Antes do Pôr do Sol • jjk + p...

By thatsadaydream

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Jeon Jungkook sempre gostou de ter controle sobre sua vida, nunca se permitindo sair de sua zona de conforto... More

[01] Alvorecer
[02] Eta Carinae
[03] Garoa
[04] Tempestade
[05] Incandescência
[06] Explosão
[07] Lua cheia
[08] Imersão
[09] Meia noite
[10] Florescer
[11] Tornado
[12] Estrela Cadente
[13] Lua Nova
[14] Relâmpago
[15] Cosmos
[16] Caos
[17] Folha de acanto
[18] Ardor
[19] Verão
[20] Euforia
[21] Poeira Cósmica
[22] Lua Crescente
[24] Busan
[25] Ruptura
[26] Antes do Pôr do Sol
[27] Espinhos
[28] Perspectivas
[29] Castelo de Areia
[30] Controle
[31] Amor
[00] Era uma vez...
[00]² Personagens
[32] Silêncio

[23] Rosas amarelas

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By thatsadaydream

Curtam e comentem muito! 

#MinhaEtaCarinae

📷

Houve uma vez, não muito depois que começamos a namorar, que eu estava na casa de Daeshin. Estávamos sozinhos, o que nos garantia uma liberdade maior para rir alto e arriscarmos toques ousados em cômodos diversos.

- Sabia que eu te amo demais?

Foi isso que ele me disse quando estávamos deitados em sua cama, abraçados. Olhei para o seu rosto sempre bonito e sorri, um pouco envergonhado. Daeshin era meu primeiro namorado, então sempre que me falava sobre seus sentimentos, eu ficava desconcertado, porque era algo novo.

- Eu te amo também.

- Muito?

- Muito mesmo.

O que era completamente verdade. Eu estava completamente apaixonado por Daeshin e não conseguia me imaginar longe dele. Sorrimos um para o outro, voltamos a nos beijar e eu me senti o homem mais feliz do mundo.

Eu acho que esse foi um dos melhores dias que tivemos juntos. Apenas nós dois, sem a interferência de problemas externos ou situações que o faziam ficar irritado comigo.

No começo, o problema de Daeshin sempre pareceu ser quando estávamos na frente dos outros. Era quando ele se transformava: seus trejeitos pareciam ensaiados seguidos de críticas sussurradas no meu ouvido (e um tempo depois eram ditas em um tom mais alto). Então, eventualmente, esses momentos começaram a mudar.

Daeshin começou a agir de uma maneira estranha quando estávamos sozinhos. Eu achava que a bolha que existia quando era só nós impedia que esse seu lado aflorasse, já que não havia nenhuma interferência externa que poderia o estressar. Porém, eu estava enganado.

Ele começou criticando, de maneira polida (quase como se fosse um conselho), as roupas que eu queria usar, tanto que eram justas demais ou que eram apagadas e não me valorizavam. Sempre havia essa contradição irritante: Daeshin achava que eu era muito ousado em algumas coisas e por isso discutia comigo, mas achava que eu era muito sem graça para outras. Nunca o entendi.

Mesmo que não o entendesse, comecei a me sentir mal.

Mas, olhando para trás, é ilusão minha achar que ele simplesmente mudou. Pensar que antes era o namorado perfeito e começou a ser controlador e possessivo. Não, ele sempre foi assim, eu apenas não via.

Às vezes fico pensando que nunca conheci Daeshin de verdade. Que, mesmo depois de dois anos de namoro, ainda usava máscaras perto de mim. Eu acho que nunca soube quem ele verdadeiramente era.

E não quero descobrir.

- Você está falando sério?

Sua voz me faz voltar ao presente, observando como seus traços são ainda mais bonitos do que nas minhas lembranças boas. Daeshin é um homem atraente, seus cabelos escuros contrastam com sua pele clara e bem cuidada. Porém, o que mais chama atenção são os seus olhos: escuros, redondos e intensos.

Mas nada disso me afeta mais.

- Eu não confio em você. - é o que respondo, completamente sincero. - E provavelmente estou sendo muito idiota, porque estou te dando um voto de confiança nesse momento.

- Ainda não entendi onde quer chegar. Para o que precisa da minha ajuda?

- Meus pais confiam em você. Meu pai, especificamente. Eu sei que você pode conseguir algumas coisas dele.

- Tá, não estou dizendo que não vou te ajudar... Mas por que eu faria isso? Que eu saiba você me odeia e quer que eu suma da sua vida. Aliás, me disse isso algumas vezes.

- Daeshin, eu poderia te dizer várias razões para que você me ajude.

- Quais, por exemplo?

- Poderia falar que me deve isso, já que foi babaca e me traiu. Talvez alivie o carma cósmico que possui. Mas não sei se são motivos convincentes o suficiente, então o que posso dizer é que vai da sua consciência. Se decidir correr e contar para meus pais, posso garantir que nunca mais vou falar com você.

- Parece uma ameaça. E você pensa muito mal de mim.

- Não é uma ameaça, mas um aviso. E sim, eu penso muito mal de você.

- Tá, sem difamação. As coisas que contei para eles foram porque me perguntaram... Tirando quando contei sobre nosso término. Ali eu estava com raiva.

- O que foi extremamente babaca.

- Para o que quer minha ajuda afinal? - ele ignora minha fala, olhando-me seriamente.

- Como eu disse, meus pais confiam em você e, por isso, quero que tente arrancar algumas informações sobre Jimin.

- Tirar informações dos seus pais sobre Jimin? - ele não parece acreditar no que digo e solta uma risada fraca. - O que seus pais podem ter sobre Park Jimin, meu deus do céu?

- É isso que estou tentando descobrir. Sei que, se insistir e agir do seu jeito manipulador, vai conseguir respostas.

- Eu não gosto de Jimin. Era óbvio como ele dava em cima de você quando estávamos juntos e agora... Vocês estão se pegando, não estão? Eu não estava errado.

- O problema nunca foi esse. As pessoas davam em cima de mim da mesma maneira como davam em cima de você. A grande questão era que não confiava em mim, sendo que era você que me traía.

- Era difícil não ficar enciumado quando vocês dividiam o mesmo quarto.

- Daeshin... - imitando a mania de Jimin, passo as mãos em meus cabelos, tendo as lembranças do começo do ano vívidas dentro de mim.

Uma parte minha tem vontade de rir de suas palavras, até mesmo contar alguma vantagem inexistente só para deixá-lo irritado, como dizer que olhava para Jimin com olhos interessados, mas é mentira. E não consigo ser falso quando digo:

- Eu nunca olhei para Jimin com outras intenções enquanto namorávamos. Estava estranho com você porque o nosso relacionamento já estava uma merda. Você tinha que confiar em mim, mas não confiou.

- Eu não consigo confiar em ninguém, Jungkook. É esse o problema.

Ele parece sincero nas suas palavras, sincero como nunca foi em dois anos de namoro. É estranho ver Daeshin dessa forma, quase de maneira real. Agora, eu não estou apaixonado e iludido, nem ele parece querer usar máscaras.

Somos apenas nós mesmos.

- Você vai me ajudar?

Embora tente transmitir firmeza, eu sinto medo de Daeshin simplesmente dar as costas para mim e correr contar para meus pais o que estou tentando fazer. Há chances e sei que estou sendo idiota em confiar nele minimamente, mas preciso tentar alguma coisa. Não posso subestimar meus pais.

- Não sei se seu pai me dirá algo.

- Eu acho que sim. Vocês se dão bem, sempre conversaram muito. Acho que vai gostar de ter você ao lado dele nessa situação.

Daeshin me olha sem dizer nada, como se lesse minha alma. Apenas ficamos nos encarando, até que suspira e assente.

- Tudo bem, eu topo ajudar.

- Mesmo? - minha voz demonstra minha surpresa, porque não achei que Daeshin cederia. Pelo menos não tão facilmente.

- Sim.

- Certo. - falo, sentindo um alívio absurdo. - O que eu preciso de você agora é que sonde meu pai, tente chegar ao assunto e vamos ver no que dá.

- Farei isso. Você vai nos jogos de verão, certo?

- Sim, Namjoon me chamou. Você também vai.

- Não pareceu uma pergunta.

- Yoongi me contou que Soojin te chamou. Você e Taeyang.

- Vocês realmente se odeiam, não? - um sorriso divertido surge em seus lábios, o que me faz revirar os olhos. - Não estou julgando, mas acho engraçado, porque já se pegaram.

- Taeyang me irrita, assim como você. Mas uma parte minha tem que agradecer porque foi com ele que descobri que você tinha me traído.

- Não está mais aqui quem disse! - ele levanta os braços e continua: - Nos jogos, eu te trago novidades então.

Daeshin não me espera dizer nada, vira suas costas e volta para a mesa com seus amigos. Aliviado por ter topado, sorrio pequeno e volto para a minha mesa, vendo como o olhar dos presentes fixam-se no meu rosto, agora com a adição de Han, que diz:

- É impressão minha ou você está sorrindo após conversar com Daeshin?

Observo o olhar incrédulo que me lança, assim como o olhar confuso de Jimin e percebo o que a situação parece.

- Meu deus, claro que não! Meu deus...

- O que estavam conversando, então?

Como sempre, Han é direto e até mesmo um pouco inconveniente, e, conforme sento no meu lugar, tento pensar em uma mentira convincente.

- Eu precisava da ajuda dele para uma coisa.

