Meu reflexo não é você

By riannezabalet

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"O que fazer quando você se apaixona pelo alvo da sua irmã logo depois de chegar a uma cidade nova, onde não... More

Cap. 1 - Caindo de paraquedas

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By riannezabalet

Estava tudo indo (quase) muito bem até que percebi estar finalmente em Porto Alegre, porém não vi ninguém naquele aeroporto que estivesse estendendo a mão para mim e falando "Vem, Mila!", nem mesmo o meu pai, motivo de frustração maior ainda. Nunca tinha ido àquele lugar, estava perdida! Puxando duas malas com rodinha e carregando uma mochila fui em direção a um banco me sentar. Peguei meu celular e, é claro, liguei para casa do papai, onde eu iria ficar por um tempo... Indeterminado?

Meus pais já tinham se separado há quatro anos, eu e Fernanda tínhamos 12 anos quando isso aconteceu, sempre fomos muito próximas, mas... Decidi que iria morar com a minha mãe e ela, que sempre foi mais apegada ao papai, ficou com ele, acho que para não deixá-lo sozinho. Depois de um ano da separação dos dois, eles foram para o Sul e eu continuei no Rio de Janeiro com minha mãe. Só que ela, que é estilista, precisou ir para Nova York a trabalho e decidimos juntas que eu ficaria com o meu pai por pelo menos seis meses, ou mais. Ela voltaria nas férias.

Liguei para casa e foi minha irmã quem atendeu.

- Alô? - a voz era de sono e já era quase meio dia, "quem dorme até meio dia?" pensei. Eu, pelo menos, não.

- Fernanda? - estava ansiosa para que fosse realmente ela.

- Eu.

- Sou eu, Camila! Cheguei!

- Chegou? Que bom. - parecia um pouco desinteressada.

- Meu pai não está em casa, não vai dar pra te buscar, ele teve um imprevisto no trabalho.

- E quem vem? - perguntei preocupada.

- Sei lá, Camila! Eu estava dormindo, pega um táxi!

- Como é? Ninguém vem me buscar? Ótimo, então vou ficar aqui pra sempre, porque não sei dar um passo nesta cidade. - ela desligou e eu fiquei na companhia daquele som agradável, tu-tu-tu-tu... - "Que droga!", pensei.

Fernanda não era assim, éramos, inclusive, grandes amigas e ela nunca havia me tratado com tanta indiferença. Era possível que algumas coisas tivessem mudado e eu ainda não soubesse, afinal, passaram-se quatro anos desde que ela deixou o Rio, mas eu ainda era sua irmã!

Ainda sentada, resolvi ligar para o celular do meu pai e depois de algumas tentativas ele atendeu.

- Quem é?

- Sou eu, pai, Camila.

- Fernanda, não posso falar agora.

- É a Camila, pai! Cheguei!

- Camila? Meu Deus! Me desculpe, não pude ir aí te buscar. Vou pedir para o Leo fazer isso.

- Quem é Leo?

- Não saia do aeroporto que eu vou falar com ele. Preciso desligar.

"Não saia do aeroporto". Para onde mais eu iria? O que mais eu poderia fazer a não ser esperar sentada? Foi o que fiz e, de tanto esperar, acabei adormecendo. Mas, quando abri os olhos eles brilharam ao ver um rapaz - um rapaz não seria o termo correto, um garoto, pois ele devia ser só alguns anos mais velho do que eu - um garoto... Lindo. Moreno, com o cabelo todo arrepiado, olhos verdes, vestindo roupa de motorista e, o que era melhor, com uma plaquinha com o meu nome "Camila Meireles". Fui até seu encontro.

- Oi. - sorri.

- Tu é a Camila? Visita do Sr. Meireles?

- Sim, sou eu. - respondi enquanto refletia sobre seu sotaque gostoso.

- Ah, ele mandou vir te buscar.

- É, eu sei. Liguei para ele. A Nanda não veio?

- A Fernanda? Não, ela estava dormindo. Ontem ela foi a uma festa e chegou bem tarde, e bem mal...

- Bem mal? - Mal? Como assim?

- É, vem. - o motorista segurou minhas malas e foi andando, não me permitindo perguntar "como assim, bem mal?". Corri atrás dele e perguntei:

- Festa em plena quarta-feira?

- Acho que pra ela isso é normal. - ele foi apertando o passo e precisei correr mais ainda para acompanhá-lo.

- Meu pai deixou?

- Quem é seu pai? - freou seus passos imediatamente.

