𝐅𝐀𝐋𝐋𝐄𝐍 𝐅𝐄𝐀𝐓𝐇𝐄𝐑𝐒...

By noxine

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❝Não espere muito de mim, Dick Grayson... . °. • 。 ♡ 。• * ☾. °. . ' , • •. ° . * .·. . ✧:. ·... More

✩ 𝘸𝘦𝘭𝘤𝘰𝘮𝘦 𝘵𝘰 𝘨𝘰𝘵𝘩𝘢𝘮 𝘤𝘪𝘵𝘺 ✩
prólogo
1 ✦ gothamsafe
2 ✦ diga boa noite, aspen atkins
3 ✦ sorte
4 ✦ agatha christie
5 ✦ blueberry com morango
6 ✦ promoção
7 ✦ conte até dez
8 ✦ proteção à testemunha
9 ✦ mudança
10 ✦ serpens
11 ✦ upgrade
12 ✦ pensamento positivo
13 ✦ fuga
14 ✦ saída de emergência
15 ✦ asa noturna
16 ✦ duas versões
17 ✦ como iguais
18 ✦ de volta à cape sohyde
19 ✦ memórias, parte i
20 ✦ memórias, parte ii
21 ✦ memórias, parte iii
22 ✦ insônia
23 ✦ código morse
✧・゚: ✧・゚:  10K!!!  :・゚✧:・゚✧
24 ✦ facetime
25 ✦ gdansk
26 ✦ intervenção
27 ✦ treino
28 ✦ insegurança
29 ✦ telefonema
30 ✦ vídeo
31 ✦ juntos
32 ✦ timelapse
33 ✦ trinta mil
34 ✦ b-23
35 ✦ feliz ano novo
36 ✦ encontro
37 ✦ manobra de circo
38 ✦ arkham, parte i
39 ✦ arkham, parte ii
40 ✦ reagente
41 ✦ coordenadas
42 ✦ velhos amigos
43 ✦ sanatorium korsak, parte i
44 ✦ sanatorium korsak, parte ii
45 ✦ decepção
47 ✦ sentinela
48 ✦ resolução
49 ✦ colapso mental
50 ✦ barganha
51 ✦ irmandade
52 ✦ profundezas
53 ✦ perdão e confiança
54 ✦ o pesquisador
55 ✦ bomba-relógio
56 ✦ culpa
57 ✦ sombrio
58 ✦ trato feito
59 ✦ despedida
60 ✦ vidro
61 ✦ separação
62 ✦ sem volta
63 ✦ dano colateral
64 ✦ família
65 ✦ reconciliação
66 ✦ o primeiro amor
67 ✦ quebra de ciclo

46 ✦ conflito interno

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By noxine

❝Não consigo me conectar com você ultimamente. Estamos tão irremediavelmente enfraquecidos, alguém mais está se sentindo sozinho? Não pode ser só eu.❞

(Is Everybody Going Crazy?, by Nothing But Thieves)

Mansão Wayne, Gotham City

6 de janeiro, 11:32 PM

Já haviam se passado dois dias desde que a equipe descobriu da pior maneira possível que Aspen havia ido contra os termos de Bruce e visitado Mona.

Mona estava morta agora, e Aspen provavelmente nunca iria descobrir se as coisas que ela disse eram reais ou não. Talvez fosse para melhor, ou era isso do que Aspen estava tentando se convencer, pois se Mona realmente matara seu pai, e se o seu pai realmente era tão cruel quanto ela havia descrito, Aspen não sabia se teria forças para continuar nessa investigação. Ainda mais quando não tinha ninguém para lhe dar apoio na mansão.

Não que merecesse algum depois disso.

Pensou em procurar por Meríode, mas, pelo que parecia, a mais velha ainda tinha seus próprios demônios para lidar. Ainda estava abalada com o que aconteceu em Arkham, e o que Aspen menos queria era incomodá-la com desabafos vagos, já que ela não podia contar sobre a equipe.

