Golden Eyes ☀️ OBX 2

By itsclarafelton

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Depois de todos os acontecimentos do verão, Outer Banks já não era mais a mesma para os Pogues, que tentavam... More

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01 | O fim do Verão
02 | De volta a vida "normal"
03 | Tipo FBI
04 | A arma do crime
05 | Noite da pizza
06 | Charleston
07 | A Casa Limbrey
08 | A Volta
09 | Nada que é bom dura muito
10 | A pior hora
11 | Um dia peculiar
12 | A Chave e o Druthers
13 | Oceanos de distancia
14 | A coroa ainda é minha
15 | A festa da fogueira
16 | Ao pé do anjo
18 | De mal a pior
19 | O Navio
20 | Poguêlandia
21 | Epílogo
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17 | Bon Voyage

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By itsclarafelton

❝ Eu nunca vou deixar a sua vida, mesmo quando estou a milhas de distância. Você está sempre na minha mente. Para sempre e agora, estarei ao seu lado. Eu sei que pode mudar de dia para dia, mas esse amor vai continuar vivo ❞

Leave Your Life - Ed Sheeran

O grupo estava do lado de fora da kombi. Como o carro tinha saído da estrada, a água turva estava um pouco mais funda ali, batendo na altura de seus joelhos. Eles tinham procurado no porta malas algo que pudesse os ajudar a retirar o veículo dali, mas, apesar de ter muita buganda, não havia nada útil para aquele momento.

— Talvez dê para irmos andando — sugeriu Pope.

— E deixar a kombi? — John B olhou para o amigo como se ele acabasse de sugerir que matassem alguém. — A maré tá subindo — Indicou a água ao redor deles.

— O que fazemos? — Sarah olhou para os amigos.

— Não ficar aqui — JJ constatou o óbvio.

A cabeça de Sophia trabalhava tanto para procurar uma solução, que ela tinha certeza de que a qualquer momento começaria a sair fumaça pelos seus ouvidos.

— Meu carro tá no Castelo — a Howard comentou, atraindo o olhar dos amigos. — Acham que pode ajudar?

— Não sei — John B murmurou pensando. — Sem ofensas, seu carro não seria a melhor opção para rebocar a Kombi.

— Na verdade, estaria entre as últimas — Pope encolheu os ombros, e JJ concordou com um gesto de cabeça.

— Não podia ter escolhido um carro de gente normal ao invés de um de carro de patricinha que não serve para nada? 

— Desculpe se escolhi um carro para andar e não rebocar a sua Kombi velha — Sophia cruzou os braços em frente ao corpo, e John B fez uma careta ofendida. — Sem ofensas a Kombi, claro — Ela olhou para o veiculo atras de si.

— Olha só...

— Posso pegar a caminhonete do meu pai — disparou Kiara, atraindo o olhar de todos para si e impedindo a pequena discussão dos primos de continuar.

— Tem certeza? — foi o Heyward quem perguntou, um pouco apreensivo.

— Pior que está, não fica. Não é mesmo?

— Aprendi da pior forma a nunca dizer isso — Sophia murmurou, suspirando. — Eu vou com você.

A loira segurou a mão da amiga. E a Carrera abriu um pequeno sorriso em agradecimento, afinal, se ia fazer aquilo, um pouco de apoio seria bom.

— Vamos precisar de alguma coisa para puxar ela — JJ falou. — Tem um gancho no Castelo.

— É uma boa ideia — Sarah assentiu.

— Para fazermos isso, precisamos agilizar — falou John B. — Se a maré subir, a kombi vai afundar. Então, JJ vai com a Kie e a Soph buscar o carro e o gancho — o Booker apontou para os três. — E a gente espera aqui.

— Tomem cuidado — Sophia deixou um beijo na bochecha dos três amigos que iriam ficar ali enquanto JJ e Kiara pegavam suas mochilas dentro do carro.

— Vamo bora.

O caminho até a casa dos Carrera havia sido silencioso — talvez um pouco estranho — e longo, mas pelo menos tinham chegado. O trio se esgueirou até a cerca branca a qual cerva a casa; Sophia e Kiara estavam levemente curvadas, espiando por cima da cerca enquanto JJ estava agachado com as costas coladas à madeira e ao lado da pequena porta que, diferente do resto da cerca, era marrom.

— Quer mesmo dar uma de GTA com seu pai? — o loiro sussurrou para Kiara.

— Não — Ela fez uma careta ao olhar para o amigo.

— Beleza, vamos lá — JJ esticou a mão, abrindo a porta ao seu lado para a morena passar. — Entra.

Assim que Kiara passou pela porta, Sophia a fechou, encostando na cerca e agachando ao lado do loiro, logo em seguida. A garota desviou a atenção para seu pulso, o qual ainda doía — uma dor constante e chata —, notando que ele estava vermelho e levemente inchado naquela altura. Ótimo momento para se machucar, ela resmungou mentalmente, fazendo uma pequena careta ao envolver a região sensível de seu pulso com a outra mão.

— Hey — JJ chamou baixo, atraindo olhar surpreso da loira para si. — Posso ver? — Indicou o pulso machucado dela com um gesto simples.

E Sophia não precisou pensar muito antes de tirar a mão de cima do seu pulso, colocando ele sobre a mão estendida do garoto. O pequeno contato físico gerou algo parecido a uma onda elétrica correndo pelas veias de ambos até seus corações. Era a primeira vez que encostavam um no outro desde o dia em que viram o barco de Ward explodir — e aquilo era meio estranho para eles, afinal, mesmo quando eram só amigos estavam constantemente dando um jeito de ficarem próximos.

