Dark Wish (Série Dark #1)

By sinnerpetrova

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|ESTA OBRA É UM DARK ROMANCE| Asen só almejava uma coisa ao finalmente conquistar sua liberdade: vingança. U... More

NOTAS INICIAIS
PLAYLIST
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48

Capítulo 18

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By sinnerpetrova

HAZEL ALLEN

Não sabia há quanto tempo estava deitada na cama enquanto encarava o teto, revivendo repetidamente as memórias do dia anterior como um loop infinito ou um CD arranhado.

Era impossível não pensar em tudo que havia acontecido ontem, desde o Asen, até o momento em que conheci o meu irmão gêmeo. Gêmeo. Eu tinha um gêmeo, vivo, e nem mesmo sabia da sua existência; estive vivendo às cegas por longos dezesseis anos enquanto meus pais escondiam de mim o fato de que eu não havia nascido sozinha.

Uma parte de mim lutava para entendê-los e não me sentir ressentida por esconderem isso de mim, mas a outra... conseguia sentir a raiva crescendo dentro de mim sempre que me lembrava. Sempre que a realidade de tudo isso me atingia em cheio; não é apenas um segredo comum que não me diz respeito, é uma puta mentira guardada durante toda a minha vida.

Precisava pensar com clareza, não podia ser dura com eles mesmo estando com raiva; não iria confrontá-los ainda, mas, não ficaria sentada sem procurar respostas de toda essa bagunça. Como meus familiares nunca me contaram uma coisa dessas? Tantos anos sentando à mesma mesa no Natal, tantas visitas quando eu era criança e ninguém nunca pensou em me dizer nada?

Talvez não fosse problema deles, talvez estivessem respeitando meus pais, mas, como eu nunca soube a verdade?

Suspirei, saltando da cama abruptamente e indo até a porta, caminhei pelo corredor até as escadas e desci metade dos degraus silenciosamente, conseguindo ver minha mãe sentada no sofá enquanto assistia à TV.

Voltei a passos gatunos e atravessei o corredor até o quarto da minha mãe, entrando cautelosamente antes de fechar a porta às minhas costas. Andei até o armário do outro do quarto e abri sem cerimônia, me lembrando claramente da madeira solta que havia no piso, a mesma que eu vi há anos quando brincava de esconde-esconde quando criança.

Não achei ser nada demais, mas não posso culpar meu eu de dez anos atrás por ser tão ingênua. Agora, estava na cara do que aquilo era, e não hesitei antes de me sentar no chão do armário e retirar a madeira solta, encontrando o que eu temia encontrar; evidências.

Esse tempo todo as respostas estavam embaixo do meu nariz e eu não fazia ideia.

Coloquei a madeira de lado e engoli em seco, tirando do buraco o que parecia ser uma caixa de carvalho. A respiração ficou presa em minha garota conforme eu encarava as iniciais que eu desconhecia desenhada sobre a tampa da caixa.

A.A.

Franzi o cenho, analisando o objeto sem fechadura ou sequer cadeado, um grande descuido para quem estava escondendo com tanto afinco.

Abri sem mais cerimônias, e arquejei, encontrando fotos da gestação da minha mãe; fotos essas que não se pareciam com as que estavam expostas no álbum de família lá embaixo. Peguei as fotografias em minhas mãos, trêmulas, conforme meus olhos piscavam e piscavam como se quisesse me trazer de volta a realidade.

Essa era a realidade.

Encarei uma das fotos que eu desconhecia, encontrando meus pais em um quarto de bebê, decorado nas cores rosa e azul. Estavam sorridentes, enquanto minha mãe olhava para a barriga — enorme, por sinal —, e meu pai a beijava no rosto.

Respirei fundo, tentando engolir a vontade de chorar que se alojava em minha garganta, e continuei passando as fotos, deixando que uma delas escorregasse da minha mão.

Peguei a mesma rapidamente e senti meu peito apertar quando meus olhos bateram na imagem.  Minha mãe segurava dois ursos brancos, um deles eu já conhecia, era meu. O mesmo com qual eu dormi por tanto tempo, e que agora se encontrava em minha estante como uma lembrança da minha infância. Continha meu nome estampado em sua barriga, mas no outro... 

Andrew.

Uma lágrima escorreu em minha bochecha, e me repreendi mentalmente ao secá-la imediatamente. Deixei as fotos de lado e voltei a fuçar a caixa, sentindo meu peito acelerar dolorosamente.