Não é uma boa resposta e isso se torna claro no franzir de sobrancelhas de Jimin, embora tente disfarçar quando volta a comer e desvia a atenção do meu rosto. Quando Han está se preparando para dizer algo, Namjoon me salva ao interrompê-lo:

- Bem, deixando um pouco de lado o drama da vida de vocês, vamos falar sobre a nossa viagem. - suspiro aliviado pela interrupção, focando minha atenção em Namjoon. - Vamos viajar na sexta da semana que vem, bem cedo.

- Você já passou nossos nomes aos professores, certo? Já quero meus pontos extras...

- Não, Han, ainda não passei, mas isso vai acontecer, confia. - Namjoon revira os olhos e recebe um tapa fraco de Han.

- Até quando vamos ficar? - Seung pergunta e me dou conta que foi convidado e aceitou.

Changmin talvez esteja, Taeyang também e agora Seung. Todos os caras que Jimin pegou vão estar lá, sério isso?

E por que isso me incomoda tanto? Estamos meio juntos, não? Combinamos de termos algo exclusivo, tenho que confiar nele...

- Até terça.

Então, Namjoon começa a contar alguns detalhes sobre o acampamento, mas é difícil prestar atenção quando Jimin está calado, diferente do usual. Seus olhos não se encontram com os meus em momento algum, o que não gosto.

- Você tem falado com Hoseok?

Tento parecer casual no meu tom, não demonstrando que não falo com meu melhor amigo há um tempo. Han me perguntou algumas vezes sobre Hobi nos últimos dias, mas fui vago e comentei que ele estava com muitos afazeres e por isso afastado de nós.

Não sei se fui convincente com Han, mas ele não pareceu perceber que estou mentindo. Agora, Namjoon também não parece notar meu tom curioso e quase desesperado e responde:

- Ah, ele anda bem na dele. Disse que está muito atarefado.

Por Namjoon e Hoseok dividirem quarto, ele era minha esperança de ter alguma informação concreta de como meu amigo está, mas continuo no escuro. Não continuo a conversa e Han começa a contar sobre uma matéria que temos, o que ocupa os minutos seguintes.

Ao final do jantar, quando espero que Jimin me acompanhe até nosso quarto, sou surpreendido pela sua fala:

- Eu e Seung vamos revisar alguns passos.

É, o dia não está terminando bem.

Tento esconder minha insatisfação, me despedindo de todos e indo sozinho até o quarto, meus pensamentos frenéticos. Não é porque resolvemos nos dar uma chance que magicamente começamos a nos entender cem por cento. Acho que nunca entendemos uma pessoa por completo.

Estar sozinho em nosso quarto sabendo que Jimin está com Seung me faz pensar em meses atrás, quando isso sempre acontecia. Os dois ficavam ensaiando (e fazendo sabe-se lá o que mais) e eu conseguia ouvir quando Jimin chegava em nosso quarto, às vezes de madrugada.

Ter descoberto que Jimin cobra pelas aulas que dá fez com que eu entendesse melhor a dinâmica entre eles. Porém, ainda fico incomodado ao saber que passam tanto tempo juntos, porque meu colega de quarto não parece ter questionado Seung sobre os sentimentos que com certeza sente.

E não gosto disso.

Dessa vez não ouço Jimin chegando de madrugada, dormindo rápido assim que deito na cama. Acordo com a esperança de conseguir conversar com ele, mas não está no quarto e fico frustrado.

Nosso desencontro se estende ao longo do dia, não almoçamos juntos e não faço ideia do que está pensando. Não entendo sua atitude e é isso que martela na minha cabeça quando estou na lanchonete, comprando um café.

Mas meus pensamentos mudam de rumo quando meus olhos notam Jae se aproximando de mim, os passos lentos e expressão séria demonstrando sua cautela. Não nos falamos desde a festa de Go-eun e não sei o que podemos conversar.

- Jungkook.

- Admito que não sei bem o que te dizer. - confesso, pegando meu café.

- Nem eu. - ele solta uma risada fraca, incomodada. Depois de mais alguns segundos calados e seu olhar intenso sobre mim, Jae fala: - Jungkook, eu... Eu quero te falar algumas coisas.

- Pode falar.

- Eu... - então seu olhar desvia do meu e ele observa a lanchonete, como se evitasse contato visual comigo. Só depois de alguns segundos desconfortáveis é que seu olhar novamente volta para mim e completa: - Eu realmente gosto de Hoseok. Tipo, gosto mesmo.

- Jae, eu... - aproveito para beber meu café enquanto penso no que falar. - Eu não fazia ideia. Juro, nunca passou pela minha cabeça que vocês tivessem algo.

- Eu sei, sempre tentamos ser cautelosos...

- Mas, sabendo disso agora, foi o que disse naquele dia. Houveram sinais que eu não notei e não acho que nenhum de nós percebeu... E esse é o problema, Jae. Taehyung não percebeu, não sabe de nada disso. Isso é errado.

- Porra, eu sei disso. - sua voz não é brava, mas sim como se estivesse frustrado consigo mesmo. - Eu posso não ser melhor amigo de Taehyung, mas conheço ele há uns bons anos, estudamos juntos. Ele sempre foi de boa comigo e... Não merece isso, eu sei. Mas...

Jae aproxima seu corpo do meu, como se estivesse para contar um segredo e, com a voz mais baixa, diz:

- Desde que pedi ajuda de Hoseok, no começo do ano, eu comecei a sentir algo estranho por ele...

- Você não precisa se justificar para mim.

- Eu sei, mas seu olhar julgador incomoda demais.

- Não sei como te olhar, Jae! - disparo, um pouco mais alto. Então, com um suspiro e tentando controlar meu nervosismo, digo: - Vamos sair daqui.

Ele me segue sem dizer nada e não tenho um rumo específico, apenas caminho pelas ruas do campus observando o sol iluminando todo o ambiente. Jae fica em silêncio, como se esperasse que eu completasse minha ideia e por isso digo:

- Essas coisas de traição... Eu acho tão errado... Eu já fui traído e doeu muito. Não consigo olhar para essa situação sem esse olhar.

- Eu sei disso... Mas, se ajuda, não está falando de pessoas que não conhece ou que são babacas. - então, com uma risada fraca incrédula, continua: - Tá, eu sei que sou meio babaca às vezes, mas estamos falando de Hobi e sabe como ele é... Não somos o idiota do seu ex namorado, sabe?

- Mas o que vocês fizeram é babaca, Jae. Eu sei que Hobi e Tae não estão namorando, mas estão juntos e... E eu achei que eles fossem um "casal perfeito". - confesso, balançando a cabeça.

- Como assim?

Um pouco envergonhado, desvio meu olhar do seu e digo:

- Eu acredito no amor. Sempre acreditei e ainda acredito. Depois do fim que meu namoro teve, eu comecei a admirar a relação de Hoseok e Taehyung, porque eles pareciam ter tudo o que eu sempre quis ter em um namoro.

Então, paro de caminhar, forçando-me a olhar para seu rosto. Mesmo que falar sobre minhas expectativas amorosas frustradas me deixe envergonhado e até mesmo desanimado, continuo:

- Por isso, ter esse choque de realidade, de que o namoro dos dois não é o que sempre pensei... É como uma criança quando descobre que papai noel não existe. A magia simplesmente acabou.

- Isso não quer dizer que eles não se gostam.

- Eu tenho certeza de que Hoseok gosta de Taehyung... Mas o amor deveria ser assim?

- Assim como?

- Desonesto. Até mesmo maldoso, se parar para pensar... Quanto mais tento acreditar no amor, mais a vida me dá motivos para desacreditar.

- Você e Jimin não estão juntos? - Jae questiona, franzindo o rosto bonito. - Seu discurso é de alguém que está sofrendo uma desilusão amorosa.

- Acho que sim, sei lá... - dou de ombros, porque é verdade. - Não tenho certeza de nada quando se trata de Jimin, apenas do que sinto por ele.

- Eu me sinto assim com Hobi. - compartilhamos um sorriso triste. - Agora eu entendo melhor o porquê você olha desse jeito julgador para mim... Desculpa se te ofendi.

- Não ofendeu, Jae. Eu sei que posso ser muito chato quando quero.

- Ei, de boa. Eu entendo seu lado, mesmo que nunca tenha idealizado o amor dessa forma. Eu nunca pensei muito no amor, saca? Nunca imaginei como seria quando me apaixonasse e essas coisas... Apenas não me importava, até conhecer Hoseok.

- Você está mesmo apaixonado por ele?

- Por que a surpresa?

- É que até pouco tempo atrás eu te via como um cara sem compromisso que gosta de pegar todo mundo. Que até mesmo dava em cima de mim.

- Eu fiquei com alguns caras nesse meio tempo justamente para mostrar para mim mesmo que não estou apaixonado. E não sei se a palavra seria essa, apenas sei que gosto pra caralho dele. - então, com um sorriso fala: - E eu dava em cima de você porque é muito bonito.

- Então se eu topasse ficar com você teria ficado comigo?

Com uma risada fraca, Jae nega.

- Não, Jungkook. Não ficaria com o melhor amigo do cara por quem tenho sentimentos estranhos, mesmo que você seja ridículo de bonito.

- Obrigado, eu acho... E foi por isso se afastou quando te beijei na festa. - repito o que disse naquele dia, vendo Jae assentir.

- Sim, mesmo que a ideia de deixar Jimin irritado me deixasse um pouco feliz, não faria isso com Hoseok.

- Naquele dia, Jimin comentou que vocês conversaram. - lembro de suas palavras após me ver beijando Jae, em como ficou irritado. - Como foi essa conversa?

- Jimin demorou muito para conversar comigo e, quando topou, foi difícil. Trocamos farpas o tempo todo e quase saímos no soco algumas vezes. Mas aí eu mostrei uma foto daquela tela que estava pintando... Lembra dela?

- Onde representou cada um de nós com desenhos.

Resgato a memória de quando Jae me levou para conhecer a tela que estava trabalhando, no começo do semestre.

- Sim, eu representei Jimin com uma sombra dançando, porque Jimin dança pra caralho, você sabe disso. Expliquei para ele o significado e que meu intuito ao fazer aquela tela era resolver nosso passado, porque estou de saco cheio daquilo.

- E o que Jimin disse?

- Ele ficou uns dois minutos em silêncio, então começou a rir e disse que eu era muito brega. Ali eu soube que estávamos bem.

- Então eu te beijei e estraguei essa futura amizade.

- Sim.

- Não tenta nem dizer "não foi sua culpa, Jungkook"? Para eu me sentir menos mal...

- De certa forma, foi sua culpa já que me beijou do nada, mas estava drogado, bebê. Eu sei que isso muda nossa cabeça pra porra, então entendo que estava fora de si.

- Ajudou. - um sorriso pequeno surge em meus lábios e toco delicadamente o braço de Jae, atraindo seu olhar curioso. - Eu gosto de você. Só... Só fico confuso em como agir no meio dessa confusão toda. Não é como se pudesse compartilhar com alguém e pedir conselhos.

- Eu me sinto sozinho nessa também. Assim como Hoseok se sente. Que merda que colocamos você no meio disso. - então, Jae leva minha mão até seus lábios e deixa um beijo suave.

- Amigos não servem apenas para nos proporcionar momentos bons, não é?

Com uma risada, fala:

- Infelizmente.

É curioso como passar esse tempo com Jae, realmente conversando, me faz olhar para ele com um olhar mais real e cru. É como se eu entendesse mais sobre quem ele é, sem máscaras.

Mas a pessoa que eu gostaria de entender permanece sendo um mistério para mim.

Novamente não encontro com Jimin no refeitório e tenho certeza que há algo de muito errado. Antes do jantar ontem à noite, estávamos bem. Alguma coisa o deixou irritado comigo, mas não sei o que pode ser.

Para meu nervosismo e alívio, Jimin está em nosso quarto quando termino de jantar e a primeiro coisa que digo assim que entro é:

- Qual o problema?

- Que?

Jimin não olha para mim, sentado em sua cama confortavelmente enquanto mexe em seu celular. Com uma risada incrédula, digo:

- Jimin, você está estranho desde ontem. Nem olhou na minha cara. O que aconteceu?

- Não é nada.

- Para com isso. - peço, sentando na minha cama. Então, tento mais uma vez: - O que aconteceu?

Com um suspiro, Jimin deixa seu celular de lado e senta em sua cama, de frente para mim. Ficamos nos olhando e é a primeira vez desde ontem que coloco meu olhos nele, já que vem fugindo de mim.

- Eu... Não é nada demais, eu só estou pensando em algumas coisas. Prefiro me afastar quando estou assim do que falar merda.

- Tipo quais?

- Tá, é que... - claramente incomodado, característica que não é presente nos trejeitos de Jimin, ele completa: - Ontem, eu me senti estranho ao ver você falando com Daeshin.

- Estranho como?

- Sei lá. - dá de ombros, parecendo envergonhado. - Talvez seja ciúmes... Não costumo sentir ciúmes das pessoas, então é um sentimento estranho para mim.

- Mas sentiu ciúmes de Daeshin? Tipo, sabe que eu nunca teria algo com ele de novo...

O olhar estranho de Jimin me faz pensar se não é justamente isso que ele pensa...

- Espera, você acha que vou voltar com Daeshin?

- Não é isso... - então, com um sorriso nervoso, continua: - Tá, é um pouco isso sim... É que vocês dois combinam, sabe? Ele é um cara influente, seus pais gostam dele, então...

Incrédulo, fico alguns segundos calado, apenas olhando para o rosto ridiculamente bonito de Jimin, mas que agora me causa irritação.

Ele realmente acha que eu voltaria com Daeshin?

O sentimento de descrença é forte em mim, mas me sinto ultrajado também. Porque questionar, por um segundo que seja, que eu poderia voltar com Daeshin me faz pensar na ideia que Jimin tem de mim.

- Jungkook? Fala alguma coisa, por favor. - Jimin me volta a realidade e reparo seu olhar pesaroso em minha direção.

- Você realmente acha que eu voltaria com Daeshin?

É o que consigo perguntar, minha voz séria não demonstrando minha irritação, apenas frieza.

Exatamente como minha mãe age nesse tipo de situação.

- Não é isso, é só que... Desculpa, eu não quis te ofender, é só que...

- Só que...?

- Como eu disse, vocês combinam, não?

- Acha que eu tenho algo a ver com Daeshin?

- Digo na questão financeira e social, Jungkook! Não de caráter...

- E você acha que isso é mais importante para mim do que o caráter então? Que status e dinheiro valem mais? Que, mesmo depois das traições e de ter me tratado daquela forma, eu voltaria com Daeshin?

Agora, não pareço mais minha mãe, porque minha voz embargada demonstra toda minha irritação. Ao mesmo tempo, me sinto triste ao pensar que é essa a ideia que Jimin tem, por isso continuo:

- Que ideia você tem de mim? Você viu como eu fiquei mal por conta de Daeshin, sabe como era nosso namoro... Você ponderar algo assim me faz pensar que não me conhece, Jimin.

- Ei, me perdoa.

Então, Jimin levanta da sua cama e vem até a minha, sentando ao meu lado. Não viro meu corpo para o seu, tentando controlar as lágrimas que querem sair dos meus olhos. Com a voz suave e arrependida, ele diz:

- Me desculpa, Jungkook, eu só falo merda... Eu sei que é ridículo da minha parte pensar isso, eu sei disso.

- Então por que pensou?

- Porque... - mesmo sem olhar para ele, vejo que passa as mãos nos cabelos, frustrado. - Porque eu fico inseguro quando se trata disso, Jungkook. Eu sei que você está níveis acima de mim, vi naquele dia quando fomos na exposição da sua amiga. Seus pais são chiques, as pessoas com quem anda... E não sou assim.

- Jimin. - então, viro meu corpo para o seu, encontrando seu olhar arrependido sobre mim. - Foda-se isso tudo, sério! Daeshin estava em um nível financeiro acima do meu e isso não o impediu de me tratar daquela forma.

- Eu sei, eu falei merda...

- Além disso, os pais dele são distantes. Dinheiro não significa uma família bem estruturada. Por isso, como pode pensar nisso, como pode pensar que eu voltaria com ele? Mesmo depois de tudo...

As lágrimas que tentei segurar saem, porque lembranças ruins do nosso namoro vem à tona em meu consciente. Se antes eu estava lembrando de um momento bom, agora a memória que me acomete é de uma das primeiras grandes brigas que tivemos.

Tínhamos marcado de sair com Hoseok e alguns amigos dele (amigos estes que conhecíamos da escola, já que eram todos da nossa turma). Assim que chegamos ao local, percebi que, entre esses amigos, estava Jihoon, um cara que já tinha demonstrado interesse por mim. Ele estava se descobrindo bissexual e tinha algumas conversas interessantes comigo sobre seus sentimentos, mas nunca passamos de amigos.

Mas, a partir do momento que Jihoon tinha dado em cima de mim, Daeshin já não gostava dele e não gostou nada de vê-lo entre os convidados de Hoseok.

Jihoon era simpático e muito falante, contando sobre as viagens que fez e puxando assunto com todos. Porém, de uma maneira passivo agressiva, Daeshin começou a debochar dos assuntos dele, contando vantagem em cima das viagens que Jihoon falava, tudo feito de forma completamente desagradável.

- O que Daeshin está fazendo? - foi o que Hobi me perguntou, baixo, para ninguém mais ouvir. Com um sorriso triste, falei:

- Ah, é o jeito dele.

Não sabia o que falar e meu amigo apenas me lançou um olhar sério, então contei os minutos para irmos embora. Depois desse dia, nunca mais Jihoon saiu com a gente ou conversou comigo.

Assim que pude, falei para irmos embora e o trajeto foi silencioso, um clima péssimo instalado entre nós. Apenas no momento em que entramos em meu quarto é que ele falou, visivelmente irritado:

- Que porra foi aquela, Jungkook?

- Eu quem te pergunto, Daeshin! Você rebateu tudo que Jihoon falava, sem necessidade alguma! Todo mundo ficou desconfortável...

- Eu não teria feito aquilo se ele não tivesse te olhando como se fosse pular em cima de você ou se você cortasse as investidas dele!

- Você acha que eu permiti algo? - questionei, descrente.

- Você estava todo sorridente para ele, sendo que sabe que ele quer te pegar... Porra, era só ter cortado.

- Eu não dei bola para ninguém, não fala isso...

- Ah, por favor. - Daeshin riu debochadamente, passando por mim e indo até a minha escrivaninha. Estava claramente irritado e, por um momento, fiquei com medo de jogar tudo que estava em cima da escrivaninha no chão.