- Meireles, Márcio Meireles.

- Ele é teu pai?

- Exatamente.

- Tu é irmã da Fernanda?

- Gêmea.

- Gêmea?! Não sabia que ele tinha outra filha, nunca ouvi nada a respeito. Vocês não se parecem muito.

- Como não? Sempre fomos idênticas! Temos o mesmo cabelo, os mesmos olhos, o mesmo sinal na orelha... Vestíamos até as mesmas roupas quando mais novas.

Ele voltou a correr em direção ao estacionamento.

Segui calada. O motorista abriu o porta-malas do carro luxuoso e depois a porta do carona para eu entrar.

- Obrigada. - entrei - Você é o que do meu pai?

- Na verdade, não sou nada do seu pai.

- Não?

- Sou motorista. Motorista da Fernanda. - ele respondeu preocupando-se apenas com a pista.

- Só dela? Por quê?

- Porque o que?

- Por que você é o motorista dela?

- Porque ela precisava de um.

- Que luxo... Mas, você é tão novo para trabalhar.

- Pois é. Mas preciso desse emprego.

- Você não estuda?

- Claro que sim! Estudo na UFRGS. - ele respondeu com o peito estufado, cheio de orgulho e eu nem sabia o que era aquilo.

- Que isso?

- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, você não sabia?

- Não. Nem nunca tinha ouvido falar. Se você me perguntar o que é UFRJ eu sei te responder. - brinquei - Qual curso?

- Engenharia Civil. Comecei este ano.

- Que legal.

- O que você quer fazer? - ele tirou rapidamente os olhos da pista e olhou para mim.

- Ah... - bom, até o momento eu não sabia o que fazer já que o que eu parecia me identificar tinha a reprovação total da família. Eu estava deveras confusa em relação a essa parada de vestibular e já seria ano que vem! Sempre gostei muito de artes cênicas e de dança, mas nunca fiz nenhum curso ou coisa do tipo. Na minha antiga escola, eu era presidente do clube de teatro e fui uma das dançarinas mais importantes nas apresentações que aconteceram lá, recebi até uma bolsa para fazer aulas de dança na academia em que a professora dava aula, mas infelizmente tive que ir embora. - eu gosto de tanta coisa, ainda não me resolvi. - foi a melhor resposta que pude dar naquele momento.

Se falasse que não gosto da ideia de ficar presa em um escritório ou na frente de um computador e que também não sou boa para lidar com público ou com números, ele perguntaria o que então eu gosto de fazer e se eu respondesse a verdade não me daria muita importância, como todos fazem. Afinal, qual o conhecimento e experiência que eu tenho nessas duas áreas além de peças de teatro e apresentações na escola?

- Hm. - ele deixou o assunto morrer e fomos calados até entrarmos no condomínio, muito bonito e bem cuidado.

Passamos devagar pelas ruas até chegarmos à minha mais nova... Mansão?

- É aqui? - Perguntei quando ele entrou com o carro na garagem.

Me deparei com uma casa de três andares toda em mármore por fora, com um jardim enorme, com pinheiros, flores bonitas e grama verdinha, tão verde quanto os olhos do Leo. Corri para o fundo e vi uma piscina enorme, um bar, uma churrasqueira, um salão para festas de frente para a piscina e até um campinho de futebol! Sem falar no... Elevador?!

Nunca passei dificuldade e tive sempre muito conforto, minha mãe sempre ganhou bem, morávamos em uma cobertura com piscina e tínhamos uma governanta, a Aurora. Mas, uma casa de mármore, tão grande que não se podia ver o fim do gramado e ainda por cima com um elevador era demais para a minha cabecinha.

- Vem, Camila! Você precisa conhecer a Vó Nina. Ela faz os melhores bolinhos de chuva que já comi em toda minha vida! - fomos para entrada e tocamos a campainha.

Uma senhora muito fofa, de óculos, coque e uniforme em tons branco e rosa abriu a porta sorridente.

- Olá. Camila? Não é mesmo? - segurou em minhas mãos - Estávamos ansiosos para te conhecer - pegou em meu queixo - deixe-me ver... - deu alguns tapinhas suaves em minhas bochechas - você é mesmo linda! - concluiu.

- Ah, obrigada. - sorri sem graça.

- Parece tão pouco com sua irmã, apenas os olhos verdes e a boca denunciam...

- Tão pouco? Impossível. Costumavam nos dizer que, na verdade, só devia existir uma de nós, que a outra deveria ser um reflexo no espelho de tão parecidas que somos. - disse sorrindo.

