Jogo de sorte: um romance por...

By BeatrizCortes2

51.8K 3.4K 309

Miguel Bellini é o famoso viúvo CEO da LifeSports, a maior empresa de itens esportivos do país. O mistério q... More

Capítulo 1 - Clara
Capítulo 2 - Miguel
Capítulo 3 - Clara
Capítulo 4 - Miguel
Capítulo 5 - Clara
Capítulo 6 - Miguel
Capítulo 7 - Clara
Capítulo 8 - Miguel
Capítulo 9 - Clara
Capítulo 10 - Miguel
Capítulo 11 - Clara
Capítulo 12 - Miguel
Capítulo 13 - Clara
Capítulo 14 - Miguel
Capítulo 15 - Clara
Capítulo 16 - Miguel
Capítulo 17 - Clara
Capítulo 18 - Miguel
Capítulo 19 - Clara
Capítulo 20 - Miguel
Capítulo 21 - Clara
Capítulo 22 - Miguel
Capítulo 23 - Clara
Capítulo 24 - Miguel
Capítulo 26 - Miguel
Capítulo 27 - Clara
Capítulo 28 - Miguel
Livro completo na AMAZON | Jogo de sorte

Capítulo 25 - Clara

1.2K 78 21
By BeatrizCortes2

Já estava arrumada para o jogo quando recebi uma ligação de Sandra, informando que ele foi adiado para o dia primeiro de janeiro. Quem marca um jogo para o primeiro dia do ano? Parece que os atletas não têm direito de comemorar o início de um novo ciclo, não é verdade? Ou seja, não são nem seis da tarde e já estou de mau-humor. E, para piorar, ainda é véspera de Natal, tenho o famoso encontro familiar constrangedor.

Porém, pela primeira vez em um bom tempo, não será dessa forma. Miguel estará comigo, e só de saber isso sinto um certo alívio. É a primeira vez, depois do Rodrigo, que levo alguém no Natal da minha família. Essa data é mais do que importante para minha mãe, e isso faz a ansiedade em todo mundo lá de casa explodir. Até Bianca, que sempre parece aceitar tudo, fica nervosa com a expectativa alta da nossa mãe para a data.

Mando uma mensagem para Miguel, para confirmar sua presença, e ele diz que passa às 20h para me buscar, o que me deixa mais tranquila. Encaro os presentes de Natal, mal embrulhados por mim, em uma bolsa que deixei em cima do sofá. Espero que Miguel goste do que comprei para ele. Fui correndo ao shopping em um dos intervalos dos meus treinos, e enfrentei filas quilométricas. Sinto-me até um pouco empolgada, o que é bem raro.

Arrumo-me devagar, ouvindo uma playlist de música pop. Coloco um vestido vermelho tubinho, tomara-que-caia, e deixo os cabelos soltos e secos, depois de usar um babyliss para deixá-los mais ondulados. Miguel chega na hora exata e me ajuda a descer com os presentes até o carro.

— Mabel e Bárb não quiseram vir? — pergunto, notando a ausência. Não quero que ele tenha a obrigação de passar esse dia com a minha família, e deixe a dele de lado.

— Estão arrumando algumas coisas e vão maratonar filmes de Natal. O almoço oficial da família normalmente é dia 25 — ele responde, mas sua expressão parece mais séria do que quando ele saiu da minha casa, depois da noite que tivemos.

— Está tudo bem? — insisto.

Ele confirma com a cabeça e dá um sorriso amarelo antes de entrarmos no carro. Não engulo muito bem a resposta muda, mas entro no carro e coloco o cinto de segurança. Seguimos a pista por um tempo até ele puxar algum assunto:

— Adiaram a final de novo, né? — Miguel comenta, sem me encarar.
Percebo que ele está nervoso ou angustiado com algo pela forma como balança freneticamente as pernas.

— É, não sei quem foi que pensou que dia primeiro de janeiro seria um bom dia para uma final de Tênis. — Reviro os olhos. — É que parece que a previsão de chuva vai se estender por alguns dias ainda.

— O Adrian me mandou um e-mail, informando. Eu fui convidado para entregar o troféu, te falei?

Arregalo os olhos, boquiaberta. Ele não comentou nada comigo.

— Não, não falou.

— Pois é, a LifeSports foi convidada, na verdade. Talvez Enrico vá em meu lugar.

Estranho sua colocação. Tudo bem que estamos juntos há apenas alguns dias oficialmente, e não me importo que ele comemore o Réveillon em um lugar sem mim, pelo amor de Deus. Mas preciso de mais informações do que: talvez Enrico vá em meu lugar.