Mas ele não fez isso, virou o corpo para mim e continuou:

- Você é ingênuo demais, não percebe quando as pessoas estão dando em cima de você. Ou percebe e se faz de sonso... Não sei realmente o que se passa na sua cabeça.

- Para com isso. - não sei se peço ou imploro, já chorando. - Eu não faço nada disso...

- Faz sim, Jungkook. Depois eu saio como chato, mas sério, você devia ver como ele estava te olhando... Como não notou?

Então, comecei a pensar se eu realmente não estava sendo sonso. Será que Daeshin não estava certo? Será que eu não notava como Jihoon falava comigo?

Mas, uma pequena parte minha bem no fundo da minha mente, não acreditava nisso.

- Daeshin, eu não acho que...

- Você já não disse que ele deu em cima de você?

- Sim, mas...

- Então, Jungkook! - Daeshin revira os olhos, rindo incredulamente. - Você me disse que ele está entendendo a sexualidade dele, certo? Provavelmente só quer te pegar para matar a vontade de ficar com um homem e pronto.

- Por que não acha que ele pode estar gostando de mim?

Não sei porque, mas tive vontade de perguntar isso. Não era a primeira vez que Daeshin sempre sugeria que as pessoas apenas queriam me pegar, nunca ter algo a mais comigo. E não que elas quisessem, mas era como se eu não tivesse capacidade de despertar algo além de atração em alguém.

Então, ele riu, balançando a cabeça.

- Sério? Jungkook... - ele deu alguns passos em minha direção, falando baixo. - Sabe que eu te amo, mas você é difícil de lidar. Não é todo mundo que teria essa paciência, ainda mais um cara como Jihoon, que está se entendendo agora como bi.

- Você sempre age como se eu não fosse suficiente.

Verbalizo meus pensamentos e sentimentos, então Daeshin me olha seriamente e diz:

- Para de falar merda, Jungkook.

Depois disso, Daeshin foi embora, deixando meu coração destroçado. Foi uma das primeiras brigas em que ele foi grosseiro comigo, demonstrando seu lado maldoso. Por alguns instantes, tive vontade de terminar com ele, mas não fiz isso.

No dia seguinte, com um sorriso arrependido e um buquê de rosas amarelas na mão, proferiu diversos pedidos de desculpas e palavras bonitas.

- Eu estava estressado, só queria te proteger... Me desculpa, meu amor.

Ele repetia derivados dessas palavras enquanto beijava meu rosto e abraçava meu corpo. Aceitei cada uma das desculpas que me deu, aceitando-o na minha vida.

- Eu comprei essas rosas amarelas, porque a moça disse que significa felicidade. E felicidade é a única coisa que quero te proporcionar.

Chorei com suas palavras bonitas, abraçando-a mais uma vez. Transamos naquele dia e sorri a todo momento, me sentindo o homem mais feliz do mundo. Depois que ele foi embora, procurei o significado das rosas amarelas, sorrindo ao ler diversas frases bonitas, assim como a que ele tinha me dito: "representa riqueza, felicidade e satisfação".

Porém, não foi só isso que encontrei.

As rosas amarelas, analisando mais profundamente seu significado, podem significar ciúme, desconfiança e infidelidade. Eu tenho certeza que Daeshin não sabia desse significado quando me presenteou com as rosas amarelas, mas uma parte minha, um tanto supersticiosa, ficou encucada naquele dia.

Significava que ele tinha desconfiança de mim ou que eu deveria ter dele?

Hoje, eu sei a resposta.

Porém, naquele dia, ignorei aquele sentimento estranho que se apossou do meu corpo, focando nas palavras que ele me disse. Nas desculpas, nas promessas de amor que colaram os pedaços do meu coração. Mas a cola era frágil e, não muito tempo depois, ele o quebrou mais uma vez.

Porque Daeshin é Daeshin, mesmo que eu tentasse, na época, a todo custo ter outra imagem dele. Ele era o cara que, com a mesma facilidade que me fazia rir e me beijava, dizia palavras maldosas que me desestabilizavam.

Daeshin é Daeshin.

Jimin não é Daeshin.

É o que tento dizer para mim, mas meu coração acelera ao pensar que posso estar apaixonado por uma pessoa parecida com meu ex namorado. E se ele for como Daeshin? Se me magoar como ele me magoou e quebrar meu coração da mesma forma?

Por isso, quando Jimin pede desculpas mais uma vez e estende a mão para tocar a minha, me afasto imediatamente. Seu olhar demonstra sua surpresa e chateação, mas não consigo ter outra reação.

- Gatinho...

- Não me chama assim. - é o que peço, levantando da cama e indo até a minha mochila. Coloco algumas roupas nela sob seu olhar curioso e perdido, que fala:

- O que você está fazendo?

- Não quero dormir aqui hoje.

Ele parece incrédulo, levantando também. Continuo colocando poucos pertences na mochila e ele diz:

- Espera aí, Jungkook... Se está magoado com o que falei, eu posso dormir em outro lugar.

- Eu vou.

É o que digo, percebendo como Jimin está magoado e me olha com descrença. Limpando as lágrimas secas em meus olhos, falo:

- Depois a gente conversa.

E não espero sua resposta, saindo do quarto.

Não mando nenhuma mensagem e observo o rosto surpreso de Jae quando abre a porta para mim. Vestindo uma bermuda e camiseta simples, seu rosto cansado evidencia seu sono.

- Jungkook. Conversamos hoje e já ficou com saudades de mim?

Acabo rindo fraco e entro no quarto, vendo Han sair do banheiro e me olhar surpreso.

- Jungkook! Está tudo bem?

Ele provavelmente pergunta pelo estado do meu rosto (que não deve ser dos melhores). Nego calmamente e pergunto:

- Posso dormir aqui hoje?

Embora Han seja o mestre em fazer perguntas, ele não as faz. Apenas assente, sorrindo e fraco e, depois de me trocar, deito ao seu lado na estreita cama, sentindo seus braços me envolverem delicadamente.

Jae também vai dormir e fico de olhos fechados, ouvindo a respiração dos dois e mordo meu lábio, evitando chorar.

Mas não evito chorar no banho durante a manhã do dia seguinte.

Não presto muita atenção nas aulas, pensando que foi uma má ideia tentar assisti-las. Por isso, assim que a aula acaba e estamos livres, convenço Han (com bastante esforço) de que não quero almoçar, ficando sozinho.

Com meu café em mãos, caminho até a arquibancada, observando o jogo de basquete que se desenrola na quadra. É completamente imerso em meus pensamentos que me mantenho, observando as risadas e expressões irritadas que os jogadores fazem ao acertar ou errar um lance. Seria fácil se a vida fosse tão objetiva assim: você acerta ou erra. Mas nem sempre as coisas são tão óbvias e simples...

- Posso me sentar ao seu lado?

Não deixo de ficar surpreso ao ouvir a voz rouca de Taehyung, encontrando sua expressão suave em seu rosto bonito. Assinto, sentindo meu coração apertar ao lembrar, mais uma vez, sobre Hoseok e Jae...

- Jimin me apresentou esse lugar. - Tae quebra o silêncio e fico observando seu rosto de perfil, o olhar focado na quadra. - Tipo, claro que já conhecia, mas foi ele quem me disse que vem aqui para pensar, muitas vezes... É como se fosse um refúgio.

- É, essa arquibancada tem boas histórias para contar.

Provavelmente Tae não entende a totalidade da minha fala, mas foi aqui que beijei Jimin pela primeira vez e que nos acertamos, resolvendo nos dar uma chance.

Parece um passado distante.

- Qual é o motivo de você precisar desse refúgio?

Podia ser Tae a perguntar, mas sou eu. Não sei se porque não consigo mais ficar em silêncio ou porque quero saber se ele sabe de algo, se falou com Hoseok. E é essa dúvida que ele me responde, quando diz:

- Hoseok pediu um tempo. Foi do nada... Disse que está confuso com algumas coisas que não me explicou e foi isso... Não falo com ele há uns dias.

Sua voz mostra sua chateação e tenho vontade de chorar, ao mesmo tempo de abraçá-lo e confortá-lo.

- Você falou com ele?

- Hobi me disse que precisa de um tempo sozinho. - é o que respondo e é verdade. - Não falei com ele também.

- Eu estou completamente apaixonado por Hoseok.

Suas palavras me lembram as de Jae ontem, então suspiro, me sentindo péssimo em estar nessa situação.

- Acho que desde quando conheci vocês naquele bar, minha cabeça ficou pensando nele, constantemente. Quando o vi novamente, percebi que era ainda mais bonito e radiante do que eu lembrava... Eu gosto tanto de conversar com ele. Hoseok não corta as brisas que eu tenho como algumas pessoas fazem... Mesmo que minhas palavras pareçam sem sentido, ele sempre me ouve pacientemente.

Seus olhos lacrimejam, mas ele não derrama nenhuma lágrima.

- Acho que ele se assustou comigo. Eu nunca escondi o que sinto, porque não consigo fazer isso, nem acho bom. Sempre deixei claro o quanto sentia por Hoseok, então devo ter afastado ele...

- Não é culpa sua. - as palavras me escapam.

- Sabe o mais curioso? É a mesma coisa que meu pai fez, não é? Ele também praticamente fugiu de mim, igual minha mãe faz às vezes... Acho que afasto as pessoas, em algum momento.

