A Pecadora (Concluído)

By Niih_Potato

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Lisie Yamazaki é uma agente especial de uma divisão secreta que investiga acontecimentos sobrenaturais. Ao se... More

Agradecimentos
Apresentações e Recados
Um: Ligações na madrugada
Dois: Marcas de um crime
Três: Boate dos mortos
Quatro: Intimidações entre quatro paredes
Cinco: Proposta indecente
Seis: Café e sangue
Sete: Jogo para dois
Oito: Inocentes mentiras, cruas verdades
Nove: Mágicas ameaças
Dez: Gato e Rato
Onze: Mais um para a conta
Treze: Vampiro mágico
Quatorze: Questão pessoal
Quinze: Os mortos ressurgem
Dezesseis: Ventos de liberdade
Dezessete: Assassino ilusório
Dezoito: O homem que não se surpreende
Dezenove: Flor-de-Lis
Vinte: Pecado original
Vinte e Um: Real significado de monstro
Epílogo: Mortos não enxergam
Capítulo Bônus: Entrevistas

Doze: Difíceis decisões

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By Niih_Potato

O escritório está menos iluminado do que da última vez, apenas algumas velas escassas jogam a sua luz sobre o cômodo, tornando-o sombrio. O vampiro me coloca deitada sobre um dos sofás e varre o seu olhar sobre mim, avaliando a minha situação. Ele analisa minuciosamente o meu pescoço, depois me vira de lado para olhar a minha nuca.

- Como está a dor? - Nikolay perguntou, tirando um lenço branco e macio do bolso da calça e colocando debaixo da minha nuca, para estancar o sangramento.

Eu me viro, encarando o teto.

- Péssima. - eu respondi, meio rouca. - O que vai acontecer com aquele cara?

- Por que você quer saber? Ele tentou te forçar, certo? Não é possível que você seja tão boa a ponto de se preocupar com aquele lixo. - Nikolay soou irritado.

- Eu só quero me certificar que ele tenha a morte mais horrível possível. - eu falei. Minha garganta ainda está doendo, me forçando a mais um acesso de tosse. Para mim, pessoas como aquele cara nem sequer merecem viver.

- Morte? - Nikolay arqueia uma sobrancelha. Um sorriso sádico brota em seus lábios. - Morte não chega nem perto do que eu tenho preparado para ele. Quero que ele aprecie o que a minha criatividade é capaz de fazer.

Um arrepio percorre o meu corpo. Então, essa é a outra face de Nikolay? O que eu esperava, afinal? Ele é um vampiro, eles estão acostumados a sangue e morte. Na verdade, todo o mundo sobrenatural parece estar regado a esses dois fatores.

Sua aura já não está mais como antes, parece ter diminuído, mas não se extinguido como das outras vezes que eu o vi, um claro sinal de que ele ainda está irado.

O vampiro começa a andar pelo cômodo, pelos sons, ele está mexendo nas gavetas da mesa mais ao fundo, parecendo procurar algo. Logo em seguida, eu ouço o som de algo como um armário de madeira se abrindo, mas o vampiro se volta novamente para mim de mãos vazias.

- Nada de kit de primeiros socorros? - eu brinquei, tentando forçar o meu cérebro a ignorar a dor e o peso que eu sinto no meu pescoço.

- Temo que não. Estou procurando água, na verdade. Do jeito que você está, te levar a um hospital seria o mais correto. Mas eu duvido que você gostaria que eu fizesse isso. - Nikolay sorri de lado, pela primeira vez nesse momento voltando a ser o seu antigo "eu". - E eu não acho que os humanos iriam acreditar na desculpa de que você "caiu" ou qualquer merda do tipo.

- Nikolay Delyon não saberia mentir para um simples humano? - eu arqueio as minhas sobrancelhas em espanto. - Se eu não estivesse com a garganta destroçada, acho que gargalharia feito louca disso.

Nikolay coloca as mãos nos bolsos da calça social e parece pensar por alguns segundos.

- Mentir somente pioraria as coisas. Além disso, eu não posso fugir da realidade de que você está assim por minha culpa. Sempre me orgulhei do fato de que esse lugar é neutro, livre de desavenças e de vampiros descontrolados e estúpidos, mas parece que terei que rever a lista de convidados.

O vampiro agora me olha com algo muito similar a pena. Ah! Me poupe disso!

- Pare de me olhar desse jeito! - eu ralhei, fechando os olhos, como se estivesse fugindo de algo que eu não quero ver.

- Qual jeito? - o vampiro perguntou, praticamente fingindo indiferença.