Senti algo macio, fofo, e por um momento achei ter sido o urso, mas era pequeno demais para um brinquedo daquele porte. Puxei o objeto, vendo dois sapatinhos de bebê com as mesmas iniciais da caixa. A.A.

Andrew Allen...

Esse era o nome do meu irmão; um irmão que eu nem mesmo fazia ideia da existência até o dia de ontem, quando o mesmo me procurou. Um irmão, gêmeo, que todos acham estar morto, enquanto o mesmo viveu dezesseis anos com a  sequestradora que dizia ser sua mãe. Meu peito doeu mais ainda, e estava prestes a guardar tudo e sair dali, quando a porta do quarto foi aberta.

Minha mãe estava ali, me encarando assustada, paralisada.

— Hazel, o que está fazendo aqui? — sua voz não passou de um sussurro.

Me levantei junto com a caixa e os sapatinhos, os olhos da minha mãe desviaram até lá, e vi a cor deixar seu rosto aos poucos.

— Por que escondeu de mim que eu tinha um irmão gêmeo? — Perguntei sem olhá-la, a voz embargada.

— Hazel...

— Por favor, não. — A interrompi — Me fale. Por que vocês esconderam isso de mim? — Olhei para ela, agora mais magoada do que nuca.

— Não queríamos tocar no assunto. — Ela piscou, deixando uma lágrima escorrer por seu rosto — Não conseguimos contar, não queríamos desencadear essa dor.

— Eu merecia saber! — Exclamei, minha voz quase inaudível, no entanto.

— Eu sei.

— Não pretendia me contar nunca? Pretendia esconder isso para sempre? — Indaguei, encarando seu rosto.

— Eu e seu pai sofremos muito, era uma coisa que nos destruía só de lembrar. Precisa entender.

— Por isso se separaram? Por que não aguentaram essa dor a ponto de destruir o casamento?

— Talvez... — Desviou o olhar — Não sabe como nos sentíamos...

— E como eu me sinto? — Quis saber, amargurada — Sequer pensaram nisso?

— Eu sinto muito.

Lamentou e, parei de fingir que aquilo não estava me afetando. Eu sabia que ele estava vivo, mas meus pais? Acreditaram e acreditam que perderam um filho, eu não tinha o direito de agir dessa forma.

— Eu também. — Sussurrei e, deixando as coisas de lado, caminhei até minha mãe, a tomando para um abraço.

Ela retribuiu e, por um momento só ficamos assim, abraçadas, enquanto a mesma chorava em silêncio no meu ombro. Não me lembrava da última vez que minha mãe chorou, isso acabou comigo.

— Já pensou na hipótese dele estar vivo? — Falei, me separando — Vocês não o encontraram...

— Como sabe disso? — Questionou.

— Quero dizer... se não existe um túmulo, significa que não há um corpo, certo?

— Levaram o corpo — Ela sussurrou, desviando a atenção — Procuraram por meses e nada. Mas eu tenho a certidão de óbito, eu sei que ele morreu. — Engoli em seco, querendo contar tudo que sabia — Não pudemos enterrá-lo, mas fizemos uma homenagem. 

— Como assim?

— No cemitério, perto da capela, tem uma cerâmica no chão com o nome dele. Costumávamos visitar às vezes, deixávamos flores, mas paramos quando você cresceu. Ainda está lá, se quiser ver.

— Eu sinto muito. — Sussurrei.

Foi tudo que consegui dizer para evitar jogar a verdade sobre ela; havia prometido a Richard, e eu sabia que ele precisava de tempo. Eu só podia esperar.

#

Mais tarde naquele dia, bati à porta de Lana com o intuito de contar tudo a mesma; não tudo, mas o que ela precisava saber. E com isso quero dizer apenas a parte de que tinha um irmão, era mais fácil de aceitar do que saber que Asen era um vampiro de mais de sete séculos que queria me matar ou, que eu era uma descendente de bruxas.

— Eu deveria matar você! — A voz de Lana me arrancou de meus pensamentos, e só então a notei diante de mim enquanto segurava a porta aberta.

Pisquei, balançando a cabeça para afastar os pensamentos, e suspirei.

— Mil desculpas, está bem? Aconteceu umas coisas e, não podia te contar porque não eram coisas minhas. Mas tem algo que você precisa saber, e é algo muito sério.