Taehyung já comentou sobre a relação distante que tem com seus pais, especialmente com seu pai. No momento em que contou, quando eu e Han o entrevistamos para um trabalho, foi nítida a tristeza ao falar do assunto.

Agora, ela parece ainda mais presente em seu rosto marcado por traços aparentemente simples, mas o fazem ser um dos homens mais bonitos que eu já vi.

- Eu também não tenho uma relação boa com meus pais. - confesso o que dificilmente falo em voz alta, mesmo que possa ser óbvio. - E muitas coisas ruins que acontecem me fazem pensar automaticamente neles, pensar nas ligações e influências que possuem na minha vida.

- Eu me sinto da mesma maneira. Parece que quase tudo de ruim que eu faço tem a ver com eles.

- Acho que a nossa infância é praticamente a base que vai moldar nossos traumas futuros, sabe? A maneira que vamos agir com a vida... Por isso é tão importante ter uma boa infância.

- Eu sinto que foi por conta do distanciamento dos meus pais que eu quis ser uma pessoa que demonstra facilmente. Acho que, por isso, que sempre tento deixar claro o que sinto, o que penso...

- Eu já faço o contrário. - confesso, rindo fraco. - Sinto que hoje eu expresso muito mais o que sinto, mas ainda não consigo ser honesto comigo mesmo sobre meus sentimentos. Eu ainda busco agradar as pessoas, sem perceber.

Daeshin nunca comentava sobre seus pais, sempre fugia quando eu tentava adentrar o assunto. Já os pais de Hobi sempre foram tão fofos que ele nunca reclamou dos dois. Então, não havia ninguém para conversar sobre os problemas em se ter pais distantes.

Por isso, conversar sobre esse tópico com Tae é estranho, me causando um desconforto misturado com alívio. Tentar algo novo incomoda, mas traz uma paz absurda quando se percebe como se sente bem em fazê-lo.

- Eu entendo você. - é o que Taehyung diz, como se pudesse ler meus pensamentos e descobrir que é isso que sempre quis ouvir. - Eu entendo como é ter pais estranhos, se assim posso colocar.

Acabo rindo da sua escolha de palavras, sentindo meus olhos molhados. Sorrimos um para o outro e digo:

- Eu espero que você se acerte com Hobi.

É verdade. Eu espero que eles se entendam, seja terminando ou superando essa situação. Claro que Tae não faz ideia da totalidade do que tento dizer, mas sorri, assentindo.

- Eu quero saber porque você procurou esse refúgio.

- Ah...

Por que eu procurei a arquibancada? Por que eu vim até aqui?

Então, em um impulso de sinceridade e exaustão, começo a falar:

- Para ser bem sincero, eu acho que me enganei. Eu pensava que, ao terminar com Daeshin, meus problemas com ele estariam resolvidos.

- Ele veio te encher o saco?

- Não, não é isso. Na verdade, ele me irrita por ainda manter contato com meus pais, mas a questão não é essa.

Tae não diz nada, como se esperasse o meu tempo para continuar. É difícil falar, então levo alguns segundos em silêncio para dizer:

- Eu sempre fui inseguro, desde sempre. Mas... Depois que começamos a namorar, essas inseguranças foram potencializadas. Só que... Eu imaginava que, depois de terminar, as coisas se resolveriam, entende? Pensei que não fosse existir nenhuma sequela... Eu achei que estaria cem por cento bem, pronto para me apaixonar de novo...

- Eu lembro que você ficou estranho logo que terminou. Não saía com a gente, parecia sempre aéreo.

- Sim, eu tive esse momento de "que merda eu faço da minha vida?". Não sabia como viver sem Daeshin, não porque ainda o amava ou algo assim, mas sim porque me acostumei com a vida que tinha. Só que depois de beijar alguns caras, depois de me apaixonar por Jimin...

Nunca falei sobre meus sentimentos por Jimin com Taehyung. Ele, com certeza, ouviu Seokjin desabafar seus sentimentos por mim e a decepção com Jimin. Mas ainda não ouviu o outro lado da história, então confesso:

- Eu demorei para perceber que sentia algo por Jimin, mas quando me toquei... Foi assustador. Somos muito diferentes e fiquei com medo. Mas, depois de vários altos e baixos, aceitei que estou apaixonado por ele. Eu confessei que para Jimin o que sinto.

- E como vocês estão agora?

- Tínhamos combinado de tentarmos. Ele disse que sente algo por mim e nos demos uma chance. Mas eu aceitei tudo isso porque imaginei que estava com meu coração aberto para essa situação...

- Mas não está.

- Não. Sequelas do meu namoro com Daeshin existem, mas nunca as notei como agora. Com certeza têm várias que não percebi ainda...

Controlo minhas lágrimas, que insistem em sair. Respiro fundo, focando minha atenção no rosto de Tae, continuo:

- Eu tenho medo de Jimin ser parecido com Daeshin, de estar me apaixonando por outro cara babaca. Tenho medo de tolerar algumas atitudes de Jimin e estar repetindo os erros que cometi. Qual o limite entre amor, abuso e cuidado? Como eu sei que não estou com um cara abusivo como Daeshin?

Só quando termino de falar percebo que estou sem fôlego, as lágrimas escorrem pelas minhas bochechas e não consigo mais segurá-las. Porém, é como se ainda existisse mais palavras entaladas na minha garganta, então volto a dizer:

- Eu sinto ciúmes de Jimin com outros caras. Sinto ciúmes de Taeyang, de Seung... E não gosto disso! Eu sei o que é estar com alguém que sente ciúmes de todo mundo, que joga as próprias inseguranças em cima de você, porque Daeshin fazia isso comigo, então não quero fazer isso com Jimin. Mas, ao mesmo tempo, eu sei como é se sentir insuficiente, porque me sinto assim a maior parte do tempo. Só que qual o limite? E se eu for abusivo com Jimin, tendo ciúmes de todo mundo? Ou se ele for assim comigo, se ele sentir ciúmes de mim como pareceu sentir ontem?

- O que houve ontem?

- Eu pedi ajuda para Daeshin numa coisa... E Jimin me disse que ficou pensando se a gente não voltaria, porque temos um status parecido e essas coisas. Tipo, ele considerar que eu voltaria com Daeshin é ultrajante! Acho que foi ciúmes, mas de qualquer maneira é a demonstração de uma insegurança dele. Até que ponto posso aceitar isso? E se ele começar dessa forma e daqui a pouco estar reclamando de todo mundo que converso como Daeshin fazia? Eu não consigo passar por aquilo de novo, não, não consigo...

Quando vejo, estou chorando copiosamente e Taehyung passa o braço pela minha cintura. Encosto minha cabeça no seu ombro e deixo todas as lágrimas possíveis saírem do meu corpo, molhando sua camiseta. Não consigo parar de chorar, desejando ter a solução para meus problemas, porque não sei lidar com eles.

- Eu... Eu sinto meu coração acelerar por Jimin, tanto que me assusta. Eu não imaginei que fosse terminar um namoro de dois anos e em meses me apaixonar por outro cara. - confesso, entre soluços. - Eu não planejei isso, eu não estava preparado... Sempre tive tudo tão alinhado na minha cabeça, mas fui completamente surpreendido no momento que coloquei os pés nesse campus. As coisas fugiram do meu controle...

- Não se pode controlar tudo, Jungkook.

- Eu sei... - levanto minha cabeça e Tae leva seu polegar até meu rosto, limpando minhas lágrimas. - Eu não estava pronto para me apaixonar...

São as palavras que não saem da minha cabeça e fico repetindo, até que Taehyung fala, calmamente:

- Você é tão inteligente. Sabe que não tem essa de estar pronto... Você não vai simplesmente virar a chave um dia e estar completamente bem, tendo superado o que foi esse namoro com o dito cujo....

- Dito cujo? - acabo rindo fraco.

- Daeshin é muito chato, não tenho muita paciência com ele. - Taehyung fala, me arrancando um sorriso. - Jungkook, me escuta. Você está se superando a cada dia, mesmo sem perceber. Está entendendo melhor quem é e o que quer, aos poucos. Ainda é muito novo, tem dezenove anos. Vai se conhecer muito mais com o passar do tempo.

- Você só é um ano mais velho que eu. - resmungo.

- E não te cobro por não me chamar de hyung! Aliás, só chama Jimin de hyung, já notei isso.

- Eu gosto de chamá-lo assim.

- Você fala de forma muito correta, tenho até medo de falar muito errado e parecer um idiota.

Nós dois rimos e balanço a cabeça, sentindo as lágrimas secando em minhas bochechas.

- Você não é idiota.

- Assim como você não é. - um pouco mais sério, Tae balança a cabeça e seu cabelo (agora com cachos um pouco mais compridos), também movimenta. - Eu conheço Jimin há anos. E isso não significa que conheço como ele é em namoro por dois motivos: nunca namorei com ele para saber e porque ele nunca namorou.

- Já ouvi isso algumas vezes.

- O que eu posso te dizer é para sempre analisar a situação com a cabeça limpa. Pensar em qual seu limite e respeitá-lo. Ponderar o acontecimento e sentir com todo seu coração se vale a pena perdoar ou não, se a atitude dele afeta seus princípios e quem você é. Todo mundo faz merda, todo mundo erra. Isso não quer dizer que temos que aturar a bagagem das pessoas, nem que devemos ignorar e logo terminar. Há um equilíbrio, mesmo que seja difícil de perceber.

