só porque estava com você.
Ele pareceu pensativo por um momento.

__Vai ver é porque você se sente no controle quando está comigo. Como está me pagando, a pressão é menor, e pode relaxar.

__Não é isso, de jeito nenhum. Só consigo relaxar por causa da maneira como me trata. Porque é você, - ela falou, convicta.

Christian franziu as sobrancelhas e ficou imóvel por vários segundos.

__Ana, você não deveria me dizer essas coisas.

__Por que não? É verdade.

As reações dele se alternavam mais depressa do que ela era capaz de decifrar. Christian sacudiu a cabeça e engoliu em seco. Um sorrisinho curvou as beiradas de seus lábios antes que recolhesse a mão para coçar o queixo. Ele limpou a garganta em seguida, mas sua voz ainda saiu meio rouca.

__Me conta sobre essa nova proposta.

Ela ficou olhando para o dorso das mãos, sentindo o calor do toque dele.

__Quero que me ensine a manter um relacionamento. Não a parte sexual, mas a da companhia. Como hoje à noite. Conversar, compartilhar, andar de mãos dadas. Novidades são sempre assustadoras para mim, mas com você consigo lidar com isso e até gostar. Quero contratar você como meu namorado em tempo integral.

Ele abriu a boca, mas só foi falar depois de um bom tempo.

__Como assim, 'não a parte sexual' ?

__Quero tirar o sexo do acordo. Não quero ser como aquela mulher na casa noturna, forçando intimidade. Minha esperança é de que, se aprender a ser uma boa companhia, ninguém vai se incomodar em me ajudar a evoluir na cama.

__Quem aqui disse alguma coisa sobre intimidade forçada? - ele questionou, estreitando os olhos. __Tudo o que fiz com você até agora foi por livre e espontânea vontade.

Ela se esforçou para não fazer uma careta e entrelaçou os dedos para não recomeçar a batucar na mesa.

__Da próxima vez que um homem me beijar, tem que ser porque ele quer. - Sem nenhum incentivo monetário. Depois de ver Christian com sua antiga cliente, tudo o que os dois tinham feito até então adquirira um gosto amargo na boca dela. A ideia de Ana ao contratar um acompanhante para aprender sobre sexo tinha sido simplista demais. __Sei que você a princípio não se interessa em repetir clientes e que a minha nova proposta envolve ainda mais tempo juntos. Por causa disso, estou disposta a pagar cinquenta mil dólares adiantados pelo primeiro mês. Podemos estender por uns três a seis meses pelo mesmo valor. Que tal? É o bastante para simular uma prática de relacionamento? Tudo pode ser negociado, claro. Não sei qual é o padrão do mercado para esse tipo de acordo.

__Cinquenta mil... - Ele sacudiu a cabeça como se não tivesse escutado direito. __Ana, não posso...

__Antes de dizer não, pense a respeito, - ela pediu, sentindo o coração disparar. __Por favor.

Ele se afastou da mesa e ficou de pé.

__Preciso de um tempo.

__Claro. - Ela levantou e prendeu a respiração. Estava apreensiva, sem saber o que fazer. __Quanto tempo quiser.

Ele segurou seu braço e deu um passo em sua direção, chegando a se inclinar um pouco para a frente antes de se deter. Com os olhos colados em sua boca, percorreu o contorno de seus lábios com a ponta dos dedos, provocando calafrios por todo o seu corpo.

__Conversamos na sexta que vem. Pode ser?

__Tudo bem.

Ele mordeu o lábio inferior como se estivesse pensando em beijá-la, e Ana sentiu sua boca formigar em resposta.

__Boa noite, então.

__Boa noite, Christian.

Paralisada e ofegante, ela o observou ir embora.

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