- Como se eu fosse inferior a você. - eu rebati, abrindo os olhos e encarando o vampiro. - Como se eu fosse digna de pena.

- Eu não te considero inferior a mim, muito pelo contrário. Mas você é apenas uma humana, Lisie. - Nikolay chega mais perto de mim, eu não me mexo no meu lugar, apenas encaro os seus olhos esmeraldas brilhantes. - Vocês são frágeis e cheios de fraquezas.

- Eu sou humana, mas os humanos são criaturas distintas e é isso que nos diferencia como pessoas, todos temos nossos momentos bons e ruins, nem somente de fraquezas somos feitos. Deus, até parece que você nunca foi humano!

- Acredite, a minha época humana já passou há muito tempo, eu quase não me lembro de mais nada de quando era humano. - por um momento, os olhos do vampiro pareceram brilhar com aquele "que" de nostalgia, mas não tenho certeza, pois foi muito rápido. - Mas de uma coisa eu lembro: das fraquezas, das fragilidades e da impotência humana perante àqueles que são mais fortes. Humanos são criaturas quase dignas de pena.

Aqui vemos o famoso desprezo dos vampiros pela condição humana, mais uma vez. Agem e falam com uma soberba digna de deuses, como se eles nunca tivessem sido humanos, como se a sua condição atual de vampiro os tornassem melhores do que todo mundo, imunes a tudo e a todos.

A ira toma conta de mim sem aviso prévio, praticamente me transformando em outra pessoa. Eu não vou ficar aqui escutando, enquanto outra pessoa joga na minha cara as fraquezas que são inerentes à minha condição humana, sem nem sequer considerar o fator "individualidade", que faz de todos os humanos seres únicos. Mesmo que a individualidade às vezes venha de situações vividas e não da pessoa em si. Isso sem contar o simples fato de que a própria pessoa que age de forma tão julgadora já foi humana e parece nem sequer considerar isso como algo relevante.

- Você não tem noção das coisas pelas quais passei, Nikolay! Você não tem noção das minhas fraquezas e, o mais importante, de onde eu tirei forças para vencê-las, para continuar seguindo em frente sempre. - eu falei o mais alto que a minha garganta me permite. - Então, me dê o seu ódio, o seu repúdio... Até mesmo o seu desejo, mas nem pense em me dar a sua pena.

Céus, o que está acontecendo comigo? De onde vem toda essa raiva que eu estou sentindo? Estou sucumbindo a ataques de fúria com uma constância assustadora. Será que tudo isso que está acontecendo vem me afetando tanto assim?

Nikolay arqueia uma sobrancelha em assombro e cruza os braços sobre o peito, a sua expressão por si só é quase um questionamento. Eu fecho os olhos, tentando me acalmar.

- Eu pretendo te dar muitas coisas, Lisie. Mas ódio, repúdio ou pena não são nenhuma dessas coisas. - o vampiro provocou.

Eu me sinto tão irada, que nem mesmo a provocação é o suficiente para desviar a minha atenção. Na verdade, isso parece apenas me enfurecer mais.

É quase como se tivéssemos trocado os papéis. Agora o vampiro está calmo e eu estou praticamente soltando fogo pela boca.

Eu me calo, tentando organizar os meus pensamentos e acalmar a minha mente. Toda essa raiva não é um bom sinal, algo está errado comigo. Provavelmente esse caso está mexendo mais com o meu equilíbrio emocional do que eu sequer imaginei. Mais do que eu quero admitir para mim.

Eu fecho os olhos novamente e respiro fundo, utilizando as técnicas de meditação que eu costumo praticar no meu escasso tempo livre. Ao abrir os olhos novamente, o vampiro ainda está me encarando com uma expressão calma, mas o seu olhar é sério, quase compenetrado. Como se ele estivesse procurando por algo.

- De qualquer forma, se você não pode me levar a um hospital, o que você fará? - eu suspiro, ainda sentindo a dor na minha garganta. - Ou você tem algum tipo de "poder vampiro de cura alheia"?

- Em partes. - o vampiro para de falar por alguns segundos, olhando para mim e avaliando a situação. Subitamente, um brilho vermelho passa rapidamente pelos seus olhos e ele sorri para mim. - Mas eu tenho algo muito parecido: vou te dar o meu sangue, misturado a um pouco de água, para que você não fique enojada e vomite sobre o meu tapete. Sabe como é, ele é bem caro...

- Seu sangue? Mas isso não vai me transformar em uma vampira? - ah, merda! Eu não quero me transformar em alguém que tem malditas presas.