- Mas e quando sentir ciúmes? É difícil controlar.

- As pessoas costumam dizer "quem tem ciúmes, ama". "Um pouco de ciúmes faz bem". Ou usar expressões como "ciúmes saudável". Eu acho tudo uma grande bobagem.

- Sério? Eu acho que um pouco de ciúmes é saudável...

- Não, eu não acho. Ciúmes não é saudável. Você está lidando com a pessoa como se ela fosse sua propriedade e pertencesse a você, mesmo sem perceber. Isso não é nada saudável, nem natural. Somos ensinados que, quem ama sente ciúmes ou que está tudo bem ter um pouco, então banalizamos esse sentimento quando na verdade deveríamos tentar eliminar ele.

- Mas eu ainda sinto ciúmes dele. - pondero, triste.

- A questão não é você sentir um ciúmes saudável, mas reconhecer que ciúmes não é saudável e admitir para si mesmo que é falho. Reconhecer que ele pode vir de uma série de fatores, seja uma insegurança, sentimento de insuficiência e de que qualquer pessoa é melhor que você...

- Eu me sinto assim.

- Então, para começar poderia rever esse tipo de pensamento, Jungkook. Uma parte dos ciúmes que sente vem daí. E, como eu falei, reconhecer que nem sempre vai fazer a coisa certa, nem sempre vai acertar e tá tudo bem também. Mas sempre tentar achar o caminho que vai te fazer bem.

E, para completar, ele continua:

- Acho que uma das grandes tarefas que temos na vida é constantemente termos que encontrar o caminho de volta para nós mesmos.

É um daqueles momentos onde não precisa-se dizer nada como resposta, porque as palavras de Taehyung são completas por conta própria. Ao invés disso, continuo olhando seu rosto, sentindo meu coração ficar mais leve do que antes.

Eu nunca me aproximei dessa maneira de Taehyung. Nunca trocamos uma conversa profunda ou falamos de nossos problemas. Ele sempre foi um amigo que estava com pessoas próximas a mim, então éramos todos amigos (se é que faz sentido). Nunca desenvolvi uma relação íntima com ele, apenas nós dois.

E agora vejo que perdi a oportunidade de conhecer uma pessoa interessantíssima.

Querendo verbalizar o que sinto, porque quero que saiba, digo:

- Acho que nunca conversamos dessa forma.

- Eu não achei que fosse se abrir para mim desse jeito. - ele comenta, sorrindo de canto. - Me parecia um pouco fechado.

- Acho que eu era, no começo. Mas, em algum momento, passei a falar mais sobre o que sinto. Não é à toa que já confessei o que sinto por Jimin.

- Você precisa conversar com Seokjin.

Suas palavras, um pouco fora de contexto, me fazem olhar de forma surpresa para seu rosto. Então, percebendo minha confusão, continua:

- Você disse que passou a falar mais sobre o que sente. Eu pensei em Seokjin, porque ele custou a te falar o que sentia, escondeu de todos nós. Mas, quando me contou, vi o brilho no olhar que tinha e em como estava disposto a te confessar tudo...

- Não estou me sentindo melhor com a situação...

- Calma aí. - Tae não deixa de rir da minha afobação, o sol iluminando sua pele. - Como eu dizia, Seokjin estava animado e teve uma decepção. Ele diz que se decepcionou apenas com Jimin, porque eram amigos e viu ele te beijando, mas sei que ficou chateado com você, mesmo sem ser a intenção dele.

- E por que ele ficou chateado comigo? Por que não correspondo aos sentimentos dele?

- Ah, não. Eu acredito que foi porque você não foi falar com ele e, no fundo, acho que era o que esperava e queria. Ele queria que vocês tivessem conversado, se acertado...

- Eu tentei falar com ele na festa de Go-eun, mas não quis.

- Sim, ele pode ser difícil quando quer. Olha... - segurando delicadamente minhas mãos, nosso olhar se encontra. - Eu estive com Seokjin nessas últimas semanas e você com Jimin e Yoongi. Eu sei como ele está mal por não estar falando com vocês, principalmente por estar nessa situação de merda. Alguém precisa tomar a iniciativa de conversar. Pode ser qualquer um de vocês. Por que não pode ser você?

- Eu... Eu sei que fugi dessa conversa. Eu venho fugindo, na verdade. - o que é dolorosamente verdade. - Quando tenho medo de uma conversa, fujo dela. E... Posso dizer que Jimin e Yoongi também estão chateados com esse afastamento todo. Jimin tenta se fazer de durão, mas não é.

- Por que não resolvemos essa situação então?

Fico pouco tempo pensando e logo uma ideia se passa pela minha cabeça.

- Bem, vou precisar da sua ajuda então, Taehyung... Mas antes: eles vão aos jogos de verão, não vão?

Taehyung ergue uma sobrancelha, então passamos a próxima hora conversando e bolando uma estratégia, como sempre gosto de fazer ao me deparar com um problema. Não terminamos de alinhar nossos pensamentos, mas já temos uma boa base para trabalharmos em cima. Depois, vamos juntos até a lanchonete comprar algo para comer (já que nós dois pulamos o almoço) e pego mais um pouco de café.

E ficamos a tarde toda juntos, coisa que nunca antes fizemos.

Apenas nos separamos quando vamos jantar, trocando sorrisos e sussurro em sua orelha quando nos abraçamos (porque, se antes eu achava que Taehyung era muito de toques, hoje tive a prova que sim, ele gosta muito de tocar, o tempo todo):

- Muito, muito obrigado por hoje.

Sou agraciado com seu sorriso quadrado e ele diz, com sua voz rouca (que faz parecer que fuma vinte cigarros todos os dias):

- Obrigado você também. - não acho que tenha o ajudado em seus problemas com Hobi, mas assinto.

- Acho que vou conversar com Jimin.

- Bem... - ele sorri, dando alguns passos para trás. - Normalmente ele fica na sala 113 treinando.

Então, com um sorriso, me dá as costas e fico observando-o ir até Seokjin. Então, mantenho o número na cabeça e, depois de jantar, vou até o prédio de Dança (onde estive uma vez apenas).

Vejo um dançarino ou outro que conheci quando fui com Jimin na exposição que fizeram em uma escola, mas eles não me veem e continuo meu trajeto procurando a sala. Depois de subir alguns lances de escada, vou até um corredor escuro e observo uma porta branca sinalizando o número 113.

A porta não está fechada, apenas encostada, então a empurro delicadamente. O som torna-se mais alto, uma melodia melancólica, com notas espaçadas. A primeira coisa que observo é o tamanho extenso do seu interior, além de possuir um piso de madeira, um espelho que cobre uma parede toda e poucas cadeiras na parede oposta.

E a próxima coisa que meus captam é Jimin dançando, seus olhos fechados e seu corpo se movimentando conforme os toques sutis da música. Ele está sem camisa, seu peitoral sendo alvo do meu olhar hipnotizado, tendo o suor marcando seu corpo. A única coisa que Jimin veste é uma calça cinza de moletom que envolve suas pernas enquanto elas se movimentam de maneira precisa, mas leve.

Ele demora alguns segundos para perceber minha presença e gostaria que tivesse demorado mais. Assim, eu conseguiria observar por mais tempo seus passos, porque são completamente únicos.

Nunca vi alguém dançar como Jimin.

Tenho certeza que minha expressão entrega a admiração que sinto ao ver Jimin dançando, mas não é isso que ele parece se focar, não quando fala, com a voz baixa e até mesmo cuidadosa:

- Não achei que quisesse falar comigo.

- Eu precisava pensar um pouco.

- Ah, sim.

O clima é ruim, mas estou a fim de dar um ponto final nele, então entro por completo na sala e digo:

- Nunca te vi ensaiando.

- Ah... - Jimin parece um pouco desconcertado, a respiração ainda ofegante e tentando se regular. - Você não costuma vir aqui...

- Não. - sorrio fraco e completo: - Podemos conversar?

- Claro, eu só vou me trocar...

- Eu... - interrompo, ansioso. Dou mais alguns passos, parando na sua frente. - Eu não quero esperar...

- Jungkook, me desculpa. - sou pego se surpresa por suas palavras e seu olhar pesaroso evidencia como está arrependido. - Eu falei merda e não quis te ofender...

- Eu sei disso. - falo, porque é verdade. - Eu não gostei do que você insinuou, do que estava embutido na sua fala. É que... - olho para baixo, mordendo meu lábio e querendo ter coragem para completar o que quero dizer. - Têm algumas coisas que eu passei com Daeshin que ainda me assombram.

Jimin não diz nada, como se soubesse que tenho mais a falar. Respiro fundo e digo:

- Nesses dois últimos anos, muita coisa aconteceu e talvez eu não lembre de tudo, mas meu inconsciente sim. Então parece que estou treinado a reagir quando noto algumas coisas... Mesmo elas sendo vindas de pessoas que sei que não são como ele...

- Você acha que eu agi como Daeshin?

- Eu lembro que você me disse para te dizer caso agisse como ele. - relembro, subindo meu olhar para Jimin. - Você não agiu como ele, hyung. Mas eu não gostei do que sugeriu, como se status e dinheiro fosse o que mais importa para mim.

