—Sim você tem.
—Por que eu acreditaria em você?
—Não precisa acreditar, eu posso te mostrar.
—Não tente nenhuma gracinha, eu estou armada.
—Relaxa meu amor, eu seria incapaz de te machucar, só relaxa.
Ele pega o celular e me mostra.
—Está vendo essa é você, no dia do nosso casamento, você estava linda.
Ele mostra uma foto e realmente era eu, com um lindo vestido branco, a próxima foto que ele mostra era eu e ele, eu estava com uma garotinha linda no meu colo.
—Essa é ela?
—Sim, nossa filha, nós nos casamos quando ela tinha um ano, ela levou as alianças foi uma cerimônia linda, essa foto aqui, foi no dia do nascimento dela, foi o dia mais incrível das nossas vidas.
Ele mostra a foto, e uma emoção muito grande toma conta de mim.
Ele me mostra mais fotos nossas, e minha cabeça girava de tão confuso que tudo estava.
—Ela é linda.
—Ela puxou você.
—Mas você pode muito bem ter forjado essas fotos.
—Por que eu faria isso meu amor?
Ele segura minha mão, e sinto um arrepio percorrer meu corpo.
—Você sabe que é a verdade, bem lá no fundo, você sente, eu não sei o que foi que te contaram, mas a única verdade é essa, eu estou a 8 meses como um louco procurando por você em cada canto desse mundo, e não vou te perder de novo, eu juro.
—Você disse 8 meses?
—Sim, eu disse 8 meses, meu amor me conta o que aconteceu, talvez nós dois possamos entender o que aconteceu no decorrer desse tempo.
—Faz muito sentido tudo o que me falou, eu sinto verdade em você, mais do que em qualquer outra pessoa que eu convivo nesse tempo, a 8 meses eu acordei um dia e não me lembrava de nada, absolutamente nada, nem meu nome, nada, havia umas pessoas a minha volta, que eu nunca sequer lembro de ter visto na vida, eles me chamavam de Ashley e disseram que eu havia sido ferida em um missão, mas tudo o que me contavam nunca fez sentido para mim, era como se eu estivesse vivendo uma vida que não era minha, as memórias que tentavam implantar em mim, não pareciam reais, mas tudo o que me disse agora eu sinto que é real, algo dentro de mim diz que eu posso confiar em você, mas eu nunca confiei neles, ah meu Deus, quem são aquelas pessoas?
Tudo começava a fazer sentido, as peças estavam começando a se encaixar.
—Como foi, quando eu sumi?
—Nós íamos passar uns dias em uma casa que temos numa província italiana, você foi ao povoado comprar algumas coisas para o jantar, e eu fiquei com nossa filha, na volta você teve um pressentimento ruim, e eu também tive, aí você me ligou para saber se estava tudo bem com a Giulia, foi quando tudo aconteceu, alguém encurralou seu carro, e você começou a dizer coisas, como se estivesse se despedindo, no começo pensei que você estava brincando, então ouvi barulhos de tiros e você desligou o celular.
—E depois o que houve?
—Eu não sei meu amor, quando eu fui até o local, seu carro estava lá todo fuzilado de tiros e havia sangue no chão, pensei que estava morta em algum lugar por ali, mas eu revirei toda aquela área e não a encontrei, depois as coisas começaram a fazer sentido, sequestraram você e tentaram fazer parecer que estava morta, mas eu sabia que não estava e por isso nunca desisti de te encontrar.
—Me se...sequestraram?
—Não tem outra explicação para o que aconteceu, disse que estava ferida quando acordou.
—Sim, um tiro no abdômen, disseram que foi em uma missão.
—Quem são essas pessoas?
Pergunta ele.
—Agora estou me fazendo a mesma pergunta, agora entendo porque nunca confiei neles, era tudo mentira, tudo o que me contaram, nada é real.
—Quem é Sam, e por que disse que tentei matá-lo?
—Sam é o líder, eu vi uma foto sua há uns meses, disseram que você é um traidor e que tentou matar ele.
—Eu nem faço ideia de quem seja esse Sam, mas eu o matarei sem pensar duas vezes, se ele cruzar o meu caminho.
—Naquele dia quando vi sua foto, eu senti que te conhecia, eles tentaram me fazer acreditar que era coisa da minha cabeça e eu sabia que havia algo errado, eu sempre soube, se tudo o que me contou for realmente verdade, eles tiraram tudo de mim, e para que, qual a motivação por trás disso?
—É verdade meu amor, por que eu mentiria pra você?
—Não sei, é que nesses 8 meses tudo tem sido tão surreal, que eu já nem sei mais no que acreditar.
—Acredite em mim, eu não me daria o trabalho de ficar te procurando se não fosse minha esposa e a mãe da minha filha.
—É tá legal, isso faz sentido, mas poderia muito bem ter inventado tudo, para me colocar contra o Sam e me usar contra eles.
—É isso faz sentido, você é muito valiosa para desperdiçar suas grandes habilidades, mas eu só quero você de volta, quero te levar pra casa, para o lado da nossa filha, ela sente muito sua falta, eu sinto sua falta, você não tem ideia do que foi esses 8 meses sem você, mas também sei como não é fácil se esquecer da sua vida, se esquecer de quem você é, se alimentar de memórias que te contam, e que você sente que não são reais, sente que aquela não é você, não posso imaginar como isso deve ser ruim.
—É bem ruim.
