Acidentalmente Ela ⚤ Jikook

By sasoossi

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[EM ANDAMENTO] Park Jimin deveria estar soltando fogos de artifício por finalmente estar levando a vida que s... More

⚤ Personagens e avisos ⚤
⚤ PRÓLOGO ⚤
01 ⚤ ELA é novata.
02 ⚤ ELA é estranha.
03 ⚤ ELA é surtada.
04 ⚤ ELA é viciada em doces.
05 ⚤ ELA tem a melhor mãe do mundo.
06 ⚤ ELA dorme de... cueca?
07 ⚤ ELA é motivo de ciúmes.
08 ⚤ ELA entende de bolas com maestria.
09 ⚤ ELA foi descoberta.
10 ⚤ ELA tem novos membros em sua familia.
11 ⚤ POR ELA um capitão constrói barquinhos de papel.
12 ⚤ ELA é o sol dele.
13 ⚤ ELA é o encaixe perfeito dele.
14 ⚤ ELA é a conchinha de dentro.
15 ⚤ ELA entende como é ser mulher agora.
16 ⚤ ELA vai cuidar dele agora.
17 ⚤ ELA disse que é santa, por acaso?
18 ⚤ ELA é a namorada dele.
19 ⚤ ELA não gosta de hospitais.
20 ⚤ ELA nunca mais vai brincar de "eu nunca".
21/1 ⚤ POR ELA, a tempestade se transforma em chuva fina.
21/2 ⚤ POR ELA, a tempestade se transforma em chuva fina.
AVISOS DE EXTREMA IMPORTÂNCIA
22 ⚤ Ela o ama.
23 ⚤ ELE tomou a melhor decisão.
24 ⚤ ELE vai recomeçar do zero.
25 ⚤ ELE tem garra, força e determinação.
27 ⚤ ELE não sabe mais o que fazer.
28 ⚤ ELE é um cão muito bem articulado.
29 ⚤ POR ELE, a montanha pode curvar-se diante do vento. Parte I
30 ⚤ POR ELE, a montanha pode curvar-se diante do vento. Parte II
AVISOS DE EXTREMA IMPORTÂNCIA 2
31 ⚤ ELE cria planos como ninguém.
32 ⚤ ELE é de casa.
33 ⚤ ELE não precisa mais se esconder.
34 ⚤ ELE não estava nos planos.
35 ⚤ ELE nunca deixou de brilhar.
36 ⚤ POR ELE o futuro brilha em amarelo.
⚤ Livro

26 ⚤ ELE não perde por esperar.

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By sasoossi

#PIMENTINHADECABINHO ☀️

Oi, pimentinhas, como vocês estão? Se hidratando direitinho?

Queria fazer um pedido muito importante a vocês:

POR FAVOR, NÃO CRITIQUE, NÃO XINGUE E NÃO DESTRATE  QUALQUER PERSONAGEM DESSA HISTÓRIA SEM MOTIVO EXPLÍCITO.

Todo e QUALQUER xingamento será excluído, então eu peço o mínimo de respeito e consideração, beleza?

Desculpem ter que pegar um pouquinho pesado  na forma de falar, mas às vezes nem mesmo o autor pedindo, alguns leitores não respeitam.

⚠️ Prestem atenção nesses "seis dias" falados na história, os próximos capítulos vão acontecer em torno deles.

É isso, boa leitura, amo muito vocês!!!

April 28

Dear Park Jimin,

Congratulations! It gives me tremendous pleasure to inform you that the Juilliard Dance faculty and the Admissions Committee have granted you admission to the Bachelor of Fine Arts program at the Juilliard School. Enrollment at Juilliard is an opportunity to join a community of accomplished performing artists from around the world in an exciting and challenging education. We would like to extend to you every encouragement to join us to the fall!

Eu estou parado na frente do computador há cinco minutos, imóvel.

Depois de uma audição presencial em Nova York e cinco meses sem dormir aguardando resposta, meus olhos ficam borrados com as lágrimas de emoção ofuscando minha visão.

— Mãe?...

Por algum tempo eu chego a questionar se minha mãe será capaz de me ouvir. Minha voz saiu tão baixa, abalada e embargada de sentimentos, que soou como um miado debilitado até para meus próprios ouvidos.

— Me chamou, filho? — Dois minutos depois, ela aparece na porta.

Eu viro a cabeça, os olhos brilhando de felicidade e uma outra coisa quando me atento em seu rosto bonito... Angústia. Pela primeira vez, minha ficha cai e me deixa consciente de que em mais quatro meses, uma distância de dez mil quilômetros vai tornar raro os momentos em que verei esse mesmo rosto tão de perto.

Eu olho para ela, emocionado. — Eu entrei.

Mamãe cobre um sorriso com as mãos e seus olhos se enchem de água. No mesmo instante, eu sei que não preciso dizer mais nada. Ela entendeu que seu único filho vai partir.


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Eu pego uma jaqueta jeans e torço os lábios, olhando para a mala aberta em cima da minha cama.

— Jimin, é agosto. Nós ainda estamos no verão.

Taehyung está tirando algumas fotos aleatórias com a câmera frontal do meu celular. Fotos essas na qual eu terei que ficar horas apagando depois porque não quero uma sequência interminável do seu rosto na mesma posição e em cantos diferentes do meu quarto, enchendo a memória do meu celular. Não, obrigado.

Meus sessenta e quatro gigas são preciosos.

Tae nem se dá ao trabalho de olhar para mim antes de continuar chamando a minha atenção: — E por que está levando tanta roupa? São apenas seis dias na casa de campo do Junghyun, não seis meses.

Eu rolo os olhos e solto um bufo, decidindo ignorar Taehyung e colocar a jaqueta dentro da mala.

Eu sei que ainda é verão, mas e se vier uma frente fria e eu não estiver preparado? Faltam menos de duas semanas para o outono e mamãe me disse que a mansão fica a algumas horas da cidade, no meio do nada, e de frente para um lago tão grande que poderia fazer eu me sentir reduzido a um grão de areia dentro de uma bacia com água. Lugares assim costumam ser frios, principalmente à noite.

— Você fala como se não fosse igual a mim, — eu rebato, dando a ele um olhar enviesado. — Da última vez que viajamos para passar o final de semana na casa da sua avó, sua mala nem queria caber no porta-malas do Uber.

— E que culpa eu tenho se aquele carro era minúsculo? E eu precisava de um estoque grande de roupas porque você sabe que eu só consigo decidir o que vestir na hora, então preciso de opções. Já você, sempre planeja exatamente o que vai usar e não leva nada além disso. O que aconteceu com o Mister Arrumadinho?

Eu faço uma careta intolerante para sua zombaria.

— Eu nunca fui organizado, — eu pontuo. — Pelo contrário.

— E exatamente por não ser organizado que você nunca gostou de carregar mais bagagem que o necessário: dá menos trabalho e você não gasta tempo dobrando o que não precisa.

Eu tento deitar o peso do meu corpo em cima da mala na tentativa de fechá-la, mas paro no momento em que percebo o olhar desconfiado de Taehyung em cima de mim.

Eu estalo para ele: — O que foi?

— Nada, — diz, dando de ombros, e coloca meu celular em cima da escrivaninha, vindo até mim. Em silêncio, ele começa a me ajudar a fechar a mala, e enquanto eu sento em cima dela e ajeito a perna de uma calça que estava saltando para fora, ele fecha o zíper.

Taehyung dá um suspiro, e eu franzo os lábios.

— Desembucha, — eu digo, olhando para ele.

— O quê?

Sua cara de confusão seria perfeita para enganar qualquer um, mas não a mim. Eu conheço esse sujeito desde quando ele ainda chorava na pré-escola sentindo falta da mãe, e sei exatamente quando ele está se segurando para botar alguma coisa para fora.

— Não venha se fazer de desentendido para cima de mim, eu sei que está louco de vontade de dizer algo, e não deve ser coisa boa, senão não estaria hesitando. Desde que acordamos, você está jogando indiretas e me dando olhares, então se quer dizer alguma coisa, diga logo. — Eu cruzo os braços, o desafiando, e Taehyung apenas levanta uma sobrancelha.

Ele parece mordaz.

— Eu acho que você está inseguro, — diz.

— E por que eu estaria inseguro?