Tentou ver o lado bom. Realmente tentou. Finalmente percebeu que a razão de ser tão resistente ao sono era esse medo enraizado em sua cabeça de que ela seria pega desprevenida, mesmo dentro de um lugar seguro como a Mansão Wayne. Nunca havia reparado no quanto o ataque furtivo de Mona e Glass em seu apartamento, meses atrás, havia mexido com sua cabeça. Por mais que pretendesse chorar a madrugada inteira depois da discussão com a equipe, o cansaço de todos aqueles dias sem dormir direito a puxaram para a cama, e pela primeira vez em muito tempo ela havia conseguido fechar os olhos assim que encostou a cabeça no travesseiro. Se sentia segura, depois de meses sem nem mesmo saber o porquê tinha tanto medo de fechar os olhos.

Ainda sim, não aliviava em nada o peso que era ver o olhar de desconfiança da equipe sobre ela. De todos que moravam na mansão, Alfred provavelmente era o único que parecia querer oferecer algum apoio. Vez ou outra, Aspen tinha a impressão — ou a esperança — de que Tim queria se compadecer da sua situação. Bruce parecia nem mesmo expressar alguma reação. Era difícil tentar adivinhar o que ele estava pensando.

Mas Dick estava frustrado. E era mais do que visível. Toda vez que se cruzaram no corredor nos últimos dois dias, ela via sua expressão de hesitação, via ele fazer menção de abrir a boca para dizer algo. Mas ele sempre desistia e passava reto por ela. E isso partia o coração de Aspen toda vez. Estava com medo de que não conseguiria fazê-lo voltar a confiar nela, nem se acabasse com a LB inteira sozinha.

— Mestre Aspen, aceita mais chá? — Alfred a assustou quando surgiu na sala de jantar vazia, carregando uma bandeja com um bule, sua voz ecoando alto no cômodo vazio. — Perdoe-me, não queria assustá-la.

Aspen olhou para ele, suspirando de alívio.

— Tudo bem, não tem problema — murmurou, voltando a se virar para a mesa, apoiando a cabeça em sua mão e olhando para o pequeno bloco de notas onde estava listando e descartando as teorias que havia desenvolvido mais cedo para tentar encontrar outra forma de investigar o passado da LB que não fosse por Mona. — E não precisa me chamar de "Mestre Aspen". Eu não... tenho nenhuma autoridade aqui.

Alfred se aproximou, colocando a bandeja sobre a mesa.

— Você deve estar passando por uma situação e tanto para achar que não pertence a esse lugar.

Aspen soltou uma risada sem humor.

A equipe jovem e a Liga da Justiça haviam se reunido para uma operação em um lugar chamado Ilha Malina. De acordo com M'Gann, Kroloteanos possuíam um ponto de encontro de emergência dentro do vulcão da ilha, e haviam muitos deles para que só a equipe conseguisse lidar com isso. Ainda sim, Aspen não estava autorizada a ir, e isso dizia muito sobre o quanto ela havia os decepcionado dessa vez.

— Você estava lá quando eu admiti o que fiz. Viu como eles ficaram bravos comigo.

— Sim. E também vejo que você está lidando com a situação como se você mesma tivesse cometido o crime e matado aquela mulher — Alfred contestou. — Eu sei que Mestre Bruce e Mestre Dick estão... bem... estão tendo certa dificuldade em superar o que houve. E é compreensível, é frustrante ter que recomeçar praticamente do zero, é frustrante fazer de tudo para avançar nessa missão e ver um erro de principiante estragar esse progresso, e até vigilantes experientes como eles ficariam chateados em ter que refazer um trabalho de seis meses... mas a verdade é que Mona se matou sozinha. Você não a obrigou a fazer aquilo, nem mesmo tinha como prever que ela tomaria uma decisão tão extrema. Acho que você está carregando um fardo pesado demais por um erro que qualquer vigilante jovem poderia ter cometido.

