Golden Eyes ☀️ OBX 2

By itsclarafelton

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Depois de todos os acontecimentos do verão, Outer Banks já não era mais a mesma para os Pogues, que tentavam... More

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01 | O fim do Verão
02 | De volta a vida "normal"
03 | Tipo FBI
04 | A arma do crime
05 | Noite da pizza
06 | Charleston
07 | A Casa Limbrey
08 | A Volta
09 | Nada que é bom dura muito
10 | A pior hora
11 | Um dia peculiar
12 | A Chave e o Druthers
13 | Oceanos de distancia
14 | A coroa ainda é minha
15 | A festa da fogueira
16 | Ao pé do anjo
17 | Bon Voyage
18 | De mal a pior
19 | O Navio
21 | Epílogo
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20 | Poguêlandia

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By itsclarafelton

❝ Meu pai gostava de uma citação de Eurípedes:"O oceano leva embora todos os males praticados pelo homem". Mas não sei se concordo. Não acredito que o oceano leve nada embora. Pelo contrário, ele traz as coisas à tona. ❞

Sophia espiou por trás de uma meia parede de ferro os homens que seguiam para dentro de uma sala no convés do piso inferior do navio — o lugar era muito mais quente do que o contêiner e iluminado apenas por luzes vermelhas — todos comentavam sobre a cruz ser amaldiçoada, como se contassem sobre velhas lendas de marinheiros.

A loira levantou três dedos, indicando quantas pessoas faltavam entrar na sala. Rapidamente deixando de espiar, colando seu corpo na parede, quando Rafe parou em frente a sala e olhou em volta. Sophia apertou, um pouco nervosa, a mão de Kiara, que estava unida a sua. Depois de alguns segundos, ela olhou outra vez para trás da parede, vendo que não havia mais ninguém do lado de fora.

— Estão todos aí — sussurrou, quase sem emitir som, para os amigos.

— Menos o Ward — JJ usou o mesmo tom da loira, olhando para as duas garotas. — Precisamos dele aí.

— Não dá para esperar — Kiara constatou, no mesmo tom.

O Maybank encostou sua cabeça na parede, pressionando seus lábios em uma linha fina — claramente irritado com a ideia de Ward estar solto pelo navio. O loiro fez um gesto com a cabeça indicando a sala, e Sophia não precisou de mais para soltar a mão da amiga.

Como a sala tinha duas portas, Sophia correu para a porta por onde os tripulantes tinham entrado, sendo seguida por JJ — enquanto Kiara corria em direção a outra. A loira conduziu rapidamente a pesada porta em direção ao batente, no entanto, quando a porta estava prestes a fechar, os homens do outro lado começaram a empurrá-la do outro lado para tentar abrir outra vez.

Sophia encostou a lateral de seu copo na porta fria de metal e usou todo o peso dele para empurrar a porta, e o Maybank colocou um braço de cada lado do corpo da garota, usando toda a sua força para empurrar a porta em direção ao batente — fazendo com que os músculos de seu braço ficassem em evidência.

— O cadeado — a Howard indicou o objeto pendurado sobre uma corrente ao lado deles, e o garoto rapidamente afastou uma das mãos do porta para pegá-lo.

Assim que, com esforço, a porta se alinhou com o batente, JJ teve de colar seu corpo ao da loira para conseguir passar o arco do cadeado na fechadura. Quando ouviu o tintilar do cadeado sendo trancado, Sophia deixou seu corpo relaxar, ainda o mantendo encostado à porta, e teria ficado mais um pouco ali se JJ não tivesse se afastado da porta, a puxando pela mão para junto de si.

Os dois loiros seguiram a Carrera até uma abertura em formato de meio círculo no chão a qual dava para uma escada simples de metal presa à parede. O piso inferior não era muito diferente ao de cima, com exceção da falta de máquinas e a substituição da luz vermelha por luzes amarelas.

— Aqui está ela — JJ caminhou até a mesma caixa que tinham visto ser posta no navio mais cedo. Como a tampa já havia sido removida, bastou o loiro puxar o pano bege para revelar a Cruz de Santo Domingos. — Bora surfar.

