Perfect Opposites

By lowyelly

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▸ aquela arte imperfeita, somos nós dois. Existia sempre algo que Lisa detestava em si mesma, seja fisicamen... More

perfect opposites
book trailer
01. emoções
02. fotografia
04. misterioso
05. convênio
06. confronto
07. infortúnios
08. relevante
09. festa
10. passado
11. colecionador
12. descontrole
13. jogador
14. estranhos
15. descobertas
16. obcecado
17. arte
18. destemida
19. novamente
20. jogo de hockey
21. epílogo
cena bônus

03. arrogante

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By lowyelly

Quão grandes seriam certos homens, se não fossem tão arrogantes. ❜

• ────── 🍁 ────── •

Às vezes eu gostaria de experienciar, os sentimentos de Vincent van Gogh enquanto pincelava a noite estrelada.

Observando as incontáveis e pequenas estrelas sobre o vidro da lanchonete, eu não conseguia sentir nada, nenhuma emoção, aquela que a senhora Miller tanto comentava. Como se toda minha mente estivesse vazia de qualquer sensação existente, velada, trancafiada no meu mais profundo ser. O que Van Gogh observava ao contemplar aquela paisagem, através da janela daquele hospício. Liberdade? Companhia? Ou talvez esperança?

Eu não sei, mas estimaria poder senti-lo.

- Lisa? Melhor voltar ao trabalho. - Jennie, uma de minhas colegas e funcionária na Happy Meal comenta vagamente enquanto passeia o pano sobre as mesas. - Está tudo bem?

Eu desligo minha mente, voltando para seu rosto preocupado porém cuidadoso.

- Sim, desculpe.

Havia apenas nós duas junto a um casal de adolescente e um garoto lendo um livro sobre a mesa mais afastada, também temos Adam que conduzia a cozinha atrás. Silencioso como a meia noite sempre soava, sem muito movimento e deixando-me com tempo o suficiente para adiantar os trabalhos que precisava. Trabalho este que consistia somente pela pintura que eu deveria fazer, abrangendo toda minha mente.

Senhora Miller tem toda a razão, um artista precisa se sentir conectado com sua arte para ela poder valer a pena. Meu único problema, era a falta deles. Sinto que o perdi a muito tempo.

O pequeno sino na porta me tira dos devaneios novamente quando um novo cliente é anunciado, primeiro eu avisto tênis preto grandes, eles dão passos zelosos à medida que subo pelo corpo grande, colossal, revestido em um moletom preto, até um rosto conhecido que faz meus olhos arregalarem de espavento.

Jeon Jungkook acabou de entrar, e ele está caminhando em minha direção.

- Uma porção de batatas com refrigerante, por favor. - sem olhar para mim, pela primeira vez sua voz rouca chega até meus ouvidos perto demais.

Ele tira o boné da mesma tonalidade do moletom e bagunça levemente o cabelo negro, que acaba ficando embaraçado sobre seus olhos arredondados levemente inchados. Deixando ele ainda mais atraente. Se é que isso era possível.

Esta é a primeira vez que o encontro de uma forma tão casual, vestido em roupas largas e sem toda aquela aura intensa escorrendo ao seu redor. Mas não demorei muito para ficar estudando seus detalhes, apenas sorri e perguntei:

- Mais alguma coisa?

Seu rosto ergueu para mim no mesmo instante que as palavras saem de minha boca, os olhos negrumes penetram contra os meus causando pequenos arrepios por minha nuca. Eu os analisei profundamente, sem conseguir evitar. São escuros, tão escuros quanto a noite, arredondados mas que carregam toda sua luxúria. Cintila sobre a luz forte do ambiente, ficando ainda mais lindos. Jungkook leva a língua até os lábios finos, avermelhados. Brincando com o piercing no canto da boca.

Eu percebo, ele faz isso de propósito.

- Não.

Quando recebi sua resposta, me tiro dali o mais depressa possível caminhando até Adam que cantarola uma música nos fones de ouvido, enquanto mexe a espátula contra a carne queimando. Aceno para ele que abre um sorriso gentil chegando até mim, através do vidro branco que nos separa.

- Uma porção de batatas fritas, por favor Adam.

- Você que manda pequena Lisa.

Seu apelido delicado me faz rir, levantando o joinha para ele. Adam é um homem de trinta anos com uma essência de criança, sua alegria contagia todos que aqui aparecem buscando descontrair um pouco pela monótona rotina, até mesmo uma garota frustrada artisticamente como eu.

Voltando para o balcão eu encontro Jeon Jungkook ainda sentado lá, e olhando para mim. Não sei dizer, mas a maneira que me observa me deixa um tanto nervosa, mesmo não tendo motivos para tal ato. Ele está apenas olhando, todos fazem isto. Principalmente quando o assunto é algo constrangedor me envolvendo.