- São necessários outros fatores para te transformar em vampira, não se preocupe. De qualquer forma, nós não temos outra escolha, é isso, ou esperar o seu corpo se curar sozinho, mas eu duvido que você queira esperar pelo tempo que isso pode levar.

- Não, eu não tenho tempo para esperar. - eu admito, visivelmente sem outras opções melhores. - Mas, se eu acabar com presas e sede de sangue... Vou te caçar até o inferno, Nikolay.

O vampiro ri baixo e sorri de lado para mim com o seu habitual sorriso cafajeste, mas eu luto contra os arrepios do meu corpo, me lembrando mentalmente da minha atual debilidade física.

- Você não é a primeira pessoa a me fazer uma ameaça dessas, e nem será a última. - Nikolay parece estar se divertindo com a situação. O vampiro desaparece da minha linha de visão novamente. - Vou mandar trazerem água, já que eu não tenho nenhuma aqui. Sabe como é, eu prefiro algo mais forte...

- Eu não quero água, quero tequila. - eu falei automaticamente.

- O que? - Nikolay se volta novamente para mim. Sua expressão denuncia que ele nunca imaginaria que eu fosse falar uma coisa dessas.

Bem, nem eu imaginaria que iria ter que tomar sangue de um vampiro, depois de ser atacada por outro vampiro. Ah, as surpresas da vida...

- Se eu for tomar o seu sangue, prefiro que seja misturado a algo mais forte do que água. E eu realmente preciso de uma bebida agora. - murmurei.

- Tudo bem, então. Vou mandar trazerem uma dose de tequila para você. - o vampiro dá de ombros.

- Uma não, eu quero duas doses. - Nikolay ergue uma sobrancelha em assombro e meneia a cabeça na minha direção. - A primeira dose vem com um acréscimo de sangue de vampiro, então, a segunda vai me ajudar a tomar a primeira dose sem vomitar.

- Lisie, eu acho que devemos te levar a um hospital. Aparentemente, você bateu a cabeça com muita força.

Mantenho os meus olhos fixos na direção do vampiro, para mostrar que eu falo sério. Ele apenas dá de ombros novamente, como se dissesse "você quem sabe", e tira o celular do bolso da calça, falando rapidamente com alguém.

Alguns minutos depois, um dos seguranças aparece com uma bandeja. Em cima dela, há duas pequenas doses de um líquido âmbar claro e um terceiro copo maior, que ostenta um líquido âmbar muito mais escuro.

Nikolay não perde tempo: ele puxa a manga do terno, expondo o pulso do braço esquerdo e crava as suas presas no local, enquanto pega uma das doses de tequila e despeja o sangue, que goteja da mordida para o pequeno copo, fazendo o líquido mudar levemente para um tom de dourado um pouco mais escuro.

Eu me sento com dificuldade sobre o sofá quando o vampiro me entrega o copo, o cheiro de álcool se sobressai ao cheiro de sangue, mas apenas a noção do que há aqui dentro é o suficiente para fazer o meu estômago revirar. Espero que isso funcione.

Evitando pensar muito, eu viro a bebida de uma vez só. Minha garganta queima levemente quando a tequila desce, competindo com a bile que quer subir pelo meu esôfago. Eu coloco as costas da mão sobre a minha boca, evitando vomitar, e aperto os olhos fechados, tanto pelo gosto forte da bebida quanto pelo nojo. Mais pelo nojo, na verdade.

Não pense no que tem aqui, não pense! Eu grito mentalmente. Quando abro os olhos, Nikolay já está com a outra dose de tequila à minha espera, eu a aceito e tomo em um único gole.

O pulso do vampiro, ainda com a manga do terno erguida sobre o antebraço, não apresenta mais nenhum sinal de que foi perfurado. Não há sinal nem do sangue que escorreu, na verdade. Essa, com certeza, é uma habilidade infernalmente útil.

- Deus! Como você aguenta tomar isso? - eu exclamei, sentindo a bile subir novamente pela minha garganta depois de tomar a segunda dose de tequila. Eu evito vomitar engolindo em seco.

- Gostos diferentes, chérie. - Nikolay dá de ombros, pegando o terceiro copo da bandeja e tomando o seu conteúdo âmbar escuro. Whisky, eu julgo ser. - Além disso, não é como se eu tivesse outra escolha.

Alguns minutos depois de tomar a bebida "batizada", eu sinto a dor se dissipando lentamente, tanto no meu pescoço quanto na minha cabeça e nuca.