— Agora é você quem quer fazer a egípcia? Jeon Jungkook, Jimin. Esse nome soa familiar para você? Todo esse seu nervosismo sobre qual roupa vestir, o receio, você mal tocou no seu café da manhã hoje cedo e às vezes quando eu falo com você, sua cabeça parece estar em outro planeta.

— Isso não tem nada a ver com Jungkook! — Eu falo, odiando a mim mesmo pelo quão na defensiva minha voz começa a soar. — Minha mãe vai se casar em menos de uma semana, em sete dias eu estou indo embora para o outro lado do mundo, e no momento em que eu partir, só vou poder ver vocês de novo uma vez ao ano porque passagens são caras demais para eu abusar como se estivesse indo de ônibus passar uns dias na sua casa. É definitivo, Tae. Eu vou embora.

Meus olhos captam rapidamente o outro conjunto de malas no canto do meu quarto, dessa vez bem maiores e em mais quantidade. Essas eu preparei ainda ontem, e contém tudo o que eu preciso para viver em outro país. Como eu vou partir logo após o casamento, não terei tempo para mais nada além de uma despedida digna de todos antes de ir.

— Se para você isso não parece motivo suficiente para justificar minha ansiedade, — eu continuo — eu não sei mais o que poderia ser.

— Reencontrar o seu ex, talvez.

Eu olho para Taehyung, meu rosto se aquecendo. — Jungkook não é meu ex. Para ser ex de alguém, você precisa ter sido alguma coisa de alguém antes – um namorado, um marido, um amigo – e eu e ele nunca tivemos nada.

Se para Jungkook tudo o que eu fiz foi enganá-lo e trair sua confiança, vou agir como se ele tivesse razão. Até nossa amizade era falsa. Nunca aconteceu.

Taehyung suspira, parecendo tão cético quanto eu mesmo pareço. — Você não pode estar falando sério.

Meu pulso começa a acelerar.

— Triste é para você se não acredita. Eu estou bem, Tae. Já faz um ano desde que a bomba sobre mim explodiu. Isso não me abala mais, assim como não abala a ele. Jungkook nunca me procurou, ele não se importa. Ele está bem, está seguindo com a sua vida e tem uma namorada. Eu tive muito tempo para superar e estou seguindo com a minha também em busca do meu sonho. Eu não poderia estar melhor.

Eu termino meu discurso de superação com o corpo instável e mal consigo sustentar seu olhar.

— Eu não devia ter te contado sobre ela. — Taehyung diz em sua voz deprimida, quase com arrependimento.

— E então o quê? Eu os teria visto juntos no casamento e eu acabaria sabendo de qualquer forma.

Foram raras as ocasiões em que Taehyung saiu com Yoongi e Jungkook estava junto. A primeira foi na virada do ano, quando o encontraram em uma festa de comemoração no centro da cidade, e depois quando foram a uma boate retrô em março. Em ambas as ocasiões, ele parecia muito bem, embora nunca trocasse mais que cinco ou seis palavras com Yoongi ou Hoseok e em todo o resto do tempo permanecia alheio, na dele.

Taehyung nunca chegou a conhecer a garota. Ela aconteceu um tempo depois, quando já nem se viam mais. E também nunca se encontraram desde então. Foi Yoongi quem contou a ele.

— Certo, — Tae dá um aceno curto, algo abatido em sua expressão. — Mas me ligue qualquer coisa, tudo bem? Eu não me importaria de adiantar o meu check-in na casa de campo dos Jeon se você precisar de mim.

Taehyung só está previsto para ir um dia antes do casamento. As festividades decorrentes de hoje à noite e dos próximos quatro dias, serão voltadas para algo mais privado e familiar.

— Eu prometo ligar se alguma coisa acontecer, mas eu sei que não vou precisar, — eu insisto. — Eu estou bem resolvido comigo mesmo e quanto aos meus sentimentos em relação a Jungkook, então você não precisa se preocupar. Além do mais, eu duvido muito que ele vá querer ficar todos esses dias isolado do resto do mundo, participando de confraternizações e festas pré-matrimoniais. Ele só deve ir no dia do casamento, assim como o resto dos convidados. Vai dar tudo certo.

Eu alcanço a cintura de Tae e dou a ele um abraço. Pelo barulho do carro do lado de fora da casa, eu sei que Junghyun já está aqui para nos buscar.

Taehyung estica o olhar em direção às janelas e acaricia meus ombros antes de se afastar. — Acho que a sua carona chegou, — ele diz.

E como se estivéssemos adivinhando, mamãe abre ligeiramente a porta do quarto no instante seguinte. — Vamos, querido?

Eu pressiono os lábios e dou a ela um aceno, me virando para Tae outra vez. — Obrigado por ter dormido na minha casa mais uma vez.

Pela última vez, eu penso, mas não digo nada para não deixar o momento ainda mais melancólico.

— Eu tenho que aproveitar cada segundo que me resta com o meu melhor amigo. — Ele sorri tristemente e me abraça outra vez, agora bem mais apertado e doloroso. Não o abraço, mas o sentimento de despedida que ele traz.

— Vocês dois estão agindo como se o Jimin estivesse indo embora hoje, — mamãe fala, rindo, mas eu sei que essa é sua maneira de mascarar sua tristeza. — Por favor, meninos, vamos nos poupar de sofrer com antecedência, e vamos logo, Jimin. Junghyun já está nos esperando, e vocês dois terão muito tempo para se despedirem ainda.

E eu vou.

Em menos de dez minutos, eu estou olhando meu melhor amigo, caminhando de costas até o ponto de ônibus através dos vidros escuros traseiros de um Rolls-royce preto, sua silhueta cada vez mais distante.

— Tudo bem?

A pergunta atrai minha atenção e eu me viro para frente, dando de cara com um par olhos escuros amendoados e profundos me estudando através do retrovisor do carro em movimento. Os dedos de Junghyun apertam firmemente o volante, o Rolex prateado brilhando em seu pulso e a camisa social preta dobrada abraçando os músculos dos seus antebraços.

Acho que ele pareceria pronto para uma reunião de negócios até se fosse convidado para um churrasco de domingo na laje.

— Tudo sim, — eu respondo, dando a ele um sorriso leve.

Seu olhar permanece em mim por mais alguns segundos, e meu estômago começa a dar alguns nós. Para meu alívio, logo eles estão de volta na estrada, e eu noto quando sua destra termina de passar uma marcha e envolve os dedos da minha mãe, que descansam calmamente em cima do vestido floral em seu colo.

Às vezes eu gostaria de pedir a Junghyun que mantivesse seus olhos os mais distantes de mim o possível, mas não posso imaginar o quão grosseiro isso soaria. Sua semelhança com seu irmão ainda será o motivo da minha ruína.


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Talvez a casa de campo de Junghyun não seja exatamente como eu imaginei.

Cenários de madeira e elementos rurais? Um palácio de vidros, espelhos e luzes está longe de captar o conceito rústico tradicional que estamos acostumados a ver por aí. Será que esse arquiteto nunca visitou uma roça?

— Esteja pronto às sete, Jimin. Faremos uma recepção para os convidados e eu quero que esteja lá, tudo bem? — Mamãe se aproxima e deixa um beijo rápido na minha testa. — Você pode explorar o quanto quiser até o anoitecer, a paisagem é linda e você vai adorar. Só tome cuidado para não se afastar muito da villa¹. Mesmo com toda a segurança, pode ser perigoso se estiver sozinho.

Eu concordo fracamente, ainda perdido com todas as informações visuais e a grandeza do lugar, e eu nem cheguei a sair da garagem.

— O pôr do sol é muito bonito visto do lago. Você pode chamar a Doona para te fazer companhia, ela te adora. — Junghyun fecha a porta do carro e para ao lado da minha mãe, colocando uma mão autoritária sobre seu ombro. — O Mark vai deixar a sua mala no seu quarto, e você pode subir para arrumar suas coisas quando quiser. Fique à vontade para usar o que estiver à sua vista, desde a piscina até os jet-skis se quiser usar o lago. Eu quero que se sinta em casa.

Uma breve checada através das paredes espessas de vidro da garagem me dá um panorama distorcido de um deck na área externa, cheio de painéis, mármore, cadeiras e um extenso fundo azul – provavelmente a piscina.

— Mark? — Eu questiono antes de dizer qualquer outra coisa.