- Eu sei que falei merda, sério. Eu não pensei direito, tudo isso é muito novo para mim, todos esses sentimentos... - então, com um suspiro, ele continua: - Você me causa sensações que nunca senti antes, Jungkook. E isso me assusta.

- Você me assusta também, hyung.

Nosso olhar é fixo um no outro, então Jimin dá um passo para frente e fala:

- Nem sempre vou acertar, Jungkook. Eu tenho muitos defeitos e às vezes fico pensando que você merece alguém melhor do que eu.

- Mas eu quero você, Jimin. Eu só quero você.

A dolorosa verdade é expelida pela minha garganta, sem que eu pense em controlar. Jimin para por alguns momentos, olhando-me como se não soubesse o que dizer.

- Eu preciso melhorar muita coisa em mim também. Não por você, mas por mim mesmo. Por que nós dois não tentamos então?

- Tentamos o que, gatinho?

- Tentamos melhorar, por nós mesmos. Lembra que prometemos tentar não nos magoar? - Jimin assente, lentamente. - Essa vai ser mais uma das nossas promessas.

- Tentarmos amadurecer.

- Acho que encontrarmos o caminho de volta para nós mesmos.

Utilizo das palavras de Tae para expressar o que sinto, percebendo o olhar demorado que Jimin me lança. Então, noto lentamente sua cabeça assentindo e diz:

- E se eu te decepcionar, Jungkook?

- Mas não vamos fazer isso um para o outro, Jimin. Isso é por nós mesmos.

- Mas e se você não gostar do meu verdadeiro eu?

É nítido como Jimin está preocupado, seu corpo tenso e olhos melancólicos. Dou mais alguns passos para frente, parando a poucos centímetros do seu rosto.

- Eu não acredito que seja possível desgostar de algo em você.

Nunca fui adepto a palavras bonitas e românticas, mas o que Jimin causa no meu corpo é inédito. Eu tenho vontade de expressar o que sinto, mesmo que me cause bochechas vermelhas e ansiedade.

Será que é ele que me proporciona essa honestidade ou estou entendendo, aos poucos, quem verdadeiramente sou e agindo por conta própria?

Eu não sei a resposta, mas sei que a surpresa no rosto de Jimin apenas o deixa ainda mais bonito. Então, ele sorri fraco e diz:

- Você consegue um feito único, gatinho: você me deixa sem palavras.

Acabo rindo da sua fala e ele me tira a chance de responder quando pergunta:

- Posso te tocar?

Não respondo, apenas levo minhas mãos até a cintura de Jimin, sentindo como é fina, tocando-a diretamente na pele, já que não veste uma camisa. Meu toque é lento, sentindo as gotículas de suor em seu corpo, mas não me importo. De alguma maneira, é até mais excitante vê-lo assim, com as bochechas vermelhas e o corpo suado devido ao ensaio que fazia.

Eu já vi Jimin algumas vezes sem camisa: saindo do banho e na casa de Han, quando fomos na piscina (que já me deixou desconcertado). Mas, desde que começamos a nos relacionar, nunca mais o vi sem camisa, mesmo que tenhamos nos tocado intimamente algumas vezes.

Então, é novo para mim. É novo sentir seus músculos da barriga, que eu toco lentamente, apreciando a sensação. Consigo notar a mudança na sua respiração, assim como seus músculos ficam mais tensos. Meu olhar se prende em seu corpo e arrisco subir para seus olhos, notando que os seus não desgrudam das minhas mãos tocando sua pele.

Assim que nosso olhar se conecta, Jimin não espera um segundo para segurar minha nuca, trazendo meu rosto ao encontro do seu, grudando nossos lábios. Fecho meus olhos, quase gemendo ao sentir sua boca com a minha, tocando-a de forma tão gostosa.

Nosso beijo é um tanto afoito, nossas línguas se misturando com pressa e meus toques na sua cintura fortes. Ele puxa meus cabelos já um pouco longos e até machuca, mas gosto. Minhas mãos sobem até sua barriga, sentindo mais uma vez seus músculos e o suor, desejando sentir mais de Jimin, porque nunca parece o bastante.

- Jimin, você...

Que merda.

Nossos lábios se separam e reconheço a voz mesmo sem abrir meus olhos.

Seung.

Então, me separo de Jimin, virando meu corpo para a entrada da sala e encontro Seung nos observando, parecendo envergonhado.

- Desculpa, não sabia que estava acompanhado, eu...

- Não, está tudo bem. - Jimin sorri fraco, sua respiração um tanto desregulada.

- Oi, Jungkook. - a voz melodiosa de Seung me faz sorrir pequeno, envergonhado assim como ele.

- Seung...

- Combinamos de ensaiar. - Jimin fala para mim, sorrindo. - Fica para ver o ensaio?

- Ah... - olho para os dois, então assinto. - Fico sim.

Ele me lança um sorriso pequeno e observo por poucos segundos seus lábios grossos vermelhos por conta dos beijos trocados.

- Pode ficar ali então. - Jimin me aponta as cadeiras na parede oposta a do espelho.

Assinto, caminhando lentamente até uma delas enquanto observo Seung deixar sua mochila no chão e os dois começarem a se alongar juntos. Diferente de Jimin, Seung está com uma camiseta branca, além de calças pretas de moletom. Os dois riem de algo que não presto atenção, já que estou mais preocupado em analisar a beleza singular de Seung.

Seu corpo é menor do que o meu e, combinada a sua beleza suave e jeito delicado, é como se fosse angelical. É calma, suave e você não para de olhar, porque chama atenção.

O que me chama atenção também é a dinâmica entre os dois: Jimin não para de sorrir enquanto lhe diz alguma coisa que não presto atenção, ambos com risadas fracas. É óbvio como Seung se afeta por Jimin, sorrindo de canto e olhando-o com os olhos brilhantes.

Então, no momento que Seung começa a dançar e Jimin fica o observando, assim como eu, meu coração torna-se oco, porque é simplesmente maravilhosa a forma que ele executa os passos.

É de uma leveza e peculiaridade invejáveis.

Mas é no momento em que Jimin se aproxima de Seung para mostrar como melhorar um movimento específico que meu coração se machuca mais. Porque Jimin toca seu braço, com delicadeza, ajudando-o em um movimento. Eu sei que é um toque amistoso a fim de ajudá-lo, posso dizer profissional, mas dói.

- Faça mais suave. - é o que Jimin diz, sua voz misturando leveza com seriedade.

É estranho pensar que os dois já transaram, que Seung tocou Jimin de uma maneira que eu nunca fiz. As palavras de Tae martelam na minha cabeça, dizendo que ciúmes não é saudável e fala mais sobre uma insegurança nossa.

E eu tenho muitas delas ao olhar para Seung.

Por diversos motivos: pela beleza suave que possui, por como Jimin parece gentil com ele e atencioso, o talento que tem... Não me sinto páreo para nada disso.

Mas, novamente pensando em tudo que ouvi hoje, tento focar em como ambos são talentosos e fazem uma ótima dupla. É um privilégio vê-los dançando e é nisso que me agarro.

Mas quando Jimin, mais uma vez, interrompe os próprios passos para ir até Seung, meu coração murcha de vez.

As mãos dele tocam a cintura de Seung, ambos olhando para o espelho, enquanto Jimin lhe diz alguma coisa que não presto atenção. Como antes, se eu olhar atentamente vou perceber que não há nada de malicioso no toque, apenas um professor ajudando um aluno, eu diria. Porém, para uma mente e coração inseguros, é mais que isso.

Em um ímpeto, me levanto, atraindo a atenção dos dois e as mãos de Jimin saem da cintura de Seung.

- Eu acho que já vou... Não quero dormir tarde e ainda tenho umas coisas para fazer.

- Hoje é sexta, aproveite para dormir tarde. - Jimin sorri, como se estivéssemos bem e realmente estamos, não?

Bem, estávamos. Agora, não sei mais como me sinto. Por isso, para não fazer ou dizer merda, sorrio forçadamente e digo, já na porta:

- Gosto de dormir cedo. Até mais, Seung.

Não espero a resposta dele, saindo da sala e dando longos passos para longe dela.

Tá, estamos bem. Conseguimos conversar e estávamos nos beijando, por sinal, que beijo... Mas foco.

Estamos bem, Jimin é pago para ensinar e Seung, mas, mais do que isso, eles são amigos. Não tiveram mais nada e está tudo bem em serem amigos. Eu posso lidar com isso.

Lembra como era ruim quando Daeshin tinha ciúmes de todo mundo?

- Mas que merda!

É o que minha voz libera, estressado com meus próprios pensamentos intrusivos. Dois rapazes sentados em um banco, ambos com cigarros entre os dedos, me olham com estranheza, provavelmente por conta do meu surto.

Não consigo nem sentir vergonha, não quando minha cabeça parece disparar pensamentos negativos.

A primeira coisa que faço assim que entro no meu quarto é tomar um longo banho, repassando os acontecimentos do dia e minha conversa com Taehyung. Ainda me sinto estranho quando me olho no espelho, automaticamente comparando meu rosto com o de Seung e pensando que não sou mais bonito que ele, longe disso.

É só quando meu celular mostra que há uma nova mensagem e a abro, já deitado na minha cama, que sorrio verdadeiramente.

Taehyung

Já bolei novas ideias para nosso plano! (21:36)

Vai dar tudo certo, estou pressentindo (21:36)

[mídia] (21:37)

Olha minha cara de pensativo (21:37)

Na foto que manda, seus cabelos estão bagunçados em seu rosto bonito, enquanto apoia o queixo com uma mão. Sorrio observando Tae e respondo rapidamente, iniciando uma conversa.