Sophia sorriu, deixando um suspiro fraco escapar, notando seus amigos fazerem o toque especial dos Pogues por cima da caixa aberta. No entanto, apesar de estar animada por tudo estar dando certo — e querer muito que continuasse assim — não conseguia afastar o sentimento de angústia o qual se instalou em seu peito. Não queria ser pessimista, contudo, era quase como se pudesse já sentir tudo escorrer por entre seus dedos mais uma vez. Ou talvez seu lado sonhador estivesse tão calejado, que era só difícil continuar acreditando que tudo daria certo.

Um barulho mecânico acima de suas cabeças, fez Sophia deixar seus pensamentos de lado e olhar para cima, semicerrando os olhos quando o teto foi aberto e o lugar foi iluminado pela forte luz do sol. A garota não conteve um riso, assim como os outros dois, ao ver Pope parado em um pose heroica e grandiosa no convés superior. Os três gritaram como os loucos animados que eram.

— Acabou! — o Heyward ergueu sua mão fechada em um punho, ao falar sua grande frase de efeito: — Não vamos mais aceitar que pisem em nós!

— Esse é o mau garoto! — JJ gritou.

— É isso aí! — Sophia abriu os braços, se deixando levar pela animação ao seu redor.

— Vamo nessa!

O trio voltou sua atenção à cruz quando Pope sumiu do campo de visão, usando as cordas jogadas ali para amarrar em volta da estrutura de ouro. Em poucos segundos, viram a corda do guincho descer até eles.

— Pode puxar, Pope — os dois loiros gritaram juntos quando o gancho já estava preso à corda.

Aos poucos a cruz foi sendo levantada, e os três passaram a gritar instruções ao amigo no comando do guincho — "devagar", "mais para a esquerda", "um pouco mais para a direita", "assim tá ótimo" — e tudo estava sob controle, até aquele momento.

— Não, foi muito longe, Pope! — JJ tentou segurar a ponta da corda presa à relíquia quando o guincho se moveu rápido demais, contudo, acabou sendo arrastado e caindo de cara no chão.

— Pope! — esbravejou Sophia, correndo para ajudar o loiro a levantar, encolhendo os ombros quando a cruz derrubou uma bobina gigante do chão produzindo um estrondo.

— Foi mal! Errei!

— Volta, volta! — Kiara segurou a corda presa a cruz, e logo os dois loiros se juntaram a ela.

— Manda ver, Pope! — Cleo gritou do andar de cima. — Você consegue!

— O John B conseguiu o bote?

— Eu não o vi.

— Cadê a Sarah?

— Eu não sei.

Sophia começou a ficar cada vez mais apreensiva, sentindo seu coração bater mais forte. Respirou fundo, decidindo focar sua atenção unicamente no momento — ou pelo menos tentar.

— Pronto! — as duas garotas falaram juntas quando a cruz passou pela abertura no teto.

— Vamos ajudar o John B a preparar o bote — JJ já corria de volta para as escadas, logo sendo seguido pelas garotas.

Os três passaram pela sala vermelha, atravessando por uma porta até o lado de fora, sendo atingidos pela brisa refrescante do mar ao chegarem a um corredor externo bem estreito. Sophia aproveitou para observar a paisagem ao redor, encontrando apenas a imensidão azul do mar até onde seus olhos podiam ver — já deviam estar bem longe de Outer Banks naquela altura. Ao fim do corredor, chegaram a uma das proas do navio. E a Howard estava tão focada na procura por John B e Sarah, que quase esbarrou com alguém descendo a escada.

— É claro que tem mais de um de vocês — um homem rosnou, tirando um facão da bainha e segurando com força o braço da garota.

No mesmo instante, Sophia deu um chute nas partes baixas do homem, fazendo ele soltar um xingamento ao se contorcer, e puxou seu braço para longe das mãos dele, logo sentindo seu corpo ser puxado para trás por JJ.

— Se ajoelhem — o homem gritou com raiva ao se endireitar, exibindo o enorme facão em suas mãos.

— Não vai rolar — disparou o Maybank.

Então o homem avançou com tudo na direção dele. O garoto se abaixou, desviando da lâmina afiada. Quando o mais velho levantou o facão para preparar outro golpe, Kiara pressionou o braço dele na parede e JJ segurou os ombros do homem para Sophia abrir a pequena porta de metal, a qual acertou em cheio o rosto do homem, que caiu no chão.

— Cadê o John B? — JJ gritou.

Sophia e Kiara correram até lados opostos do guarda corpo gritando em desespero pelo Booker e pela Cameron.