— Aquele Mark, — diz Junghyun à minha frente, e eu sigo seus olhos até o empregado de pé ao lado da enorme porta dupla que dá acesso ao interior da casa, um jovem com não muito mais que a minha idade. — Ele vai ficar exclusivo à sua disposição para o que precisar.

Eu dou um olhar rápido em Mark antes de me virar para Junghyun, mal contendo o meu desagrado. — Você não está me dando uma babá, não é? Eu não preciso de babás.

A risada instantânea de Junghyun quase me deixa aliviado.

— Dificilmente, — ele fala com um sorriso divertido nos lábios, me olhando como se eu fosse a criatura mais cativante que já viu. — Mas você vai desejar tê-lo por perto se não quiser se perder aqui dentro, pelo menos até treinar o seu senso de localidade.

Eu viro a cabeça e encontro Mark com uma expressão sem graça no rosto.

— Sem ofensas. É só que eu não quero uma babá, e você dificilmente é muito mais velho que eu. — Eu dou de ombros, falando alto o suficiente para que ele possa ouvir.

— Nenhuma ofensa registrada, — Mark responde simpaticamente. — Eu tenho vinte e dois.

— Viu só? No fim eu estava certo, sou dois anos mais novo. — Eu dou um sorriso amigável a ele. — Prazer, eu me chamo Park Jimin.

Mark nem balbucia. — Eu sei. É o meu trabalho saber seu nome, — ele diz, mas faz uma pausa de alguns segundos. — Sem ofensas, — acrescenta depois.

Justo.

Eu balanço a cabeça, mal me impedindo de rir. — Nenhuma também.

— Você está com fome, filho? — Hinah pergunta no meio disso.

Eu me viro para ela, fazendo um bico pensativo. — Hm, acho que não. Só quero dar uma volta por aí primeiro.

— Tudo bem, só não esqueça que você precisa comer de vez em quando se quiser continuar de pé. A banana que ingeriu no café da manhã não vai te sustentar o dia todo. — Ela franze as sobrancelhas, e eu absorvo seu tom de repreensão nas entrelinhas.

Dando um aceno, eu passo os braços ao redor do seu pescoço e beijo sua bochecha. — Não se preocupe, mãe. Eu prometo que vou comer o maior lanche que eu puder aguentar assim que eu estiver de volta, — falo suavemente, tentando tranquilizá-la.

A pior parte de ir embora um dia depois do casamento, é ter que ver minha mãe dividida entre aproveitar seus momentos felizes ao lado de Junghyun e ficar triste por minha causa.

Sempre fomos só nós dois, sozinhos, desde o princípio. Mamãe nunca teve ajuda para me criar, e nunca precisamos de mais ninguém além do apoio um do outro. Ver isso chegando ao fim de um ciclo, ainda que seja para iniciar um novo com muito mais conquistas e mais promissor, é doloroso. Ela tenta esconder, e são raros os momentos em que falamos diretamente sobre a minha partida e a sua mudança para a mansão, mas deve ser longe de animador saber que vai retornar da lua de mel e não poder voltar mais para sua antiga casa para encontrar seu filho nela – nem em qualquer outro canto da cidade, ou do país.

E isso se refletiu em uma superproteção que ela desenvolveu no modo de me tratar, já faz alguns dias.

— Se concentre apenas em você e na sua felicidade, mãe. — Eu me afasto, dando a ela o mais radiante dos sorrisos. — Esta semana é sua.

E todo o resto daqui para frente, também. Eu penso, mas não digo em voz alta.

Pela primeira vez, ela finalmente vai poder se colocar em primeiro lugar em sua própria vida. Nada de marido doente, filho pequeno ou gastos para diplomá-lo depois. Agora é apenas sobre ela, e isso não poderia me fazer mais feliz.

Junghyun desloca a mão para sua cintura e a puxa para perto. — Eu vou cuidar para que isso aconteça, — ele diz com um sorriso, deixando um beijo no topo da sua cabeça.

Os um metro e cinquenta da minha mãe deixam a diferença de altura entre eles ainda mais pitoresca visualmente.

— Eu sei que sim, — respondo olhando para eles com uma coisa gostosa dançando em meu estômago.

Há uma troca de olhares afetuosa entre os dois, e eles seguem em direção ao interior da casa. No entanto, Junghyun para na porta de entrada e se vira:

— Quando sentir fome, peça ao Mark para te levar até à cozinha e as empregadas vão preparar alguma coisa para você. No seu quarto também tem um botão perto da cama, é só apertá-lo que alguém aparecerá. — Sr. Jeon olha nos meus olhos, seu olhar ficando mais sério, algo repreensivo em sua expressão. — E ouça a sua mãe. Não fique muito tempo sem comer.

— Pode deixar, — eu digo, pressionando os lábios para me impedir de sorrir.

Dando uma atenção extra ao comportamento de Junghyun, eu observo os dois darem as costas e desaparecerem da minha visão. É engraçado como ele não se parece em nada com o homem assustador e arrogante de costume quando está em torno dela. E presenciar esses momentos foi importante para me fazer enxergá-lo como alguém mais humano e mais acessível.

De repente, eu me vejo sozinho com Mark.

Eu cruzo os braços olhando para ele e arqueio uma sobrancelha. — E então, o que tem para ver por aqui?

Mark apenas me dá um sorriso torto.


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As horas até o entardecer se passam mais rápido do que meu cérebro é capaz de acompanhar.

Eu ainda estou tentando me recuperar da surrealidade de tudo à minha volta, quando a posição do sol se pondo atrás das colinas ao redor do lago fazem seu reflexo centralizado se igualar a pequenos cristais alaranjados cintilando sobre a água, com a brisa fresca originando fracas ondas contidas que reluzem ainda mais os feixes de luz e tornam o cenário mais reconfortante e familiar em meio a tanto luxo e sofisticação.

Às vezes é impossível reprimir o sentimento de se sentir deslocado e eu tenho vontade de sair correndo. Enquanto eu andava ao redor, eu via a família de Junghyun chegando aos poucos com seus carros caros e motoristas particulares, e eu me perguntava o que é que eu estou fazendo aqui com toda essa gente podre de rica que se autodenomina superior. A garagem agora deve estar parecendo uma concessionária de carros importados.

Como será que minha mãe consegue lidar com tudo isso?

— Eu acho que você deveria entrar e começar a se arrumar. — Mark termina de observar a última fração do sol se escondendo atrás da montanha e olha para mim.

É a terceira vez que ele chama a minha atenção e tenta me recobrar de que eu ainda tenho uma social para ir. A pior parte é que já está escurecendo, e eu sei que não há outra alternativa a não ser parar de fugir e me preparar para enfrentar os olhares de toda aquela gente.

Eu dou um aceno de cabeça desanimado e começo a segui-lo de volta para dentro da villa.

Eu nunca gostei de celebrações onde eu tivesse que coexistir junto com a grande massa da família de Junghyun. Boa parte dos Jeon são pessoas relativamente educadas e não agem como se o peso de suas gordas contas bancárias ofuscasse às partes dos seus cérebros que os inibe de agirem como idiotas, mas ainda há aquela minoria que olha para nós apenas como o filho viadinho e afeminado da enfermeira pobretona que está dando o golpe no baú em um pobre menino rico fragilizado por seu passado traumático.

Eu poderia sufocá-los à noite com um travesseiro por isso. Ou simplesmente mandá-los irem se foder com seus champanhes, caviar e tudo mais, mas um pacífico ambiente familiar é importante demais para minha mãe para me fazer perder a compostura.

— O que é aquilo?

Eu paro no meio do caminho, as luzes de uma casa ao longe que eu não tinha notado antes chamando a minha atenção.

— É onde eu vou dormir, — Mark fala. — Eu e toda a equipe de contratados para trabalhar aqui nos próximos dias. O Sr. Jeon achou que seria mais prático e confortável construir uma hospedagem para os empregados para que ninguém precisasse ir e vir todos os dias. Ouvi dizer que foi tudo feito em um mês, e só para o casamento.

Eu suprimo um assovio.

Olhando para a hospedagem de dois andares que não deve ter menos de uma dúzia de quartos, eu não consigo deixar de pensar no atrito entre as duas realidades tão diferentes. Com o dinheiro que ele gastou com a ideia "prática" de lhe poupar dores de cabeça, eu poderia nunca mais me preocupar em trabalhar o resto da vida.

