CAPÍTULO VI, FÉRIAS ANTECIPADAS

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Eram oito horas da manhã e eu já me arrumava para gravar enquanto, em uma ligação de vídeo, eu conversava com a minha mãe. Minha roupa já estava separada, em cima da cama, esperando para ser vestida assim  que eu terminasse a simples maquiagem em meu rosto.

Eu penteava os pelos grossos da minha sobrancelha para cima, depois de ter dado leves batidinhas de blush na bochecha. Meus cílios compridos necessitavam apenas de uma camada de rímel, antes de eu finalizar com um hidratante em meus lábios— eles estavam necessitados, inclusive, já que estavam repartidos em alguns pontos e levemente machucados, com a temperatura baixa de Seul.

Minha mãe falava do cardápio de natal, sem saber das últimas 24 horas vividas por mim. Eu não podia contar aquilo tudo por telefone e também não podia deixar que mais pessoas soubessem de tudo. Sei que é minha mãe, mas tinha medo de que ela passasse mal, por isso tinha decidido avisar apenas meu irmão mais velho. Já tínhamos conversado, na verdade, minutos antes em uma ligação.

— Como assim presa, Ayla?— foi sua reação ao saber que eu estava em uma enrascada.

Ele e a esposa, minha cunhada, escutavam atentos o que eu falava, enquanto meus sobrinhos pareciam tocar fogo na casa. Era engraçado ver pais tão calmos e serenos, com filhos tão atentados. Eu amava meus sobrinhos.

— Achei melhor não contar para a mamãe dessa forma, ela irá se preocupar bastante. Fora que todos vocês já estavam aflitos com a reportagem que saiu a meu respeito, se ela souber do resto será mais complicado.

Meu irmão suspirou, segurando a mão da esposa, procurando amparo para a sua resposta. Talvez ele não soubesse como reagir naquele momento.

— Ay, concordamos com você, mas ainda assim achamos ruim esconder algo assim. Você está precisando de algo? Quando voltará para o Brasil? Alguém mais além de nós sabe?— É minha cunhada quem faz as perguntas, parecendo ansiosa.

— Raul foi o primeiro a saber, estamos tomando as providências necessárias. A polícia disse que fará a recuperação das câmeras ainda essa semana. Jae, nosso tradutor, está nos ajudando nesta parte. Não se preocupem, dará tudo certo, apenas preciso que vocês não deixem mamãe saber até que eu volte ao Brasil.

É o que digo ainda em ligação com eles. E apesar do susto com todas as novidades, ambos concordaram em manter segredo, mas sob ameaça de mantê-los atualizados em qualquer momento do dia. O fuso horário dificultava um pouco as coisas, mas minha cunhada disse que ficaria atenta ao celular e às notícias em todos os momentos.

"Está me escutando, Ayla?" É minha mãe quem diz após um longo período em que fiquei calada. Percebo que estava em completo devaneio, perdida nos pensamentos passados.

Volto a prestar atenção na ligação que eu fazia naquele momento, finalizando a maquiagem e guardando meus pincéis no nécessaire.

— Desculpe, mãe. Não dormi bem esta noite, a diferença de horário está me matando.

— Quando você voltar, a mamãe faz um chá para você dormir direito. Que dia você e Tadeu voltam mesmo?

Eu precisava falar pelo menos que ficaríamos mais do que o previsto na Coreia, e então rapidamente invento uma desculpa plausível.

— Eu e Tadeu curtimos muito as coisas aqui, então resolvemos estender nossa viagem por mais alguns dias. Mas ainda voltarei no dia combinado para o natal, não se preocupe.

— Ah, então tudo bem. O importante é que depois você passará um tempo com a mamãe. Estou com saudades. — minha mãe diz e escuto meu pai gritar longe um "eu também".

Rio levemente, tentando disfarçar o nervosismo de estar mentindo. Eu não precisava preocupá-los mais.

— Filha, sobre a entrevista que saiu... Você sabe que a mamãe sempre lhe apoiou e sempre apoiará em tudo. Mesmo se não der certo dessa vez, esta casa continua sendo sua. Você sempre terá sucesso aqui! Por favor, não dê ouvidos a essas pessoas malvadas, sua família te conhece e te ama.

De Norte a Sul, Leste OesteHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin