MORDE E ASSOPRA

By mariiafada

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#1 em chicklit 02/05/21 Dez coisas que você precisa saber sobre a Maria Madalena: 1. Ela teve seu coração re... More

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NOVE
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QUINZE
AIDAN
DEZESSEIS
DEZESSETE
DEZOITO
DEZENOVE
VINTE
VINTE E UM
VINTE E DOIS
VINTE E TRÊS
VINTE E QUATRO
AIDAN - PARTE I
AIDAN - PARTE II
VINTE E CINCO
VINTE E SEIS
VINTE E SETE
VINTE E OITO
VINTE E NOVE
TRINTA
TRINTA E UM
TRINTA E DOIS
TRINTA E TRÊS
TRINTA E QUATRO
TRINTA E CINCO
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TRINTA E SETE
TRINTA E OITO
TRINTA E NOVE
QUARENTA
QUARENTA E UM
QUARENTA E DOIS
QUARENTA E TRÊS
QUARENTA E CINCO
09/09
QUARENTA E SEIS
QUARENTA E SETE
QUARENTA E OITO

QUARENTA E QUATRO

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By mariiafada




— Respira, Madá... Babi, eu não acho que ela esteja respirando! O que eu faço?

— Tenta dar um tapa no rosto dela.

— Gisele, pela terceira vez, não vou fazer isso!

— Eu estou bem, gente — Consigo dizer, soltando todo o ar que estava preso nos meus pulmões. — So fui pega de surpresa.

— Eu não entendo porque Rael está lá em cima... Pensei que não participaria! — Duda lamenta, confusa.

— Pois é, eu também — Lanço um olhar desconfiado para o palco onde o loiro alto ocupando o último lugar da fila se encontra. Sua expressão é tão inocente quanto a de um anjo caído. — Ele está tramando algo, sei que está. Vamos esperar para ver o que será.

Pelo minúsculo sorriso no canto do rosto de Aidan, sei que suas "surpresas" não acabaram. Não faço ideia do que seja, mas não me resta fazer nada a não ser sentar ali em toda minha resignação e esperar para ver.

Digo a mim mesma que não vou me obrigar a ficar se aquele show se tornar insuportável demais para assistir.

Alice dá duas batidinhas no microfone, posicionando-o no suporte em cima do púlpito.

— Bem, se procurarem embaixo da cadeira de vocês, vão achar uma placa com o seu número designado. Toda vez que quiser dar um lance, basta levantá-la. Então vamos para o primeiro leiloado!

Alice faz um floreio e um dos bombeiros caminha até a frente do palco incentivado por gritinhos da plateia. Enquanto uma música animada e sexy toca, ele tira o casaco da farda e arrisca uns passinhos, mostrando os músculos por baixo da regata branca 

— Uauuu! Quem aqui gostaria de um encontro para conhecer melhor o Daniel? Ele tem 25, Sagitariano, obviamente é bombeiro... Quanto fogo! Ele obviamente está acostumado a apagá-los!

Antes mesmo de Alice terminar a ficha técnica do rapaz, já haviam dez placas erguidas no ar.

A disputa por Daniel foi animada para o começo e terminou em um número bem maior do que eu esperava.

— Vendido para o número 45 por 1500! — Alice decreta, apertando o sininho. Parabéns, número 45! E o próximo da lista é o Cauã...

O time de bombeiros todo se vai em um piscar de olhos. Os compradores não vieram ali para brincar. Eu estava um pouco assustada com as quantias que vi sendo gastadas.

3 mil reais em um encontro?! Isso me parece um pouco de mais.

— E agora, nosso primeiro modelo, Tárcio!

Gigi se empertiga na cadeira ao ver seu objeto de interesse desfilar até a frente do palco e simplesmente arrancar a camisa fora, o que também arranca gritinhos da plateia.

— Tárcio tem 27 anos, aquariano, adora ler e cozinhar... E com esse tanquinho trincado obviamente frequenta bastante a academia! Pelo menos sabemos que ele tem fôlego para aguentar uma maratona! Ok, já temos algumas interessadas. Número 26, com o lance inicial de 500! Alguém da mais? 37 dá 550!