O capitão do navio levantou de uma vez do chão, o ódio fervilhava em sua expressão quando ele tentou atingir JJ com seu facão outra vez. O loiro conseguiu desviar da lâmina, mas não do soco em seu estômago, e pode sentir o ar faltar em seus pulmões por um segundo enquanto caía no chão e suas costas atingiam o metal do guarda corpo.

JJ levou sua mão à barriga, dirigindo seu olhar ao homem em pé a sua frente vendo ele preparar outro golpe com o facão. No entanto, a atenção do homem não estava nele.

— Sophia — o loiro gritou, fazendo a garota, que estava de costas próxima a eles, ainda gritando por seus amigos, virar para trás a tempo de desviar do golpe desferido pelo mais velho.

O desespero e a raiva tomaram conta de cada parte do corpo do Maybank ao ver o capitão levantar o braço pronto para tentar atingir a loira mais uma vez. JJ levantou do chão, passando um dos braços pelo pescoço do homem em um mata leão e segurando a mão dele que envolvia o cabo do facão.

A Howard avançou na direção dos dois para ajudar o garoto, no entanto, antes que pudesse fazer qualquer coisa, o capitão desferiu uma cotovelada nas costelas do loiro, que o fez cambalear para trás e soltar seu braço. Sophia só teve tempo de abaixar para desviar do facão, vendo pelo rabo do olho o cabo dele atingido o canto da cabeça de JJ. O forte golpe fez o garoto cambalear para trás e cair para fora do guarda corpo, direto no mar.

Sophia deu outro chute nas partes baixas do homem, o empurrando com toda a sua força para trás. Um barulho alto foi produzido quando o capitão caiu no chão depois de Kiara o atingir na cabeça com toda a força usando uma garrafa qualquer que achou. A loira gritou por JJ ao correr até o guarda corpo. Segurando firme a barra dele ao ver o garoto boiar no mar com o rosto afundado na água — ela sentiu seu coração bater tão rápido que podia imaginá-lo saltando para fora de seu peito a qualquer minuto.

Sem pensar, Sophia pulou no mar.

— JJ — chamou em desespero emergir. Ela passou a mão pelo rosto, afastando os fios molhados de cabelos antes de nadar até o garoto, o virando para tirar o rosto dele da água, deixando a cabeça do loiro apoiada em seu ombro e o abraçando por trás. — JJ — tentou mais uma vez.

— Sophia! JJ! — A garota olhou para cima ao ouvir o grito de Kiara. — Merda!

— Kie, acha o John B ou um bote, sei lá! — a Howard gritou de volta. — Rápido!

— Tá, eu já volto!

Com isso, a morena se afastou correndo do guarda corpo, e o olhar de Sophia recaiu outra vez sobre o garoto desmaiado em seus braços. Os dois eram embalados pelo balanço suave do mar gelado e o sol banhava suas peles, enquanto as lágrimas se acumulavam nos olhos de Sophia.

Ela estava com medo. Muito medo.

Talvez nunca tenha sentido tanto medo da perda, da morte, quanto naquele instante — nem mesmo quando estava presa naquele bueiro. Talvez porque não estava com medo da sua morte. Estava com medo da morte dele.

E tudo que conseguia fazer naquele momento era desejar com todas as suas forças ver os olhos terrivelmente azuis de JJ se abrirem outra vez. Desejava receber um daqueles sorrisos de canto, que mesmo depois de tanto tempo ainda faziam seu coração perder uma batida. Desejava poder sentir o mundo parar como acontecia toda vez que seus lábios tocavam os dele. Desejava mais do que tudo poder sentir os braços do garoto a envolverem — como só ele conseguia — e fazerem todos os seus medos desaparecem.

— JJ, você me fez uma promessa, lembra? — sussurrou, uma lágrimas solitária rolando por seu rosto. — Prometeu que nunca ia me deixar — Ela mordeu seu lábio inferior com força, sentindo o gosto metálico de sangue. — É bom cumpri-la, seu idiota.

Sophia mal se importou quando sentiu suas pernas começaram a pesar, cansadas pelo esforço de terem que continuar a se moverem debaixo d'água, afinal, o peso em seu coração era o que mais doía no momento. Algumas lágrimas começavam a rolar por seu rosto, se misturando com a água salgada do mar, e sua mente já viajava para lugares sombrios quando ouviu gritos abafados pelo barulho do enorme navio ao seu lado.