Eu solto uma espécie de suspiro aliviado e coloco a cabeça sobre as minhas mãos em concha, passando-as pelos meus cabelos e me curvando para frente, enquanto sinto a dor desvanecer mais e mais.

Ah, abençoada tequila. Não exatamente, mas enfim...

Subitamente, Nikolay toma gentilmente o meu queixo com a mão, me fazendo sobressaltar e olhá-lo. O vampiro parece avaliar o estado do meu pescoço, depois passa levemente a mão sobre a minha nuca, provavelmente procurando pelo machucado.

Meu corpo realmente deve estar se recuperando, pois os arrepios que me varrem quando eu sinto o toque do vampiro sobre a minha pele não estão ligados à dor. À essa altura, eu já parei de me questionar acerca das reações que esse vampiro, em específico, provoca em mim.

- O efeito está ocorrendo como o esperado. Parece estar se recuperando bem. - ele constatou. - Dê alguns minutos, e você estará em perfeitas condições novamente.

Quando Nikolay tira a mão da minha nuca, as pontas dos seus dedos aparecem manchadas com gotas de sangue. Os olhos do vampiro brilham carmesim ao ver as manchas rubras; sem titubear, ele passa a língua demoradamente sobre os dedos, captando as gotas de sangue e transformando essa ação tão simples em algo extremamente erótico. Um rugido baixo deixa os lábios dele, seus olhos fixos em mim, o sorriso cafajeste mostrando as presas, o deixando ainda mais sexy . Céus, é como olhar para a luxúria em pessoa.

Por alguns segundos, eu fico paralisada vendo essa cena, enquanto o vampiro ainda lambe vagarosamente o sangue em seus dedos. Eu não consigo piscar, não consigo me mover, a única coisa que eu posso fazer é sentir o meu corpo se acender como uma chama. Nikolay parece perceber a minha reação, ou a falta dela, pois o seu sorriso se alarga ainda mais, quase como em um convite.

Acorda, Lisie! Você está aqui para conseguir informações sobre assassinatos, não para flertar como uma garota do colegial. Ainda mais com um vampiro que parece ter inventado a palavra sexy. Eu me repreendo mentalmente.

Nikolay termina a sua exibição pecaminosa, limpa a mão no lenço já um pouco manchado de sangue e olha para mim como um perfeito anjo, sem um único traço do seu habitual charme sem-vergonha. Seus olhos nem sequer brilham mais em vermelho.

Eu pigarreei, tentando fazer a minha mente apagar o que aconteceu.

- Ah, obrigada pela ajuda, de qualquer forma... - a dor já se dissipou totalmente e eu nem sequer percebi. Certo, eu me distraí um pouco. - Então, o que você conseguiu?

- Sempre apressada... Um dia, Lisie, eu vou te fazer degustar certas coisas com muita, muita calma. - Nikolay pisca um olho para mim.

Eu ignoro o nó que se forma no meu ventre, não querendo examinar se isso é bom ou ruim. Deus sabe que eu não estou preparada para a resposta dessa pergunta.

- Negócios, Nikolay. Você pode deixar a sua sedução barata para aquelas que caem nessa. - eu respondi apressadamente.

- Certo, negócios...- mas a voz grave do vampiro continua com um toque de sedução, tentando os meus sentidos. - Para a sua sorte, minhas fontes acharam somente dois homens psíquicos que frequentam o meu estabelecimento.

Nikolay me entrega os papéis que estão em cima da mesa de centro e se senta no sofá oposto ao que eu ocupo. Nesses papéis, há o nome, endereço e foto de dois homens que, aos olhos da sociedade, parecem comuns demais para sequer frequentar uma boate, quem dirá uma boate do "submundo" sobrenatural dos vampiros. Há também informações como "status sobrenatural: psíquico" e a indicação do vampiro ao qual eles pertencem, seja lá o que isso signifique.

Espere, essa é a indicação do tipo sanguíneo deles? Mas que por...

- Apenas dois? - eu franzo o cenho, ainda olhando os papéis e calculando mentalmente a melhor rota para chegar à casa do homem que reside mais próximo à boate.

- Eu te disse que psíquicos são raros, chérie. - Nikolay toma o último gole da sua bebida.

- Como você conseguiu essas informações tão rápido? - eu questionei.

- Eu já te disse que somente um grupo seleto de pessoas podem entrar no meu estabelecimento, certo? Quando um vampiro traz outro convidado, principalmente se for um humano, esse humano com certeza pertence ao vampiro que o convidou. - Nikolay explicou. - Os psíquicos que foram mortos, por exemplo, pertenciam a alguns dos vampiros que frequentam esse local. Então, uma pesquisa rápida sobre os humanos que pertencem aos vampiros daqui me deu as informações das quais eu preciso.