Com a mão livre, JJ pegou a bandana preta a qual sempre carregava pendendo do bolso traseiro de sua bermuda, e, com todo cuidado, envolveu o tecido no pulso avermelhado da garota, dando um nó simples com as duas pontas para prender a bandana no lugar — não podendo deixar de reparar no anel de flor o qual ainda enfeitava o dedo anelar da mão dela.

— Isso vai ajudar — garantiu, erguendo o olhar para encontrar os olhos claros da loira, que para sua surpresa, já estavam fixos nele.

— Obrigada — a voz dela não passou de um sussurro.

E seria uma surpresa se, naquele momento, Sophia conseguisse falar mais alto do que aquilo. Estava completamente presa pelo olhar do garoto, que ainda segurava com delicadeza o seu pulso — não querendo acabar com aquela ligação tão cedo — , e para ajudar, seus malditos batimentos cárdicos havia resolvido acelerar assim que ela notou o colar preso ao pescoço do loiro, o colar que deu a ele alguns anos atrás.

No entanto, o barulho de passos do outro lado da cerca, fez os dois se afastarem. JJ abriu o portão, e Kiara jogou as chaves da caminhonete para o amigo. O loiro foi até a caminhonete estacionada em frente a casa, ligando o veículo enquanto Sophia se acomodava no banco de trás e Kiara no banco do passageiro. Logo, já estavam em movimento outra vez.

— Acho que tá junto com as coisas de surf — JJ estacionou o carro no quintal do Castelo. — Sim, tá lá. Eu já volto.

O Maybank saiu correndo do veículo, e Sophia acabou deixando uma risada escapar ao ver o garoto cair ao tentar pular alguns galhos finos que se amontoavam no chão de terra. Ele gritou um "estou bem" ao se levantar, voltando a correr em direção a estrutura de madeira que servia como um pequeno galpão onde ficavam os equipamentos de surf e algumas coisas aleatórias.

Sophia desviou seu olhar para frente, brincando com seus colares e cantarolando uma música qualquer em sua cabeça apenas para se distrair.

— Por que ele tá demorando tanto? — a pergunta saiu mais como um resmungo da boca da Howard.

— Devia ir chamar ele.

— Por que eu?

— Porque acabei de roubar o carro do meu pai — Kiara deu de ombros.

Por algum motivo, Sophia sabia que aquele não era o real motivo, mas, como não poderia argumentar com aquilo, a loira apenas soltou um suspiro vencido ao abrir a porta do carro. Ela deslizou para fora, mas não chegou a dar mais do que alguns passos quando parou de súbito, franzindo o cenho ao ver Luke Maybank caminhar em direção ao carro com seu filho logo atrás.

— O que...?

Os dois passaram por ela, seguindo para a caminhonete.

— Entra, no carro — JJ ordenou ao pai apontando para o banco de trás, e colocando sua mochila e o guincho na caçamba da caminhonete em seguida.

— Que merda é essa? — Kiara exclamou de dentro do carro ao ver o mais velho se acomodar no banco de trás do veículo, mas a voz da morena foi abafada quando todas as portas foram fechadas.

— JJ — Sophia segurou o braço do garoto quando ele foi passar por ela, o fazendo ficar de frente para si. — Pode me explicar o que tá acontecendo aqui?

— Ele precisa ir à marina do Island Club pra pegar uma lancha — explicou de forma apressada. — Você tem o passe para entrar. Estamos com o gancho. Só precisamos de vinte minutos.

— Nossos amigos estão esperando, e em vinte minutos já vamos poder considerar a kombi um submarino — a garota retrucou, cruzando os braços em frente ao corpo, fazendo JJ comprimir os lábios ao olhar para o lado. —  Olha, deixamos o seu pai aqui e, depois que ajudarmos nossos amigos, eu volto com você para irmos ao Island Club...

— A polícia tá atrás dele — JJ exclamou, encarando a loira outra vez.

Sophia se calou. Não por estar surpresa com a informação, mas pela dor que viu nos olhos do garoto a sua frente.

O Maybank passou a mão pelos fios loiros de seu cabelo, parecendo irritado, logo em seguida, voltou seu olhar para Sophia.

— Se eu fizer isso agora, talvez nunca mais precise fazer — sussurrou, trincando seu maxilar.

E a Howard deixou um pequeno — e quase inaudível — suspiro escapar ao assentir. Seus olhos cristais deixavam claro que ela estava aceitando fazer aquilo por JJ, não por Luke.

— Não temos tempo para isso — Kiara resmungou ao ver os dois loiros entrarem no carro outra vez; Sophia no banco do motorista e JJ ao lado do seu pai. — O que tá acontecendo?

— Vai dar tempo — garantiu Sophia, mesmo que nem ela acreditasse nisso.

A garota deu partida no carro, seguindo para longe do Castelo, pelas ruas conhecidas de Outer Banks. Estavam na metade do caminho, passando por uma avenida a qual beirava as águas calmas do mangue, quando Luke quebrou o silêncio instalado no carro.

— Aí, para aqui — pediu, apontando para o mercado logo à frente. — Vou precisar de comida.

Sophia não contestou, dando seta ao virar a esquerda e guiar o carro para o lado. Estacionou em frente a estrutura de madeira, a qual possuía um pequeno lance de escadas na frente e diversos cartazes presos às paredes escritos em vermelho e grandes letras apresentando as promoções. Ao lado havia a espécie de uma pequena lanchonete de beira de estrada, que parecia fechada, e duas mesas de piquenique haviam sido dispostas ali em frente sob a sombra de duas árvores de tamanho médio.