— Fala logo, Hazel!

— Aqui não, vem, tenho que te mostrar uma coisa. — Ela franziu o cenho, olhou para trás apreensiva e fechou a porta, me seguindo logo em seguida.

Algum tempo depois estávamos no cemitério, e não foi surpresa alguma quando Lana começou a questionar o motivo de estarmos ali.

— O que estamos fazendo aqui? — Indagou, estreitando os olhos em minha direção.

— Por aqui. — Acenei com a cabeça, fazendo-a me seguir.

Ao nos aproximarmos da capela do cemitério, prendi o fôlego ao passarmos pela fonte diante da mesma, e engoli em seco ao chegarmos no pátio de mármore, onde algumas placas faziam parte do piso, homenageando algumas pessoas. Caminhei cautelosamente até onde uma em especial chamou minha atenção; havia uma sapatinho de bebê semelhante ao que estava em casa, amarrado a algum parafuso da placa.

— De quem é essa lápide? — Lana quis saber, e engoli em seco ao pararmos diante dela.

— Leia o nome — Pedi.

Ela se aproximou, franzindo o cenho ao olhar para mim e a placa.

— Andrew Allen — sua voz parou no mesmo instante — Allen? — Seu olhar encarou a data de nascimento — 25/11/2005 — Lana me olhou — É o seu aniversário.

Desviei o olhar, me agachando em frente a lápide, passei os dedos lentamente sobre a placa branca, as letras gravadas na mesma, e aquela pedra fria fez meu corpo estremecer.

— Hazel, o que isso significa?

— Eu não sou filha única, Lana. Andrew é meu irmão gêmeo. — Lana paralisou.

— Irmão gêmeo? Como isso é possível?

— Eu não sei. Descobri ontem... Segundo minha mãe, ele morreu no dia de seu nascimento, mas seu corpo sumiu e eles não puderam enterrar.

— Meu Deus...

— Só que tem uma questão.

— O quê?

Desviei o olhar para a pessoa que se aproximava atrás de Hazel, encontrando Richard com uma expressão indecifrável. Havia ligado para ele há algumas horas atrás, depois de conseguir seu número ontem na lanchonete.

— Hazel? — Lana chamou, antes de se virar, seguindo meu olhar, e franziu o cenho quando meu irmão passou pela mesma, parando diante de nós.

— Richard, essa é Lana — Apontei para a loira confusa — Lana, esse é o Richard.

Ela se calou, seu olhar oscilando entre mim e Richard enquanto a mesma tentava, provavelmente, entender o que diabos estava havendo.

— O que está acontecendo aqui? — Ela nos encarou.

— Meu irmão não morreu, Lana. Richard é o meu irmão gêmeo.

A loira uniu as sobrancelhas, a feição cada vez mais confusa e perdida.

— Do que está falando?

— Ele não morreu, mas teve uma parada cardíaca, no entanto, acordou tarde demais. A enfermeira que ajudou no parto o levou, o sequestrou, e seu corpo foi dado como desaparecido.

Lana abriu a boca, fechou, então abriu de novo ao passo que procurava palavras para falar. Ela piscou, repetidas vezes enquanto tentava processar, compreender a gravidade da situação.

— Isso é muito para processar, quero dizer, é loucura, não? — Riu, descrente.

— Olhe para nós, não consegue ver?

Seu olhar encontrou nossos rostos, olhando de um para o outro conforme nos analisava, conforme enxergava a semelhança. Pouco a pouco seu semblante mudou para o que parecia entendimento, e vi sua boca se abrir em um pequeno O.

— Meu Deus — Engasgou — Então é verdade? — Assenti sorrindo.

— Nossos pais ainda não sabem que ele está vivo, precisa manter segredo — Ela piscou — E Richard, — chamei a atenção do garoto — seu nome é Andrew — Ele me olhou, confuso, então abri espaço para que ele visse a lápide.

Ele se aproximou, curioso, e seus olhos brilharam ao ver a homagem feita especialmente para ele. Richard ergueu a mão trêmula para tocar o sapato, e vi a sombra de um sorriso surgir em seus lábios.

— Nossos pais fizeram? — Quis saber, ainda sem me olhar.

— Sim. Acredita que eles realmente esconderam isso de mim por dezesseis anos?

