De Norte a Sul, Leste Oeste

By beacf_

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Com a difícil missão de alavancar sua carreira de atriz no Brasil, Ayla parte em uma viagem para a divulgação... More

ei, um recadinho :)
CAPÍTULO I, AQUELE INÍCIO
CAPÍTULO II, ÁLCOOL IMPREGNADO
CAPÍTULO III, CAINDO EM CILADA
CAPÍTULO IV, CONFISCADOS
CAPÍTULO V, QUANDO EU O CONHECI
CAPÍTULO VII, MÁQUINA DE SALGADINHOS
CAPÍTULO VIII, NAMSAN TOWER
CAPÍTULO IX, VI VOCÊ OLHANDO AS FLORES
CAPÍTULO X, SE VOCÊ PERMITIR
CAPÍTULO XI, TE ESPERO NO MEU QUARTO
CAPÍTULO XII, DESTRUIDORA DE CARREIRAS
CAPÍTULO XIII, VOLTANDO PARA CASA
CAPÍTULO XIV, MEU TIPO
CAPÍTULO XV, REAIS INTENÇÕES
CAPÍTULO XVI, NATAL E LIVRO ERÓTICO
CAPÍTULO XVII, VOCÊ PODE ME DESBLOQUEAR?
CAPÍTULO XVIII, SUFICIENTE PRA MIM
CAPÍTULO XIX, ESTOU APAIXONADA POR VOCÊ
CAPÍTULO XX, ACHEI VOCÊ
CAPÍTULO XXI, RAZÃO E SIGNIFICADO
CAPÍTULO XXII, DE NORTE A SUL, LESTE OESTE
agradecimentos

CAPÍTULO VI, FÉRIAS ANTECIPADAS

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By beacf_

Eram oito horas da manhã e eu já me arrumava para gravar enquanto, em uma ligação de vídeo, eu conversava com a minha mãe. Minha roupa já estava separada, em cima da cama, esperando para ser vestida assim  que eu terminasse a simples maquiagem em meu rosto.

Eu penteava os pelos grossos da minha sobrancelha para cima, depois de ter dado leves batidinhas de blush na bochecha. Meus cílios compridos necessitavam apenas de uma camada de rímel, antes de eu finalizar com um hidratante em meus lábios— eles estavam necessitados, inclusive, já que estavam repartidos em alguns pontos e levemente machucados, com a temperatura baixa de Seul.

Minha mãe falava do cardápio de natal, sem saber das últimas 24 horas vividas por mim. Eu não podia contar aquilo tudo por telefone e também não podia deixar que mais pessoas soubessem de tudo. Sei que é minha mãe, mas tinha medo de que ela passasse mal, por isso tinha decidido avisar apenas meu irmão mais velho. Já tínhamos conversado, na verdade, minutos antes em uma ligação.

— Como assim presa, Ayla?— foi sua reação ao saber que eu estava em uma enrascada.

Ele e a esposa, minha cunhada, escutavam atentos o que eu falava, enquanto meus sobrinhos pareciam tocar fogo na casa. Era engraçado ver pais tão calmos e serenos, com filhos tão atentados. Eu amava meus sobrinhos.

— Achei melhor não contar para a mamãe dessa forma, ela irá se preocupar bastante. Fora que todos vocês já estavam aflitos com a reportagem que saiu a meu respeito, se ela souber do resto será mais complicado.

Meu irmão suspirou, segurando a mão da esposa, procurando amparo para a sua resposta. Talvez ele não soubesse como reagir naquele momento.

— Ay, concordamos com você, mas ainda assim achamos ruim esconder algo assim. Você está precisando de algo? Quando voltará para o Brasil? Alguém mais além de nós sabe?— É minha cunhada quem faz as perguntas, parecendo ansiosa.

— Raul foi o primeiro a saber, estamos tomando as providências necessárias. A polícia disse que fará a recuperação das câmeras ainda essa semana. Jae, nosso tradutor, está nos ajudando nesta parte. Não se preocupem, dará tudo certo, apenas preciso que vocês não deixem mamãe saber até que eu volte ao Brasil.

É o que digo ainda em ligação com eles. E apesar do susto com todas as novidades, ambos concordaram em manter segredo, mas sob ameaça de mantê-los atualizados em qualquer momento do dia. O fuso horário dificultava um pouco as coisas, mas minha cunhada disse que ficaria atenta ao celular e às notícias em todos os momentos.