Depois de me conduzir de volta a villa, eu já estou a um passo de protestar contra essa perseguição de Mark em me guiar como se eu fosse um cachorro sendo levado para passear em uma coleira o tempo todo, mas minha boca se fecha no instante em que entro dentro da mansão.

Puta merda.

Tipo, puta merda. Agora posso entender o que Junghyun quis dizer com "querer Mark por perto". É tão grande, que se eu me perdesse aqui dentro, provavelmente levaria cinco dias para me achar.

E o show de magnitudes não para por aí.

É bastante reconfortante não encontrar ninguém enquanto eu subo as escadas até meu quarto no terceiro andar, e a gigantesca cama king-size destacando-se em seu centro com vista para o lago através da enorme janela de vidro que vai do chão ao teto, fazem meus olhos saltarem para fora e cintilarem.

Eu pisco perplexo.

Uau.

Mark está acabando de deixar minha mala atrás de uma porta relativamente menor do quarto, se comparada a todas as outras da casa, e eu aproveito para fazer a pergunta: — Tem certeza que é aqui que eu vou dormir, e não o presidente?

Mark dá uma risada.

— Absoluta. Eu já coloquei suas coisas dentro do closet e você pode organizar tudo quando quiser, ou simplesmente chamar alguém para fazer isso por você. — Ele caminha até um móvel branco ao lado da cama e chama a minha atenção para uma espécie de dispositivo que assemelha-se a um controle remoto de tamanho reduzido. — Sr. Jeon já te avisou sobre isso, então é só tocar esse botão vermelho se precisar de alguma coisa, e alguém será enviado para te atender.

— Deve ser tão bom ser rico, — eu digo com um choramingo, embasbacado.

Mark me encara como se eu fosse algum tipo de idiota tolo e inocente. — Mas você é rico. Independente da condição financeira que tinham antes, sua mãe está se casando com o Sr. Jeon em seis dias, e essa será a vida de vocês de agora em diante.

Eu lhe dou um olhar cético. — A vida da minha mãe, você quer dizer. Ela é quem está se casando com um bilionário, não eu, e eu vou embora do país no domingo à noite.

Mark ergue as sobrancelhas. — Mesmo?

— Bem, sim, — eu respondo, encolhendo-me um pouco. — Vou estudar em uma escola de dança nos Estados Unidos. Sou bailarino.

Para minha surpresa, Mark esboça um sorriso animado, de repente. — Minha namorada também dança! Não balé, e sim dança urbana. Ela está terminando o curso de economia atualmente, mas seu sonho mesmo é ser dançarina profissional. Eu a vejo dançando sempre e ela é incrível.

A forma bonita e apaixonada na qual Mark fala de sua namorada faz um sorriso gentil brotar nos meus lábios. — Qual o nome dela?

— Mina. — Ele diz radiante.

— Então diga a Mina que ela deve se manter firme e não desistir, se esse é realmente o sonho dela. Não é uma carreira tão fácil de construir, eu admito, mas vai valer a pena no final e ela vai estar fazendo o que ama. E se ela fizer os olhos das pessoas brilharem tanto quanto os seus, o mundo, definitivamente, precisa dela como bailarina.

O sorriso de Mark fica ainda mais largo. — Não vou me esquecer de dizer isso a ela, obrigado.

— Não tem o que agradecer, — eu digo a ele docemente.

Quando Mark finalmente alcança a porta para ir embora, já são seis e meia da noite e eu desfaço minha mala para começar a me arrumar para a festa de recepção que dona Hinah insiste que eu vá.

Querer ir, eu não quero. Mas prometi que estaria lá – além de que é uma forma de aproveitar nossa última semana juntos.

Retirando uma calça colorida de alfaiataria afivelada na cintura e um cropped de botões com uma pegada mais social, eu nem me dou ao trabalho de ordenar o restante das roupas no closet para não me atrasar, e vou direto para o banho.

A pior parte de fazer tudo às pressas, é que não dá tempo de focar em pequenos detalhes banais, como tirar o excesso de volume dos cabelos ou exagerar na quantidade de Lip Tint e não poder retocar, fazendo minha boca ficar vermelha e volumosa como a de alguém que foi beijado por horas a fio pelo sugador de um aspirador de pó. Mas foda-se essa merda, eu vou assim.

Foda-se todas as merdas.

Eu também estou ciente de que, muito provavelmente, eu passei um pouco de perfume além da conta, mas não dou uma foda para esse detalhe quando passo pelas duas enormes portas de vidro que dão acesso ao deck da área externa e dou de cara com um monte de gente conversando ao redor da piscina enquanto uma música alta toca ao fundo.

Seria muito irrelevante dizer que estou ainda mais atrasado porque fiquei quinze minutos perdido perambulando pela mansão até descobrir como chegar aqui? Talvez eu devesse ter chamado Mark...

— Eu disse anoitecer e já são oito horas, Jimin. O que aconteceu com o "esteja pronto às sete"? Você está há uma hora atrasado. — Mamãe já se aproxima de mim me dando uma bronca.

— Não foi por mal, mãe... Foi a senhora quem me disse para explorar o cenário, não foi? — Apelando para seu lado emocional, eu dou a ela a minha melhor cara de gatinho chantagista do Shrek. — Eu só fiquei encantado com o pôr do sol no lago e perdi a noção das horas... Sinto muito. — Termino fazendo beicinho.

Hinah me dá um olhar sério. — Se você acha que esse seu bico vai me deixar menos brava, você está muito enganado, mocinho. Você perdeu o discurso de boas-vindas do Junghyun e a anunciação da programação dos próximos dias.

Eu desfaço a cara chorosa e cruzo os braços, indignado. — Funcionava quando eu tinha três anos.

— Quando você tinha três anos, agora você tem vinte. — Ela rebate sem a menor pena e começa a me puxar para o centro do deck. — Venha, eu quero que cumprimente duas pessoas, e por favor, seja educado.

— E quando é que eu não sou?

Enquanto sou arrastado pelos pulsos, eu começo a fazer pequenos barulhos de protesto pelo caminho. Eu não quero iiiiiiiir! E eu nem gosto de toda essa gente, pelo menos não de uma boa parte delas.

— Agir como uma criança não vai fazer eu começar a te enxergar como uma, Jimin. Você já é um homem, agora comporte-se.

Eu já posso sentir os olhares alheios sobre meu rosto ou a minha roupa.

Por um momento eu preciso reprimir a vontade de revirar os olhos.

Mamãe congela um sorriso no rosto à medida que nos aproximamos de onde Junghyun nos aguarda com um olhar observador ao lado de um casal de idosos, e murmura entredentes:

— É um tio-avô tradicionalista de Junghyun e a esposa dele, e como é a primeira vez nos conhecendo, ele faz questão dessa formalidade. Eu prometo que serão as únicas pessoas que vou te apresentar formalmente, e depois você estará livre.

Nossa, muito animador. Um tio-avô conservador, e eu com a barriga de fora. Simplesmente perfeito.

Tudo fica ainda mais deprimente quando o homem passa os minutos seguintes da conversa chata e entediante encarando o meu rosto ou procurando com os olhos o restante do tecido que deveria dar continuidade a minha camisa.

Deus, até quando eu vou precisar tolerar isto?

Felizmente, não muito mais.

Eu tenho que respirar fundo para me manter calmo, mas consigo sobreviver até o fim da conversa sem mandar um idoso de oitenta anos ir tomar logo abaixo do seu esfíncter, com todo o respeito.

E em menos de dois tempos, eu já estou longe dali.

Até que eu me dou de cara com Doona.

Ela me cerca a caminho de um canto isolado que estava me seduzindo já havia algum tempo, e me reprime por não ter procurado por ela mais cedo. Foi inusitado quando, depois do jantar de noivado que ocorreu há dez meses, eu contei a ela sobre tudo o que aconteceu entre mim e Jungkook desde a minha chegada na SNU e não recebi nenhum julgamento. Doona se mostrou muito receptiva e teve calma, imparcialidade e mente aberta para me ouvir de modo que tentasse entender os dois lados dessa história. E o mais surpreendente, é que ela agiu tão naturalmente, que eu não parecia estar despejando sobre ela todos os meus ímpetos superabundantes de sentimentos gays por Jungkook.