Gisele, sendo o número 26, desbancou todos os lances concorrentes enquanto Duda, Babi e eu assistíamos assombradas.

Apenas uma garota, a número 19, competia com Gigi pelo Tárcio. Alice acompanhava os lances em completo desespero, tentando narrar a subida em exponencial das ofertas.

— Três mil e quinhentos para o número 19! Quem dá mais?

Gisele revira os olhos e fica de pé, com se já estivesse cansada daquele joguinho.

— Eu! Cinco mil.

Eu engasgo, tão em choque quanto o restante do auditório. Olho para Babi, pedindo ajuda, mas ela apenas dá os ombros.

— Ela é competitiva, você sabe.

— Cinco mil, Babi! — cochicho em desespero. — Eu nem sabia que ela tinha esse dinheiro...  Esse não é momento que amigas devem fazer uma intervenção?

— Madá, a Gi tem literalmente três empregos. Ela não vai falir, relaxa. E me diz quando foi a vez que alguém conseguiu convencer Gisele Bittencourt a mudar de ideia?

— Dou-lhe duas... Vendido, para a belíssima loira do número 26! Uau, o maior valor da noite até agora!

Alice parece incrédula com a proporção que os lances estão tomando. Acho que ela não pensou que lucraria tanto assim em uma noite só. Preciso admitir que eu também não imaginei que o pessoal estaria disposto a ir tão longe.

— Número 26, você pode coletar seu prêmio no final do leilão.

Gisele assente e sopra um beijo para Tárcio, que abre um sorriso arrasador e o agarra no ar no jeito mais cafona e meloso que poderia existir.

No fundo do palco, vejo Leo revirar os olhos.

Posso até imaginar como meu irmão vê a si mesmo sendo injustiçado por não ter sido o cara por quem Gigi competiu ou pra quem ela está soprando beijinhos apaixonados.

Não que Leonardo tenha ficado para trás; quando finalmente chegou a sua vez, o auditório virou uma bagunça com tanta gente falando ao mesmo tempo. Eram muitas garotas querendo um encontro com a celebridade do futebol.

É só piorou quando ele decidiu provocar Gisele e fazer um pequeno strip tease assim como Tarcio tinha feito.

Ela arqueja quando meu irmão atira o blazer na sua direção, agarrando-o e dobrando-o em seu colo.

Leonardo faz um sinal positivo e alguém nos fundos do palco joga uma bola para ele. Obviamente nunca perdendo a oportunidade de se exibir, meu irmão apela para as embaixadinhas sem camisa. Depois joga o bola para o alto e a pega com o outro pé.

No entanto, duvido muito que seja a habilidade de Leonardo que esteja levando aquele auditório abaixo.

A situação acaba ficando tão caótica que Alice precisa parar o leilão e pedir ordem três vezes para explicar que jogar o dinheiro no palco não é um lance válido.

Por fim, uma morena alta, esbelta e definitivamente mais velha que Leonardo deu o lance final de 8 mil e laçou o meu irmão.

— Vendido para o número 14! — Alice decreta.

Com um sorriso vitorioso nos lábios vermelhos depois de conseguir o cara mais cobiçado da noite, a morena se senta na sua cadeira, sabendo muito bem que metade do auditório a odeia.

Não que ela pareça se importar.

— Bem, esse foi difícil, não é? — Alice finge limpar o suor da testa. — Pelo menos estamos chegando no final dessa noite divertida e inesperada! Agora... Nos sobra um.

Olho para o palco e Aidan Rael está encostado na parede com as mãos dentro do bolso, retribuindo com tchauzinhos ocasionais quando alguma conhecida o cumprimenta.

— Bem, acho que esse é dos momentos mais esperados da noite. Não é necessário apresentá-lo, já que Rael é muito bem conhecido por todos nós. E queria aproveitar para agradecê-lo pela generosa doação feita à nossa causa. Foi uma contribuição que vai salvar muitas vidas indefesas. Obrigada, Aidan.