- Os tempos mudaram, minha querida. Suba, abra todas as portas e vá descobrindo a sua casa. Depois reencontre sua irmã e me diga se não são apenas os olhos e a boca que ainda estão parecidos entre vocês.

- Tudo bem. Obrigada.

Voltando-se para Leo, o motorista, a Vó fofa disse: suba e mostre o quarto em que ela vai ficar. Vou preparar a comida, a guria deve estar com fome. - e estava!

Entramos no elevador e fomos para o segundo andar. Paramos na porta do meu quarto, que ficava em um corredor, de frente para outra porta, onde imaginei ser o quarto da Nanda e, lá no fundo deste corredor, outra porta.

- Está pronta? - perguntou.

- Sim.

Leo abriu a porta e dei de cara com uma cama de casal enorme e cheia de almofadas coloridas. Virando para direita, uma escrivaninha ao lado da porta e andando reto uma outra porta, minha suíte. Comecei a pensar em que lugar estaria o guarda-roupa e me dei conta de que ao lado da porta do banheiro havia outra porta disfarçada e adentrando-a, imagine só, um closet! A parede lateral direita era um espelho gigante, o fundo do closet era organizado com gavetas e cabides e a parede lateral esquerda continha um armário divido em quadradinhos, para os meus sapatos. Como eles sabiam que eu tinha um milhão e meio de sapatos?!

- Meu Deus, um closet!

- Todos os quartos têm, menos os dos empregados. Você gostou?

- Amei! É maravilhoso! - contendo um pouco minha felicidade em descobrir que tinha um closet, era hora de descobrir a varanda, que era de frente para a entrada da casa, preferia que fosse para a piscina, mas esta varanda já devia ser a da minha irmã. Por falar nela, ainda não tínhamos nos encontrado, estranho, ela não havia descido para me cumprimentar. Então, lá vou eu.

- É aqui o quarto da Fernanda? - apontei para a porta da frente.

- Sim.

- Então vou lá.

- Vou deixar suas malas aqui, estou descendo. - ele encostou as malas na minha cama e foi embora.

- Obrigada.

Era a hora de rever minha irmã. Bati na porta e ninguém abriu, bati de novo. Novamente ninguém atendeu, então eu mesma empurrei a porta vagarosamente, espiando aos poucos. E devo confessar, achei que alguém tinha invadido o seu quarto.

Vi uma garota de cabelos pretos, totalmente pretos e nós somos loiras ou, pelo menos, tínhamos nascido assim. Ela ouvia música com fones de ouvido, e vestia uma blusa azul marinho colada no corpo e calcinha fio dental preta deitada na cama de costas para porta, ou seja, de costas para mim. As paredes do quarto eram brancas e roxas, assim como as cortinas, havia uma televisão de plasma sobre a estante e um notebook sobre a escrivaninha. No chão, estavam jogados um sapato de salto alto preto e um vestido vermelho. Eu realmente me assustei.

- Fernanda? - perguntei com medo de que fosse mesmo ela.

A garota de cabelos pretos se virou e pude comprovar que era mesmo a minha irmãzinha. Levantando-se da cama e vindo em minha direção pude perceber uma pequena argolinha no seu nariz, unhas pretas e uma maquiagem totalmente borrada, como se não tivesse lavado o rosto antes dormir. Pude também constatar que além da bunda, que já havia constatado muito bem quando abri a porta do quarto, os seios também haviam crescido bastante desde a última vez que nos vimos. Estavam do tamanho dos meus, que sempre foram maiores do que os dela.

- Mila! - ela me abraçou do jeito que estava. Bom, parecia que ela tinha ficado feliz. - Como você fez pra chegar aqui?

- Liguei para o papai e ele mandou o Leo me buscar.

- Seu sorriso sumiu quando falei que o motorista dela tinha ido me buscar, como se eu não pudesse desfrutar dos seus serviços porque o Leo trabalhava apenas para ela.

- Ah, ele te buscou?

- Sim.

- Que bom. - ela deu um sorrisinho - Ele é lindo, não é?

- É. Com certeza. Não é todo mundo que tem um motorista assim.

- Pois é. Mas eu tenho. Falei para o papai que precisava de um e disse que não queria qualquer um. Então ele me apresentou 3 e eu escolhi o Leo.

- Nossa. Me empresta ele de vez em quando? - perguntei brincando.