— Caramba, vocês são mesmo gêmeos! — Lana soltou de repente, nos fazendo rir — Espera, existe outro de você? Estou ferrada.

— Idiota! — ri, lhe dando um tapa em seu braço.

— Eu acho que estou pronto para conhecê-los — Meu irmão se pronunciou, chamando nossa atenção — Já perdi dezesseis anos, não quero perder mais tempo.

— Vou fazer um jantar, dar uma desculpa para eles se juntarem. — Olhei para a loira — Lana, você pode vir. Vai ser encarregada de levar o Richard lá, está bem?

— Pra mim está ótimo. — Disse.

— Richard, você fala o dia e a hora, você é quem decide. — Afirmei.

— Hoje é muito cedo?

— Me diz você — Dei de ombros.

— Hoje — Proferiu.

— Okay, hoje — Repeti.

#

Estava jogada na cama depois de voltar do cemitério e, não pude evitar meus pensamentos de me levarem até o vampiro loiro de olhos azul-transparentes. Não havíamos nos falado desde a discussão, sequer tive notícias do mesmo, mas agora, que minha cabeça parecia vazia, algo tinha que vim para ocupar.

As imagens de nosso beijo se materializaram em minha mente, e amaldicoei quando as borboletas idiotas deram as caras, causando um frio intenso no estômago. Ainda podia sentir seus lábios nos meus, a força bruta com que o mesmo me segurava, a língua quente e determinada me reivindicando como se eu fosse dele.

Não conseguia decifrar suas emoções; ódio ou desejo? Talvez ambos, embora não conseguisse acreditar que Asen sentia algo por mim além da vontade imensa de me matar.

Eu não posso julgá-lo, também me sinto assim em relação a ele. E não será um beijo — um beijo muito gostoso por sinal — que vai mudar isso. Mesmo que minha mente insista em lembrar das palavras de Dominic ao afirmar com tanta convicção que o loiro possuía sentimentos por mim.

Por que diabos eu não consigo esquecer essa merda? Eu só posso estar doente, é a única razão que explica a forma com que meu corpo reagiu ao mesmo. Ele tentou te matar, sua estúpida!

Precisava me manter longe dele, precisava fingir que sua pessoa não existe, precisava simplesmente esquecê-lo de uma vez por toda e toda essa merda na qual me envolveu.

Ele precisa sumir da minha cabeça, da minha vida.

Minutos depois, desci as escadas correndo, seguindo para a cozinha onde havia deixando o macarrão com queijo no forno. Disse a minha mãe que teríamos visitas e pedi para que ligasse para meu pai, cuidei de todo o resto.

— Como anda o jantar? —  Perguntou ao entrar na cozinha.

— Está quase pronto — Informei, colocando o macarrão sobre o balcão antes de pôr o segundo prato no forno.

— Me fale mais sobre essa sua visita surpresa — Pediu, me olhando curiosa.

— Não posso falar, tem que conhecê-lo primeiro. — Dei de ombros, me livrando das luvas antes de verificar se a torta de maçã já estava fria.

— Então é um garoto? Seu namorado, Hazel? — Semicerrou os olhos.

— Claro que não! — Exclamei rindo — Mas, acho que é uma pessoa importante para mim.

Antes da mesma responder, a campainha tocou, e a vi suspirar antes de ir até a porta e voltar minutos depois com meu pai em seu encalço.

— Oi, pai — Falei, enquanto levava a torta até a mesa.

— Oi — Sorriu — Então, posso saber o porquê da surpresa repentina?

— Ela não quer abrir a boca — Minha mãe resmungou, e revirei os olhos.

— Vocês precisam aprender o conceito de surpresa — Ironizei, vendo minha mãe arquear uma sobrancelha, e meu pai apenas revirou os olhos.

— Espero não me arrepender disso — Meu pai murmurou, e minha mãe assentiu em concordância.

— Não vão, acredite.

[...]

Depois de subir para o quarto para tomar um banho e me vestir, foi só o tempo de descer as escadas para a campainha tocar, me deixando ainda mais ansiosa antes de correr até a porta. Olhei por cima do ombro, encontrando meus pais sentados um em cada sofá, me olhando com uma expressão curiosa.

— Estão prontos?

Eles aseentiram, querendo acabar logo com aquilo, e sorri, me virando para a porta. Abri a mesma e encontrei uma Lana de braços cruzados olhando para Richard, que parecia querer se fundir com a parede ao lado da porta. 

