Dez minutos já haviam passado do meu horário normal para deixar a revista. Apressei-me em organizar as coisas, pois Sofia provavelmente já me esperava na saída da cafeteria.
Fazia um mês que estávamos juntos e como hoje era quarta-feira e ela não precisaria ir ao bar para cantar, decidi organizar uma pequena comemoração íntima em meu apartamento.
Apesar do local ser comum a nós, encomendei um jantar especial e algumas coisinhas a mais para que pudéssemos usufruir depois da sobremesa.
Eu queria que aquela noite fosse especial, então para eternizar a lembrança do nosso primeiro mês juntos, comprei-lhe uma pulseira, decorada com um pequeno pingente em forma de microfone. Apesar de não me sentir totalmente à vontade com as apresentações de Sofia na Lux, foi no palco que eu acabei me encantando por ela.
Como esperado, Sofia já me aguardava na porta do café. O trajeto entre os nossos trabalhos e meu apartamento não era longo, então, poucos minutos depois, meu carro entrava no estacionamento do edifício.
Um mês já se passara e nossas conversas continuavam leves, a companhia dela era extremamente agradável e o sexo conseguia ser ainda mais quente, ou seja, tudo estava perfeito!
Assim que estacionei o carro na minha vaga, desci e dei a volta no veículo para abrir a porta de Sofia.
— Mal posso esperar pela sua surpresa, amor. A curiosidade está me matando...— falava ela enquanto descia do carro.
— Não imaginei que isso te deixaria ansiosa. Não devia ter feito nada. — falei em tom de brincadeira.
— Não ouse dizer isso...
Senti sua mão empurrando meu ombro, mas antes que ela pudesse concluir tal ato, tomei-a pela cintura beijando sua boca de maneira urgente. Não demorou muito para que uma de minhas mãos procurasse a barra da sua camisa.
— Adam...calma...estamos no estacionamento. — Sofia falava, enquanto tentava se livrar do meu aperto.
— Tudo bem. Tudo bem! — levantei as mãos em rendição. — Vou fazer esse sacrifício, e te largar.
Respirei fundo em direção ao seu cabelo, exalando o cheiro que virou meu novo vício das últimas semanas.
Começamos a andar de mãos dadas em direção aos elevadores, até ouvirmos uma voz feminina pronunciar o nome de Sofia atrás de nós.
Assim como ela, virei para descobrir quem a chamava. Meus olhos pousaram em uma senhora de estatura média e cabelos grisalhos, com os traços muito parecidos com os da mulher ao meu lado.
— O que você está fazendo, Sofia? — falava a desconhecida, enquanto se aproximava lentamente de nós com o semblante irritado. — O que você pensa que está fazendo menina?
A mulher mais velha parecia realmente brava.
— Eu...eu não sei do que a senhora está falando.
Meus olhos seguiram em direção à Sofia e então eu constatei o pânico em seu olhar. Sua mão permanecia entrelaçada à minha, mas o aperto havia intensificado.
— Não sabe? Já contou a ele? - A mulher apontou com a cabeça em minha direção, o que me fez ficar ainda mais alerta àquela conversa.
— Por favor, me deixa em paz. — sua voz estava embargada.
— Você não pode deixa-lo Sofia. Você sabe que Derick vai nos matar se fizer isso. Eu, você, ele...— disse apontando novamente em minha direção. — Eu tenho certeza que você não quer isso, minha filha.
— Eu não sou sua filha! — Sofia gritou. As lágrimas já escorrendo livremente pelo seu rosto.
— Quem é a senhora? O que quer com ela? — a questionei irritado.
— Pergunte a ela. — falou a mulher confiante, apontando com a cabeça em direção à Sofia.
— Sofia...
— Não! — Sofia desfez nosso contato e espalmou a mão em frente ao próprio corpo, em um pedido para que eu me mantivesse distante, sem questionamentos. — Por favor Adam, eu não quero falar nada.
Depois de me lançar um olhar quase indecifrável, a mulher dos cabelos longos balançou a cabeça em negativa e virou, ficando de costas para mim e para a desconhecida. Seus pés começaram a correr em direção à saída do prédio. Eu ainda tentei alcança-la, mas simplesmente a perdi de vista. Voltei ao estacionamento, buscando explicações, mas apenas constatei que a senhora já não se encontrava mais ali.
Quem era aquela mulher? Que merda havia acontecido ali?
Eu estava totalmente perdido!
Minha filha! — Ela chamou Sofia de filha...
As perguntas rondavam a minha cabeça, sem que qualquer sombra de resposta se fizesse presente. Retirei o carro da garagem e parti em busca de Sofia, mas nada. Andei pelas ruas próximas, mas não havia nenhum sinal dela.
Fazia mais de uma hora que eu dirigia sem rumo pela cidade, então, decidi voltar para casa. Talvez Sofia também estivesse lá, já que ela possuía a chave do apartamento.
Para a minha infelicidade, ela não estava. A casa vazia trazia memórias que eu gostaria que se mantivessem no lugar mais fundo da minha mente, e apenas aumentavam a sensação de angústia e solidão.
Duas, três...horas. O relógio marcava vinte e uma horas e trinta minutos quando Sofia entrou pela porta de casa. O rosto vermelho e o semblante cansado.