— Vai viajar? — questiono, tentando falar em um tom que possa transformar a frase em uma "não cobrança".

Miguel inspira fundo e leva alguns segundos para responder:

— Na verdade, Clara, tem algo que ainda não tem contei...

Sinto meu coração partir em disparada, porque essa frase nunca vem sozinha, sempre vem com uma notícia ruim. Foi assim quando descobri a traição de Rodrigo, e é assim que descubro sempre que passo por uma notícia caluniosa na mídia.

— O que foi?

— Mabel vai precisar dar continuidade ao tratamento, parece que mesmo sem o câncer ela terá que fazer quimio e radioterapia.

Talvez seja esse o motivo de ele estar estranho, então. Entendo que a saúde da irmã dele seja algo preocupante, e ele tem todo o direito de estar triste e assustado.

— O problema é que o tratamento que o médico sugeriu é nos Estados Unidos. Ela e Bárbara terão que ficar mais ou menos um ano lá, durante todo o processo.

— Não tem aqui? Por que elas precisam ir para tão longe? Não é perigoso? — indago, ansiosa de imaginar Bárbara passando por tudo aquilo com a mãe outra vez.

— Até tem, mas esse estudo específico tem um bom prognóstico para as possíveis recidivas. Então ela optou por ir para lá.

É isso. Ele está devastado porque a irmã vai embora, e com razão. Eu também iria ficar se Bianca, por mais doida que ela seja, decidisse ir para fora ter o bebê dela em outro país.

— Caramba! — É a única coisa que consigo dizer.

— É. — Ele fica quieto por mais algum tempo, parece pensar no que falar, e odeio que ele tenha que se sentir dessa forma. — O problema é que eu não consigo deixar as duas. Não consigo deixá-la sozinha.

Franzo a testa. Não estou conseguindo entender aonde ele quer chegar.

— Eu devo ir junto, Clara. Devo ir junto com as duas. — Sua voz sai quase como um sussurro.

Só então ele me encara, cabisbaixo, como se pudesse falar através do olhar.

— Mas... e a empresa? Como...? — gaguejo, nada ainda faz sentido para mim.

— Vou conversar com o Enrico ainda, fiquei sabendo de tudo hoje. Disso, sobre a parceria... enfim, muita coisa para processar.

Miguel passa uma das mãos no rosto, inconsolável. Quero abraçá-lo, mas algo me impede, porque eu também estou sentindo meu coração quebrar em pedaços. Sinto que estou prestes a perdê-lo logo agora que o encontrei...

— Parceria? Mas não deu certo? — questiono, confusa.

Ele suspira, pesaroso. Será que tem outra notícia tão ruim quanto ele ir embora da minha vida?

— Ah, Clara, vamos deixar para conversar depois do jantar. É melhor. Hoje é véspera de Natal, sua família está nos esperando...  — solta, meio nervoso.

— O que aconteceu, Miguel? Você sabe que sou ansiosa...

Ele parece tomar fôlego para falar. Já estamos andando há uns vinte minutos, ou seja, quase chegando à ponte Rio-Niterói, para a casa da minha mãe.

— Eu ainda não defini algumas coisas, preciso primeiro pensar com calma, tem muita coisa em jogo...

— Do que você está falando? — questiono, esforçando-me para entender.

— Eles querem levar a LifeSports com eles para alguns campeonatos lá fora...

Tento parecer empolgada, mas Miguel faz sinal com a mão, informando que ainda não havia concluído.

— E um deles é o US Open.

Continuo sem saber o que ele quer falar. Não sei se rio, se choro, se comemoro. Que merda de suspense é essa?

— Se eles me colocarem lá, não posso te patrocinar, porque a minha marca estaria ligada à dele. E ele já patrocina outros atletas.

E, então, minha ficha cai.  Ele está me abandonando em todos os aspectos possíveis. Ele está me deixando na mão no momento mais importante da minha carreira. Eu poderia lidar com a ausência, claro. Agora, com isso? Depois de tudo o que fiz para ajudá-lo? Fingi um relacionamento, menti para minha família, fiz fotos com ele para que a empresa pudesse chegar onde ele queria, e agora sou descartada como se fosse nada. Como se o contrato tivesse encerrado.

Não consigo dizer nada. Apenas vejo a paisagem pelo vidro passar de forma acelerada. Miguel tenta colocar a mão em minha coxa, mas me desvencilho. Uma mistura de medo, raiva e mágoa invade meus sentimentos, e só quero sair desse carro. É uma pena que eu esteja no meio de uma ponte.