"Está me escutando, Ayla?" É minha mãe quem diz após um longo período em que fiquei calada. Percebo que estava em completo devaneio, perdida nos pensamentos passados.

Volto a prestar atenção na ligação que eu fazia naquele momento, finalizando a maquiagem e guardando meus pincéis no nécessaire.

— Desculpe, mãe. Não dormi bem esta noite, a diferença de horário está me matando.

— Quando você voltar, a mamãe faz um chá para você dormir direito. Que dia você e Tadeu voltam mesmo?

Eu precisava falar pelo menos que ficaríamos mais do que o previsto na Coreia, e então rapidamente invento uma desculpa plausível.

— Eu e Tadeu curtimos muito as coisas aqui, então resolvemos estender nossa viagem por mais alguns dias. Mas ainda voltarei no dia combinado para o natal, não se preocupe.

— Ah, então tudo bem. O importante é que depois você passará um tempo com a mamãe. Estou com saudades. — minha mãe diz e escuto meu pai gritar longe um "eu também".

Rio levemente, tentando disfarçar o nervosismo de estar mentindo. Eu não precisava preocupá-los mais.

— Filha, sobre a entrevista que saiu... Você sabe que a mamãe sempre lhe apoiou e sempre apoiará em tudo. Mesmo se não der certo dessa vez, esta casa continua sendo sua. Você sempre terá sucesso aqui! Por favor, não dê ouvidos a essas pessoas malvadas, sua família te conhece e te ama.

A entrevista tinha dado o que falar no grupo da família. Todos perguntavam preocupados se eu estava passando por algo e o que eles poderiam fazer. Meus tios me ligaram diversas vezes, mas por ser dia lá no Brasil e madrugada na Coreia, eu acabei não atendendo.

— Eu sei, mãe. Está tudo bem, de verdade, sei quem sou e que posso contar com vocês. — finalizo chorosa, levando meus dedos compridos aos cantos dos olhos para secar qualquer resquício de lágrima que queria cair.

— Sua família te ama!— minha mãe diz antes de desligar e me deixar novamente sozinha em meu quarto.

Com minha maquiagem pronta e meu cabelo cacheado, brilhante e volumoso, decidi já colocar minhas roupas para descer e tomar café antes de encontrar Jae e os meninos. Passo uma calça fina por minhas pernas torneadas antes de vestir uma calça jeans por cima. Hoje já não nevava, mas parecia estar mais frio do que nunca, então duas calças eram necessárias para me deixar aquecida, afinal eu não estava acostumada com essas temperaturas. A blusa preta de manga longa e gola alta vinham por baixo de um agasalho elegante e escuro, escondendo algumas pequenas tatuagens que rodeavam meu corpo. Pego minha bolsa e transpasso por cima da roupa, colocando apenas meu celular e minha carteira, sem meu passaporte— já que o mesmo estava confiscado—, antes de colocar o tênis em meus pés e sair do meu quarto, tirando o cartão magnético para que as luzes desligassem.

Bato levemente na porta de Tadeu para chamá-lo para comer, mas quem abre é Jones, já vestido em um casaco grosso, provavelmente emprestado do meu melhor amigo.

— Ele está tomando banho ainda, mas daqui a pouco descemos. — Jones diz ao dar um passo à frente e ficar a centímetros de distância de mim.

Ele então se inclina e passa seus braços ao redor do meu corpo, posicionando sua cabeça em cima dos meus ombros. Afaga com delicadeza minha costa e diz baixinho em meu ouvido:

— Ainda não tive a oportunidade de fazer algo assim, mas sinto muito por tudo que está acontecendo, querida. Apesar de lhe conhecer há menos de dois dias, sei que nenhuma pessoa merece viver tantas emoções ruins de uma só vez.

As palavras de Jones me confortam, e decidi retribuir seu abraço singelo. Nos conhecíamos há 1 dia e algumas horas, mas ele demonstrava ser sincero em suas falas e atitudes. Depois disso, ele volta para o quarto e diz que logo descerá com Tadeu para tomarmos café.

Sigo em direção ao elevador e espero algumas pessoas saírem em meu andar, antes de adentrar o quadrado de metal. Aperto o número zero, a fim de voltar ao restaurante do hotel, onde estava sendo servido o café da manhã. Eu precisava tomar algo quente e também comer um pão, minha boca quase salivava pensando nisso.