— Sophia! JJ!

Ela gritou de volta, tendo certeza que nunca havia ficado tão feliz em ver seus amigos surgirem em um bote azul quando naquele momento.

— Ah, meu Deus!

— JJ!

John B guiou o bote até estar ao lado dos loiros no mar. Os dois garotos puxaram o Maybank para dentro enquanto as garotas ajudam a Howard a subir. A loira logo ajoelhou ao lado de JJ, que foi deitado no chão do bote com a cabeça apoiada na lateral inflável dele.

O Booker voltou a acelerar o pequeno barco, mas eles não chegaram muito longe antes do motor fazer um barulho estranho e eles pararem com um pequeno tranco.

— O que aconteceu? — Pope perguntou com um desespero plausível em sua voz.

— O motor morreu.

— Somos alvos fáceis aqui! — exclamou Kiara.

— Vamo bora, cara!

— Eu tô tentando!

— Pra frente e depois pra trás!

Já havia se tornado difícil distinguir as vozes gritando uma por cima da outra, o que era compreensível já que dentro do navio, Rafe apontava uma arma na direção do grupo.

— JJ — Sophia chamou baixo, segurando o rosto do garoto com uma das mãos e repousando a outra no peito dele enquanto seus amigos ainda gritavam um por cima dos outros. — Acorda, por favor.

O bote deu um pequeno tranco quando o motor ligou outra vez, e John B o acelerou para bem longe do enorme navio atrás deles — onde a cruz tinha permanecido junto com os Cameron e o ouro. E longe de perigo, todos voltaram sua atenção ao Maybank ainda demasiado, e começaram a chamar por ele.

— Acordou! — John B anunciou ao ver o melhor amigo abrir os olhos. — Isso, jogue essa água pra fora!

Todos abriram sorrisos enormes enquanto o loiro tosia toda a água dentro de si para fora. Quando se recuperou da tosse, JJ olhou em volta parecendo perdido e um pouco assustado.

— E ai, rapaz — Pope falou — Bem vindo de volta à vida. Nem precisou de boca a boca.

Sophia soltou um riso que soava como uma mistura de alívio e felicidade — tudo o que sentia naquele instante — repousando sua mão outra vez sob o peito do Maybank. O olhar do garoto recaiu sobre o local onde a mão da loira estava antes dele levantar o olhar até encontrar o dela.

E quando seus  olhares se conectaram, um sorriso doce nasceu nos lábios de Sophia; o sorriso mais lindo que JJ já havia visto em toda a sua vida.

— Hey, princesa — sussurrou.

— Seu idiota — Sophia desferiu um tapa no peito dele, arrancando um reclamão do loiro e risada dos seus amigos. — Quase me matou do coração, sabia?

— Sempre querendo atenção — brincou John B, rindo e sendo acompanhado por todos.

— De qualquer jeito — JJ levou a mão ao canto de sua cabeça onde havia um machucado coberto de sangue. A Howard soltou a banda preta, que até então estava enrolada em seu pulso, levando o tecido até o local machucado da cabeça do loiro e pressionando de leve para limpar o sangue. — O que aconteceu? — indagou o Maybank, sentando no bote enquanto Sophia ainda limpava seu machucado.

— A lateral de um facão — foi Kiara quem respondeu.

— Dá próxima vez, desvia — aconselhou Cleo em um tom brincalhão.

— Vou tentar lembrar disso — JJ apontou para ela, e ouve mais uma série de risos.

Sophia ainda limpava, com cuidado, o machucado do Maybank, quando sua atenção foi atraída para seus amigos, mais especificamente, para o olhar deles focado no Costal Venture, onde os tripulantes puxavam a cruz a qual quase havia caído no mar para dentro do navio outra vez.

— Isso não acabou — garantiu o Pope.

— Não mesmo — John B assentiu, e os dois trocaram um olhar que brilhava com determinação.


— Ai, Soph — A garota levantou sua cabeça do ombro de JJ para encarar o primo. — Quer realizar seu maior sonho de criança?

— Descobriu como comer uma nuvem?

Sarah soltou uma gargalhada, sendo acompanhada por JJ; já Kiara e Pope fizeram caretas ao encararem a amiga.

— Seu maior sonho de criança era comer nuvens? — Cleo cerrou os olhos na direção da garota, que encolheu os ombros.

— Elas parecem com algodão doce.