— Bolachas, feijão enlatado, atum, sal e pimenta — o homem gritou pela janela quando seu filho deixou o carro. — Para cinco dias.

— Eu sei.

A Howard apoiou seu cotovelo na porta, encostando sua cabeça na mão e brincando com seu colar de ouro. Bufando quando Luke começou a batucar nos bancos da frente com as mãos. A loira trocou um pequeno olhar com Kiara antes de encarar o lado de fora do para-brisa outra vez.

— Você é um pai terrível, sabia? — Kiara falou, olhando para o mais velho pelo reflexo do retrovisor.

— Isso, me  dê um sermão — ele debochou, parando de batucar e se encostando no banco. — Me torne um cara melhor.

— Tem ideia de como o seu filho é especial? — A cacheada encolheu os ombros. — Tem a menor noção?

— Ele é um ladrão, isso sim.

Não, Luke não tinha a menor ideia. Nunca havia gastado cinco minutos para conhecer de verdade seu filho, um garoto com o maior coração que Sophia já havia conhecido. Que mesmo com todos seus problemas, faria o impossível para ajudar seus amigos e que mesmo depois de ter passado o inferno nas mãos do próprio pai ainda estava ali o ajudando.

A loira riu com sarcasmo, ganhando o olhar de Luke para si. Mas ela não falou nada, porque sabia que se começasse a discutir perderia o restante da calma na qual estava se segurando para não gritar com o homem, apesar de querer muito gritar com ele naquele momento.

— E o que você é? — Kiara arqueou as sobrancelhas. — É só um cara falido que nunca fez nada além de ficar bêbado e brigar. Nada impressionante.

Luke se mexeu no banco, um sorriso indecifrável escorreu por sua boca ao encarar a morena pelo retrovisor.

— Você fala igual a sua mãe. Ela era desse jeito no colégio — comentou. — Sempre se achava melhor do que todo mundo. Miss kook.

O homem apoiou seus braços nas pernas ao se inclinar para frente e continuar:

— Aposto que você vive igual a ela. Sempre com os encrenqueiros. Você é uma idiota ingrata como ela?

Kiara engoliu em seco. E a paciência de Sophia estava por um fio. Um fio bem fino e frágil.

— Aposto que sim. A Srta. Figure 8, querendo dar lição de moral de dentro do carro do papai...

Em um movimento rápido, a Carrera virou o corpo desferindo uma cotovelada bem no meio do rosto de Luke, que teve seu corpo empurrado para trás, contra o banco, com a surpresa do golpe.

Sophia deixou uma risada escapar, em parte pela surpresa e em parte porque Luke estava merecendo.

— Não fale da minha família — Kiara advertiu, irritada. Ela lançou um olhar mortal para o homem, virando para frente logo em seguida.

Sophia piscou para a morena, como quem diz "é isso aí, garota". Mas qualquer assunto acabou quando JJ assobiou ao se aproximar do carro outra vez, passando um engradado de cerveja para o pai pela janela aberta da porta de trás. O garoto deixou uma sacola na caçamba, dando a volta no carro para entrar pela outra porta do lado de trás. E assim que o loiro fechou a porta, franziu o cenho ao intercalar seu olhar entre seu pai e as duas garotas — o clima de tensão denunciava muito.

Sophia deu partida no veículo, voltando para a avenida e seguindo em direção ao Figure 8. O Island Club nada mais era do que um lugar onde barcos e lanchas para passeios ficavam à disposição dos Kooks, isso é claro, para os que tivessem autorização de entrar no clube — os Howard eram uma das poucas, senão a única, família que tinha passe livre para toda ilha graças a influência de seu sobrenome, e da sua conta bancária.

— Eu já volto — JJ disparou, desceu do carro e indo pegar as sacolas na caçamba.

Já Luke, ao invés de seguir o filho, se inclinou para frente focando seu olhar em Kiara ao falar divertido:

— Mande lembranças à sua mãe.

— Cala a boca — advertiu JJ, puxando o pai pela camisa para fora do veículo.

Sophia olhou pela janela do seu lado, vendo os dois se afastarem. Movida a um pequeno impulso ela chamou o nome de Luke, o que fez ambos os Maybank se virarem em sua direção, com isso, ela abriu um sorriso inocente ao mostrar o dedo do meio para o mais velho — arrancando uma risada da garota ao seu lado.

A expressão no rosto de Luke se tornou irritada e o homem estava prestes a avançar na direção do carro outra vez quando JJ virou na direção dele, colando seu corpo em frente ao do pai — já que suas duas mãos estavam ocupadas com as sacolas — e o impedindo de avançar.

— Anda logo — ordenou JJ, fazendo um gesto para frente com a cabeça. — Vai!

A contragosto, Luke deu as costas para o carro seguindo com seu filho pela parte arborizada em direção ao píer do clube. Por sorte o lugar estava vazio, e eles não tiveram dificuldades em achar uma lancha.

— Precisava fazer aquilo? — indagou o garoto, irritado. — Precisava irritá-las?

JJ deixou as compras em cima de um balcão na cabine, indo até o tanque da lancha para checar o nível do combustível.

— Só falei a verdade. Ela não gostou.

Luke deu de ombros.

— Tudo, tudo que eu tenho você destrói — esbravejou entre dentes, fechando irritado a porta de metal do tanque.

— Não é intencional. Acontece naturalmente — Luke passou pelo filho ao entrar na cabine. — Além do mais, ainda está namorando com a princesa Kook, não é?

O garoto trincou o maxilar, sentindo seu coração latejar dentro de seu peito. JJ não respondeu, apenas subiu as escadas que levavam ao leme na parte de cima do barco e o ligou. Assim que o barulho do motor preencheu o ar, ele voltou para a parte de baixo, pegando uma sacola deixada pelo seu pai ali fora, e seguiu para em direção a cabine outra vez.