Ela, literalmente, deu um foda-se para o fato de outro homem ter beijado enganosamente o seu filho de consideração.

A única coisa lamentável de tudo isso, é pensar em como uma mulher tão experiente pode ser tão sábia em alguns momentos, mas tão ingênua em outros. Doona não tira da cabeça a ideia de que eu e Jungkook só vamos conseguir dispersar nossos demônios internos quando resgatarmos o vínculo que temos um com o outro, o que é uma pena, porque esse vínculo nunca existiu.

Depois de me dar um beijo na bochecha, ela me deixa sozinho e eu volto a fazer do canto imaculado próximo a um painel de madeira, o meu foco. Eu pego um drink na bandeja de um garçom e começo a caminhar até ele, pretendendo torná-lo meu refúgio pelas próximas horas até o fim da festa. De saco cheio e alcoolizado.

Eu só queria que Taehyung estivesse aqui.

Ou Jisoo, ou até mesmo Junhee. Certamente eu me sentiria menos como um peixe fora d'água.

— Que feio. No seu lugar, eu estaria tentado me socializar ao invés de me esconder feito um tatu.

Eu fecho os olhos e respiro fundo. Lentamente, eu vou virando a cabeça e me dou de frente com um par de olhos hostis me encarando e um estreito sorriso brilhando nos lábios enquanto bica em sua taça preguiçosamente.

— Olá para você também, Jeongyeon, — eu digo.

Ela não parece muito disposta a me devolver o cumprimento.

— Pelo menos você não fugiu dessa vez, — ela diz.

Meus olhos estudam seu rosto, avaliando-a. — Do que você está falando?

— Oras, não se faça de bobo. Bobo você não é, já que conseguiu enganar meu primo por meses. — Eu considero brevemente devolver alguma resposta a altura ou simplesmente mandá-la ir cuidar de sua própria vida, mas não estou com paciência nem para achar que suas provocações merecem tempo para a minha atenção. Eu tomo outro gole do meu drink e desvio o olhar para os convidados espalhados ao longo do deck. — Acho que nem o destino seria tão meticuloso em causar as coincidências de que em todas as reuniões de família que Jungkook está, você simplesmente vira poeira. Isso tudo é medo de se encontrar com ele de novo?

Eu olho para ela suavemente. — Desde quando isso é da sua conta?

Ela ri.

— Ai... também não precisa ser tão agressivo. — Ela junta as sobrancelhas, simulando uma falsa expressão sofrida.

Eu suspiro. — O que você quer, Jeongyeon?

— Eu preciso querer alguma coisa? Só estamos conversando. — Ela beberica seu martini e checa com o olhar ao redor por alguns instantes. — Diferente de você, eu estou me socializando. Você deveria tentar fazer isso às vezes. Não arranca pedaço.

— Socializar comigo? — Eu rio com escárnio. — Seria menos suspeito se você pedisse os números dos meus documentos ou o meu histórico familiar. Eu sei que você não gosta de mim. Não precisa fingir.

Jeongyeon inclina a cabeça para o lado, olhando para mim com ingenuidade. — Fingir? Mas eu nunca fingi nada. Eu claramente não gosto de você.

— Então o que é que está fazendo aqui? Você não tem coisas mais interessantes para fazer, como perturbar outra pessoa?

Ela dá de ombros. — Não, eu estou bem aqui, obrigada. Perturbar você me parece mais interessante. — Volta a olhar para a movimentação de convidados e bica novamente em sua taça.

Eu rolo com força os olhos e viro de uma vez o resto da minha bebida, decidindo ignorá-la.

Os próximos minutos se passam comigo agindo como se ela não estivesse aqui, e dá certo por um tempo.

Então ela abre a boca para me importunar de novo:

— Você é mesmo muito idiota.

Oh, certo. Lá vamos nós outra vez.

— Do nada? — Farto, eu me viro para ela.

Jeongyeon ainda não está olhando para mim. — Eu pensei que você fosse mais inteligente, mas acho que estive errada esse tempo todo.

Eu faço uma careta, já perdendo a paciência. — Do que você está falando?

— Você vai embora no domingo, não vai? — Ela pergunta, e só então me olha nos olhos. — Sim, você vai, — ela reponde por mim. — Céus, muito idiota...

Meu coração insensato de repente erra o compasso de uma batida.

Não faz o menor sentido, eu sei. Esse lampejo de pensamento é simplesmente ridículo e eu deveria estar desviando o rumo das minhas ideias se eu fosse um pouco mais esperto. Mas...

— Você me acha um idiota porque eu vou embora? — Eu pergunto devagar, meus olhos muito expectantes da próxima coisa que ela vai dizer.

— Não! Você seria triplamente idiota se não fosse, — ela diz.

Ah.

Certo. Talvez eu tenha viajado um pouco. Ou muito. Jeongyeon está certa sobre a minha falta de inteligência. Só sendo mesmo muito tolo para ter seguido essa linha de raciocínio justo agora, quanto mais ainda ter tido esperanças sobre ela. Eu passei meses trabalhando na construção de uma parede para bloquear isso e eu quase a quebrei por nada.

— O que você quer dizer então? — Eu pergunto, odiando a mim mesmo por quão baixo a pergunta soou.

— Está vendo só? Você não entenderia nem se alguém soletrasse para você. — Parecendo entediada, ela acena para que um garçom venha até ela.

Não demora muito para que o homem de colete preto social se aproxime e faça um troca entre sua taça vazia por uma outra cheia.

Eu mantenho meus olhos travados nela durante todo o tempo, a estudando.

Quando o homem vai embora, eu estalo: — Se esse é mais um joguinho de provocações como você faz em todas as reuniões de família para tentar me tirar do sério, apenas pare. Você não vai conseguir me atingir. Eu não sou o idiota que você pensa e eu sei perfeitamente qual a sua intenção com tudo isso. Jungkook é hétero, e eu não vou correr atrás dele como um tolo apaixonado cheio de esperanças só para ser humilhado e você poder se divertir às minhas custas. Toda essa história com o seu primo está no passado para mim e eu já não sinto mais nada. Se quer me atingir, comece a estudar uma nova tática, porque essa não funciona mais.

Jeongyeon desgruda seus olhos da multidão e me encara, uma expressão muito estranha em seu rosto. — Já acabou? — Ela pergunta e desvia seus lumes outra vez com interesse para algum ponto da festa. — Espero que sim, porque essa é a oportunidade perfeita para você provar o que disse.

Eu não pergunto. Apenas sigo na direção do seu olhar e uma sensação ácida queima no meu estômago instantaneamente.

Jungkook. Ele está aqui.

E está acompanhado de uma mulher.

Minha cabeça lateja e por um momento eu sinto tudo girar. Eu já esperava pela presença deles juntos e me preparei para o instante em que esse dia chegaria, mas não fazia parte da equação que esse dia fosse acontecer quase uma semana antes do casamento. Uma semana não. Uma semana é muito tempo. Eles vão ficar aqui todos esses dias? Pelo amor de Deus, não! Eu não vou conseguir dividir o mesmo teto com Jungkook e sua namorada por seis dias. Isso é demais até para os meses de preparação do meu autocontrole.

Pior ainda, eu não esperava que ela fosse ser tão bonita.

Mas é claro que ela seria.

Muito feminina, muito magra e muito elegante, ela parece ainda mais alta e refinada naquele salto que a deixa quase da altura de Jungkook quando ela sorri, dá dois passos para frente e abraça sua cintura por trás.

Por quase um minuto inteiro, eu não consigo respirar.

Minha cabeça queima, meus olhos lacrimejam, meus ouvidos palpitam e meu coração bate tão rápido que faz meu corpo titubear. Eu não poderia descrever com palavras o que está acontecendo dentro do meu peito agora, mas é muito ruim.

Jungkook não está sorrindo. Ele não esboça qualquer reação e apenas ergue os dedos para trazer um cigarro à boca.

Meu coração se afunda ainda mais.

Em que momento ele parou de usar a maconha ocasionalmente e migrou para o tabaco à plena vista de todos e de forma tão banal? Eu não posso deixar de me sentir mal por vê-lo preso em um novo vício.

Ele sopra a fumaça, seus olhos acinzentados presos na figura do seu irmão à sua frente, e seu rosto não é nada além de opaco e inexpressivo. Junghyun nem mesmo parece surpreso, continuando a conversar como se ver Jungkook tragando já fosse algo no qual já está acostumado.