— Não esse sonho — John B sorriu. — Mas lembra quando a gente brincava de pirata?

— Ah meu Deus — Sophia praticamente gritou, sentando na borda do bote, olhando para o horizonte. Ela colocou sua mão acima dos olhos antes de anunciar com a animação de uma criança: — Terra à vista!

O grupo todo riu, seguindo o olhar da garota até uma faixa de terra branca com árvores não muito longe de onde estavam naquele momento. Não demorou para chegarem à parte mais rasa da água, onde as quatro garotas desceram do bote e caminharam até a terra firme. Assim que chegaram, Sophia e Sarah deram um longo abraço apertado.

As duas se afastaram sorrindo, e foram sentar junto com as outras duas garotas sob as sombras de algumas árvores. E as quatro apenas observaram enquanto os garotos puxavam o bote pela água até a areia fofa.

Sophia tirou seus all stars encharcados, soltando um suspiro triste ao ver o estado de seu par preferido de sapatos. Ela deixou o calçado de lado, sentindo a areia macia sob seus pés e a brisa tranquila vinda da maresia balançando seus cabelos, como uma carícia suave. Não fazia a mínima ideia de onde estavam, mas o lugar era lindo. Se algum dia sonhou com a ilha paradisíaca perfeita, seria como aquela. O mar era translúcido, as folhas ao redor eram de um verde vivo e a areia era tão fofa que nem parecia ser de verdade.

— Bom trabalho, garotos — Sarah elogiou em um tom divertido.

O trio se afastou do bote, indo até onde as garotas estavam sentadas.

— JJ, você tá bem, cara? — perguntou John B, sentando ao lado da prima na grama verde.

— Tô, só meio tonto — o Maybank olhou em volta antes de focar sua atenção nos amigos outra vez. — Alguém sabe onde a gente tá?

— Praia deserta. Ilha desconhecida — Pope deu de ombros, sentando ao lado de Cleo.

— Tá, então ninguém sabe — JJ assentiu para si mesmo. — Sabe o plano A, Pope? Deu tudo certo.

— Agora esse é o fundo do poço — o Heyward admitiu. — A gente literalmente não tem mais a perder. A cruz? Já era.

— O Ouro? Já era. — completou Sarah.

— Se ganhássemos um centavo cada vez que nós vencemos, já teríamos US$1,50 — debochou JJ, tirando seu canivete do bolso e entalhando algo no tronco de uma árvore.

— É mais do que tenho no momento — Cleo deu de ombros.

— Isso não faz eu me sentir melhor — Um sorriso divertido nasceu no rosto de Sarah.

Sophia apenas riu dos comentários.

— Vocês têm razão. — disparou John B, atraindo o olhar de todos para si. — Mas nós... Demos sorte em vários momentos também.

— Por exemplo? — Pope olhou para o amigo com os olhos cerrados.

— A explosão do motor. Se não tivesse explodido eu não teria escapado do Rafe e não teria chegado ao bote a tempo.

— Não foi sorte — Cleo negou, exibindo um pequeno sorriso. — Ia explodir assim que eu parasse de pôr óleo.

— Não acabe com a minha alegria.

— Foi mal.

John B recebeu olhares divertidos dos amigos enquanto pensava.

— Pope, você é parente do Denmark — disparou.

— E perdi toda a herança dele.

Sophia revirou os olhos. Atraindo os olhares curiosos dos amigos quando levantou, dando alguns passos à frente e girando nos calcanhares para encarar o grupo.

— Perdemos tudo, outra vez — falou jogando os braços para o alto. — Só que podemos recuperar isso. Vamos recuperar isso. Sabem o que eu não pude recuperar da última vez? Meus amigos desaparecidos no mar.

Ela olhou para seu primo e para a melhor amiga.

— Como diria aquele velho ditado: a única coisa que não tem jeito nessa vida é a morte — Ela encolheu os ombros. — Estamos vivos e juntos. Então, parem de reclamar, porque tão parecendo um bando de Kooks mimados.

— É isso — John B levantou, indo até a prima e envolvendo ela em um abraço lateral, que a loira retribuiu de imediato. — Essa é a vida Pogue. Estamos no Caribe. É o nosso paraíso particular.

O Booker abriu um dos braços, deixando ele cair ao lado de seu corpo em seguida — mantendo o outro braço em volta da prima.

— Vocês são minha família — John B falou. — São os únicos com quem eu queria estar agora.