— O que foi? — Sussurrei.

— Ele está mais nervoso do que antes. — Lana respondeu olhando o garoto.

— Richard, está tudo bem? — Perguntei, indo até ele.

— E se... e se eles não gostarem de mim? Se eu não for o que eles esperam? — Massageou as têmporas, parecendo a um passo de surtar.

— Acredite em mim, eles vão amar você — Segurei em sua mão, o trazendo para dentro de casa a passos lentos.

Lana nos seguiu, fechando a porta atrás de si antes de parar ao meu lado, enquanto eu apertava a mão de Richard, encarando meus pais que logo ficaram de pé.

— Mãe, pai... esse é Richard — Meus pais o encararam — Vocês o conhecem por outro nome — Engoli em seco — Andrew.

Meu pai ergueu as sobrancelhas, e minha mãe arregalou os olhos, conforme minhas palavras faziam efeito em suas cabeças.

— Hazel, do que está falando? — Mamãe surrurou.

— Meu irmão está vivo, mãe — Deixei as palavras escaparem — Richard e Andrew são a mesma pessoa.

Ela negou com a cabeça, enquanto meu pai parecia ter entrado em estado de transe, provavelmente ainda tentando assimilar. Eu não o culpo, de modo algum. Minha mãe se moveu então, começando a se aproximar, e vi seus olhos encararem o rosto de Richard.

— Isso não é possível — Disse, olhando para mim agora — Não tem como...

— Sou eu, seu filho — Richard, para a minha surpresa, se pronunciou — Olhe para mim.

Minha mãe o fez, engolindo em seco ao fitar meu irmão, os olhos começando a brilharem em lágrimas. Ela inspirou, expirou, e parecia fazer isso constantemente enquanto se aproximava completamente de Richard, erguendo as mãos para tocar o rosto de seu filho.

Ela piscou, abrindo a boca quando as lágrimas escorreram por seu rosto, e me afastei deles quando a mesma arregalou os olhos, reconhecimento tomando sua expressão.

— Filho? — Murmurou baixo — É você mesmo?

— Sou eu... Andrew.

Meu peito acelerou quando minha mãe o puxou para um abraço apertado, nos pegando de surpresa, e mordi os lábios para segurar o choro quando ouvi seu soluço escapar, ao passo que ela o apertava em seus braços. Ela sorriu, e riu, e não parava de chorar enquanto meu irmão apenas a apertava, fechando os olhos ao sentir pela primeira vez a sensação de estar nos braços de sua mãe biológica.

Olhei para meu pai, encontrando o mesmo ainda petrificado, os olhos marejados, a expressão de assombro enquanto encarava a cena adiante, desacreditado.

— Pai, está tudo bem?

— Como isso é possível? — Perguntou, mais para si do que para qualquer outra pessoa.

— Will — Mamãe o chamou — Venha aqui — Hesitantemente, ele o fez — Olhe para ele, você não reconhece?

Olhando-os agora, pai e filho lado a lado, não tinha palavras para descrever o quão parecidos eles eram. Como se Richard fosse sua versão adolescente, não havia prova maior do que esta — porque era como se meu irmão estivesse diante de seu reflexo.

Meu pai o encarou, os olhos brilhando, e não havia dúvidas de que ele sabia a verdade, de que ele reconhecia seu próprio filho.

— Ah, meu Deus — Arquejou, puxando meu irmão para um abraço.

Não contive o sorriso, ou as lágrimas quando estas vieram, e olhei para Lana apenas para confirmar que ela estava tão emocionada quanto eu. As coisas estavam como deveriam estar há dezesseis anos atrás.

Richard estava em casa agora.

[...]

Horas depois estávamos na sala de jantar, enquanto eu ouvia Richard terminar de contar toda a história que havia me contado. Não pude deixar de notar a expressão um tanto severa do meu pai ao saber que meu irmão havia sido criado por sua sequestradora.

Que aquela enfermeira não tirou apenas um filho deles, mas uma vida inteira.

— Não sabe o quanto foi duro saber que perdemos você — Minha mãe confessou, olhando para o garoto ao seu lado, entre ela e meu pai na ponta da mesa — E não sabe o quanto estou feliz em saber que não o perdi.

Ele sorriu, sendo acompanhado por ela.