Mas mesmo decepcionado, eu não posso deixar de notar como está ainda mais sexy que da última vez que eu o vi. Eu sempre o imaginei como estaria depois de todo esse tempo, mas nem nas cenas hipotéticas que idealizei na minha cabeça, ele poderia se mostrar tão lindo.

Seu corpo está maior, ainda mais construído do que já era. O cabelo continua longo, preso em um coque com umas mechas sensuais ondulando soltas pelo seu rosto. Sua camisa preta está enrolada até seus cotovelos, e eu fico em choque quando vejo as novas tatuagens em seus antebraços, que agora cobrem cada centímetro de pele. Também há uma fração de mais uma tatuagem apontando através do V aberto da camisa em seu peito, mas essa eu quase não posso ver.

— Se você vai fingir que superou, deveria pelo menos tentar ser mais discreto.

Eu me encolho.

Mudando meu olhar para Jeongyeon, percebo que sua atenção está sobre Jungkook também. Eu considero brevemente fingir que não sei do que ela está falando, mas a essa altura seria inútil.

— É tão óbvio assim? — Pergunto.

Jeongyeon ri, virando o rosto quase herético para mim. — Você realmente precisa que eu responda essa pergunta?

Eu torço os lábios, fazendo uma careta. — Não.

Às vezes é tão estranho estar em torno dela. Ela consegue ser extremamente babaca quando quer, o que é na maior parte do tempo, mas há um fragmento quase inexistente de uma pessoa legal escondida por baixo de tanto veneno e sarcasmo.

Os momentos seguintes são marcados por silêncio.

— Você está realmente disposto a sofrer em silêncio eternamente vendo ele se casar e ter filhos com outra mulher? — Ela solta de repente.

Eu suspiro e olho para ela. Olho de verdade, além do que está ao alcance dos meus olhos.

— Essa pergunta é quase irônica vinda de você, — digo.

Jeongyeon se vira para mim:

— O quê?

— Nós dois sabemos que eu não sou o único óbvio por aqui. Você não gosta de mim porque eu fiz mal para o seu primo, como sempre insiste em dizer. Você não gosta de mim porque você nunca vai conseguir gostar plenamente de alguém que esteja intimamente ligado a Jungkook, porque você o ama. E eu não falo de um amor inocente entre primos. Você o ama e sente desejo por ele. Mas é covarde para lutar por esse sentimento, porque pensa que nunca será correspondida e então não perde o seu tempo alimentando esperanças com algo que só vai te fazer sofrer. Por isso você seguiu em frente. Você sente que poderíamos ser amigos em outras circunstâncias, não consegue gostar de mim por causa dos ciúmes, mas ama Jungkook o suficiente para passar por cima dessa amargura porque, por alguma razão, você acha que eu sou o único que pode trazer paz a ele e fazê-lo feliz. Mas você está enganada, Jeongyeon. Eu não posso.

Ela me encara.

Talvez tenha sido crueldade o que acabei de dizer, mas pela primeira vez eu entendi tudo e precisava expor para ver a reação de Jeongyeon e ter certeza de que não estou apenas blefando. Eu, sinceramente, esperei que ela fosse negar, ainda que por um instinto de proteção ou raiva por eu ter trago à tona seus sentimentos, mas tudo o que ela faz é beber o resto do martini em sua taça e empurra o cristal vazio contra o meu corpo.

Ela se aproxima.

De repente, eu a vejo tão perto, que nossos narizes quase se tocam. — Ótimo. Então você sabe exatamente o que fazer para não ser igual a mim. Os Jeon não precisam de mais um covarde na família.

Se afasta e dá as costas, indo para longe de mim.

Em mal posso piscar, e ela já está se juntando a um pequeno grupo de outras pessoas, com um sorriso convincente no rosto e sem uma sombra da irritação que transparecia a apenas poucos segundos atrás.

Exatamente assim, como se nada tivesse acontecido.

Essa mulher é um camaleão.

Uma vez que Jeongyeon está longe, eu não posso evitar, meus olhos buscam pela silhueta de Jungkook como um inseto atraído pela luz, o que é ridículo.

Taehyung ficaria decepcionado.

Não posso acreditar que estou como um stalker louco obcecado observando a sintonia do casal feliz do outro lado da piscina. Embora "feliz" não seja exatamente a melhor palavra que define os dois. Ela está claramente apaixonada, sorridente, e Jungkook... bem, na verdade, ele não está nada. Quero dizer, literalmente nada. É como se seu rosto não esboçasse nenhuma emoção. Nunca. Alguma coisa não parece certa, embora eu não consiga dizer o que é. Ou talvez só esteja delirando.

Eu prometi a mim mesmo que ignoraria a presença deles durante toda a cerimônia e festa de casamento. Eu me preparei para isso. Muito. Mas talvez... talvez eu só não esteja conseguindo porque me preparei para o dia do casamento, certo? E hoje não é esse dia.

Deus, eu deveria parar com isto. Eu estou dando a mim mesmo facas para engolir. Cada vez que ela toca Jungkook ou chega próximo do seu ouvido para sussurrar alguma coisa, uma dessas facas rasga meu estômago e encontra caminho direto para o meu coração. Eu costumava tocar ele desse jeito. Era eu quem dizia coisas em seu ouvido e arrancava arrepios ou sorrisos dos seus lábios.

O sentimento feio e ácido que cresce dentro de mim começa a me deixar doente. A inveja, a amargura, o ciúme... E por um lapso de segundo, eu sinto empatia por Jeongyeon.

Alguém pigarreia ao meu lado.

— Eu achei que a sorte estava finalmente ao meu lado quando vi você aqui e me surpreendi com a coincidência de nós dois estarmos trabalhando juntos no mesmo lugar, mas então eu te olhei de novo e repensei. Um garçom não estaria vestido assim para servir os convidados. A não ser que isso faça parte de algum show de stripper reservado para o final da festa, mas dado toda essa gente esnobe e com cara de careta, isso dificilmente aconteceria.

Eu me viro e quase me engasgo com o choque de vê-lo bem na minha frente. Apesar do uniforme e toda a postura comportada com as mãos atrás do corpo, o piercing na boca e o sorriso pervertido são inconfundíveis:

— Maddox? — Eu exclamo, surpreso, abrindo um sorriso verdadeiramente largo e me jogo para frente para abraçá-lo.

Maddox hesita o total de um segundo antes de passar os braços ao redor da minha cintura e me tirar do chão, me apertando com força. — Eu pretendia manter a linha porque estou no meu horário de trabalho, mas já que você quebrou o protocolo primeiro...

Quando me coloca de volta no chão, eu dou um olhar pasmado a ele. Eu nunca pensei que ficaria tão feliz em vê-lo. Um rosto conhecido de alguém que eu gosto pode ser realmente animador em meio a todo esse martírio.

— Esse casamento é da minha mãe. Você pode quebrar o protocolo comigo, eu não vou deixar ninguém te dar bronca, — eu digo.

Ele arqueia as sobrancelhas, seu riso cheio de segundas intenções. — Isso é bom. E de que outras formas vai me deixar quebrar o protocolo com você?

Eu dou um empurrão em seu peito. — O mesmo safado e cachorrão Maddox. Você não toma jeito mesmo, não é?

— Depende. Eu tomaria jeito se tivesse alguém como você. Sou apenas um homem que precisa de um incentivo.

— Nos seus sonhos, talvez? — Eu respondo, rindo.

Ele franze as sobrancelhas. — E você continua o mesmo cruel e sem coração Park Jimin. Eu comecei a ter pesadelos desde que começou a me dar foras, sabia? Isso não é legal.

— Besteira. Você seria um homem muito frágil se tivesse sonhos ruins por conta disso. Com a quantidade de corações que você ganha por aí, você não precisa do meu.

Ele pisca violentamente, se fazendo de confuso. — Corações?

— Isso mesmo. Acha que eu não vejo os suspiros que você arranca por aí? Até hoje eu sinto pena daquela garota que te pagou um capuccino lá no Café. Você só tinha ido deixar o celular que sua irmã esqueceu, e terminou com uma admiradora secreta. Não sabe a carinha de tristeza dela quando você só aceitou o capuccino e foi embora sem nem perguntar quem te deu. Foi muita maldade da sua parte, Sr. Kyon Maddox.