Levantei do sofá, deixando de lado o copo da bebida que havia sido minha companheira nas últimas horas e aproximei-me dela com cautela, sem dizer nada. Ofereci meu abraço e quando seu rosto se aconchegou em meu peito, envolvi-a em meus braços, beijei o topo da sua cabeça e deixei que ela chorasse.
Permanecemos assim por muitos minutos. Por cima do seu ombro ainda era possível ver a mesa perfeitamente arrumada para um jantar que não aconteceu, e parecia indiferente naquele momento.
Meu coração doía por constatar o quanto à mulher em meus braços estava sofrendo e doía ainda mais por eu não saber sequer o que fazer para ajuda-la. Então, ofereci a única coisa que eu poderia naquele momento: meu carinho.
Eu estava louco para fazer-lhe dezenas de perguntas, mas aquele não era o momento mais propício, e para falar a verdade, naquela hora eu só queria respirar aliviado por tê-la segura ao meu lado.
Ajudei-a com o banho e depois de deita-la na cama, eu a vi adormecer sobre o meu peito enquanto eu acariciava a sua cabeça. Por mais que eu tentasse esquecer, as palavras da desconhecida martelavam em minha mente: ele vai nos matar.
Eu não sabia o quanto tudo aquilo poderia ser real ou apenas um exagero, mas então lembrei que Brian falou a mesma coisa.
Derick seria capaz de matar? Matar a mim? Matar Sofia?
Somente Sofia poderia me dar aquelas respostas e dessa vez eu não hesitaria em questiona-la.
Aproveitei enquanto ela dormia e coloquei a pulseira em seu braço, deixando um beijo sobre ela.
— Feliz um mês Sofia! — sussurrei, depositando um beijo em sua cabeça.
Esperava e torcia para que as próximas comemorações fossem totalmente diferentes daquele momento de angústia.
...
Naquela manhã de quinta acordei mais cedo que o normal. A verdade é que eu não havia conseguido dormir pensando nos acontecimentos da noite anterior. Eu me sentia angustiado e aflito.
Depois de constatar que não conseguiria pegar no sono, apanhei o computador e parti rumo à sala digitando na barra de pesquisa o nome do homem que eu gostaria de desvendar: Derick Gamano.
Antes que os resultados pudessem aparecer, fechei a página de navegação e a tela do computador em seguida.
O que eu estava fazendo?
Se existia uma explicação para aquilo tudo, eu deveria deixar que Sofia me desse.
Era isso!
Eu não esperaria mais, assim que ela acordasse, teríamos uma séria conversa.
Para acalmar os ânimos exaltados naquele momento, decidi tomar um banho e parti rumo à cozinha, preparar um café da manhã para nós.
Para a minha surpresa, Sofia acordou bem mais cedo do que eu esperava, o que era bom, já que assim poderíamos conversar sem a desculpa de estarmos atrasados para o trabalho.
— Bom dia, meu amor!
Recebi um beijo demorado e assim que nos separamos, pude ver que Sofia usava uma de minhas camisas, o que a deixava extremamente atraente.
— Bom dia minha linda! Senta, vou servir nosso café!
— Você me deixa mal-acostumada assim. — Um pequeno sorriso brotou no canto dos seus lábios, mostrando uma mulher mais animada do que na noite anterior.
— E você não gosta? — Apoiei as mãos no balcão que dividia a cozinha e a mesa de jantar, e olhei em sua direção, levantando uma das sobrancelhas, olhando-a questionador.
— Gosto. Claro que eu gosto! O problema é que daqui a pouco você vai enjoar de mim.
Gargalhei alto da cozinha. — Então, vou continuar com a minha tática, porque quero te ter assim pertinho, por muito tempo! — disse enquanto caminhava em direção à mesa em que ela estava sentada.
Depositei o objeto de vidro com o café recém passado na mesa e me abaixei próximo a ela, segurando suas mãos entre as minhas. — Eu gosto de você Sofia! Gosto de verdade, mas...preciso que confie em mim.
— Eu confio em você! — falou sem hesitar, enquanto mostrava um sorriso sereno nos lábios.
— Então, porque não começa a me contar quem era a mulher na garagem ontem?
Sofia lentamente retirou suas mãos de perto das minhas cobrindo o rosto enquanto abaixava a cabeça.
— Sofia...
Tomei suas mãos, novamente, mas seus olhos permaneciam fechados e eu podia notar a força que ela fazia para manter as pálpebras unidas.
— Amor, fala comigo. Se a gente não conversar, não tem como se entender.
Novamente, um balançar negativo de cabeça foi minha única resposta, mas percebi as lágrimas começando a escapar no canto dos seus olhos pela primeira vez naquela manhã.
Abracei-a na tentativa de transmitir confiança, enquanto as lágrimas já não encontravam mais empecilhos para escorrer pelo seu rosto.
— Eu estou começando a me preocupar com você. — externei meus pensamentos. — Eu preciso saber o que está acontecendo, o que aconteceu ou sei lá o que pode acontecer. — suspirei — Eu preciso que você seja sincera para eu estar do seu lado, caso contrário, vou achar que você não confia em mim e... — respirei fundo mais uma vez, fechando os olhos e abrindo-os novamente, mesmo que ela não pudesse ver nada, eu tentava encontrar a força para dizer as próximas palavras. — eu não quero um relacionamento sem confiança.