— Onde está morando agora? — Papai quis saber.

— Em uma pensão no centro da cidade. Fiquei lá por semanas, procurando respostas. Até encontrar a Hazel.

— Por que não veio diretamente até nós? — Mamãe indagou, confusa.

— É, por que me seguir como um stalker? — Acrescentei, sarcástica, arrancando uma risada de Lana ao meu lado.

Richard também riu, antes de respirar fundo e voltar a atenção para minha mãe.

— Fiquei com medo de não acreditarem, de achar que era apenas uma brincadeira de mau gosto. — Deu de ombros, suspirando.

— Um pai reconhece um filho quando o vê, não importa quanto tempo passe — Foi meu pai que se pronunciou dessa vez, e minha assentiu — Talvez eu duvidasse um pouco pelo seu sotaque britânico, mas...

Rimos, e revirei os olhos para meu pai.

— Então... que tal resolvermos uma questão importante agora? — Sugeri, e meu pai arqueou a sobrancelha.

— Que questão? — Meu pai inquiriu, tomando um gole do suco.

— Onde o Richard vai ficar?

Richard piscou, me olhando surpreso, não achava que eu tocaria no assunto tão rápido, mas, pra quê esperar mais, não é?

— Bem, por mim, você pode ficar na casa da sua mãe. Tem um quarto sobrando e como eu sempre venho aqui, não há problema algum. Não quero meus gêmeos separados.

Sorri para meu pai, feliz com sua sugestão.

— Richard? — Nossa mãe o olhou — O que acha?

— Vocês querem mesmo que eu more aqui?

— Deveria estar aqui desde o seu nascimento — Mamãe confirmou.

A campainha tocou então, interrompendo o momento, e suspirei ao me levantar.

— Eu vou ver quem é.

Os deixei decidindo a questão e caminhei até a porta, tomando um susto ao abrir e encontrar Asen do lado de fora; sequer tive tempo de questionar sua visita antes do mesmo me puxar em um reflexo rápido para a varanda, fechando a porta em seguida.

— Ficou maluco? — Disparei, o empurrando — O que está fazendo aqui? — Ele bufou, revirando os olhos antes de me arrastar para o quintal da casa.

— Por que não me atendeu? — Perguntou assim que paramos atrás da casa.

— Você ligou? — O olhei desinteressada.

— Dominic reuniu o clã e está vindo até mim, terei que ir embora para ele não te achar, então é melhor não ficar perambulando por aí sozinha se não quiser ser sugada como uma caixinha de suco.

Ironizou a última frase, mas não consegui prestar atenção depois de uma palavra específica.

— Embora? — Franzi o cenho.

— Você deixou claro que não quer estar nisso e eu deixei claro que...

— Que devia ter me matado quando teve a chance?

Cuspi, sorrindo som escárnio.

— É — Confirmou, e o fuzilei — Vou deixar a cidade, assim você terá a tão desejada paz.

Revirou os olhos e o encarei.

— O que te faz pensar que eles não virão atrás de mim?

Troquei o peso para a outra perna, cruzando os braços ao fitar sua expressão indecifrável.

— Só te querem porque está comigo, se eu for embora, vai estar segura — Não havia tanta convicção em suas palavras, era como se ele esperasse estar certo.

— Você não precisa ir — Deixei escapar, e me amaldicoei imediatamente por tê-lo feito.

Por que não estou feliz com isso? Não era o que eu queria?

— Eu devo.

— Você vai voltar?

— Não.

Assenti, desviando o olhar para o chão, e senti Asen se afastar lentamente. Ergui o olhar para ele, e o vi cessar os passos, parando como se algo o impedisse de ir embora. Franzi o cenho quando ela me olhou por cima do ombro, e abri a boca para falar quando o mesmo quebrou a distância entre nós, e fui surpreendida quando senti suas mãos em meu rosto e seus lábios nos meus.

Fechei os olhos de imediato, sentindo a suavidade de seu beijo, quase como um sopro, tão diferente da primeira vez que o fez. Dessa vez, não durou muito.

Nos separamos, mas eu não abri os olhos. Asen colou sua boca em minha testa, e senti suas mãos se afastarem da minha pele.

— Adeus, Allen — Sussurrou.

— Asen — O chamei, mas ao abrir os olhos, ele já não estava mais ali.

Ele se foi.

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