— O tanque está cheio... — começou, interrompendo sua fala quando parou de súbito na porta da cabine ao ver Luke guardar alguns vidros de remédio dentro de uma gaveta do balcão. — Mas acho que só vai levá-lo a Jacksonville — completou, vendo o mais velho passar por ele para chegar ao lado de fora. — Tem grana para abastecer, né?

— O que você acha? Não tenho — Luke se abaixou próximo a ponta do barco mexendo em algo por ali. — Mas eu me viro.

JJ deixou a sacola junto as outras sob a bancada, mordendo o lado interno de sua boca ao tirar sua carteira do bolso. Nos segundos os quais se seguiram, travou uma pequena batalha interna entre tirar as notas verdes de sua carteira ou não. Por fim, independente de tudo, Luke ainda era seu pai e não conseguiria ficar tranquilo com sua consciência caso não o ajudasse com aquilo.

— Pai — chamou com uma voz rouca, pelo choro que não iria demorar, levantando sua mão e mostrando a nota amassada entre seus dedos.

O garoto guardou sua carteira no bolso da bermuda, indo para o lado de fora ao ver seu pai levantar com uma expressão surpresa no rosto. JJ entregou o dinheiro ao seu pai e estava prestes a sair, quando o mais velho o puxou de volta para que ficassem frente a frente.

— Vem cá, filho — Luke segurou o rosto do loiro com as duas mãos, mas ele tinha seu olhar focado no chão, tentando ao máximo não encarar seu pai. — Sei que eu poderia ter sido melhor.

— Também não fui o filho perfeito.

JJ deu de ombros, desviando seu olhar para o lado, mas Luke virou o rosto do loiro em sua direção outra vez.

— Não precisa ser perfeito. Seu coração é bom.

O garoto assentiu, seu maxilar ainda estava trincado quando foi se afastar, só que, pela segunda vez, seu pai o puxou para perto.

— Não vem, cá. Não posso me despedir assim.

Luke segurou os ombros do filho antes de continuar:

— Vou para Yucatán, talvez nunca mais volte — Ele levou as mãos ao rosto do filho, outra vez. — Vai dar tudo certo.

— Não vai — JJ negou, engolindo em seco. Seus olhos estavam marejados, contudo, se recusava a deixar uma lágrima sequer cair. — Mas talvez na próxima vida.

O garoto encolheu seus ombros, encarando os olhos do pai por um segundo, e, sem pensar muito, o abraçou, sentindo o homem retribuir o gesto com um aperto firme. Por um minuto, JJ fechou os olhos — assim como Luke fez — aproveitando aquele último abraço, se agarrando ao pai como quem tenta resgatar algo há muito perdido.

— Se cuida, pai. Beleza? — murmurou com a voz embargada.

E dessa vez, quando JJ se afastou o mais velho o deixou ir. Observando o garoto passar a mão pelos fios loiros de cabelo ao sair da lancha. Luke suspirou, subindo as escadas até o leme enquanto JJ seguiu pelo píer até a estaca onde a corda, a qual segurava a lancha no lugar, estava amarrada.

O garoto desamarrou a corda, mas permaneceu segurando ela em suas mãos enquanto as lembranças invadiam sua mente. Lembranças de todas as vezes em que havia apanhado de seu pai, de todos os aniversários esquecidos, de todas as brigas e de todas as palavras de ódio desferidas pelo mais velho, assim como a lembrança de quando apontou uma arma para a cabeça de seu pai, de quando pensou em o matar. 

Soltar aquela corda, era como deixar a última esperança de um dia ter o amor de seu ir embora. JJ respirou fundo, apertando firme a corda em suas mãos antes de jogá-la na água.

Ao ver a lancha se afastar, uma dor invadiu e esmagou seu coração. Aquela dor que durante toda a sua vida o tornava frágil ao mesmo tempo em que o tornava mais forte — nenhum filho deveria ter que implorar pelo carinho de seu pai, foi a única conclusão a qual conseguiu chegar.

O Maybank sentiu o toque delicado de uma mão apertar seu ombro, e ao olhar por cima dele, encontrou Sophia exibindo um sorriso fraco. A garota usou sua outra para segurar o pulso do loiro, em um gesto que dizia sem precisar de palavras: "Apesar de tudo, e independente de tudo, sempre vou estar aqui. Ao seu lado".

E talvez isso fosse algo do qual JJ quase se esqueceu, a coisa mais incrível da relação dos dois: não importava se tivessem brigado ou estivessem magoados um com o outro, nunca soltariam a mão um do outro. De alguma forma, seus corações sempre estariam conectados de um jeito que nem eles mesmo entendiam, e talvez nunca chegassem a entender.

JJ olhou para o barco mais uma vez, levando a mão ao bolso de seu casaco e tirando dali os dois frascos de remédio que roubou de seu pai quando o homem estava distraído. O garoto se afastou da Howard, indo até o lixo ali ao lado, e sem precisar pensar jogou os frascos transparentes dentro da lata amarela.

Ao voltar para perto da loira, JJ apenas fez o que seu coração o implorava para fazer desde o dia em que terminaram. Ele a puxou para perto de si, envolvendo a cintura dela com seus braços e afundando seu rosto entre os cabelos macios dela — sentindo o familiar cheiro de morangos. E a garota não pestanejou em corresponder o abraço, envolvendo o pescoço do loiro e sentindo o perfume dele tomar conta de todos os seus sentidos ao esconder o rosto na curva do pescoço dele. Nenhum dos dois poderia explicar como haviam sentido falta daquele abraço que parecia encaixar de forma tão perfeita e afastar todas as dores as quais os cercavam — afinal, haviam encontrado seu refugio nos braços um do outro.