Primeiro eu checo meu cabelo negro que continua preso no alto, minha franja alinhada, e depois o uniforme que consiste em uma saia e blusa com meu apelido colado do lado direito do meu peito. Está tudo bem, eu mantenho minha cabeça.

Quando entrego a ele sua comida, nos mantemos afastados, ele continua distante enquanto fico em outra extremidade do balcão. Puxando o caderno de desenho da minha bolsa e rabiscando sem parar, é uma longa noite/madrugada. Apesar de ter apenas os finais de semana para dormir de verdade, estou bem, muito melhor do que a vida que levava na Tailândia.

É uma longa história envolvendo pais abusivos, mas eu não entro lá até sentir uma sombra passando sobre meu rabisco. Ela é grande e tem cheiro másculo, familiar.

- O que é isso?

Encontro Jeon Jungkook inclinando-se para frente observando meu caderno, diferente da forma que sempre se mantém misterioso e de cara fechada. Aparenta mais suave, como se realmente estivesse interessado em saber o que eu rabisco. É uma grande surpresa tê-lo dirigindo a palavra pela primeira vez a mim, nunca nos falamos ou tivemos qualquer contato. Mas hoje, meu dia acaba de ficar um pouco mais inusitado.

- É.. - eu olho para o papel novamente tão confusa quando ele, e ainda assombrada com sua pergunta junto a presença repentina. - Eu não sei.. Apenas rabiscos.

- Você rabisca bem.

Ele diz simples, a voz saindo cava enquanto puxa o caderno de minhas mãos. Assisto o jeito que mordisca o piercing e explora o papel como se realmente fosse um profissional, tentando adivinhar minhas intenções através do rabisco. O que de fato nunca encontrará.

Quando continua sem falar nada ainda o olhando, pondero por uns segundos, mas finalmente aproveito para fazer o que deveria ser correto. Afinal ele me ajudou, certo? Na aula do senhor Jones, mesmo que talvez não fizesse por mim. Foi uma boa ação.

- Obrigada, por hoje. - seu rosto desviou para mim, e ofereço a ele um sorriso gentil. - Por me livrar do senhor Jones.

- Ele é um idiota.

Aponta com desdém, me deixando um tanto sem graça pelo palavreado não esperado.

- Sim. - afirmo, suspirando, acenando como se fosse minha primeira vez admitindo algo ruim sobre uma pessoa.

- Como o filho da puta do Dexter. - um sorriso escorre por seus lábios, Jeon Jungkook umedece o piercing e deixa o caderno de lado olhando para mim. - Você não acha?

- Ele é uma pessoa ruim.

- Como um desgraçado maldito?

- Bem, sim.

- Gosta dele? - seu tom é de repreensão, embora sendo cuidadoso.

- Não.

- Então porque não o xinga? Fale mal dele, mande-o se foder todas as vezes que derruba seus livros ou pede ajuda com atividades que para um homem da sua idade, deveria ser uma merda de uma baboseira.

As pessoas estavam certas ao alertar o quanto Jeon Jungkook é um completo arrogante, cheio de palavrões. E a ideia que Mina implantou de que ele me ajudaria, seria ainda mais sem cabimento. Somos diferentes, absurdamente opostos. Eu não posso sair xingando todos por suas ações ruins, Dexter não merece o meu esforço, ele não merece minha fúria, ou os meus pensamentos. Mas Jungkook gosta disto, ele quer que eu cuspa toda a porcaria para fora. Que me corrompa e diga a todos o quanto eu o odeio, mas não funciona assim. Eu sou amaldiçoada pela bondade, eu não os xingo, não falo mal deles.

E céus, eu realmente não consigo.

- Suponho que você já deve ter feito isso por mim. - digo a ele.

Jungkook respira fundo, ele continua olhando para mim e sorrindo em escárnio.

- Não consegue ser uma pessoa malvada?

De repente me sinto incomodada, alguma coisa perfura minha pele e esfrego a palma contra meu braço. Sim, eu não consigo. Quero dizer a ele, mas escolho o caminho mais difícil.

- Posso ser uma pessoa malvada quando almejar. - afirmo convicta, apontando. - Mas não o desperdice com Dexter.

- Isso não me parece tão convincente.

Ele está rindo de mim, como se me desafiasse a isso. E minhas bochechas inflam de raiva pelo arrogante de belos olhos, que umedece os lábios e continua me encarando com uma sobrancelha levantada.

- Afinal, quem é você para dizer algo sobre mim? Nem mesmo nos conhecemos, garoto arrogante!

Seus olhos escuros brilham como se algo o instigase de modo que apenas me deixa confusa, é o nosso primeiro diálogo. E isso não poderia ser mais bizarro, e bem.. divertido por este lado.

- Ainda não me convenceu de suas palavras, o que acha de um acordo, garota doce?

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