Isso é muito bizarro, mas ainda que certamente útil.

- E como, exatamente, um humano pertence a um vampiro? - eu arqueio uma sobrancelha, em questionamento.

- Existem duas formas. - o vampiro começa a enumerar, contando nos dedos. - O humano deve transar com o vampiro e, consequentemente, ser mordido por ele; ou pode ser somente mordido. Em ambos os casos, é uma espécie de reivindicação automática, se assim o vampiro desejar. Mas o vampiro também pode apenas reivindicar publicamente o humano, sem necessidade de fazer as outras duas coisas.

- Espere, então quando você me mordeu, você me reivindicou? Então era disso que se tratava aquela "conversa" com Pavlov? - eu questionei. - Ah, merda, eu não vou aceitar isso! Eu não sou um objeto para pertencer a alguém, principalmente a alguém como você!

É só o que me faltava! Virar o pet de um maldito vampiro! Céus, o que são as pragas do Egito perto disso?

Nikolay arqueia uma sobrancelha e sorri sarcástico ante o meu comentário, cruzando os braços e dando de ombros. Eu estou tão furiosa, que sou capaz de tirar esse sorrisinho do rosto dele no soco!

- Não te mordi com essa intenção, ou eu teria te reivindicado publicamente. Mas até que foi algo conveniente para a situação. - o vampiro respondeu calmamente, como se estivéssemos discutindo sobre o clima. - Embora eu seja obrigado a te avisar, que aquela pequena demonstraçãozinha minha de territorialidade vai causar uma chuva de comentários quando a notícia se espalhar: "Nikolay Delyon reivindicou uma humana, após séculos sem ter feito algo semelhante".

O vampiro faz um movimento amplo com as mãos, como se estivesse lendo um cartaz, e gargalha feito um louco. Só ele está vendo humor nessa situação, pois eu continuo com a expressão séria, embora a minha mente esteja um caos, em uma espécie de frenesi de negação.

- Ah sim, eu já até imagino a manchete na primeira página do Folha dos Vampiros de amanhã. - eu semicerro os olhos e encaro o vampiro. - Você tem que dar um jeito de desfazer isso, Nikolay!

- Mesmo se eu quisesse isso, não há como desfazer o que foi feito. - eu bufo em irritação, frustrada pela negativa do vampiro. - Ora, vamos, chérie. Te garanto que pertencer a mim não é algo ruim, nem de longe...

O vampiro me provoca, mas eu não me permito ser abalada pelas suas provocações, pois a situação em que nos encontramos é muito séria. Céus, como eu saberei quais são os desdobramentos pelo mundo sobrenatural dos vampiros pensar que eu pertenço a um vampiro? Como ficará a discrição tão necessária ao meu emprego?

- Eu já deixei clara a minha posição sobre isso, Nikolay. Eu não pertenço e nunca pertencerei a você, principalmente por nenhum tipo de posse bizarra de vampiro. E é bom que você se lembre disso!

- Claro, mas vamos ver por quanto tempo você se lembrará disso. - o vampiro sorriu.

- Eu não posso chamar a atenção dos seres sobrenaturais dessa forma, eu tenho um papel a desempenhar no meu emprego, Nikolay. Eu preciso passar despercebida o máximo possível!

- Não se preocupe com isso agora, Lis, eu pensarei em algo. Por enquanto, eu tenho certeza de que não haverão muitos questionamentos, pelo menos não direcionados a mim. Vamos deixar que eles subam pelas paredes tentando descobrir quem é você, e quando finalmente me questionarem, eu irei esclarecer a situação apenas como um mal entendido.

Eu encaro o vampiro com total descrença, pois não estou nem um pouco inclinada a confiar na palavra dele. Nikolay me olha de forma imparcial, quase como se tentasse parecer inocente.

- Então, você vai fazer algo com as informações que estou te dando, ou vamos continuar a nossa discussão sobre mordidas? Esse assunto me deixa com um pouco de... Fome.

O vampiro me lança mais um dos seus sorrisos cafajestes, seus olhos verdes brilham em malícia, me fazendo odiar pela centésima vez a forma como ele mexe com a minha sanidade mental.

Sem perder mais tempo, eu tiro o meu telefone do bolso da calça e ligo para Daniel, que atende com um resmungo. Eu viro de costas para Nikolay, tentando evitar que ele ouça a conversa. O que é, obviamente, impossível.