— Foi um prazer, não há porque agradecer — Aidan replica, abrindo um sorriso modesto.

Alice se vira para a plateia.

— Bem, quem desejaria um encontro com esse jovem empresário e bem feitor?

Na deixa perfeita, Chanel Perfume começa a tocar enquanto Aidan caminha até a frente do palco. Sinto o calor no meu pescoço aumentar quando ele leva a mão até os botões da camisa.

Fico tão tensa que minha visão fica turva.

Aidan desabotoa os primeiros cinco botões e para, como se estivesse em dúvida.

— Devo continuar?

Há uma comoção gritando que "SIM" mas ele apenas sorri e seus olhos encontram os meus.

Dou os ombros, como que dizendo: Se já começou...

Cruzo as pernas mais firmes na minha cadeira, odiando ficar hipnotizada com sua camisa branca se abrindo e revelando o torso definido o qual dias atrás eu memorizei com a ponta dos dedos.

Enquanto várias placas se levantam no auditório, Duda olha para mim, percebendo que continuo sentada de braços cruzados. 

— Você não vai participar?

Balanço a cabeça.

— Não, não mesmo. Nada desse mundo vai me fazer participar disso.

— Temos um lance! Quinhentos para a número 12!

— Ah, olha só. O primeiro lance foi da vizinha de Aidan — Babi comenta.

Eu me impetigo na cadeira.

— O quê?!

Inclino-me para frente e vejo Jéssica com sua placa erguida. Se ela esticasse o braço um pouco mais para cima definitivamente deslocaria o ombro.

O ciúmes, amargo e mesquinho e inevitável, transborda dentro de mim. Imagino-a se aproveitando de um encontro à sós com Aidan, tocando nele... Sinto meu sangue ferver e minha mão toma vida própria, agarrando a placa embaixo da minha cadeira e a estendendo.

— 600 para a... — Alice engasga, olhando para mim em confusão. — Ahem... Para a número 29!

— Maria Madalena! — Babi suspira do meu lado. — Como vai pagar isso?

— Não faço a mínima ideia, inclusive aceito sugestões — Sussurro de volta, abaixando a minha placa. — Eu aceito tudo, menos aquela garota vencer.

— Vai se preparando para a cicatriz que você vai ficar quando ter que vender seu rim!

— Não exagera, Babis — Duda ri. — Ela pode optar por vender o carro antes de apelar para os órgãos.

Meu sangue automaticamente esfria e percebo a burrada que cometi.

— Meu carro?

— Mil reais para a número 12!

Assim que ouço o número de Jéssica, minha mão sofre outro espasmo voluntário e ergue a placa para cima.

— Opa, mil e quinhentos para a número 29! Quem dá mais?

Respiro fundo o ar gelado. Se os números continuarem crescendo assim, vou ter problemas.

— Vai ser o rim — Eu decido. — Não posso vender o meu carro.

— Eu compraria seu carro — Gigi oferece. — Acho ele perfeito, especialmente depois da reforma.

Estreito os olhos para ela.

— Não vendo meu lata velha nem morta.

— Dois mil para a número 12!

Levanto a minha placa de novo, cobrindo o lance para dois mil e quinhentos. Sim, estou fazendo marcação com a Jéssica. Ela é o único dos milhares de lances que Aidan está recebendo que ouso cobrir.

Não consigo evitar, a antipatia já está completamente instalada nas minhas entranhas.

No palco, vejo Aidan Rael cruzar os braços e abrir um sorriso entretido e desafiador para mim. Tenho uma enorme vontade de matá-lo.

Ele tem muita sorte que mesmo o odiando com todas as minhas forças agora, eu o amo mais do que se é capaz estimar em medidas.

O leilão segue acirrado e vai progredindo com rapidez.

Quando percebe que sou eu cobrindo todos os seus lances, Jéssica apenas torce nariz na minha direção e a coisa vira uma óbvia disputa entre nós duas.