— E quem mais eu poderia culpar além de mim mesma? Mesmo que eu não tivesse forçado Mona a fazer aquelas coisas, eu sabia que era uma possibilidade. E fui mesmo assim — Aspen negou com a cabeça, apertando a xícara de chá vazia. — Eu tive bastante tempo para pensar nesses últimos dois dias, Alfred... Pensar em formas de conseguir fazer eles confiarem em mim outra vez. De fazer Dick confiar em mim outra vez. Eu... Ele sempre ficou do meu lado quando eu precisei, desde que o conheci. E isso é importante pra mim... sabe? O apoio dele. É importante. Ver o quanto ele está chateado comigo... a ponto de que nem consegue me olhar nos olhos é... ah, céus. Me mata por dentro. Minutos antes de encontrarmos vocês na sala, ele me disse que queria manter o pessoal separado do trabalho. E o fato de que ele sequer conversou comigo nesses últimos dois dias diz muito sobre o quanto eu pisei na bola dessa vez. Eu...

Aspen mordeu a parte interna do lábio. Droga, sabia que era um assunto sensível. Sabia que sua voz ia começar a embargar. Precisava aprender a calar a boca, não queria soar mais infantil do que já aparentava ser com suas atitudes.

— Ele está irritado. Isso não dura para sempre, vai passar — Alfred assegurou, calmamente. — Ele já cometeu erros piores nos primeiros anos dele. Está frustrado porque sabe pelo que você está passando, ele passou pela mesma coisa, mas ainda sim não conseguiu te impedir. E eu imagino que ele não quer ver você cometer os mesmos erros que ele. Além do mais... bom, acho que sua impulsividade lembra não só ele como todos nós de uma experiência ruim. Não falamos muito sobre isso... Mestre Bruce ainda não consegue se perdoar pelo que aconteceu, e Mestre Dick também sofreu bastante.

— Está falando do Jason, não é? — Aspen deduziu. O olhar cansado do homem, misturado com tristeza, já confirmou sua suspeita. — Ele era assim? Impulsivo?

— Era pior. Não era realmente culpa dele... o garoto teve uma infância complicada — Alfred respirou fundo. Pelo seu tom de voz, Aspen conseguia sentir o luto. — Mas, sendo culpado ou não... ele era rebelde. Complicado de lidar. E você sabe como acabou. Tenho certeza de que ninguém quer ver essa história se repetir.

Aspen assentiu.

— É... Imagino que não — murmurou, fechando seu bloco de notas. — Você... acha que sou como ele? Como o Jason? Complicada de lidar?

Alfred sorriu. Antes de responder, ele pegou o bule de chá, e gesticulou para que Aspen estendesse o copo.

— A impressão que os outros têm de você é algo subjetivo. Não temos controle sobre isso, eu não me prenderia tanto à opinião alheia se fosse você. O que eu falo sobre o Jason é uma opinião exclusivamente minha, e ela pode mudar dependendo de para quem você pergunta — ele serviu, cuidadosamente, o chá para a garota. Aspen sentiu o cheiro agradável de camomila emanar da xícara quente. — Antes de ser boa no que faz, você precisa ser boa de caráter. E, do meu ponto de vista subjetivo e sem valor, você tem um bom caráter. Só está um pouco perdida. E tudo bem... não é justo exigir que você tenha o desempenho de um robô tendo pouco mais de seis meses de experiência, ainda mais sob a quantidade de estresse em que você está. Ser um vigilante habilidoso leva anos. E até mesmo os mais experientes também erram. E, vou lhe dizer mais uma coisa, Mestre Aspen... o melhor vigilante é aquele que mais cometeu erros. Não existe forma melhor de aprendizado do que as consequências... por mais dolorosas que sejam.

Aspen abriu um sorriso fraco. Claro, ainda se sentia péssima por tudo que acontecera, mas Alfred havia feito ela ver as coisas de forma mais racional.

— Você me deu muito o que pensar a respeito, Alfred — disse, tomando um gole do seu chá. — Agora entendo como os rapazes conseguiram manter a sanidade durante todo esses anos. Você é a voz da consciência deles, não é?

Alfred deixou uma risada bem-humorada soar.

— Não... Eu sou apenas o mordomo.