- Dan, eu preciso que você vá a um endereço o mais rápido possível. - eu dito ao meu parceiro o endereço que consta na ficha. - Esse cara é um potencial alvo do assassino.

- Como você conseguiu essa informação, Lis? - o tom de voz de Daniel denuncia a sua desconfiança.

- Nikolay conseguiu o endereço para mim. - eu falei sem rodeios, afinal, não há mais motivo para mentir.

- Não acredito que você está na maldita boate sem mim, Lisie! - meu parceiro praticamente grita do outro lado da linha. - Você esqueceu o que aqueles dois aprendizes de Merlin disseram? O assassino pode tentar matar um de nós! E pior, aquele bruxo imbecil disse que você emite uma energia psíquica muito forte, te tornando um dos principais alvos. Mas você, como sempre, está pouco se fodendo para isso, andando por aí como a porra de um presente de Natal para o assassino!

Eu mordo o lábio inferior, tentando pensar em algo para fazer o meu parceiro calar a boca. Por mais que eu tenha pensado no perigo que corro, essa é uma verdade que eu não quero ouvir.

- Não quero o seu sermão agora, Daniel. Quero que você cumpra o seu trabalho e vá o mais rápido possível ao endereço que te passei. Nikolay conseguiu o endereço de dois psíquicos, eu vou até o endereço do outro. - eu pontuei calmamente, passando autoconfiança. - Por favor, avise à Candice sobre isso.

- Candice já foi para casa. - Daniel resmungou. - Você não vai sozinha, Lisie, me passe o endereço, eu te encontro lá. Mandarei algum colega da divisão até esse outro endereço que você passou.

- Nada feito, amigo. Eu confio apenas em você para fazer isso, então, por favor, faça o que eu estou pedindo.

Não escuto a próxima reclamação de Daniel, apenas desligo a chamada e coloco o celular em modo-avião. Eu sei que ele fará o que é certo.

- Você não me falou que está correndo perigo, Lisie. - a voz de Nikolay soa séria atrás de mim.

Eu suspiro, cansada de ter que dar satisfação da minha vida a outras pessoas, cansada de ter que justificar as minhas atitudes, como uma criança que ainda depende dos adultos para viver. Parece que todos no planeta se sentem donos de mim, donos da minha vida. Isso me irrita profundamente.

- Eu te disse que os psíquicos estão sendo caçados.

- Psíquicos homens. - Nikolay frisou. - Mas você não me disse que Markhan te colocou no rol de potenciais vítimas também.

Bem, de fato, eu omiti essa informação. Porque simplesmente não ajuda em nada, pelo contrário, somente nos deixa mais paranóicos.

- Agradeço pela ajuda, Nikolay, mas eu já te dei mais informações sobre esse caso do que o permitido. - eu tento soar o mais impassível possível. Não posso ver a expressão do vampiro, pois ainda estou de costas para ele. - Além disso, não há importância em uma informação dessas. Um dia, seja por um assassino louco ou pela idade, eu morrerei. Sei que você não sabe mais o que é o conceito de "morte", mas ela ainda existe.

Silêncio. Nenhuma resposta espertinha veio do vampiro, nenhuma piada ou insinuação maliciosa.

Ao invés disso, eu sinto o meu corpo repentinamente ser puxado de encontro a outro corpo firme, minha costas batendo levemente em um peito duro feito rochas. Uma das mãos de Nikolay segura a minha cintura, prendendo os meus braços ao longo do meu corpo, impossibilitando que eu me mexa. Sua outra mão segura firmemente o meu queixo, virando o meu rosto para a esquerda, expondo o meu pescoço. O vampiro encaixa o seu rosto na parte livre entre o meu ombro e o meu pescoço, sua mão aperta o meu corpo firmemente contra o seu.

- Jamais minta ou omita algo de mim novamente, Lisie, eu não tolero esse tipo de atitude. - a voz baixa e rouca de Nikolay soa a milímetros do meu ouvido, o seu cavanhaque roça o lóbulo da minha orelha, me arrepiando instantaneamente. - Se você quer morrer, fale agora e eu o farei com prazer. Tomarei até a última gota do seu sangue, como o vampiro sedento e desalmado que você acha que eu sou. Fale! Diga o que você quer!

- Eu...- murmurei, não conseguindo formular outras palavras. Meu cérebro parece ter parado de funcionar.

O vampiro coloca a boca sobre o meu pescoço, sugando a pele sensível com selvageria, me fazendo sentir uma dor efêmera, que compete com os arrepios e o calor que o seu toque provoca em mim. Sentir as suas presas estendidas, mordendo levemente a minha pele, apenas reforça as sensações. Se Nikolay não estivesse me segurando, eu com certeza iria esmorecer.

