Lupin voltou à enfermaria algum tempo depois e informou que Sirius já tinha ido embora e Harry apenas concordou, respirando aliviado por ter conseguido uma segunda visita de seu padrinho, sem muitos danos. Draco estava sentado, quase dormindo por cima da cama e quando viu a cena, Lupin balançou a cabeça e riu.
— Você está liberado das aulas hoje, Malfoy. – disse, se aproximando de ambos.
— Eu sei, professor. – o loiro bocejou, endireitando o corpo e levantando, para observá-lo. Desde a descoberta da gravidez, e principalmente quando estavam na enfermaria, a presença de adultos nunca eram momentos fáceis, os garotos estavam sempre prontos pra ouvirem algo diferente, algo que talvez não fosse agradá-los. Por isso, Draco esfregou o rosto e respirou fundo quando Lupin ficou em silencio por algum tempo. — Aconteceu alguma coisa? – perguntou impaciente e o homem sorriu, negando.
— Eu entendo que nada está sendo fácil pra vocês nas últimas semanas, e daqui pra frente a vida de vocês não será a mesma. – ele disse vendo os jovens assentirem. — É louco pensar que você ta passando por mais uma coisa difícil, Harry, seus pais com certeza surtariam se estivessem aqui, principalmente o James que conseguia ser pior que o Sirius, apesar de seu pai ser brincalhão na maior parte do tempo. – Harry riu. Ele não costumava ouvir coisas daquele tipo sobre seus pais, a maioria das coisas que ele conhecia, Hermione o tinha ajudado e mesmo assim, não eram coisas pessoas como aquela, então ouvir Lupin falar de coisas simples que eles faziam juntos, aqueceu o coração de Harry e ele sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto. — E eles sem dúvidas, estariam imensamente orgulhosos de ver como você cresceu e como se tornou um pai incrível, e apesar do incidente, esse bebê tem muita sorte de ter vocês dois. – Malfoy engoliu seco e sorriu.
Ele sempre esnobou maior parte dos professores, principalmente Lupin e sua condição de Lobisomen, e mesmo com tudo isso, o professor ainda tratava Draco da melhor forma possível, e ainda o tinha elogiado.
— Obrigado, professor. – o loiro disse com a voz baixa. — Sinto muito por tudo que já lhe disse...
— Não se preocupe com isso. – o homem disse sorrindo — Mas eu não vim aqui só para elogiar vocês dois. – comentou rindo e ambos franziram o cenho e Lupin direcionou sua atenção diretamente à Malfoy. — Eu sei que está preocupado e que só quer cuidar do Harry, mas você precisa descansar, teve um dia cheio, mesmo que tenhamos passado pouco mais do meio-dia.
— Professor, eu..
— Eu sei que você está bem, Draco. – ele o interrompeu. — Mas ainda assim, você precisa dormir um pouco, e o Harry também. Não se preocupe que eu não deixarei ele aqui sozinho. – assegurou e colocou a mão sobre o ombro do loiro. —Você vai ser um pai muito dedicado, e estou feliz por isso. – Draco sorriu, envergonhado. — Estarei aqui sempre que precisarem.
O loiro sorriu outra vez.
— Obrigado, professor.
Malfoy ainda relutou por alguns minutos antes de finalmente deixar a enfermaria e mesmo odiando a ideia, o loiro saiu logo após deixar um beijo na cicatriz do moreno e como havia dito, Lupin permaneceu ao lado de Harry sem fazer comentário algum sobre a cena que acabara de ver.
Harry sorriu tímido e respirou fundo assim que a porta foi fechada.
A cada dia que passava ele sentia que tudo dentro dele mudava, e não somente pela gravidez, mas agora. só ouvir o nome de Malfoy, seu coração acelerava e sua respiração falhava.
É isso que as pessoas chamam de amor?!
O moreno riu consigo mesmo balançando a cabeça e encarando o teto da enfermaria, suas aulas foram suspensas e mesmo se sentindo melhor, ele não poderia deixar a enfermaria até segundas ordens.
Ele só precisava relaxar e aguardar a visita de algum dos seus amigos, que espantosamente ainda não tinham aparecido.
Lupin ficou sentado ao lado de Harry, lendo um livro e vez ou outra eles falavam sobre Siriús, a vontade de Harry ainda era perguntar sobre ele e seu padrinho, mas a vergonha não deixava, então Harry se deu por vencido e mal percebeu quando o sono chegou.
Algum tempo depois Harry ouviu a porta sendo aberta e abriu os olhos, só então se dando conta de que tinha pegado no sono e o professor Lupin não estava mais lá, ele endireitou os óculos em seu rosto Harry e tentou dizer a si mesmo que não estava ficando louco, até porque, levando em conta a pessoa que acabava de entrar na enfermaria, não era de se espantar que ele pudesse ter enlouquecido.