- Claro. - senti a falsidade no tom da sua voz. Parecia que ela não queria dividir o SEU motorista com ninguém.

- Ah, desculpa por hoje de manhã, é que você me acordou, estava dormindo.

- É, eu percebi.

- Tu perdeu uma festa "trilegal"! Se tivesse chegado antes te levava comigo.

- Pois é. Festa na quarta-feira?

- É, mais ou menos isso. É como se fosse pra abrir o ano letivo, sabe? Não deu pra ser segunda, no 1° dia de aula, então foi ontem, no 3°. Aí a gente chamou a galera do colégio na segunda e fizemos a festa quarta.

- Ah, que legal. - e era legal mesmo. Na primeira semana de aula nem tem muita matéria, então, qual o problema de fazer uma festinha pra abrir o ano letivo? Podia ter sido no sábado ou na sexta, mas... - Quando tiver outra pode me chamar.

- Ah tá. Amanhã tem outra.

- Já? Não imaginei que a próxima seria tão próxima.

- É. Vem ver as fotos aqui no computador. - ela me puxou pelo braço e se sentou na cadeira (roxa) da escrivaninha, fiquei de pé olhando.

- A festa foi na casa de alguém?

- Foi. Na casa do Deko. Fiquei com ele. Olha só, gatinho né? - me mostrou uma foto.

- Mais ou menos...

- É porque tu não o conheces pessoalmente. Vou te apresentar.

- Ok. Mas, mudando de assunto... Você mudou muito seu estilo.

- Mudei como? - se levantou e foi para cama.

- Ah, você sempre foi mais quieta do que eu, nem falava com muita gente no colégio, nem ia a festas.

- Festas? Que festas? Éramos pirralhas. E eu só dei um jeito no visual e me tornei popular no colégio. Os tempos mudaram. - me encarou - Ninguém te falou isso ainda não? Depois que vim pra cá fiquei com o maior ibope, todos os meninos queriam e ainda querem ficar comigo, sem falar no trabalho que o papai arrumou que descola altas festas e ele ainda ganha muito mais. Tudo melhorou.

- Que bom pra você que resolveu vir pra cá com ele - chutei discretamente seu sapato que estava no meio do caminho - Vou descer. Vó Nina fez alguma coisa para eu comer.

- Fecha a porta. - ela disse.

Pelo visto as coisas tinham mesmo mudado e eu precisaria me adaptar a essa nova Fernanda, quero dizer, à mesma, só que com pequenas - ou grandes - mudanças.

Entrei no elevador e desci para o primeiro piso, descobri onde ficava o toalete, o escritório, a sala de TV, de jantar e finalmente cheguei à cozinha. Cozinha esta equipada com tudo de mais moderno que se possa imaginar. Como uma senhora tão velhinha conseguiu se acostumar com aparelhos tão modernos, aparelhos que eu mesma levaria provavelmente alguns dias para entender?

Vó Nina estava colocando as travessas sobre a mesa da cozinha para que eu pudesse me servir.

- Finalmente você chegou. Deve estar faminta, não é mesmo?

- Não queria ser indelicada, mas devo confessar que estou. - sorri.

- Então se sente, sente logo, guria. Aqui tem arroz, filé à francesa, salada, e se você preferir também fiz panquecas e mais tarde, se quiser, posso fazer um milk-shake pra ti.

- Nossa, obrigada. - comecei a me servir - Tudo é tão moderno aqui nessa cozinha. Como a senhora fez para aprender a mexer nessas coisas?

- Ah minha filha, é muito fácil. Não há nada que não se possa aprender depois dos 60, ao contrário do que as pessoas falam. Em um ou dois dias aprendi a mexer em tudo e ainda consertei essa pia que teve um problema.

- Meu Deus, a senhora não devia ser chamada de Vó Nina e sim de Jovem Nina. É a vitalidade em pessoa! - ela riu e puxou uma cadeira para se sentar ao meu lado.

- Me desculpe estar te fazendo comer aqui na cozinha, mas é que a mesa da sala de jantar só é usada nos almoços de domingo quando a Fernanda e o pai almoçam juntos, nos outros dias ou eles almoçam fora de casa ou em horários diferentes, e comem exatamente aí, onde você está sentada.

- Nem se preocupe, eu sempre comi na cozinha, acho até mais fácil por estar perto das panelas. Da próxima vez não precisa colocar em travessas não, eu me sirvo da panela mesmo. A partir de amanhã não sou mais visita nesta casa. - dei uma garfada.