Quando Miguel estaciona no endereço da minha mãe, respiro fundo para falar a única coisa que venho juntando força para dizer durante o percurso:

— Não precisa ir. Pode voltar para casa — falo, sem encará-lo.

— Eu prometi que iria contigo.

— Você prometeu muitas coisas, Miguel — solto, e saio do carro, na chuva. Por que diabo tem chovido tanto?

Desço e sigo em direção à casa da minha mãe, subindo os degraus com firmeza, carregando meu saco de presentes como um Papai Noel triste. As lágrimas estão implorando para sair, mas as contenho. Miguel me alcança, segurando meu braço e virando-me para ele.

— Espera, Clara, eu ainda não decidi nada. Vamos conversar melhor... — pede, com a testa franzida, porém mal consigo me controlar longe dele, quem dirá perto.

— Você já decidiu, Miguel. Você vai embora. — Não é só sobre isso, mas é o que consigo dizer.

— Clara, por favor...

A porta da casa se abre, e minha mãe nos encara com um sorriso enorme no rosto, como se tivesse mesmo recebido um milagre de Natal. É exatamente isso que represento para ela, trazendo Miguel.

— Nosso casal preferido chegou! — Ela nos envolve em um abraço apertado. — Vamos, entrem... está chovendo tanto!

Inspiro profundo. Meu único desejo é voltar para casa, e não encontrar mais Miguel por um bom tempo, ou o suficiente para esquecer nossas últimas semanas. Entramos na casa e somos recebidos por Bianca e Antônio, que estão com blusas combinando, como se fossem dois duendes. É, estou mesmo de mau humor.

— Cadê seus sogros? — pergunto a Bianca assim que ela me abraça.

— Não puderam vir, passaremos lá amanhã. Acho que seremos só nós. E sua sobrinha linda, Miguel? Não vai vir? — Ela se vira para ele.

— Não, está descansando com a mãe dela hoje.

— Que pena, ela é uma gracinha! — Minha mãe completa.

Nós nos sentamos na sala e Miguel se aconchega ao meu lado, envolvendo meus ombros com um de seus braços. É a primeira vez que seu contato me incomoda de verdade, e embora eu queira muito esquecer nossa conversa no carro, meu cérebro não deixa.

— Dá pra fingir que está feliz, pelo menos? — Miguel me cutuca, em um tom zombeteiro, mas só me deixa com mais raiva.

— Já fingi demais — rebato, ajeitando-me no sofá, na tentativa de fugir um pouco dele.

— Eles vão reparar...

— Não me importo.

Bianca inventa de abrirmos os presentes e o ritual de Natal que eles mais gostam se inicia. Desde que terminei com Rodrigo, esse é o único momento que estar em um relacionamento me faz falta. Gosto de presentear, de receber presentes, e eu só recebia da minha mãe, o que parece que não vai acontecer esse ano, porque todos estão focados no bebê de Bianca.

Porém, tenho Miguel. Que está de mãos vazias.

Bianca e Antônio trocam presentes, todos para o bebê, e mamãe também. Dou meu presente para Bianca, e deixo um embrulho pequeno no colo de Miguel.

— Desculpa, gente, eu não consegui comprar nada, fiquei ocupado demais.... — ele se explica, e é demais para mim.

Não aguento mais essa história, toda essa mentira, essa farsa. Ele está indo embora, e está me deixando no melhor momento da minha vida. Ele é exatamente como qualquer outro imbecil que eu já tenha me envolvido.

— Ocupado demais mesmo, planejando seu futuro sem mim — vomitei, baixinho, na esperança de que só ele ouvisse.

Porém, Bianca arregala os olhos, meio chocada, e percebo que talvez o tom da minha voz não tenha sido um dos mais baixos.

— Clara, meu Deus... — mamãe resmunga, horrorizada com meu comentário.

— Ela está brincando... — Miguel tenta se safar.

E tomo minha decisão.

— Na verdade, não estou, não. — Fico de pé, sem conseguir controlar a ansiedade. — Me desculpa, gente, mas eu não estou bem, e preciso ir embora.

Começo a caminhar em direção á porta, mas Miguel se aproxima, segurando-me pela mão de forma carinho, mas estou com asco do seu contato. Estou ofendida, magoada, frustrada, e não consigo mais lidar com isso.

— Me deixe em paz... — grito, já aos prantos.