O elevador desceu apenas um andar antes de parar mais uma vez. As portas abriram e 3 pessoas entraram, dividindo o cubículo comigo. Um moço baixo carregava uma sacola na mão, enquanto na outra tinha uma garrafa de água, o outro rapaz mexia em seu celular e não prestava muita atenção ao redor, e ambos cercavam o encapuzado que estava no centro.

Com o mesmo boné e óculos escuros, Ye-Jun olhava para frente, concentrado em apenas sair do elevador.

Agora eu o conhecia bem, tinha passado boa parte da noite procurando a seu respeito na internet.

"YE-JUN, ACUSADO DE PLÁGIO, DECIDE SAIR DE SUA GRAVADORA"

"YE-JUN, O IDOL ACUSADO DE PLÁGIO POR SEU PRÓPRIO PRODUTOR"

"PLÁGIO E FIM DE CARREIRA. CONHEÇA AGORA SOBRE A VIDA DO IDOL QUE VIROU DE PONTA A CABEÇA"

Essas eram as reportagens a seu respeito quando buscamos por seu nome na internet. Nas redes sociais, as pessoas se dividiam quando o nome de Ye-Jun aparecia. Uns eram impiedosos, falavam coisas maldosas demais para ser verdade, enquanto outros o defendiam e esperavam a sua versão da história.

Por um momento consegui entender seu receio de ter uma possível foto sua em meu celular. Qualquer burburinho a seu respeito neste momento não seria nada bom, e eu entendia, pois passava pelo mesmo. Não acusada de plágio, claro. Também tinha escutado algumas de suas músicas antes de dormir, e cheguei à conclusão de que com certeza ele era um dos queridinhos da Coreia. As músicas bombavam na internet e eu me perguntava como não tinha conhecido antes. Era realmente um solista muito bom no que fazia.

O elevador anuncia o andar zero em seu visor e as portas que se abrem rapidamente. Os dois homens que cercavam Ye-Jun dão passagem para que eu pudesse sair, mas o terceiro homem não percebe minha presença, empatando a saída. Saio do fundo do elevador e cruzo o caminho para ir em direção ao restaurante, mas no momento em que estou quase na porta do elevador, o idol resolve dar um passo para trás, como se percebesse que alguém queria sair. Sem querer ele esbarra em mim, fazendo meu corpo se chocar com a parede do elevador. Aquele homem era imenso.

— Cheson'hamnida. — O mesmo diz em coreano, antes de levantar o rosto e ver quem estava atrás de si.

Ele me olha atentamente e por alguns segundos, arregala os olhos puxados, destacando seus pequenos orbes castanhos. Ye-Jun me reconhece na hora e tenta disfarçar o susto, arrumando sua postura.

— I'm sorry. — Dessa vez se desculpa em inglês ao lembrar que eu não entendo seu idioma.

O outro rapaz que estava apenas mexendo no celular bota a mão entre as portas do elevador quando percebe que elas vão fechar, para que eu pudesse sair. Arrumo meu agasalho e desvio o olhar do idol à minha frente, me virando para quem tinha segurado o elevador para mim. Definitivamente um homem lindo. Dou meu melhor sorriso em agradecimento e digo em coreano:

— Kamsahamnida.— Dando o meu máximo para lembrar das pequenas frases que Jae tinha me enviado em coreano para facilitar minha comunicação durante esses dias.

Cruzo o pequeno cubículo, dando as costas aos três que permaneceram ali, em direção ao estacionamento do subsolo e saio da forma mais elegante possível, fingindo não estar abalada por ter encontrado quem ontem me oferecia dinheiro. Sigo em frente, a caminho do restaurante, dessa vez soltando a respiração que eu segurava.

{...}

— Espera aí, aquele gostoso que quase te matou?

Com a boca cheia de comida, enquanto tentava se desentalar com um copo de suco, Tadeu prestava atenção na história que eu contava. Jones e Jae, sentados ao redor da mesa, também nos acompanhavam, cada um tomando o seu café, prestando atenção nas minhas palavras. Eu estava contando o que tinha acontecido depois que meu melhor amigo tinha ido atrás de uma compressa para minha testa na noite anterior. Eles pareciam incrédulos com tudo e eu também estaria, se não tivesse vivido cada segundo.

— Gostoso e babaca, , Tadeu? Você prestou atenção no que ela disse?— Jones limpava o cantinho da boca do meu melhor amigo. Pareciam um casal que se conheciam há anos.

— Você tem certeza que era ele, Ayla? Estranho ele estar em um hotel, já que mora aqui em Seul. — Jae parecia conversar consigo mesmo, se esforçando ao máximo para deixar o sotaque de lado para que pudéssemos entender com clareza.