Quase comento sobre meus pensamentos negativos, mas não digo nada ao perceber que o melhor que faço é ocupar minha mente com outras coisas. Passamos muito tempo conversando e é quando está para dar meia noite que nos despedimos.

No mesmo momento, como se fosse coreografado, Jimin abre a porta. Mesmo que a luz esteja apagada, a iluminação da parte externa invade a nossa janela, iluminando parcialmente o quarto. Dessa forma consigo notar o sorriso que surge em seu rosto e diz:

- Nossa, estou acabado. Fica acordado, só vou tomar um banho...

- Vai lá, hyung.

Ele me lança mais um sorriso antes de ir para o banheiro e me reviro na cama, sentindo meu coração se sentir culpado por ter saído de forma tão repentina da sala de dança. Eu nunca vejo Jimin ensaiar e no dia que tenho a chance, simplesmente fujo como uma criança mimada ao não ter o que quer.

É, talvez eu seja um pouco mimado mesmo...

- Dormiu?

Depois de alguns minutos ouço a voz de Jimin e olho para a porta do banheiro, vendo-o com os cabelos molhados e, mais uma vez, sem camisa.

- Jungkook?

Só assim que presto atenção nas suas palavras, completamente distraído por seu peitoral desnudo...

- Você me desconcentra desse jeito.

- Desse jeito como?

- Assim... Sem camisa.

É verdade, mas minhas bochechas ficam vermelhas assim que termino de falar e Jimin gargalha, sua cabeça tombando para trás.

- Então era disso que eu precisava para te conquistar? Ficar sem camisa?

- Você ficava sem camisa e eu não sentia nada por você...

- Não tenho tanta certeza, acho que se apaixonou por mim no momento que me viu.

Claro que ele está brincando comigo, mas fico vermelho ao lembrar que, de fato, senti algo diferente assim que coloquei meus olhos em Jimin. Mas provavelmente foi porque ele é muito bonito.

- Você dança muito bem.

- Gostou do ensaio?

Ele senta na sua cama, apoiando as mãos ao lado do quadril e imito seu gesto, sentando na minha cama também. Ao sentar, dobro minhas pernas e noto o olhar de Jimin se demorar nas minhas coxas desnudas, já que minha bermuda não é muito longa.

- Você é muito bom mesmo. Eu entendo porque o pessoal te quer como professor. - digo, vendo-o sorrir. Mas não é apenas isso, tenho vontade de lhe perguntar sobre Seung: ele já o questionou diretamente sobre seus sentimentos, como conversamos naquele dia no telhado? Se não, ele vai questioná-lo?

- Tá, você está com aquela expressão estranha...

- Não estou surtando.

- Não tenho certeza. - ele sorri, tombando a cabeça. - Qual o problema? Ainda está em choque ao me ver sem camisa?

- Não, idiota. - resmungo, ouvindo sua risada. - Eu só... Fiquei pensando sobre Seung.

- O que tem ele?

- Você perguntou se ele gosta de você?

É, direto demais. Minha ideia inicial era sondá-lo, ir pelas beiradas até chegar ao centro da questão. Percebo seu olhar demorado em mim (talvez não tenha demorado tanto, mas como fico ansioso, o tempo parece passar muito devagar), então responde:

- Não o questionei.

Ah.

- Eu sei que deve estar me julgando...

- Por que as pessoas ficam dizendo isso para mim? - reclamo, lembrando das palavras de Jae ontem quando disse que não precisava se justificar para mim: Eu sei, mas seu olhar julgador incomoda demais.

- Por que diz isso?

- Jae me disse isso ontem, agora você. Eu pareço que julgo tanto assim?

- Falou com Jae?

- Responde, hyung! - não estou bravo, mas um bico se forma nos lábios e quase cruzo os braços, mas aí provavelmente vou parecer muito infantil.

- Calma, gatinho. - Jimin ri fraco, olhando-me com delicadeza. - Olha, eu sinto que às vezes você parece estar julgando porque deixa suas emoções fluírem muito naturalmente... Então, em alguns momentos é fácil perceber o que se passa pela sua cabeça. Você não consegue disfarçar.

- Eu falei isso hoje com Tae, que sinto que depois que vim pra cá, comecei a expressar muito mais o que sinto, sem que eu perceba...

- Falou com Taehyung?

- Foco, Jimin!

- Desculpa, desculpa. - ele ergue as mãos, em sinal de rendição. - Jungkook, relaxa um pouco. A gente julga os outros, mesmo que seja errado em alguns momentos... Todo mundo faz isso, às vezes você só expressa mais.

- Está aliviando para mim! Diz logo que sou um julgador.

- O que deu em você hoje, hein? - Jimin questiona com um sorriso, mas fecho os olhos, sabendo que hoje é um daqueles dias onde estou instável. - Ei.

Sinto Jimin sentando ao meu lado e abro os olhos, encontrado-o com o corpo virado para o meu.

- Aconteceu alguma coisa?

- Não. Só estou um pouco sensível.

Não deixa de ser verdade. Posso estar omitindo algumas partes, mas isso é real.

- Então relaxa um pouco.

Sua voz suave é acompanhada por suas mãos tocando minhas pernas, trazendo-as até seu colo.

- Deita.

- O que está fazendo?

- Massagem nos seus pés.

Um pouco surpreso, deito na cama e apoio meus pés no seu colo. Fico pensando se minhas unhas estão feias, mas ele mal olha para meus pés, mantendo o olhar no meu rosto enquanto massageia meu calcanhar, delicadamente.

Isso é bom, muito bom...

- Eu encontrei com Jae ontem. - começo, quase fechando meus olhos. - Eu gostaria que se resolvessem, não quero que fiquem brigados por conta da minha atitude impensada na festa.

Jimin não diz nada por um momento, continuando a massagear meu pé com delicadeza e firmeza, até que diz:

- Tá, eu fiquei meio assim com ele quando vi vocês dois se beijando. Achei que tivesse cagado para nossa conversa e ficado com você.

- E eu já expliquei que eu beijei Jae porque estava com raiva de você. - falo, sem orgulho algum em admitir isso. Então, completo: - Vai, Jimin, converse com ele. Já basta o afastamento com Seokjin e Yoongi... Não fique brigado com Jae também.

- Tá, eu vou pensar. - ele finalmente diz e sorrio de canto. - E Taehyung, conversou com ele então?

- Sim, foi muito bom. - confesso, minha voz começando a ficar arrastada pelo carinho que me faz. - Eu não sabia como conversar com Tae poderia ser bom... Sério, eu gostei muito.

- Taehyung é único. - Jimin comenta e consigo sentir o sorriso no seu tom. - Eu fico feliz que tenham se aproximado.

- Sim sim... - murmuro, fechando os olhos. - Eu acho que tive conversas interessantes nos últimos dias.

- Ah, é? Então foram produtivas?

- Foram sim... - bocejo, sentindo o sono tomando conta de mim. - Jimin...

- Diga.

- Dorme comigo hoje.

Posso culpar o sono, que quase parece uma droga, pelas minhas palavras e meu tom arrastado. Por um segundo, ao sentir Jimin parar de massagear meu pé, penso que ele vai negar meu pedido, mas quando sinto seu corpo se aproximando do meu e se deitando ao meu lado, sorrio fraco.

Em um movimento, giro meu corpo até ficar de costas para o seu e sinto sua mão envolvendo minha cintura, me puxando até colar as minhas costas no seu peitoral. Sua respiração em meu pescoço pode ter o efeito de me excitar e deixar meu coração acelerado, mas também tem o efeito de me acalmar, como agora. Sinto meu corpo e mente relaxados ao estar abraçado por Jimin, sentindo seu corpo contra o meu.

Por isso, levo minha mão até a sua em minha cintura, tocando seus dedos com delicadeza. Não a entrelaço, apenas aperto seu dedo e digo, em um sussurro sonolento:

- Eu gosto de te sentir, Jimin. Gosto de sentir seu corpo colado ao meu.

Não há malícia na minha fala, apenas a mais pura verdade. Não espero sua resposta, apenas deixo minha mente livre até quase cair no sono, em longos minutos de silêncio total.

Porém, ele é quebrado.

As palavras nunca antes ditas por Jimin deixam minha mente confusa se não estou sonhando, porque não imaginei que o ouviria tão cedo falar isso. O choque me faz abrir os olhos, porque o que ele diz é:

- E eu gosto de você, Jungkook.

📷


FINALMENTE Jimin confessou que gosta do Jungkook <3 Gostaram da forma que foi? 

Jungkook ainda está lidando com diversos problemas deixados pelo namoro com Daeshin, por isso é importante essa imersão na cabeça dele. Além disso, para vocês verem que um relacionamento abusivo, infelizmente, vai além do término. Deixa marcas que precisam ser cuidadas, mas prometo a vocês que a gente consegue seguir em frente. Reconheçam os sinais, amores, não deixem ninguém tratar vocês dessa maneira. 

E ainda não aconteceram os jogos, mas logo no próximo capítulo eles começam... Alguma teoria do que pode acontecer? 

Espero muuuito que tenham gostado, não esqueçam de deixar o feedback, me ajuda muito! 

Curtam e comentem muito! Até a próxima, pessoal :)

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