Harry sentou-se na cama e respirou fundo, vendo a garota tão desconfortável quanto ele mesmo.
— Parkinson? O... O Malfoy já voltou pro dormitório..
— Eu sei – ela o interrompeu — Eu estava esperando ele sair pra vir aqui.
Harry franziu o cenho.
— O que você quer?
Harry engoliu seco e por instinto, pôs a mão sobre sua barriga, endireitando o corpo antes de ver a garota dar dois passos à frente quase encostando na cama onde ele estava, seu semblante era apático, quase como o de Draco que não tinha pregado os olhos durante a madrugada inteira. Mas diferente de Draco, seus motivos não pareciam os mesmos, e Harry sentia que tinha algo errado, ele nunca fora com a cara dos Sonserinos, especialmente a morena de cabelos curtos, talvez porque ela estava sempre ao lado dos garotos que o provocavam, e porque nunca evitava xingamentos quando passava por ele e seus amigos.
Embora Harry também não pudesse deixar de pensar que já fazia um bom tempo que Pansy Parkinson não agia daquela forma, Harry diria que possivelmente há quase um ano não tinha suas provocações, exceto, as olhadas que ela ainda lhe dava quando passava por perto.
Mas por que Harry estava com uma sensação ruim?
E por que ela parecia profundamente abalada?
Ela respirou fundo e passou a mão no seu cabelo enquanto tentava achar um meio de falar o que Harry nem fazia ideia do que se tratava.
— Eu precisava falar com você a sós.. – ela recomeçou com a voz baixa — Eu precisava te contar a verdade antes que eu enlouqueça.
— Que verd...
— Eu sabotei a sua poção e do Draco. – disse interrompendo o moreno que abriu e fechou a boca várias vezes como se tivesse perdido a capacidade de falar. Ele não podia ter ouvido aquilo.
Não podia.
— Fui eu quem misturei os ingredientes, mas eu juro pra você que não foi por mal. – concluiu e Harry de um riso de deboche.
— Você... Só pode estar brincando... – Harry disse incrédulo. Seu rosto esquentava a medida que ele via o sangue ferver a medida que sua ficha ia caindo. Ela era a culpada por tudo o que vinha sentindo nas últimas semanas, ela era a responsável por todos incriminarem seu melhor amigo, Draco quase havia se machucado quando encontrou com Sirius, e ela era a culpada.
Ele fechou os olhos e balançou a cabeça.
— Não pode ser.. – disse se negando a acreditar, ainda balançando a cabeça. — Você não pôde...
— Eu só queria juntar vocês dois. – comentou com a voz embargada — E-eu achei que se usasse Amortentia misturado na poção o Draco finalmente teria a chance de te conquistar... – ela continuou falando enquanto tudo na mente de Harry se tornava borrão, ele sentiu uma pontada na barriga e apertou os olhos respirando de modo decrescente como Lupin havia ensinado. — Nós não acreditamos quando ele disse que estava apaixonado por você, parecia ridículo, mas quando vimos como ele reagia ao te ver somente de longe, não tivemos como duvidar, o que fez com que aceitássemos você, mesmo que nem fizesse ideia disso. – ela passou a mão nas bochechas — Nott e Eu oferecemos ajuda pra pensar em algo que pudesse ser feito pra ele te conquistar, mas o Draco não aceitou. – Pansy tentou alcançar a mão de Potter, que recuou. — Ele disse que resolveria do jeito dele mas se passou um ano e ele só ficava se lamentando por não ter você. – Harry engoliu seco — O Blaise sugeriu que ele sr aproximasse aos poucos, nas aulas, mas o Draco é cabeça dura e só faz o que ele quer. – ela suspirou.—Então eu pensei que usando poção, mesmo sem ele saber, ajudaria de algum jeito, talvez ele tivesse mais tempo pra conversar contigo e então você teria a oportunidade de conhecer o outro lado dele... M-maas quando você começou a passar mal e o resultado que eu esperava não aconteceu, eu surtei. – ela soluçou, colocando as mãos no rosto. — Eu fiquei com medo de ter feito alguma merda e acabar ferindo você de forma fatal.. – Harry travou o maxilar.
Por alguns minutos, só era possível ouvir os soluços da garota na enfermaria e Harry não acreditava que ninguém pudesse ter aparecido naquele meio tempo, tudo bem que fosse horário de aula, ou almoço, Harry já tinha perdido a noção de tempo ali dentro, mas ainda assim, ele não acreditava que ninguém tivesse ido vê-lo.