O Natal se torna um velório. A expressão fantasmagórica da minha família me deixa ainda mais atordoada.

— Clara, o que aconteceu? — Bianca se aproxima de mim, percebendo meu desespero.

Minha mãe está imóvel, sem esboçar nenhuma reação além de: Minha filha enlouqueceu.

— Isso tudo é uma farsa, ok? É isso — falo, e vejo o olhar de Miguel suplicando para que eu pare. — Eu, Miguel, nós somos uma farsa.

— Clara... — Ele tenta me interromper, mas não deixo.

— Nós nunca estivemos juntos. Eu menti para vocês. Bianca nos encontrou no hospital, e eu fingi que ele era meu namorado. Depois disso, assinei um contrato para fingir ser a namorada dele, já que isso ajudou na publicidade da empresa dele, e me ajudou a ganhar o patrocínio.

A cada frase, a boca dos meus familiares abria-se mais. Meu cunhado se senta, enxugando a testa de nervoso.

— É isso. Eu sou a prostituta do Tênis. Todo mundo está satisfeito? — berro, sem conseguir conter meu desespero. — E aí, o que aconteceu? Me apaixonei por ele. E ele vai embora, vai romper o meu patrocínio, e eu vou perder tudo de novo, inclusive minha ida para o US Open. — Bato palmas. — Podem comemorar, vou passar todos os próximos natais da minha vida cuidando da minha sobrinha, enquanto vocês vivem suas vidas felizes. Cheguei exatamente onde você previu, mamãe... no fundo do poço.

— Clara, por favor...

— O que foi, Miguel? Falei alguma mentira? — Viro-me para ele e o fuzilo com o olhar.

Estou deixando a raiva sair, porque deixá-la presa está me machucando demais.

— Não é isso, você sabe que nós nos apaixonamos, que estamos juntos — ele se defende.

— Então, é verdade? Vocês mentiram para a gente feito dois adolescentes? — Bianca questiona, meio irritada também.

— Era um contrato. Precisávamos mentir para todo mundo — ele explica. — E isso deixou de ser verdade, porque eu me apaixonei pela Clara, e ficamos juntos...

—Até você decidir que vai embora do país e vai levar meu patrocínio também — desabafo.

— Tudo isso é pelo dinheiro? — Ele arqueia as sobrancelhas, querendo reverter o jogo, mas não vou deixar. Ele sabe muito bem que não tem a ver com o dinheiro.

— Não quero parecer egoísta, Miguel, eu entendo a situação da sua irmã, entendo que sua empresa é seu patrimônio e você precisa disso. Mas e as minhas necessidades? Eu não vou ficar em uma relação onde só o outro importa. Eu já fiz isso, e minha vida quase acabou. Então, pode seguir em frente. — Abro a porta, esticando a mão para o lado de fora, expulsando-o de uma forma nada sutil.

— Clara...

— Por favor, Miguel.

Ele me olha pela última vez antes de sair, carregando meu presente em uma das mãos. Como pude ser tão idiota? Como pude acreditar que as coisas dariam certo com a gente? Tudo começou com uma mentira, e agora a verdade está fechando o ciclo.

Pela primeira vez, em muito tempo, sinto os braços da minha mãe me envolverem e choro copiosamente.

— Querida, não fique assim... você não merece — ela sussurra, consolando-me.

Deixo-me ser consolada por ela. A dor do abandono é sufocante, e parece que voltei no tempo e estou vivenciando meus traumas outra vez. Minha mãe me leva para o sofá e continua abraçada comigo não sei por quanto tempo, porque estou tão perdida que não sou capaz de somar dois mais dois. Apesar de muitas vezes minha mãe não me compreender, ela jamais me deixaria para trás.

E isso basta por agora. É tudo o que eu preciso. De alguém que não vá embora.

Continue Reading

You'll Also Like

1.7M 150K 99
Os irmãos Lambertt estão a procura de uma mulher que possa suprir o fetiche em comum entre eles. Anna esta no lugar errado na hora errada, e assim qu...
1M 57.5K 53
Giulie Cameron e uma jovem mulher cheia de traumas. Ela sempre lidou com seus problemas sozinha,sem a ajuda de ninguém. Até que um dia ela não aguent...
213K 18K 63
Você foi a melhor coisa que me aconteceu, e ninguém, jamais, vai roubar tudo que vivemos. Do seu, Ben!
90.1K 12.1K 43
Disponível até Maio Esse livro faz parte de uma série com quatro livros. Damon Hard sempre lutou para estar no topo! Ele controla sua vida com mãos d...