- Não devia ser nem hoje. Ora, você também é filha do Sr. Meireles! E fique tranquila, amanhã você se serve diretamente na panela. - assentiu com a cabeça.

- Exatamente. - outra garfada.

- E então, falou com sua irmã?

- Falei. Você estava certa, apenas os olhos e a boca denunciam. Ela mudou muito desde a última vez que a vi.

- Imagino. Quando vim trabalhar aqui, no primeiro ano, assim que eles chegaram, ela não se vestia dessa forma, não saía tanto e não fazia nenhuma dessas coisas que anda fazendo. Depois de uns seis meses que começou a mudar. - Vó Nina se levantou e pegou seu chimarrão.

- Que tipo de coisas ela anda fazendo? - perguntei curiosa.

- Bem... Eu não sei. - bebeu um gole do seu chimarrão.

- Como não sabe?

- Não sei, Camilinha.

Um tanto quanto desconfiada com essa história, terminei de almoçar e subi para arrumar as malas e os sapatos no meu closet. Deitei na minha cama e comecei a pensar o que tanto Vó Nina e Leo queriam dizer e não diziam, será que era alguma coisa muito séria? Ou será que eles só suspeitavam, mas não sabiam de nada?

Além de refletir sobre isso, comecei a pensar no meu primeiro dia de aula, um primeiro dia de aula em plena sexta-feira? Isso seria um pouco estranho. Pensei em faltar, mas ao mesmo tempo estava curiosa para conhecer meu novo colégio e o que estaria me esperando apesar de ter medo de tudo ou quase tudo dar errado. E se a galera não gostasse de mim? Achassem-me antipática? Metida? Feia? Ok, feia não, pois tinha consciência de que não era nenhum monstro...

Enquanto gastava minhas energias pensando no meu primeiro dia de aula e em como causar boa impressão para os colegas ouvi meu celular tocar, era minha mãe.

- Mãe?!

- E aí, filha! Como foi de viagem? Chegou bem? Seu pai te buscou direitinho no aeroporto?

- De viagem eu fui bem. Mas o papai não me buscou no aeroporto, mandou o motorista da Nanda me pegar porque ele estava trabalhando. - falei com cautela.

- Seu pai não muda mesmo! Que falta de responsabilidade, deixar a filha esquecida em um aeroporto! - ela falava com os nervos a flor da pele - Ele está em casa? Me deixe falar com ele!

- Não, mãe. Ele não está.

- Então diga a ele que não gostei nem um pouco dele ter te esquecido no aeroporto.

- Eu aviso.

- Bom, vou ver se consigo dormir um pouco porque mais tarde já tenho que pegar o meu avião. Se cuida, fica bem. Aproveita esses meses aí com seu pai, se ele tiver um pouco de tempo para você, e fique também com sua irmã.

- Tá, mãe.

- Já estou morrendo de saudade. - ela disse com voz de choro.

- Ah mãe, não chora. - comecei a chorar - Vou morrer de saudade. Nos falamos por Skype, ok?

- Ok. Me deixe falar com sua irmã. Te amo, filha.

- Eu também. - saí do quarto e bati na porta da frente, passei o telefone para a Nanda. Ela ficou bem feliz por estar falando com a mamãe, tentou disfarçar, mas eu percebi.

- Oi, mãe!

- Oi, filha. - mamãe falou tão alto que deu para ouvir - Como você está?

- Bem. Quando você vai pra Nova York?

- Amanhã. Duas da manhã. Vou tentar dormir agora.

- Ok.

- Se cuida, viu? E não briguem.

- Pode deixar.

- Boa noite, filha. Beijo.

- Tchau. - Fernanda desligou e colocou o celular na minha mão. - Você vai para a aula amanhã? - perguntou.

- Acho que sim.

- Então vem cá que eu vou te dar seu uniforme. - ela entrou e eu a acompanhei até o closet e, veja só, o dela era maior que o meu!

Mexeu em uma, duas, três gavetas e achou minha blusa, branca, com mangas, sím-bolo da escola em azul no lado esquerdo do peito e três botões para apertar ou alargar a gola.

- Aqui.

- É só isso? - na minha antiga escola tinha uns cinco tipos de blusa.

- Aqui as meninas só usam essa blusa com calça jeans, mas se você for de bermuda ou saia não tem problema. Só não vá de short. E, pelo amor de Deus, não vai usar todos esses botões fechados te enforcando, ok?