Os cinco mantinham os olhares focados nos dois, abrindo pequenos sorrisos, um pouco envergonhados por estarem apenas vendo o lado ruim quando havia tanto pelo que deviam agradecer, como, por exemplo, estarem vivos depois de tudo pelo que haviam passado.

— Enquanto vocês estavam aí, reclamando sobre tudo — John B continuou, se afastando da prima e indo para o lado do Maybank. — JJ, eu tava olhando aquelas ondas.

O loiro fincou a faca do canivete no tronco da árvore, olhando para a direção em que seu melhor amigo apontava: o mar cristalino cheio de ondas.

— Vi algumas ondas boas — John B provocou, olhando para o melhor amigo.

— Algumas.

Os dois trocaram um sorriso cúmplice.

— Viu isso, Kiara? — o Booker se virou para a cacheada. — Sei que quer surfar.

— Sem prancha? — a Carrera sorriu.

— Vamos surfar só com o corpo até fazermos pranchas.

Sophia soltou uma risada.

— Ridículo.

— Pope, o que cê acha?

— Parecem muito boas — O moreno deu de ombros ao se levantar. Ele parou ao lado da Howard, segurando a mão da amiga. — Estamos isolados. Podemos ficar aqui um pouco. O lugar é nosso agora, né?

— Você tem razão — John B concordou.

— Tudo por sete.

Os dois fizeram o toque Pogue.

— Poguelândia — disparou JJ, atraindo o olhar dos amigos para si e fazendo Sophia soltar uma risada. — Eu te nomeio Poguelândia. Gostei do nome.

— Eu também — Sophia levantou a mão.

— Vou criar uma bandeira. Vai ter uma galinha com biquíni de coco, fumando um baseado e de Crocs.

Os seis riram da ideia, em especial Sophia, que já podia imaginar perfeitamente aquilo.

— Eu queria fumar — murmurou Kiara.

— A gente pode votar? — Sarah cerrou os olhos na direção do Maybank.

— Ao trabalho? — Pope se afastou da amiga.

— Bora trabalhar — John B assentiu. — Temos que achar comida. Vamos começar.

O garoto foi até Sarah, estendendo a mão na direção da garota e sussurrando algo que Sophia não ouviu, mas pode ver sua amiga sussurrar algo de volta e segurar a mão do garoto. E ela sorriu feliz pelos dois estarem bem outra vez.

— Totalmente Pogue — disparou o Booker ao ajudar a Cameron a se levantar.

— Bem vinda aos Pogues — Pope falou para Cleo ao ajudá-la a se levantar também.

— Valeu — A morena sorriu sincera. — Mas o que é Pogue mesmo?

— As pessoas mais loucas e complicadas do mundo — Sophia deu de ombros, fazendo todos rirem.

— E aquele toque?

Os seis começaram a andar para longe de onde estavam, explicando a Cleo sobre todo o conceito de Pogues e Kooks, e ensinando a ela o toque especial do grupo. Sophia andava próxima a água, distraída, quando deixou uma risada escapar ao sentir sua cintura ser envolvida por trás e seu corpo ser girado no ar.

Quando seus pés pisaram na areia fofa outra vez, Sophia virou encontrando os olhos azuis que tanto amava acompanhados por um sorriso de canto, que fez borboletas voarem em seu estômago. A garota inclinou sua cabeça de leve para o lado, descansando suas mãos no peito de JJ enquanto ele mantinha as suas na cintura da garota — a deixando próxima a si.

— Eu ferrei com tudo — JJ sussurrou, mordendo o lado interno de sua boca. — Foi mal por isso. Eu não queria te magoar, mas tudo ao meu redor parecia me dizer que eu acabaria igual ao meu pai.

O Maybank deu de ombros, desviando seu olhar para um ponto atrás da cabeça dela.

— Achei que seria melhor para você se não ficássemos mais juntos. Quer dizer, você tem um futuro no lado Kook, e não queria que estragasse ele por minha causa.

Sophia entreabriu sua boca. Com certeza não esperava ouvir aquilo, na verdade, estava um pouco incrédula pelo garoto realmente pensar que seria capaz estragar algo em sua vida ou que algum dia seria igual a Luke — nem ao menos havia descoberto como um homem tão ruim tinha tido um filho tão incrível.