— Olha quem chegou, as três tartarugas, só algumas horas depois — esbravejou Pope ao ver a caminhonete se aproximar de ré da parte alagada da estrada. — Onde se meteram?

Pope abriu os braços irritado, olhando para os amigos que deslizavam para fora do carro. Seria compreensível a irritação, afinal, os três — Pope, John B e Sarah — estavam sentados no teto da kombi já que a água turva estava batendo pouco abaixo das janelas do veículo.

— Tivemos complicações paternas — Kiara encolheu os ombros, ficando em frente a caçamba do carro, do lado de Sophia.

— Luke tava no Castelo — explicou JJ, pegando o gancho na caçamba do carro.

— Ótimo — A voz do Heyward era puro sarcasmo. — Enquanto você se divertia com seu pai, um jacaré mordeu o John B.

— Sério mesmo? — O loiro deixou o gancho cair no chão.

— O que você acha?

Sarah apontou para a perna do garoto sentado ao seu lado, e só então Sophia reparou que a calça jeans que o primo usava estava com um buraco todo manchado de sangue na panturrilha, onde a bandana do garoto estava amarrada.

— Ah meu Deus — Sophia falou de forma pausada. — Foi tipo como em uma cena do filme do Rambo?

— O jacaré me mordeu!

— O jacaré mordeu ele!

John B e Pope esbravejam juntos.

Foi quando, como de costume, uma pequena confusão se iniciou. Enquanto Pope, John B e Sarah esbravejavam com os outros três por terem demorado tanto, Kiara e Sophia gritavam com eles tentando explicar a situação.

— CALA A BOCA — o grito do Maybank sobressaiu ao dos amigos, fazendo todos se calarem e olharem em sua direção. — Sério mesmo, galera. Não aguento mais isso, beleza?! Deem um tempo.

O garoto encostou no tronco de uma árvore, desviando o olhar para as folhas caídas no chão e respirando fundo ao levar as mãos a sua cintura. Ele voltou a encarar seus amigos, os cinco parecendo como crianças envergonhadas depois de levarem um xingo de um adulto.

— Acabei de ajudar meu pai a sair da ilha de vez — JJ deu de ombros, mas dava para ver a tristeza em seu olhar. — Ele nunca mais vai voltar. Falou igual aos espanhóis: "Bon Voyage".

Sophia torceu a boca ao encarar o garoto próximo a si, que mal pareceu notar seu erro. A loira notou Kiara fazer uma careta e John B olhar confuso para Pope, que apenas deu de ombros sibilando: "Isso é francês".

— O idioma tá errado — murmurou Sarah, balançando seus pés sobre a água.

No entanto, JJ pareceu não reparar — ou apenas ignorou — o comentário sobre seu pequeno erro nos idiomas.

— Tudo que temos... — Ele parou, suspirando. — Na verdade, tudo que eu tenho são vocês.

O Maybank olhou para cada um de seus amigos, não podendo evitar manter seu olhar um segundo a mais em Sophia quando ele recaiu por último nela. O garoto desencostou da árvore, voltando sua atenção para todos os amigos ao continuar:

— E cheguei muito perto de perder cada um. Soph e Kiara, vocês quase se afogaram. Pope, você foi sequestrado. Sarah, você levou um tiro. John B, você quase virou comida da merda de um jacaré.

JJ deu de ombros. Seu olhar era intenso.

— Isso de ficar apontando o dedo é mania de Kook, beleza? A gente não faz isso. Entendido? Somos Pogues — O loiro abriu os braços.

E Sophia sentiu seu coração se aquecer. As palavras do garoto eram emocionadas, ditas do fundo de sua alma.

— Foi mal, estou bem estressado. — JJ falou, guardando as mãos no bolso da sua bermuda ao encolher os ombros. — Exagerei um pouco, não foi a intenção...

Os cinco se entreolharam com pequenos sorrisos nos rostos e começaram a bater palmas.

— Sendo sincero, foi o melhor discurso que você já fez — John B elogiou quando as palmas cessaram.

— Eu tava quase chorando — admitiu Sophia, o que apesar do tom de brincadeira, era verdade.

— Mas acho que precisa aprender idiomas — comentou John B — Trocou espanhol e francês.

— Era francês — Pope concordou.

JJ passou a língua pelos dentes, levantando as duas mãos e mostrando os dois dedos do meio para os amigos. E Sophia deixou uma risada escapar.

— A gente devia dar bon voyage para fora daqui — Sarah levantou sua mão, e todos concordaram com gritos animados.

As portas velhas de madeira produziram um rangido sonoro ao serem abertas por JJ e Pope, revelando o interior da Igreja há muito abandonada. A tinta branca, que cobria a estrutura feita de tábuas de madeira, estava quase toda desgastada; alguns caules e raízes de plantas se erguiam pelas paredes e se espalhavam por cima dos bancos e do piso de madeira, como se de alguma forma a natureza tentasse tomar aquele lugar de volta para si. Os bancos ainda estavam dispostos em duas fileiras pequenas uma ao lado da outra; o altar era pequeno, no centro havia um púlpito de madeira onde uma planta se enrolava e havia três grandes janelas — um pouco quebradas — atrás dele por onde entrava um grande feixe de luz. Aquele lugar tinha uma atmosfera diferente, uma que Sophia não sabia explicar bem.

— Tá me dizendo que Denmark Tanny decidiu esconder a cruz aqui? — JJ correu os olhos pelo lugar enquanto eles adentravam a Igreja.