Aspen acompanhou a risada. Nunca havia tido uma conversa de abrir o coração com Alfred, e agora se arrependia de não tê-lo feito antes. Contudo, sua risada morreu quando o barulho de passos soaram no corredor, e segundos depois, Bruce, Tim e Dick, todos uniformizados, surgiram no campo de vista. Nenhum deles parecia ser portador de boas notícias.

Aspen parecia perder o dom da fala quando estava de frente para a equipe. Então Alfred se antecipou:

— Não sei se devo perguntar como foi a missão. Pela expressão de vocês, estou supondo que não foi bom.

Dick olhou para os dois companheiros de equipe. Quando percebeu que nenhum deles falaria, ele suspirou. Seus olhos não cruzaram com os dela. E logo o pequeno muro de confiança que Alfred havia construído na mente de Aspen desabou. De que importaria aprender com os erros se isso não faria com que eles a perdoassem?

— Aqualad e a tropa dele estava ajudando os Kroloteanos — Ele disse, desviando os olhos para os pés quando Aspen ergueu o olhar em sua direção, surpresa. — Ele os traiu. Colocou uma bomba na base do vulcão... a explosão matou todos eles.

— Que horror — Alfred balançou a cabeça negativamente. Talvez Aspen estivesse vulnerável demais nos últimos dias, pois seus olhos marejaram só de pensar em tantas mortes. E pensar que Aqualad um dia esteve do lado deles era... quase surreal. Ela engoliu em seco, tentando se concentrar em não deixar a tristeza transparecer. — Alguém da equipe se feriu?

— Superman, mas ele vai ficar bem — Dick enviou um rápido olhar a Aspen, como se quisesse ver seu estado. Ela desviou o rosto. — Eu... preciso de um banho quente.

E, dito isso, Dick deu alguns passos para trás e sumiu de vista. Bruce observou ele subir as escadas, e depois voltou a atenção para Alfred e Aspen. Ele foi até a mesa, se sentando na cadeira da ponta.

— Miss Marte descobriu o que houve nas dezesseis horas em que estivemos sob controle mental da Luz — ele soltou um longo suspiro. Aspen se lembrava sobre Bruce ter mencionado o incidente, ocorrido em 2010. Ele e mais cinco membros da Liga desapareceram por dezesseis horas depois que foram contaminados com um tipo de vírus alienígena e ficaram à mercê da Luz. Estavam todo aquele tempo tentando descobrir o que havia acontecido durante essas dezesseis horas. — Aparentemente, fizemos alguns atos terroristas no planeta Rimbor e declaramos que éramos a Liga da Justiça e que todos deveriam ter medo de nós. Foi isso que atraiu os Kroloteanos para cá.

Silêncio. Alfred circulou a mesa para servir uma xícara de chá a Bruce, e Aspen cruzou os braços sobre a mesa, escondendo a cabeça entre eles. Toda a leveza que sentiu por dez segundos depois de conversar com Alfred desapareceu, e o ambiente parecia pesado outra vez.

— Mestre Tim, não quer se sentar? — Alfred perguntou ao garoto parado na porta.

— Acho que vou para o meu quarto também. Preciso esquecer essa missão — ele murmurou, com a voz quase arrastada de puro cansaço. — Boa noite, pessoal.

— Boa noite — todos murmuraram de volta, em tom uníssono.

Aspen respirou fundo. Alfred e Bruce provavelmente não queriam ela ali, o assunto parecia sério. Ela fez menção de se levantar.

— Aspen, antes que você vá dormir... precisamos resolver algumas coisas — Bruce chamou sua atenção. Aspen assentiu, em silêncio, e voltou a se sentar. Ele tomou um gole de chá antes de prosseguir. — Eu e alguns membros da Liga estamos nos organizando para uma expedição intergalática no fim do mês, para resolver o que houve em Rimbor.

Aspen engoliu em seco.

— Parece complicado — disse, sua voz mal saindo.