Maddox dá um sorriso que beira o perverso. Ele passa a língua pelos lábios e eu posso ver o metal reluzente brilhar em sua língua.

— Do que adiantaria? — Ele pergunta, desviando os olhos para meu corpo até esquadrinhar cada parte dele gananciosamente. Posso sentir a atenção extra que seus olhos dão da minha virilha até minha boca, antes de encontrar os meus novamente. — Ela era linda, mas eu gosto de paus demais para abrir mão desse detalhe.

Minhas bochechas coram no mesmo instante. Céus, Maddox é tão boca suja quanto Jungkook.

Jungkook...

De nada adianta lembrar dele agora.

Eu apenas me mantenho firme para me concentrar em Maddox e tento esquecer que ele está somente há alguns passos de mim nessa festa, ao lado da sua namorada.

— Tão sutil quanto um canhão, — eu digo a Maddox.

Ele apenas ri. — Eu só fui sincero.

— Você sempre é.

— Já você eu não posso dizer o mesmo. Por que nunca disse que era rico? — Ele para e olha ao redor. — Embora seja um eufemismo fodido dizer que essas pessoas são só ricas. Essa gente deve vomitar dinheiro.

Tente bilionários.

— Eu não sou rico. O noivo da minha mãe é. Eu ainda tenho que economizar no almoço se quiser comprar a janta. Mas quem sabe minha carreira decole e eu chegue a ganhar muito dinheiro depois que eu me formar?

— Você vai, — Maddox diz. — Eu ainda nunca te vi dançar, mas não tem que ser pouca coisa para conseguir uma bolsa no exterior. Você deve ser incrível.

Meus olhos sorriem junto com os meus lábios quando eles se espalham em um feliz e genuíno sorriso.

— Wendy e eu vamos sentir sua falta. Ela já sente desde que você saiu na semana passada. E eu também, — ele acrescenta com pesar.

— Eu vou sentir muito a falta de vocês também. Wendy foi uma verdadeira amiga para mim, e você também não foi nada mal, Sr. Cachorrão, — eu digo com diversão e dou outro empurrão em seu peito.

— Você vai ficar aqui a semana toda? — Maddox pergunta.

— Vou sim.

— Wendy vai ficar puta de inveja quando eu disser que ganhei mais esses dias de brinde para me despedir de você.

— Sério? Você vai mesmo trabalhar aqui até sábado? Isso é incrível, Mad!

Ele abre a boca para dizer alguma coisa, mas fecha outra vez quando um ponto atrás de mim chama a sua atenção.

Ele franze as sobrancelhas. — O que mais eu ainda vou descobrir sobre você, trabalhando aqui?

— O quê?

Eu começo a virar a cabeça, e ele continua: — Você nunca me disse que tinha uma irmã.

— Mas eu não tenho-

Eu me calo.

A namorada de Jungkook.

Ela está parada atrás de mim, me estudando com seus olhos castanhos e o cabelo ruivo até a cintura. E ela está sozinha.

Uma veia salta no meu pescoço.

— Uau. A semelhança é realmente assustadora, embora nem de perto eu tenha lábios como estes. Deus não foi tão generoso comigo. — Ela sorri, analisando atentamente cada traço do meu rosto, principalmente a minha boca, e estende uma mão para me cumprimentar. — Você é o Jimin, não é?

Estou tão em choque que nem consigo me mover. Ou dizer qualquer coisa.

— A Jeon me disse que você e o Jungkook eram muito amigos na faculdade, e eu achei que seria legal vir falar com você. — Ela acrescenta.

Meus olhos buscam por Jeongyeon, e eu a encontro do outro lado do deck, nos observando com um sorriso insalubre. Ela pisca para mim antes de se virar e continuar uma conversa com um desconhecido.

Eu poderia atirá-la dentro da piscina agora.

— Ei, Jimin? — Maddox me dá um toque suave nos ombros quando eu já estou há vários minutos em silêncio.

— Hm? Ah, me desculpem... — Eu respiro fundo, e ainda que eu tenha sentido raiva quando a vi tocar Jungkook de forma íntima, eu sorrio com simpatia e aceito sua mão. — Sim, sou eu. E você é?

— Nara. Prazer em conhecê-lo. Fico muito feliz em saber que Jungkook fez novas amizades no tempo em que eu estive fora. Não sei se você sabe, mas ele é meio retraído.

O perfume dela é suficientemente doce para combinar com sua personalidade também aparentemente doce.

— Me desculpe, o que você disse? — Eu preciso saber se entendi direito. — No tempo em que você esteve fora?

— Ah... isso. Não me surpreenderia se Jungkook nunca tivesse falado de mim pra você... As coisas não terminaram de um jeito muito bom entre nós quando eu parti, mas felizmente agora já está tudo esclarecido. Eu morei em Paris por sete anos, mas nasci na Coréia e praticamente cresci na mansão dos Jeon, junto com Jungkook. Nós somos amigos desde a infância.

A forma como ela fala e o brilho em seu olhar, cheira a primeiro amor e me deixa enjoado.

Agora tudo faz sentido. Eu sempre me perguntava como ele poderia começar a namorar tão rápido quando sempre mostrou ter uma forte aversão a relacionamentos, mas voltar para um antigo amor torna tudo óbvio e simplificado.

Eles sempre se amaram, ela foi embora, Jungkook sofreu e se fechou pela sua falta, mas agora ela está de volta para reclamar o homem que sempre a pertenceu.

E ela é uma mulher.

Eu nunca poderei competir com isso.

Por um momento, eu preciso morder forte a minha boca para me impedir de chorar.

— De melhores amigos de infância a namorados. Esse é o clichê mais perfeito que alguém poderia sonhar em viver na vida... — Eu murmuro dolorosamente, as palavras quase travando na minha garganta sem conseguir sair.

— O quê? Não! Eu e Jungkook não estamos namorando, — ela diz.

O quê?

— Quero dizer, não ainda... Eu estou meio que esperando que isso aconteça já faz um tempo, mas é complicado, ele tem questões. Nós não somos exclusivos nem nada, ele não quer fechar esse tipo de compromisso agora, mas eu respeito e sei que ele tem muitas coisas do passado na cabeça para lidar. Na verdade, eu acho que alguma coisa a mais aconteceu no tempo em que eu estive fora, mas ele não me diz.

Eu nem pisco.

Minha mão treme tanto, que eu preciso apoiá-las em minhas pernas para conseguir alguma estabilidade. Eu não esperava ouvir tudo isso de Nara.

— É por isso que eu vim até aqui falar com você... — ela continua. — Vocês eram amigos, não eram? Talvez você saiba de alguma coisa que aconteceu ou tenha algum palpite. Nem Jeongyeon, Hoseok ou Yoongi me contam nada, mas eu sinto que eles estão me escondendo algo. E como você é a outra única pessoa que se aproximou do Jungkook, eu queria que me ajudasse.

Minha boca se abre e depois fecha.

Eu olho para Maddox, e ele tem um rosto estranhamente observador sobre nós.

— Olha, Nara... eu não sei, eu... Quero dizer, isso é meio complicado, eu e Jungkook nem nos falamos mais, então... — Eu pressiono os lábios. — Acho que estou longe de ser a melhor pessoa para ajudar você.

Nara olha inocentemente para mim. — Eu sinto muito que vocês não se falem mais. Eu já sabia disso, Jungkook nunca disse nada sobre você em todos esses meses, então não foi difícil somar dois mais dois. Na verdade, eu fiquei bem chocada quando a Jeon disse que vocês eram como melhores amigos inseparáveis na faculdade. Jungkook é tão inacessível que eu me pergunto como você conseguiu essa façanha. — Sorri.

Eu engulo. Essa é uma das únicas situações da minha vida que eu não tenho ideia do que dizer. O que eu diria? Foi totalmente acidental, Nara. Ele estava tão ocupado me cobiçando que nem percebeu que estava se envolvendo. Tipo Catfish.

A expressão no rosto dela toma um ar de tristeza. — O que aconteceu para vocês terem se afastado?

Essa conversa está começando a me deixar desconfortável.

— É... Bem, hm, nós... — Eu balanço a cabeça. — Interesses diferentes, acho. Essas coisas acontecem. Nós seguimos caminhos opostos, assim como ninguém está livre disso.