Há apenas uma mensagem nessa ação: decida o que você quer. E rápido!

- Eu não sei. - murmurei, quase sem forças.

- Então, é melhor decidir o que você quer, Lisie. Porque eu não sou como o seu amigo, que fará tudo o que você quer sem questionar, que esperará por migalhas suas. - a voz do vampiro é baixa e letal, como se a qualquer momento ele pudesse cravar as suas presas no meu pescoço e dar fim à minha existência. O que é a mais pura verdade. - Se você não tiver mais um propósito na sua vida, se não quiser lutar por mais nada, encontre algo, mas não se atreva a desistir. Mesmo que seja lutar contra mim, contra o que você sente, se você quiser isso, então lute! Mas eu te aviso: se você se entregar a mim, por Deus, eu vou fazer valer a pena. Então viva, Lisie, porque um dia você será minha.

Então, o vampiro me vira na sua direção e cola os nossos lábios.

A sua boca tem gosto de whisky e luxúria sem restrições. Uma mão sua sobe para a minha nuca, segurando os meus cabelos, enquanto o seu outro braço se enlaça possessivamente em torno da minha cintura, sua mão segura firmemente a minha bunda, me puxando para mais perto e me deixando enjaulada entre os seus braços fortes.

Eu passo os meus braços pelo seu pescoço, tocando os seus cabelos macios e puxando os seus ombros largos e o seu corpo para mais perto de mim. Nossas línguas se entrelaçam sem pudor e eu sinto as suas presas pressionando levemente os meus lábios, o que só aumenta a tentação do momento. O desejo entre nós é algo inexplicável e, por mais que eu tente negar e esconder as reações do meu corpo a ele, eu não consigo.

Nikolay, por outro lado, não mede esforços para esconder o seu desejo, pelo contrário, ele o deixa bem evidente, pressionando-o contra o meu ventre e torturando a minha mente, me fazendo ofegar.

É impossível a forma como as coisas acontecem entre nós, como um sopro de vento, que é capaz de apagar uma vela, mas também de acender fogueiras. A diferença no resultado está somente na intenção e na potência do ato, que é exatamente o que acontece entre mim e Nikolay.

Céus, me pergunto até quando eu vou conseguir manter a minha convicção e força de vontade.

Nikolay me guia suavemente através do escritório, até que eu sinto a parede às minhas costas. Sem ter para onde fugir - não que eu tenha qualquer pretensão de fugir -, eu apenas me contento em sentir os músculos dos seus braços e costas sob as minhas mãos, mesmo com o terno atrapalhando um pouco a experiência, e a forma como a sua boca devora a minha, no mais puro e animalesco desejo.

O vampiro guia a sua boca, subindo até a minha orelha e depois descendo pelo meu pescoço. Seus lábios macios somente são superados pela pressão abrasadora dos seus beijos, e pela inigualável habilidade da sua língua, parecendo brasas sobre a minha pele.

Eu ofego novamente, deixando escapar um gemido baixo quando o vampiro se volta para a minha boca novamente, capturando o meu lábio inferior entre as suas presas. Um rugido baixo faz o peito dele vibrar contra mim, como um tigre. O som parece entremear nos meus ouvidos, provocando mais uma onda de luxúria no meu corpo, fazendo o meu ventre contrair e a minha pele se arrepiar.

Sem aviso, Nikolay para abruptamente o que está fazendo, encostando a testa na parede atrás de mim. Seus ombros se movem como se ele estivesse ofegante, mas a sua boca não faz nenhum som, seus olhos estão fechados, suas presas ainda estão estendidas, pressionando o seu lábio inferior.

- O que há de errado? - eu perguntei, minha voz ofegante.

- Errado?- Nikolay ri baixinho, balançando a cabeça em sinal de negação.- Não há nada de errado.

- Então, por que você parou?- eu perguntei, tentando ignorar a urgência na minha voz.

- Ah, Lis, você não entende, não é? Na verdade, nem eu entendo o que acontece entre nós. - o vampiro suspira pesadamente e levanta a cabeça. Seus olhos são dois rubis brilhantes, queimando o meu corpo em desejo descontrolado. - O orgulho e senso de honra são as únicas coisas que estão me impedindo de arrancar as suas roupas e te tomar sobre aquela mesa.

- Orgulho? - eu questionei sem entender.