— Eu não teria certeza se ele não tivesse quase invadido meu celular atrás de uma possível foto dele. Tenho certeza que era ele sim.

Ye-Jun parecia estar em todos os lugares, do noticiário às revistas do saguão. Envolvido em um escândalo que decidiria o resto de sua carreira.

— Engraçado, ele em polêmica, você em polêmica. Já pensou viver um romance proibido com um cantor lascado que mora do outro lado do mundo?— Meu melhor amigo ria cogitando isso, enquanto o acompanhamos em uma risada gostosa. Eu ria, pois queria distância disso tudo. Se em algum momento, alguém tivesse visto uma possível interação minha com o queridinho da Coreia— ou ex-queridinho, eu não sabia ao certo—, eu provavelmente seria caçada.

O pouco que eu via do mundo de K-pop me assustava de diversas formas. Eu não acompanhava muitos grupos ou cantores solos — só o BTS— mas sabia mais ou menos como funcionava quando um idol se envolvia com qualquer pessoa que fosse. Então eu apenas esqueceria que quase fui subornada por um dos maiores astros do país em que estava.

— Ele foi acusado de plágio pelo próprio produtor e decidiu sair de sua gravadora, mas não se sabe ao certo o que aconteceu. Por isso as pessoas estão tão divididas, muitos fãs não acreditam que isso tenha acontecido. — Jae nos explicava um pouco mais sobre a polêmica envolvendo o nome de Ye-Jun.

— E o que você acha disso?— Jones pergunta.

— Eu sinceramente não o acompanho, mas minha irmã mais nova diz que isso foi uma estratégia do próprio produtor para difamar a imagem de Ye-Jun. Só que desde sempre ela não ia com a cara do produtor dele, então não sei se é uma opinião imparcial.

O que eu tinha visto, na verdade, era que muitos famosos costumam se envolver em polêmicas de grandes proporções. Bullying, assédio, racismo e plágio estavam no topo da lista de fim de carreira de alguns artistas da Coreia. A proporção de ódio era igual ou até pior aqui do que no meu país, e ele parecia estar tão sem rumo quanto eu. A única diferença era que ele já fazia sucesso e eu não.

Terminamos nosso café, ainda conversando sobre tudo e com Jae nos contando que precisaríamos ir à delegacia mais tarde. Por enquanto, faríamos o vlog nos pontos turísticos de Seul, rendendo conteúdo para as nossas redes sociais e tentando manter o cronograma de trabalho que Raul havia nos dito. Gravamos tudo enquanto andávamos pelas ruas de Hongdae, escutando as músicas feitas por artistas de ruas e experimentando uma culinária diferente nas barraquinhas. Muitos turistas pareciam se divertir com as atrações e nós quatro, contentes, curtíamos o frio e a paisagem de um lugar tão diferente— principalmente para mim e para Tadeu, já que éramos do outro lado do mundo.

Um fotógrafo conhecido de Jae também nos acompanhava, contratado por Raul, para que nossos melhores ângulos fossem capturados. Parecíamos estar em uma viagem de férias divertida demais, sem grandes problemas e cheia de experiências novas. Apenas o frio nos deixava um pouco mais acanhados, nos fazendo parar algumas vezes para comprar algo quente que nos aquecesse.

Depois do almoço, voltamos ao hotel para trocar de roupa e fazer uma nova sessão de fotos lá mesmo, após termos passado rápido na delegacia, apenas para confirmar onde ficaríamos esses dias de estadia em Seul, para que o policial nos monitorasse de alguma forma. Estávamos sendo os mais colaboradores possíveis, para que os policiais entendessem que não tínhamos envolvimento em assalto algum. Torcíamos para que desse certo.

— Coloquem algo mais colorido. — o fotógrafo pede antes de subirmos aos nossos quartos.

Cerca de 10 minutos depois já iniciávamos mais uma sessão de fotos, reproduzindo nossos personagens na série que seria lançada daqui a poucas semanas. Tudo aquilo tinha o propósito de levar nossa nova produção a alguns cantos do mundo, apesar dos inúmeros problemas que tivemos no percurso.

Depois dessas responsabilidades, ficaríamos mais alguns dias presos, sem poder retornar ao Brasil. Não eram as férias que estávamos imaginando, mas de certa forma servia. Eu aproveitaria os dias antes do natal e conheceria Seul do jeito que merecia.

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