— E é. Mas, querendo ou não, vamos deixar muito trabalho pra ser feito aqui. E é por isso que estou voltando atrás com a sua suspensão — sua voz não deixava espaço para que ela duvidasse de sua decisão. Aspen não conseguiu expressar nada além de surpresa. — A equipe vai precisar de toda a ajuda possível. Quero que você fique responsável por Albin Korsak, já que foi seu plano ir até a Polônia. Não significa que eu ainda não esteja decepcionado com o que você fez. Mas veja isso como uma segunda oportunidade.

Aspen olhou para a mesa. Não conseguia ficar feliz com a notícia quando ainda não conseguia fazê-lo perdoá-la. Ser suspensa parecia um castigo melhor do que ser tratada daquela forma. Como uma criança.

Céus... Jamais se arrependeu tanto de uma atitude como estava arrependida por ter ido atrás de Mona.

— Obrigada, Bruce — foi o que ela se limitou a dizer, de cabeça baixa, voltando a se levantar. — Não vou decepcioná-lo outra vez.

Ela deu as costas para os dois, e foi caminhando desanimadamente em direção às escadas. Ouviu Alfred murmurar algo para Bruce, e Bruce logo a chamou novamente.

— Aspen — disse, fazendo-a voltar a atenção para ele novamente. Bruce hesitou, e Alfred colocou uma mão em seu ombro. Ele suspirou — Conto com você e o restante da equipe para manter as coisas em ordem por aqui quando eu estiver fora.

Ela enviou um olhar confuso para Alfred, que acenou com a cabeça. Os ombros de Aspen, que ela mal havia notado que estavam tensionados, relaxaram um pouco.

Ela assentiu.

— Sim, senhor.

E com isso, ela subiu as escadas. Era culpa o suficiente por aquele dia. Precisava dormir, agora que finalmente conseguia. E claro que ela esbarraria com Dick no corredor. Seguir da sala de jantar até o quarto querendo se desmontar em lágrimas não era o suficiente, aparentemente.

Viu que ele passaria reto mais uma vez. Não deixaria isso acontecer. Tomando coragem, ela se aproximou de Dick.

— Vamos conversar — pediu, em tom quase suplicante. — Já fazem dois dias, Dick...

— Aspen... — Dick começou a dizer, resistente.

— Por favor. É coisa de cinco minutos — insistiu, sua voz saindo trêmula. — Por favor, não quero que as coisas fiquem assim. Me dá uma chance de consertar isso. Me diz o que fazer. Eu sinto muito, o que eu faço para você acreditar em mim?

— Eu... acredito, Aspen — ele inspirou fundo, desviando os olhos. — Acredito que você sente muito. Mas não acho que seja por Mona ter morrido. Acho que você sente muito por termos descoberto que você esteve lá. Você sabe que não devia ter ido, Bruce disse isso a você. Céus... por que você teve que ser tão irresponsável?

É, pelo visto ele não tinha a intenção de poupar os sentimentos dela. Mas, novamente... não era como se ela não merecesse. Aspen engoliu o nó na garganta, forçando sua voz a sair:

— Não estou dizendo que não é minha culpa. Eu sei que é, eu assumo a responsabilidade — murmurou, lutando para fazer a voz parar de tremer. — Mas... Mas o que é isso? O que eu fiz de tão errado dessa vez? Eu já fiz coisas sem pensar antes, mas você nunca pareceu me odiar tanto como parece odiar agora. Então me fala onde eu realmente errei dessa vez, para eu conseguir consertar isso. Ou você vai me ignorar pra sempre? Por que se for para ficarmos juntos nessa tortura, Dick... só me deixa ir, tá bem? Você não tem que me perdoar se não estivermos mais juntos. Mas... por favor, não me faça ter que olhar para você todo o dia e ver esse olhar de decepção.

— Eu não te odeio... — Dick respondeu, rouco. Aspen ficou quieta, mordendo a parte interna da boca. — Muito pelo contrário, Aspen. Você é especial para mim, tá bem? E ver que cada dia mais você tenta se expor e se colocar em risco sem razão... acaba comigo. Preciso saber onde estou errando como tutor em tentar te passar as morais que defendemos como vigilantes, não dá pra fazer isso se estivermos juntos. Mas... Mas eu não quero terminar. Eu quero... eu preciso de um tempo. Um tempo de nós dois. Eu entendo que sua família é um tópico extremamente sensível para você, eu sei. Mas isso não pode se tornar uma desculpa para continuar agindo sem pensar, e às escondidas, ainda por cima. Não podemos continuar com essa investigação se você nunca nos diz nada. Somos uma equipe, pelo amor de Deus!