— Eu te juro que nunca quis te machucar, o Draco me mataria se eu tocasse um dedo em você.. – ela voltou a soluçar e Harry respirou fundo outra vez, e então desceu da cama, encarando-a.
— Você sabe o que venho passando desde que descobri essa gravidez? Tem ideia do inferno que passei nas últimas semanas... O que o Malfoy teve que passar ouvindo todo mundo acusando ele.. – ele disse com a voz fria — Eu quase perdi o bebê essa manhã e a culpa é toda sua! – Harry vociferou. — O Malfoy estava levando a culpa por um erro que você cometeu, Parkinson, você que se diz melhor amiga dele o deixou noites sem dormir pensando que tinha me ferido... Tem ideia do caos que causou a nós dois?!
— Eu sei, Potter, Eu sei de tudo isso, tá sendo um inferno pra mim também, droga! Eu sinto muito, preciso que me perdoe, eu juro pra você que não fiz por mal... Eu vendo pensando em me entregar ao Snape e acabar com tudo isso; eu sei que o Draco nunca vai me perdoar, você também não, e eu entendo, realmente entendo e não tiro a razão de nenhum dos dois... – ela abaixou o olhar e respirou ofegante — Já fazem dias que não tenho dormido só pensando e repensando no que dizer, e como dizer, e nada de coerente vinha em mente, mas então o Finnigan foi falar comigo..
— Finnigan? – Harry a olhou incrédulo — Seamus Finnigan? – ela assentiu.
— Ele sabia do que eu pensava em fazer. Eu pedi a ajuda dele, afinal, ele é o campeão em feitiços errados, então "errar" uma poção transformando ela em Amortentia não seria novidade... Mas ele não aceitou. Ele disse que não podia fazer nada contra você, e mesmo que eu tenha feito tudo sozinha, ele tem se culpado na mesma intensidade. – Pansy então ergueu o olhar e se aproximou do garoto conseguindo dessa vez segurar as mãos de Harry que sequer conseguiu fazer algum movimento para afastá-la. — Não brigue com ele, por favor, sei que nunca confiou em mim, e agora tem muitos mais motivos pra isso. – ela sorriu de forma amarga — Mas eu sei que vocês Grifinórios sabem quando o outro está ou não mentindo, então ouça o Finnigan, deixe ele se desculpar e o desculpe também. Não precisa fazer o mesmo por mim, nunca nos demos bem de todo jeito, provavelmente eu serei expulsa por causa disso e lamento muito não poder conhecer vê-lo nascer, mas eu sei que vocês vão cuidar muito bem desse bebê. – ela mordeu o lábio, segurando as lágrimas que vieram em seguida. — E por favor, o crie da maneira certa, sem colocar na cabeça dele essa coisa de rivalidades entre as casas, inimigos pelas diferenças, ou qualquer outra coisa que tenha existido entre nós. O ensinem a nunca odiar alguém apenas por ser diferente. – Harry engoliu seco — O Draco teve uma infância sofrida, e agora na adolescência não está sendo tão diferente. Mas de todas as certezas que ele já teve na vida, a única é de amar você; Ele te ama, Potter, e ama muito mais essa criança que vai chegar. – a morena sorriu acariciando sua mão outra vez. — Eu sei que já pedi, mas eu realmente lamento por tudo o que te causei, me desculpe... – mas antes que pudesse responder qualquer coisa, a porta foi aberta e Draco Malfoy entrou sendo seguido por Blaise Zaibini e Nott que inutilmente tentavam contê-lo.
— Desgraçada!! – vociferou — Como pôde? Como pôde fazer isso, Pansy? Justo com o Harry, Justo com ele, porra! Eu vou matar você.. – o loiro correu em sua direção enquanto a morena chorava desesperadamente e aflito Harry acabou ficando na frente dela recebendo o olhar fumegante e confuso de Malfoy — Por que está fora da cama? Você tem que está descansando, então, por favor, saia da frente dela. – ele voltou a olhar para Pansy e quando tentou avançar até ela, Blaise segurou em seu braço o chamando — Me larga, caralho! Eu matar ela, eu vou matar ela!
— Draco, me perdoa.. – ela soluçou colocando a mão nos braços de Harry que pareceu ficar no modo automático desde o momento que Malfoy entrou na enfermaria. — Eu vim pedir desculpas ao Potter, eu contei tudo, Eu disse que não queria machucá-lo, eu disse tudo.. Por favor, você precisa acreditar em mim.
— ACREDITAR EM VOCÊ? VOCÊ PODIA TER MATADO O HARRY, PODIA TER MATADO O NOSSO BEBÊ E EU PRECISO ACREDITAR EM VOCÊ? VAI PRO INFERNO, GAROTA!