Pope confirmou com um gesto de cabeça.

— Vamos procurar por tudo — instruiu Kiara.

— Tá, se eu fosse uma cruz e quisesse me esconder em uma Igreja antiga, para onde eu iria? — John B perguntou retoricamente, andando com certa dificuldade pelo lugar.

— Eis a questão — Sophia murmurou.

O grande problema talvez fosse que a Igreja não era grande, e a cruz tinha uns dois metros, não tinha muitos lugares secretos em que pudessem olhar.

— Será que foi aqui mesmo que ele escondeu, Pope? — JJ encarou o amigo. — Estamos na Igreja certa?

— Sei que está em algum lugar aqui — confirmou.

Sophia foi até um pequeno piano empoeirado encostando em uma parede próxima ao altar. Levantando o olhar ao sentir alguém parar ao seu lado, para a sua surpresa era JJ.

— E se tivermos que apertar um botão secreto ou tocar um certo acorde — O loiro colocou suas mãos bem acima das teclas empoeiradas fingindo tocar no ar.

— Então, o chão vai se abrir e revelar catacumbas secretas — Sophia sorriu animada, e JJ apontou para ela como quem diz "isso mesmo".

— Catacumbas logo abaixo de nós.

— Vocês são estranhos — Sarah murmurou, cerrando os olhos na direção dos dois loiros.

— E se tentarmos procurar as pistas óbvias? — sugeriu Pope, passando pelos dois.

— Seria mais chato — Sophia deu de ombros, cruzando os braços em frente ao corpo.

— Isso não é um jogo — lembrou Kiara.

O grupo andava pelo lugar, correndo os olhos por todos os cantos, mas não havia onde mais procurar.

— Tem que estar aqui! — exclamou Pope, andando desesperado pela Igreja. — Vamos.

— Eu não tô vendo onde ele esconderia uma cruz gigante — comentou John B.

— Ele não criaria pistas para uma caça ao tesouro que leva a uma igreja sem nada.

— Eu entendo — o Booker encolheu os ombros, afinal, mais do que todos ele entendia o que era perseguir um tesouro perdido. — Não sei o que te dizer, cara.

— As pistas nos trouxeram aqui. A cruz tá nessa igreja.

O moreno sentou em um dos bancos. Estava frustrado e irritado.

— Pope, vai ficar tudo bem. Já saímos de becos sem saída antes. Nós vamos encontrar. — John B garantiu.

— Ele tem razão — Kiara sentou no banco velho ao lado do Heyward.

— Talvez só precisamos olhar de outro jeito — Sophia encolheu os ombros, sorrindo de forma esperançosa.

— Isso — John B apontou para a prima, indo para seu lado. — Onde daria para esconder uma cruz dourada de dois metros?

Os dois primos estavam tentando pensar em uma resposta para aquela pergunta, quando o olhar da loira olhar recaiu sobre Pope. O garoto estava olhando para o alto, seus olhos arregalados e sua boca entreaberta.

— O que foi? — JJ intercalou o olhar entre o amigo e o teto, sem entender.

Mas o Heyward não respondeu, apenas se levantou mantendo seus olhos fixos em um ponto acima. Sophia foi para onde o garoto estava, assim como os amigos, olhando para a mesma direção.

— Meus Deus. Olhem aquilo — Sarah murmurou boquiaberta.

Todos tinham seus olhares fixos nas duas vigas enormes presas no teto, ambas com o formato perfeito de uma cruz de dois metros.

— Que droga tá fazendo, Pope? — exclamou Sophia, vendo seu amigo escalar a parede usando os buracos na madeira e caules de plantas que cresciam por ali.

— Ele tá escalando a parede — John B parecia incrédulo.

— Não, espera! Isso é maluquice — Sarah exclamou.

— Pope, essa igreja é velha — lembrou Kiara. — É velha pra caramba.

— Cara, essa igreja deve ter uns 200 anos — foi a vez de JJ falar.

— Ele tem razão, Pope — John B falou. — É muito perigoso.

Não que o moreno estivesse dando muita atenção aos amigos, ele tinha conseguido chegar às vigas que sustentavam o teto, e se equilibrava ali em cima. E Sophia apertava, nervosa, a mão do primo ao seu lado enquanto observava seu amigo se aventurar, no que para ela parecia uma tentativa de morte.

— Na real, você não tem uma coordenação motora — JJ passou as mãos pelos fios loiros de cabelo. — Está me ouvindo?

— Pope!

— O que cê tá fazendo? — John B questionou ao ver o amigo bater em uma das vigas.

— Beleza, essa é de madeira sólida — o Heyward constatou. — Vou tentar a outra.

— Pope, isso deve estar tudo podre, entendeu? — JJ tentou mais uma vez.

Os cinco olhavam aflitos para o garoto enquanto ele se agarrava à estrutura de madeira, se equilibrando para passar até o outro lado da enorme viga e repetindo o processo com a madeira posta ao meio.

— Cuidado com o ninho gigante de vespas aí ao lado.

— Pois é — Sarah concordou, apreensiva, com o Maybank.

— Só vai devagar, pode ser? — foi John B quem falou. — Sem pressa, com cuidado.

— Muito cuidado — ressaltou Sophia, mordendo seu lábio inferior.

Pope pisou em um uma parte próxima a viga, mas acabou fazendo um pedaço de madeira velha cair, atingindo o chão próximo ao grupo, que soltou algumas exclamações ao darem alguns passos para trás para não serem atingidos.

— Olhem, é madeira oca — O moreno tinha seu olhar focado no pequeno buraco exposto na viga. — Me dá um pé de cabra!