Eu estou mesmo tentando explicar o término com o meu ex para a atual?

— Oh, claro. Eu sinto muito, mesmo. Espero que vocês voltem a falar e se resolvam um dia. — Não, definitivamente você não espera. — Se Jungkook te aceitou na vida dele, então você deve ser uma pessoa bastante especial.

Eu tento dar a ela um sorriso. — Digo o mesmo sobre você.

— Esse é seu namorado? — Ela olha entre mim e Mad.

Eu abro a boca para responder, mas Maddox já faz isso por mim:

— Jimin não me dá essa sorte, — ele diz com um sorriso nada inocente. — Eu sou o Maddox, amigo dele. — Estende uma mão para ela.

Nara não demora para pegar. — É um prazer, Maddox. Vocês realmente formam um casal bonito. Eu até comentei isso com Jungkook quando vi vocês de longe se abraçando. Ele não tirava os olhos de vocês. Parecia tão íntimo.

Ele não tirava? Eu entro em choque.

E ainda assim, Nara não me vê como uma ameaça. É claro que ela não vê. Eu sou um homem. Gay. E Jungkook é hétero demais e reto demais para os conceitos dela para achar que ele poderia se curvar nem que seja o mínimo para esse lado.

— É o que dizem por aí. — Maddox sorri sem graça. Ele me dá outro olhar estranho e enviesado antes de se dirigir a Nara outra vez. — Eu não quero ser inconveniente, mas preciso voltar ao trabalho, ou nem Jimin vai poder me salvar de uma bronca, e eu preciso do emprego. — Seus olhos se voltam para mim. — Nos falamos amanhã? Eu tenho a manhã inteira e a tarde livre, se quiser.

Eu coloco a mão em seu antebraço, dando um aceno. — Claro, Mad, eu vou adorar. Eu estou tão deslocado nesse lugar, e ter a sua companhia vai ser ótimo. E ainda não deixaria ninguém brigar com você, mesmo se ficasse duas horas aqui conversando comigo. Mas não quero te prejudicar.

— Você pode me chamar quando se sentir sozinho, Jimin. — Nara intervém. — A Jeon se tornou uma loba solitária, e Jungkook gosta de ficar sozinho a maior parte do tempo, então eu também estou deslocada. Qual é a coisa dessa família com aversão ao contato social?

Droga. Como eu vou manter minha antipatia por ela se ela continua sendo legal?

Eu me pego sorrindo sem nem perceber. — Eu me pergunto a mesma coisa! Eu vivia brigando com Jungkook para que ele interagisse com nossos outros amigos ou qualquer um que não fosse Hoseok ou o Neandertal, mas ele só queria que a gente ficasse isolado no quarto o tempo todo jogando ou deitado na...

Meu sorriso morre e eu paro de falar.

— Neandertal? — Ela pergunta, ignorando completamente os detalhes da minha fala.

Bem diferente de Maddox.

— O Yoongi. É como eu o chamo... A gente não se bica muito, — eu falo baixinho, sentindo os olhos de Maddox em mim.

Nara ri. — Meu Deus, o Yoon não toma jeito. E eu imagino que essa hostilidade entre vocês seja totalmente culpa dele, e não sua. Ele te provoca muito?

Eu já estou pronto para responder, quando uma voz profunda e rouca corta através de mim. — Noona está te chamando lá dentro, Nara.

Jungkook.

Eu quase deixo minha taça cair no chão.

A silhueta alta e robusta para diante de mim, e a adrenalina que bombardeia instantaneamente através do meu corpo me faz endurecer.

Estou tão instável, que até a minha respiração já não circula direito dentro do peito.

Talvez eu devesse dizer alguma coisa. Talvez eu devesse cumprimentá-lo para dissipar o ar grosso introduzido pela tensão.

Ou talvez eu só deva ficar quieto. Ele está falando com a Nara, não comigo.

Ele nem olha para mim.

— Comigo? — Nara parece surpresa. — Claro... Eu vou ver o que ela quer. Bem, foi um prazer conhecer você, Jimin. E você também, Maddox. — Ela me olha. — Amanhã nos falamos, certo? Precisamos terminar aquela conversa. — Fala como se quisesse omitir o assunto por trás dessas palavras.

Eu dou um aceno a ela.

Nara está esperando Jungkook para sair em direção ao interior da casa, mas ele não está se movendo.

Pelo menos não antes de empurrar o copo vazio de whisky contra o peito de Maddox com tal força, que o impele a dar dois passos para trás, sempre estudando-o com olhos negros afiados e agressivos. — Leve isto, — o pedido sai mais como uma ordem que qualquer outra coisa.

Maddox pega o copo de suas mãos e o encara. É a primeira vez que vejo sua expressão tão sombria e carregada.

Jungkook ainda não está se movendo.

— Jungkook? — Nara chama, seu rosto nitidamente confuso.

Eu, com certeza, não estou muito diferente. A tensão entre eles é tão encorpada e firme, que poderia facilmente ser cortada com uma faca.

Nenhum dos dois está cedendo.

Um sino ecoa do outro lado do salão: um chamado para os empregados se reunirem e darem continuidade a alguma outra ocorrência da programação do evento.

Maddox então encerra o contato visual. Ele se vira para mim. — Amanhã ainda está de pé?

— Claro. — Eu agradeço internamente por não gaguejar.

— Ótimo. Estou ansioso para quebrar mais alguns protocolos com você. — Ele sorri maliciosamente e se aproxima para deixar um beijo próximo à minha boca. — Até amanhã, bebê.

Dá uma última olhada em Jungkook, algo que beira a afronta, e sai.

Jungkook permanece parado e o acompanha com o olhar até que Maddox esteja longe o bastante para quase não ser mais visto. Ele nunca pareceu tão no limite: a mandíbula apertada, os olhos brilhando com raiva, e essa raiva parece emanar dele em ondas.

Se não tivéssemos passado tanto tempo separados e eu ainda pudesse afirmar que o conheço bem, eu diria que Jungkook está prestes a explodir.

Ele não está com ciúmes. Eu preciso repetir isso para mim mesmo como um mantra. Ele reencontrou seu grande amor do passado e nunca demonstrou sentir minha falta, eu não vou me iludir. Não é ciúmes. Não é ciúmes. Não é ciúmes.

Deve haver outro motivo. Um motivo legítimo e palpável para justificar isso. Com certeza tem. Eu só não sei qual é. Muito menos Nara.

A garota parece mais perdida que daltônico montando um cubo mágico.

— Jungkook?... — O chamado é quase um sussurro desta vez.

Ele não responde. Apenas se vira para ela, forçando-se a parecer mais calmo. Ele toca seu ombro e começa a guiá-la em direção à casa. — Vamos, — diz ele com uma leveza forçada em seu tom de voz.

Nara não contesta e se deixa levar.

Ainda atordoado, eu respiro fundo. O que diabos foi tudo isso? E eu nem cheguei ao fim da primeira noite.

O resto dessa semana será a minha provação.

Próxima atualização: 12/09

1 - Em inglês, villa significa villa. Villa é um modelo de acomodação construída em uma grande área de terra e isolada do entorno. Cada villa tem uma grande escala, trazendo um design moderno e luxuoso, com espaço aberto e perto da natureza.

*O tempo atual da história se passa em agosto, final do mês, e Jimin está indo na próxima semana para os Estados Unidos porque o ano letivo lá funciona de forma diferente da Córeia do Sul (que é igual no Brasil). Nos EUA, as aulas começam em outono, meados de agosto para setembro, e vão até maio.

E aí, o que acharam? Esses 6 dias nesse lugar prometem muita coisa 👀

Tô de olho nos memes de voces la no twitter, inclusive:

vocês comentando entre si KKKKKK
(eu amo ver)

VEIKKJKDKFKDKFJFKD EU VO PASSA AML

olha isso q saco. KKKKKKJJKKK

gente eu morri de rir vendo esse aqui

ESSE VIDEOKKKDJDKDJD vcs me matam hein

Já seguiram os personagens, eu e a autora da fanfic?? Pois é, to de olho.

Ariel: eleocjimin
Zach: eleocjeon
Taegi: eleoctaetae
Jimin 🤫: privdojmssi
Sarah: sarahlolipop_
Anna: _wastmeliss

Como vai a vida de vocês na escola/faculdade?

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