— Eu fui sincera com o Potter...
— NADA JUSTIFICA O QUE VOCÊ FEZ, PARKINSON! VOCÊ SABIA QUE EU GOSTAVA DO HARRY, EU DISSE PRA VOCÊS...
— A gente tentou te ajudar, Draco... – ela soluçou.
— EU DISSE QUE NÃO QUERIA AJUDA, CARALHO! EU SEI RESOLVER OS MEUS PROBLEMAS SOZINHOS! O QUE VOCÊ NÃO PODIA ERA USAR DE POÇÕES...
— Era a poção do amor...
— VAI SE FODER! – Harry viu o rosto do loiro ficar todo vermelho e as veias de seu pescoço parecia querer saltar fora da pele.
Blaise segurou forte em seu braço.
— Draco, por favor, se acalma, o Potter não pode ter esse tipo de stress... – Blaise alertou puxando o amigo para trás enquanto Nott ficava ao lado de Pansy. — Vocês precisam se acalmar; Pansy, nós já fomos na sala do diretor e o professor Snape tá vindo aí, vocês vão ter que ir pra sala do Dumbledore. – ele avisou vendo-a concordar secando o rosto. — Nott, leva ela daqui. E Draco, eu entendo a sua raiva, mas resolver coisas por conta própria também não ajuda em nada, você precisa sentar e respirar fundo.. – Blaise então encarou Harry se aproximando dele por um instante — Tá se sentindo bem, Potter? Deixa eu te ajudar a sentar aqui. Quer que eu pegue água? – o moreno assentiu e voltou a sentar na cama. Draco correu até ele e o abraçou chorando.
— Me desculpa. Me desculpa por ter chegado assim, por ter gritado com você, eu perdi a cabeça quando o Blaise contou o que ela tinha feito... Eu não suportaria perder você, Harry. Eu morreria no seu lugar, sem pensar duas vezes.. – o choro de Malfoy era agoniante, Harry odiava aquilo, embora entendesse seu desespero; sua melhor amiga foi a causadora de toda aquela confusão e por mais que tivesse sido provado que ele não estava envolvido, ele continuaria se sentindo culpado. — Me desculpa por favor... – Harry o afastou e segurou em seu rosto analisando os olhos azuis perderem o brilho que ele já estava acostumado a ver, seu rosto vermelho e os olhos inchados fizeram Harry sentir uma pontada em seu peito e sem dizer nada, ele aproximou seu rosto do dele e o beijou de forma delicada, apenas sentindo seus lábios molhados e o gosto salgado se misturando. Malfoy foi pego de surpresa e quando abriu os olhos viu o moreno sorrir de lado.
— Fique calmo.. – pediu quando Draco o encarou.
— Você tá bem? – Harry assentiu.
— Estou bem, não se preocupe. – Malfoy assentou contra vontade e Harry acariciou suas bochechas levemente. — Vamos resolver tudo isso juntos, ok? – o loiro arregalou os olhos.
— Juntos? V-você tá dizendo, que... – Malfoy gaguejou e Harry sorriu.
— Não quero mais ficar longe de você. – o moreno segurou em sua bochecha secando as poucas lágrimas que ainda escorriam. — Essa conversa com a Pansy me fez ver que não posso lutar contra meus sentimentos, fingir que nada tá acontecendo quando na verdade, tudo o que eu quero e preciso é estar com você. – Malfoy foi interrompido quando abriu a boca pra falar — Nas últimas semanas eu só tenho pensado em você... em nós. Pensei em tudo o que me disse, o que já fez por mim e pelo bebê. – ele fez uma pausa — Eu achava que o incomodo que eu sentia antes quando passava por perto de você era por causa das nossas rixas e porque estava sempre me provocando. Mas quando a poção deu errado, mesmo sem sabermos que eu estava esperando um filho, você ficou do meu lado, se preocupou comigo e até enfrentou o Sirius por minha causa. – os dois riram — Precisa me amar muito pra conseguir aguentar o ranzinza do meu padrinho.
— Eu disse que te amava e nem o Sirius mudaria isso. – Harry concordou — Então, quer dizer que agora somos um casal? – Harry sorriu assentindo.
— E dessa vez, não é um sonho. – Potter inclinou o rosto beijando a bochecha do loiro — Isso te prova que é real?
— Hmm.. acho que preciso de mais alguns pra ter certeza. – Draco provocou vendo o outro rir.
— Seu bobo aproveitador.
— Por você, sempre. – Harry sorriu envergonhado, desviando a atenção do piro por um momento.
A porta se abriu outra vez e o casal olhou para a entrada. — Draco, Potter? – Nott disse. — O diretor quer ver vocês.