— Já volto — falou Sarah, já seguindo para fora.

— O que vai fazer, Pope? Olha, eu não quero que a Igreja inteira desabe em cima da gente — JJ fez um gesto com as mãos para o lugar, mantendo seu olhar fixo no amigo.

— Você não se matar também seria bom — Sophia levou ambas as mãos até sua cintura.

Ela trocou um pequeno olhar com Kiara, antes das duas focarem seu olhar no garoto em cima das vigas outra vez.

— Sarah — o moreno chamou pela amiga ao vê-la entrar outra vez na Igreja com o pé de cabra em mãos. — Jogue.

— Beleza.

Sarah se preparou para jogar o pé de cabra, enquanto seus outros amigos iam um pouco mais para trás — tentando evitar serem atingidos caso o arremesso não fosse bom. E a Howard, assim como os seus amigos, acompanhou com o olhar o objeto de ferro ser arremessado para cima e voar no ar até as mãos de Pope.

— Peguei — o garoto comemorou mostrando o objeto em suas mãos. 

O grupo aplaudiu, elogiando o arremesso da Cameron quando ela se virou sorrindo para eles. Mas logo, todos tinham suas expressões sérias outra vez e a atenção focada no amigo lá em cima.

— Pope, o ninho de vespas tá bem em cima da sua cabeça. — John B apontou para os pequenos insetos rondando o ninho grudado na madeira. — Vai devagar, beleza?

— Pode deixar.

Com isso, o Heyward começou a atingir a madeira da viga com o pé de cabra, fazendo uma nuvem de poeira cercar a madeira à medida em que um buraco era aberto. Sophia mal pode acreditar quando um pequeno brilho vindo de dentro do buraco começou a surgir em meio a nuvem de poeira.

— Estão vendo aquilo? — John B apontou para cima, sua voz saindo em um fiapo. Todos estavam boquiabertos.

Sophia assentiu de leve, surpresa demais para emitir qualquer som. Seus olhos estavam focados no enorme filete de madeira que Pope havia puxado, revelando nada mais do que uma enorme cruz de ouro ornamentada por todo tipo de jóias preciosas que reluziam ao serem atingidas pela luz do sol.

— Puta merda — Kiara exclamou de forma pausada.

— Tá aqui! Ah, meu Deus — Um sorriso de orelha a orelha havia tomado conta do rosto de Sarah.

— Cacetada, é a Cruz de Santo Domingos — murmurou Sophia, sentindo os cantos de sua boca se curvarem em um enorme sorriso.

— Você conseguiu, cara — JJ riu com um misto de felicidade e orgulho.

A pequena igreja foi tomada por gritos felizes de comemoração, e o Heyward era de longe o que mais gritava — mal conseguindo acreditar que realmente tinham achado a cruz — enquanto seus amigos se abraçavam e pulavam. No entanto, o momento de alegria não durou muito, como sempre. Os gritos eufóricos pareciam ter acordado as vespas, que saíram de seu ninho para atacar Pope. No processo de tentar afastar os insetos, o garoto deixou o pé de cabrar cair — o que fez seus amigos pularem para trás.

— Pope! — os cinco gritavam em desespero quando o amigo pisou em falso, escorregando para fora da viga. De repente, o corpo do garoto estava suspenso no ar enquanto suas mãos agarravam a viga de madeira com todas as forças.

— Peguem as almofadas! — John B gritou.

Sophia correu para pegar todas as almofadas velhas deixadas em cima dos bancos que conseguia e jogá-las no chão, assim como seus amigos faziam. Era possível sentir o medo nos gritos de Pope que ecoavam pelo lugar, o que só deixava o grupo abaixo ainda mais apavorado. Quando as mãos do moreno, que eram picadas por vespas, escorregaram, seu corpo despencou no ar, caindo direto na pilha de almofadas feita no chão com um estrondo que ecoou pelo lugar.

Sophia cobriu sua boca com as mãos, abafando um grito de surpresa.

— Pope, você tá bem? — a pergunta foi feita por Kiara quando o grupo se ajoelhou ao lado do amigo estirado no chão.

— Quebrou algum osso? — John B perguntou quando o moreno fez uma careta ao abrir os olhos.

— Você não sabe cair, cara — comentou JJ. — Foi uma queda é tanto.

Os cinco continuavam a fazer perguntas, tentando descobrir se o amigo estava bem, mas, de repente, os olhos castanhos de Pope se arregalaram como se ele acabasse de ver um fantasma. E em meio às perguntas dos amigos, Sophia olhou para cima, enfim entendendo o olhar do amigo, e deixando um grito escapar. 

Seus amigos também gritaram ao ver a cruz de dois metros feita em ouro despencar do teto em sua direção.

Sophia sentiu seu corpo ser puxado para trás, e não pensou antes de agarrar o casaco marrom de JJ, afundando seu rosto na curva do pescoço do garoto enquanto o Maybank cobria a cabeça dela com o braço. O barulho estrondoso de madeira quebrando preencheu o ar, fazendo o chão sob seus pés tremer.

O coração da loira ainda estava disparado dentro do peito, quando ela levantou seu rosto para olhar os amigos. John B estava ao seu lado, Kiara e Sarah encolhidas junto a parede, e Pope deitado em posição fetal a poucos centímetros de onde a cruz havia caído, deixando um buraco no piso velho de madeira.

— Pope.

Sophia se afastou do loiro, correndo até o amigo deitado no chão, ajoelhando perto dele com John B e JJ ao seu lado.

— Tá tudo bem? — a pergunta foi feita pelo Maybank.

— Sim, eu só preciso de um minuto para recuperar o fôlego.