- Quero que você me deseje tanto, que não pense em outra coisa além de mim. - o vampiro sussurra no meu ouvido. - Quero que você acorde de madrugada murmurando o meu nome, quero que você se perceba pensando em mim no meio do dia, pensando em tudo o que eu posso fazer com você, em tudo o que eu vou fazer com você. Quero que você deseje tanto nós dois juntos, que perca todas as suas inibições e apenas peça mais e mais.

Eu engulo em seco, tentando barrar as imagens que surgem como flashes na minha mente, de acordo com as descrições do vampiro.

- Eu pensei que já havíamos conversado sobre isso. - eu falei, tentando não gaguejar.

Céus, até quando nós teremos esse tipo de conversa? Até quando eu vou fingir que ele não me afeta?

- De fato, já conversamos. Então, você vai se lembrar do que eu disse: eu jogo para ganhar.

- Não vai acontecer n-nada entre nós. - eu rebati, me amaldiçoando mentalmente por gaguejar.

Oh, merda! A quem eu quero enganar, afinal?

- Repita isso a si mesma até se convencer. - Nikolay respondeu, seu cavanhaque roça a minha orelha, fazendo um tremor percorrer o meu corpo como um raio. O vampiro ri baixo mais uma vez. - Porque eu não estou nem um pouco convencido disso.

O vampiro se afasta, passando as mãos pelos cabelos, o que só lhe dá um ar ainda mais selvagem, e se serve de mais uma dose do que quer que ele tenha nessa mesa de centro. Se ele não fosse um vampiro e o álcool não tivesse o mínimo de efeito sobre o seu organismo, ele seria um ótimo candidato ao alcoolismo.

Eu respiro fundo, tentando acalmar o meu corpo. Afinal, eu preciso ir à casa da outra potencial vítima, e não ficar perdendo tempo aqui com a questão "Lisie-Nikolay". Já que eu sei que nenhuma resposta mágica virá para essa situação, pelo menos não por enquanto. Isso, eu preciso de foco! Foco e...

Droga! Eu esqueci de um pequeno detalhe: as informações me foram fornecidas, então, eu devo pagar o preço por elas. Céus, não sei se eu consigo ser drenada até quase a morte como da última vez... Não, definitivamente, eu não consigo.

- Nikolay? - eu o chamei. - O seu pagamento... Pelas informações. Eu não posso dá-lo agora.

Oh, eu passei os últimos dez minutos me atracando com o maldito vampiro, mas tenho receio de falar sobre o "pagamento" pelos seus serviços. Talvez, porque isso faz com que eu me sinta como o equivalente sobrenatural de uma prostituta.

- Jamais use essa palavra para se referir a si mesma, Lisie. Eu nunca a veria dessa forma. - eu não consigo esconder a minha expressão perplexa e estou prestes a questioná-lo sobre o seu comentário, quando o vampiro corta a minha fala. - E quanto ao seu pagamento, não se preocupe, ele já foi realizado. E com bônus. Considere também como o meu pedido de desculpas pelo que aconteceu hoje.

O vampiro toma o último gole de sabe-se-lá-o-que enquanto me olha com divertimento, seus olhos verdes brilham à pouca iluminação que as velas fornecem.

- Certo...- eu não tenho certeza se entendi a lógica por trás das palavras de Nikolay, mas resolvo que é melhor não questionar. - Então, obrigada pelas informações e por todo o resto. Se eu conseguir algo e precisar da sua ajuda novamente, entrarei em contato.

- Estou certo de que terei as informações, já que eu vou com você. - Nikolay falou tranquilamente.

- O que? Você não pode!

- Claro que posso, e mesmo que você não queira que eu vá, eu já memorizei o endereço. O que você acha que pode me impedir de chegar lá, antes mesmo de você? - o vampiro arqueia uma sobrancelha e cruza os braços, em desafio.

Ah, ótimo. Eu troquei o meu parceiro estressado e superprotetor por um vampiro manipulador, arrogante e sarcástico. Céus, minha intuição estava errada, antes dessa noite acabar, eu vou precisar de uma garrafa inteira de tequila.

- Você esqueceu de "vampiro incrivelmente charmoso e sexy", chérie. Mas tenho certeza de que isso já passou pela sua cabeça. - Nikolay pisca e me lança mais um dos seus sorrisos cafajestes. - Então, vamos? Ou eu posso acabar arrumando alguma utilidade para aquela mesa...


Quem quer fogo no parquinhoooooo? 🔥🔥🔥

Meus xuxus, já passamos da metade da história! Se segurem, porque agora é só eita atrás de eita 👀.

Não se esqueçam de votar e até a próxima <3.

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