— Você nunca vai ser igual aos seu pai, nem se tentasse — declarou Sophia. — E acredite, minha vida é bem melhor com você nela.

Um sorriso carinho nasceu nos lábios da Howard, e JJ não pode deixar de abrir um pequeno sorriso quando seu olhar pousou no nela outra vez.

— Além do mais, nós ferramos tudo — Sophia corrigiu, desviando seu olhar para suas mãos. — Eu estava com medo de estragar as coisas e acabei deixando as minhas inseguranças falarem mais alto. Eu devia ter conversado com você sobre isso, mas, você estava certo em uma coisa, eu não sou bom em falar sobre meus sentimentos.

Sophia encolheu os ombros.

— Só que hoje achei que fosse te perder e... — Ela suspirou, fechando seus olhos por um rápido segundo.

O vento acabou empurrou algumas mechas de cabelos para frente do rosto da garota, e JJ as afastou com delicadeza, atraindo o olhar da loira para si, notando as lágrimas acumuladas em sua linha d'água.

— Não quero ficar nesse clima estranho. Não com você. Eu sei que não dá pra voltar no tempo, mas ainda somos pogues para a vida e eu ainda te amo.

Quando as palavras escaparam de seus lábios, Sophia pode jurar que viu um pequeno brilho no azul dos olhos do garoto à sua frente.

— Senti a sua falta, princesa — JJ sussurrou, deixando sua covinha amostra ao abrir um sorriso simples. — Pra cacete.

Sophia riu, sendo acompanhada pelo loiro.

— Eu também senti, e não quero sentir mais.

Diferente de alguns dias atrás, não havia mais nada os separando — nada de cortina ou oceanos. Podiam sentir seus corações voltarem a bater no mesmo ritmo. E pela primeira vez, podiam ver um vislumbre da vulnerabilidade um do outro exposta em seus olhos.

No entanto, algo havia mudado, afinal, não podiam voltar ao começo. Não podiam desfazer as cicatrizes em seus corações ou esquecer a dor sentida. Contudo, aquilo não era ruim, na verdade, era como se tudo tivesse se tornado mais profundo. Mais forte.

E ali presos nos olhos um do outro, os dois trocaram um pequeno sorriso.

— Devíamos ajudar a procurar a comida — comentou Sophia.

— Vão passar a noite reclamando se não ajudarmos — JJ passou o braço pelo pescoço da garota enquanto eles andavam pela beira da água, seguindo para a mesma direção que seus amigos. 

A lua cheia brilhava com toda a sua grandiosidade iluminando o céu noturno junto à companhia das pequenas estrelas brilhantes enquanto os Pogues riam envolta da fogueira, sentados em um tronco enorme caído na areia, comendo os peixes pescados pelo Maybank.

— Cara, vocês são uma péssima influência — Cleo comentou, divertida, após ouvir sobre algumas historias de Outer Banks. — Sorte que eu já tô no caminho errado a um bom tempo.

— Bem vinda aos Pogues — Sophia piscou para a nova amiga, jogando uma de suas pernas sobre as de JJ quando o loiro sentou ao seu lado.

E o tempo pareceu correr mais devagar enquanto Sophia observava seus amigos rirem em meio a conversa e brincadeiras. Para ela, eram pequenos momentos como aquele — quando seu coração se sentia completo — que davam sentido a tudo. Aquela ilha desconhecida se tornou seu lar porque era ali que sua família estava.

Apesar de nada ter saído como o planejado, Sophia não se arrependia de absolutamente nada. Se tivesse de escolher, faria tudo outra vez sem pestanejar. Tanta coisa havia mudado desde aquele primeiro dia de verão, que talvez só agora Sophia enfim entendesse o que uma vez Alice falou:"não posso voltar para o ontem porque lá eu era outra pessoa".

Último capitulo! Eu não chorando, vocês que tão...

Mas enfim, o que acharam desse final da Soph e do JJ?! Inclusive adicionei Photograph do Ed Sheeran na mídia porque pra mim essa música combina super com esse último capítulo e com a vibe de toda a historia de Joph até aqui. 

Eu amei o final e já to ansiosa para ver o que vai rolar daqui pra frente, mas não vou falar muito nesse final porque (assim como em Ocean Eyes) vai ter um capítulo de notas finais só pra gente conversar, então, leiam ele por favor!!!! Vou liberar ele depois do epílogo (siiim, vamos ter um epilogo).

Beijos 💕

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