- Claro que não, Fernanda. Fala sério. - dei as costas e fui para o meu quarto.

Depois de arrumar minhas coisas desci e resolvi ir até o lado de fora, queria descobrir o que mais havia de legal naquela casa. Deixei minha blusa em cima da cama e saí. Leo estava lavando o carro.

- Oi.

- Oi.

- Posso te ajudar?

- Não.

- Por que não?

- Porque já estou terminando.

- Tá. - fiquei parada olhando-o terminar - Terminou?

- Finalmente. Posso te fazer um convite?

- Convite? - o que ele estava pretendendo...?

- É. Prometi à Vó que quando terminasse iria à padaria comprar pão, ricota e presunto. Você quer ir?

- Ah. - nada de cantada, que pretensão a minha - Tá. Vamos. É bom que conheço a cidade e já sei onde comprar o pão.

- Você não precisa saber. Somos nós que compramos.

- Nós quem?

- Eu ou a Vó.

- Que absurdo! Então quer dizer que não posso escolher meu próprio pão?

- Tudo bem. A patroa é quem manda. - ele abriu a porta do carro.

- A patroa não. A amiga. - sorri e entrei.

Depois de ir à padaria, na qual descobri ser o pão francês chamado de "cacetinho" no Rio Grande do Sul, me deparei com o papai ao entrar em casa.

- Pai! - dei um pulo e abracei-o.

- Filha! Finalmente! - me beijou na bochecha. - Onde você estava?

- Fui à padaria com o Leo.

- Hm. - reprovou.

- Que é?

- Nada. Me desculpe por não ter ido no aeroporto, eu tive um imprevisto na empresa...

- Ele sempre tem. - Fernanda passou por nós em direção à cozinha.

- Boa noite para você também, Fernanda.

- Boa noite. - ela gritou da cozinha.

- Tá, não tem problema. A mamãe é que ficou nervosa...

- Sua mãe não entende o que são imprevistos?

- Eu sei lá, pai.

- Você falou com ela quando?

- Hoje de tarde no telefone.

- Depois ligo para ela, mas me conta. Gostou da casa, do seu quarto?

- Gostei, é lindo! Adorei o closet!

- Eu ia pintar as paredes, mas não sabia que cor você gostaria, então deixei do jeito que estava mesmo.

- Ah, tudo bem. Está tão bonito que se mexer estraga.

- Seu celular tocou.

- Já venho lanchar com vocês. - saiu em direção ao escritório. Fui para cozinha.

Nanda estava sentada no mesmo lugar em que almocei comendo um "cacetinho" com requeijão e uma vitamina, uma mistura, alguma coisa de...

- Isso aí que você tá tomando é o que?

- Vitamina de abacate, morango e couve-flor.

- O que? - quem é que come essas coisas misturadas?

- Vitamina de abacate, morango e couve-flor. Você quer?

- Não, obrigada.

- Você quer aquele milkshake? - Vó Nina perguntou.

- Não precisa.

- Quer ou não quer?

- Aceita logo. Eu sei que você gosta. - Fernanda se pronunciou - Faz de morango. É o que ela mais gosta.

- Como você sabe? - uau, a minha irmã ainda lembrava do meu tipo de milkshake preferido.

Vó Nina acatou sua ordem e foi preparar meu milk-shake de morango.

- Tenho memória. - ela deixou a última mordida do seu pão, levantou-se e foi embora. Ocupei seu lugar e peguei uma fatia de pão integral.

- Pronto. Experimenta. - Vó Nina me entregou o milkshake em uma taça de vidro, ornamentada.

- Hmmm, é uma delícia! A senhora está de parabéns.

- Eu faço o que posso.

Depois de terminar a última refeição do dia passei no escritório para dar boa noite ao meu pai e depois no quarto da Fernanda.

- Boa noite.

- Boa noite. - ela respondeu com os olhos grudados na tela do computador.

- Você mata aula sempre? - pois afinal, ela não tinha ido à escola hoje e eu queria saber.

- Não. Só quando tenho alguma festa na noite anterior.

- Ah tá. Que horas eu acordo? - perguntei.

- Sei lá. Leo me leva às 07h.

- Leo nos leva às 07h. - Corrigi e fechei a porta do quarto.

Parece que a Fernanda tinha esquecido que éramos duas por ter vivido tanto tempo como filha única, mas agora eu estava de volta e tudo deveria ser igualmente compartilhado. Era bom deixar isso claro para ela.

___Obrigada por ter lido até aqui!___

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