Nesse momento noto algo estranho no restaurante.
—Tem alguma coisa errada, o que é?
Pergunta ele.
—O que é o que?
—Você percebeu algo estranho.
—Como sabe, eu mal me mexi.
—Eu te conheço querida, conheço sua linguagem corporal, está tensa e olhando sobre meu ombro, o que significa que notou alguma coisa estranha.
—Tem uns caras sentados há algumas mesas da nossa, e eles estão com uma atitude suspeita, olham no relógio toda hora, e fazem contato visual com outros homens em outra mesa, eu não sei como, mas algo me diz que isso não é bom.
Falo olhando por sobre o ombro dele, eu realmente tinha um sentido aguçado para as coisas, estava sempre atenta a qualquer movimentação suspeita, eu só não estava enxergando o que estava na minha frente, que era aquelas pessoas da qual eu convivo, que na verdade não são os mocinhos.
—Se você diz que não é bom, é porque não é bom, a sua percepção e sua intuição são muito fortes, só me diz que não será um tiroteio, por favor, eu não estou preparado psicologicamente para isso, eu perdi você na última vez que houve tiros.
—Tem havido muitos ataques coordenados aqui, não posso te dizer que não será um tiroteio, mas se houver, fique atrás de mim eu te protejo.
—Tentou me matar há algumas horas atrás e agora quer me proteger, é um grande avanço, querida.
—Eu posso ir embora e te deixar aí pra morrer, sem problema nenhum.
—Eu prometi a nossa filha que os pais dela voltariam pra casa, então por favor, nos proteja, eu não vim preparado para um tiroteio.
—Você não anda armado?
—Tem praticamente três anos que eu não sei o que é uma arma, nós deixamos nossa vida de agentes para trás, agora vivemos uma vida tranquila e sem grandes emoções, apesar que tentar vestir uma roupa na Giulia é uma grande emoção, já que ela começa a correr pela casa e não quer parar mais.
Fala ele rindo, rio também, mas fico séria logo em seguida.
—Ah merda, se abaixa.
No instante seguinte os homens pegam as armas e atiram para cima, eu e Nikolai nos jogamos no chão e então o caos começa, eles começam a atirar nas pessoas, eu e Nikolai nos abrigamos embaixo da mesa, a toalha ia até o chão então ela nos esconde.
—Da última vez que estivemos em um tiroteio juntos, você quase me matou ao invés de me proteger, foi onde nos conhecemos.
—Nós nos conhecemos em um tiroteio?
—Basicamente isso, você me salvou de um segurança traidor, ele queria me matar.
—Nossa vida parecia ser bem emocionante.
—Você não imagina como.
—Você sente falta?
—Não, nem um pouco, eu gosto da tranquilidade que vivemos, prefiro isso a colocar a vida da nossa filha em perigo.
—Você parece ser um paizão, ela tem sorte de ter você.
Quando ele falava sobre a filha, seus olhos brilhavam.
—Ela tem sorte de ter nós dois, e nós temos sorte de ter ela, você é uma mãe incrível.
—Eu não consigo me imaginar mãe, mas só de falar nela, eu fico emocionada.
—A Giulia mudou a nossa vida, ela é a coisa mais preciosa que nós temos.
—Então temos que sair daqui vivos, não podemos deixar ela órfã, quando eu disser para correr, você corre.
Ergo um pouco a toalha da mesa, e espio o que estava acontecendo, pego o silenciador, coloco na arma, e atiro em um dos atiradores, os outros nem perceberam, então uso isso ao meu favor, consigo derrubar três dele.
—Vejo que sua mira ainda está muito boa.
—Tem alguém revidando.
Ouço um deles gritar.
—Achem ele!
Grito outro.
—É ela, seu idiota, por que está me olhando assim?
Pergunto quando ele me olhava com uma cara de bobo.
—Eu senti tanto sua falta.
—Você é sempre assim?
—Assim como?
—Assim, todo bobo, parece um adolescente apaixonado.
—Mas você gosta.
Fala ele sorrindo, sorrio também.
—Tá legal, não tira meu foco, seu sorriso tá me desconcertando.
—Adoro quando fica desconcertada.
Nossa, o efeito que esse homem tem sobre mim, é surreal, só dele sorrir minhas pernas já ficam bambas.
—Eu queria tanto te beijar agora.
—No meio de um tiroteio, sério?
—Tá legal, eu posso esperar.
—Pois vai ficar esperando, agora corre.
—Você vem né?
—Vou acabar com esses caras.
—Maggie, a polícia já está chegando, se pegarem você, vão achar que estava ajudando.
—Ah merda, ok, vai estou logo atrás de você!
Saímos debaixo da mesa, mas no meio do caos acabo me perdendo dele, olho para todos os lados e não o vejo, espero que ele tenha conseguido escapar e que esteja bem, lembrando ou não dele, eu sentia algo diferente por ele, era como sentir borboletas no estômago, quando ele disse que queria me beijar, todos os pelos do meu corpo se arrepiaram, meu corpo correspondia as investidas dele, essa era uma das provas de que ele falava a verdade, não tinha mais como negar, literalmente roubaram todas as minhas memórias e tentaram implantar em mim memórias que nem sequer existiram, e assim que eu descobri o porquê e como, não vou deixar barato, podem se esconder debaixo da terra, que eu vou encontrar um por um dos culpados e fazer eles pagarem por isso.