— Somos? — Aspen retrucou, com sarcasmo, dando alguns passos para trás. Seu tom de voz começou a aumentar, à medida que lágrimas começaram a preencher seus olhos. — Então por que estou sendo castigada assim, mesmo tentando de todas as formas consertar meu erro? Mesmo dizendo de todas as formas possíveis que eu sinto muito? Por que toda vez que eu faço algo de errado, sou retalhada desse jeito, e cada vez pior? Por que eu preciso me esforçar em dobro pra mostrar que posso ser tão capaz quanto você ou Tim!? Afinal, por acaso eu tenho algum potencial para chegar no mesmo patamar que o seu? Ou foi tudo uma conversa furada pra poupar meus sentimentos!?

— Em qual momento você achou que ir contra ordens diretas do Bruce poderia resultar em qualquer coisa além disso!? — Dick equiparou seu tom de voz ao dela. — Aspen, me escute, tá bem? Bruce é um ótimo vigilante. O melhor deles. Só que ele não sabe nada sobre suporte emocional. Ele vê seu potencial e estava orgulhoso do seu progresso antes disso... mas ele dificilmente vai admitir, não importa o quanto você se esforce. Você é tão capaz quanto qualquer um de nós! Você precisa parar de cismar com isso! Precisa parar de tentar se provar o tempo todo! Você não tem que fazer isso, merda! Você nem mesmo deveria estar investigando sozinha!

— E como eu poderia saber!? — A essa altura, era uma competição para ver quem falava mais alto. Nenhum dos dois se importava se a casa inteira ouviria tudo. — Tudo que eu escuto são sobre resultados, resultados, e adivinha? Resultados. Nunca é o suficiente, Dick, não importa quantas noites em claro eu passe pesquisando! Eu estou sozinha quando o assunto é investigar e pesquisar, o que mais eu deveria supor disso!?

Você se isola, droga! — Dick protestou, sua voz saindo de controle. Ele faz uma pausa, respirando fundo. Era exatamente isso que estava tentando evitar. Não queria isso. Então, cinco segundos depois, ele voltou a falar, em um tom baixo e controlado. — Toda vez que você acha que está perto de descobrir algo, você se tranca no quarto e ninguém consegue se comunicar com você. Eu perdi a conta de quantas vezes eu precisei te ligar, estando a dois quartos de distância, só para você lembrar que precisa dormir e comer. Nós já ficamos dias sem conversar direito, e eu sou seu namorado. Eu sempre tentei ser compreensivo e te dar o espaço que você queria... mas agora isso está afetando a equipe inteira. Que tipo de progresso você acha que vai conseguir desse jeito?

Aspen balançou a cabeça negativamente, abrindo a boca algumas vezes, sem realmente conseguir dizer alguma coisa. Ela se isolava. Merda... ele estava certo. Como nunca havia notado isso antes? Como havia feito isso tantas vezes durante toda sua vida sem nunca ter notado o quanto prejudicava as pessoas ao seu redor?

Era egoísta. Tremendamente egoísta.

— Merda... e o que você quer que eu diga? — Seus olhos se encheram d'água ainda mais, sua voz saindo rouca e falha. — Que eu sinto muito por ser tão irresponsável e imatura? Por ser uma namorada horrível para você? Por ser uma grande decepção? Eu sinto muito. Eu realmente sinto, Dick. Quantas vezes você quer que eu peça desculpas para conseguir me perdoar? Quantos inimigos você precisa que eu derrote para compensar isso? Quer que eu me humilhe? Eu... não ligo mais. Vou melhorar, eu juro que estou tentando... Eu não queria ser assim, droga.