Os três assentiram, levantando e indo até a cruz. Uma das pontas dela havia afundado no chão, mantendo a outra de pé. Sarah e Kiara estavam agachadas ao lado do tesouro, olhando fascinadas para o objeto.

— Wow — John B passou a mão pelos detalhes gravados na estrutura.

— Ela é linda — JJ concordou.

— Eu nunca vi nada assim — comentou Sarah, e Kiara concordou.

— Isso parece saído das páginas de algum livro de fantasia — Sophia contornou com a ponta dos dedos um dos desenhos entalhados no ouro.

Dava para entender o porquê de há anos atrás aquela cruz ter sido roubada, mesmo com todos os riscos. Era um artefato histórico único e magnifico que ainda por cima, de acordo com as lendas sagradas, era o receptáculo do manto sagrado, capaz de curar todas as enfermidades.

— Os detalhes são incríveis — Pope sentou, olhando para o ouro reluzente do objeto.

— A Limbrey queria a chave para isso — o Booker passou a mão pelo buraco de um fechadura feito próximo ao meio da cruz.

— Quanto acham que ela vale?

— Sério, JJ? — Sophia encarou indignada o garoto, que apenas deu de ombros.

— Se a gente derreter a estrutura inteira, deve render alguns bilhões. E eu sei que é uma cruz...

— JJ, não — John B interrompeu o amigo. — Isso é uma peça de museu.

— O que? Pra ninguém visitar?

— É onde todos vão vê-la.

— Tá zoando?

— É a cruz dos meus ancestrais — disparou Pope, fazendo os amigos se calarem.

— Beleza, tranquilo... — O Maybank levantou ambas as mãos em sinal de rendição.

— Vai além da grana —  Pope falou. — O mundo vai saber a verdade.

Os cinco assentiu, estavam orgulhosos de terem achado aquele tesouro, ainda mais quando ele pertencia a família de seu amigo.

— Se a Limbrey ver, já era — lembrou John B. — Temos que tirá-la daqui. Vamos juntos.

O grupo se reuniu em volta da Cruz, fazendo uma contagem regressiva antes de erguerem ela. No mesmo instante, Sophia sentiu uma pontada aguda de dor no seu pulso, a qual faz seus olhos arderem.

— Merda — A loira resmungou junto com Kiara.

— Cacete — JJ fez uma careta.

— É mais pesada do que eu previ — John B comentou.

— É ouro — retrucou Sarah.

— Droga — foi a vez de Pope.

Sophia já sentia seus braços finos arderem com o esforço, a dor em seu pulso intensificar e seus dedos formigarem. O pior era que não tinham dado mais do que alguns passos para longe do buraco, e isso em meio a resmungos e reclamações.

— Gente, não dá... — disparou Pope.

— Pope, segura!

— Não solta, Pope!

— Aguenta mais um pouco!

O moreno soltou a cruz, e seus amigos tiveram que fazer o mesmo já que não conseguiram segurar com o peso de uma das partes caindo. Sophia passou a mão pelos cabelos, respirando fundo. Ela encostou seu quadril em um dos bancos, segurando seu pulso por cima da bandana preta que cobria sua pele.

— Mas que droga! — esbravejou JJ. — Quase deixou cair no meu pé — Ele se virou para Sarah.

— Eu não sou a única segurando!

— Jura?

— Podem não começar com isso? — pediu Sophia, entediada, aos dois.

— Gente, vamos colocá-la em cima de algum pano... — John B deu de ombros, afastando alguns fios de cabelo do seu rosto.

— É prendê-la na caminhonete.

— Isso — O garoto apontou para JJ.

— Gente! Eu não tô bem.

Todos olharam para Pope, vendo o amigo estirado em um dos bancos. Sophia sentou ao lado dele, soltando um "merda" ao ver o estado do garoto.

— Seu olho tá muito inchado.

— Você não parece bem, cara — JJ constatou o óbvio, se aproximando do banco como os outros amigos.

— Eu não consigo... — Pope respirou fundo, mas manteve sua boca aberta como se não conseguisse fazer o ar chegar aos seus pulmões.

— É uma reação alérgica — afirmou Kiara.

— Das vespas? Quantas vezes ele foi picado?

— Muitas... Droga! — Sophia agarrou a blusa do amigo quando ele escorreu no banco ao desmaiar. — Temos que tirar ele daqui!

— E a cruz? — Kiara tentava ajudar a levantar o moreno.

— JJ, tenta escondê-la — pediu John B, passando os dos braços de Pope por cima dos próprios ombros.

— Pode deixar.

Enquanto os quatro levantavam o amigo semiconsciente para fora, JJ correu de um lado para o outro tentando achar algo para esconder a enorme cruz de dois metros feita em ouro e ornamentada por pedras brilhantes. Claro, que ela não foi bem escondida, mas a cruz não era a maior preocupação do grupo no momento, além do mais, ninguém ia aquela igreja a anos e o grupo havia pegado a única pista que levava até ela, quais seriam as chances de Limbrey resolver procurar ali? Quase zero, foi o que Sophia pensou enquanto JJ dirigia a caminhonete para longe dali.


Olha só quem conseguiu superar o capítulo anterior é escreveu um de 7309 palavras! Eu tô real chocada com esses capítulos enormes que tô escrevendo.

E preciso dizer que tô morrendo de amores com as minimas interações de Joph, serio, sem condições para esses dois. Teorias do quem vem pela frente?

Enfim, a maratona de Golden Eyes começou!!!! E como vocês decidiram, vamos ter mais três capítulos novos hoje ainda!!!! Tão preparados? 

Beijos 💕

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