Dick negou com a cabeça, sem conseguir acreditar no que ouvia. Não queria que ela se humilhasse. Não queria nada daquilo. Merda, ela própria estava se castigando mais do que qualquer um. Isso tinha que parar. Ele não precisava de incontáveis pedidos de desculpas. Ele só precisava de um tempo. Precisava encontrar um jeito para ajudá-la a mudar antes que sua impulsividade a matasse.

— Então por que você foi atrás de Mona, Aspen? É isso que eu não consigo entender. Se você sabia que só poderia acabar mal... por que você foi?

Aspen abaixou a cabeça, secando o rosto antes que as lágrimas caíssem. Mas era em vão.

— Eu não sei, tá bem!? — Exclamou, sua voz embargando. — Eu não sei. É como se... como se minha mente apagasse toda vez que eu estou em situações como essa... Tudo que consigo me lembrar é do desespero que eu sinto em não fazer nada, a sensação de que algo horrível vai acontecer se eu não tentar intervir. E isso é mais forte do que todos os contras que poderiam existir para que eu não me arrisque. Não gosto de me sentir impotente, Dick. Odeio isso. Odeio.

— Aspen...

— Eu não sei porque me sinto assim. Eu não sei dizer o que passa na minha cabeça pra fazer essas coisas, mas... se eu puder agir para impedir que algo pior aconteça... eu vou. Merda, eu... eu acho que não tenho controle sobre isso, Dick. Eu queria poder te dizer o porquê. Queria poder te fazer ver as coisas da minha perspectiva — Aspen fungou, cruzando os braços, recuando até a porta de seu quarto. Não queria chorar, merda. Não queria. — Mas como eu faria isso se nem mesmo eu sei o porquê?

Dick não sabia o que lhe dizer. Tudo que ele conseguia ouvir ali era o pedido desesperado por ajuda nas entrelinhas das palavras confusas da garota. E se sentiu péssimo por nunca ter percebido isso antes.

Aspen não esperou por uma resposta, ela virou-se, girando a maçaneta do seu quarto.

— Eu não estou tentando dar desculpas para justificar meu erro — disse, a voz completamente embargada, nós dos dedos brancos de tão firme que segurava a maçaneta. — Só... Só estou tentando encontrar um jeito de fazer você acreditar em mim quando eu digo que sinto muito por Mona ter morrido. Por ter sido minha culpa. Acho que... talvez eu esteja desesperada...

E entrou antes que a primeira lágrima finalmente escorresse, batendo a porta atrás de si.

Desesperada. Sim, era isso. Desesperada para garantir a segurança de sua família. Desesperada para salvar seu relacionamento com ele. Desesperada para ser uma boa vigilante. Desesperada para mudar. Aspen estava desesperada.

Ela chegou a ouvir Dick dar alguns passos em direção à sua porta. Viu sua sombra por baixo dela.

Eu também sinto — ouviu ele murmurar, tão baixo que era quase inaudível.

E então, depois de cinco segundos parado ali, ele simplesmente se afastou e foi embora. E talvez fosse melhor assim.

Dizer todas aquelas coisas em voz alta clareou um pouco as coisas na mente de Aspen. Antes de dizer aquilo, nunca havia notado que era isso que sentia quando não agia. Medo.

Agora precisava de um tempo para se resolver com a própria mente, e, pelo que parecia, Dick também tinha que lidar com seus próprios dilemas. Os dois realmente precisavam de um tempo.

Sua briga não era mais com os membros da equipe. Era com ela mesma.

■□■□■□■□■□■□■□■

OIEEE BUENAS TARDES. Espero que tenham gostado do capítulo de hoje (ou não pq estamos sem boiolagem por um tempo). Eu já tinha salvo o rascunho desse capítulo pelo PC, mas estou postando pelo celular porque a energia caiu... De novo. O capítulo tá sem header por isso, quando voltar eu coloco.

Ai ai ser brasileiro não tá fácil.

Mas enfim, semana que vem vou postar uma nova arte da Aspen junto com o capítulo e paciência galera, eles vão se acertar... Afinal isso aqui é uma fanfic do Dick Grayson KKKKKKKKK

Vejo vcs dia 29/10 ❤️

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