A cada lance Babi fica mais preocupada, já Duda está bolando maneiras de que eu possa conseguir o dinheiro. Gisele engata seu próprio leilão pessoal e a cada lance que eu dou em Aidan, ela faz outro pelo meu carro.

— Oito mil e quinhentos para a número 29! — Alice soa tão animada quanto preocupada, quase sem fôlego. — Maior valor da noite! Nossa!

Jéssica olha para mim fervendo de raiva e ergue sua placa.

— Dez mil!

Eu arquejo.

— Quinze mil! — Grito.

O auditório arqueja também.

A vizinha de Aidan hesita. Meu rosto está gelado em perplexidade, sem conseguir acreditar que acabei de cometer essa loucura.

— Dou-lhe uma.... — Alice começa e sinto meu coração latejar nos ouvidos com a expectativa.

Quero ganhar e ao mesmo tempo eu estou preocupada no que vai acontecer se vencer.

— Talvez possamos assaltar um banco — Duda sussurra, desolada.

— Eu topo, fico ótima de preto — Gisele replica.

— Dou-lhe duas...

— Vinte mil por Aidan Rael — Uma voz nova diz na ponta da primeira fileira.

Completamente em choque, eu olho para a garota de vestido prata e cabelos castanhos claros que acabou de dar o lance. Ela é simplesmente deslumbrante e eu nunca a vi antes.

Olho para Duda e ela dá os ombros como se também estivesse perdida.

Alice olha da garota para mim.

— Dou-lhe uma...

Meu coração se aperta. Eu não posso cobrir esse lance, não tenho esse dinheiro todo. Participar desse leilão foi simplesmente loucura. Caio de volta na cadeira e solto a placa, sentindo-me derrotada.

— Dou-lhe duas... Vendido para a número 8! Parabéns, lance histórico! Explodimos completamente a meta da noite, meu deus!

Cinco dos bombeiros estouram confete no palco e alguém solta a música das caixas de som em forma de comemoração.

Enquanto o auditório vibra pela meta arrecadada, o sentimento de decepção assola meu peito.

— Bem, sinto muito por você amiga — Gisele me concede um sorriso solidário enquanto se levanta — Mas agora se me dão licença, eu vou reivindicar o meu homem!

— Tente não quebrar a cama de novo! — Duda a provoca.

Gisele revira os olhos.

— Uma vez, isso aconteceu uma vez!

Eu permaneço lá sentada por alguns segundos, sem ter a menor ideia do que fazer agora. Esse é definitivamente o tipo de situação que me arranca da minha zona de conforto do jeito mais cruel possível, quando nada segue como eu tinha planejado.

Por que? Eu só queria entender o porquê.

— Pelo menos ele não foi arrematado pela Jéssica, amiga. Tente ver por esse lado.

Nesse ponto, sou obrigada a concordar com a Duda. Olho para o lugar onde a vizinha de Aidan estava sentada e a encontro conversando com as amigas e gesticulando com as mãos.

Quando me pega encarando, Jéssica fecha a cara e dá as costas em gesto de claro desprezo.

É, eu entendo o porquê ela me odeia agora. Mais cedo fiz questão de explanar como nunca daria um lance se quer por Aidan só para ir lá e oferecer quinze mil reais pelo homem.

Não me arrependo dessa hipocrisia, mas também não me orgulho por agir como agi — ciúmes não é um sentimento racional, ele simplesmente surge de algum lugar obscuro e mesquinho do seu inconsciente, onde geralmente é o local que você também esconde suas inseguranças, e te faz agir das maneiras mais desagraveis possíveis.

Volto minha atenção para as escadas do palco e vejo Aidan conversando com a número oito, a garota que o arrematou.

Balanço a cabeça, decepcionada. Não era assim que eu esperava terminar essa noite e se eu já estava confusa antes, agora me encontro completamente perdida.

— Acho que já vou indo, gente. Já deu por hoje de tantas derrotas.

Babi e Duda trocam um olhar triste.

— Há algo que podemos fazer por você?

Balanço a cabeça enquanto me levanto.

— Acho que só quero ficar sozinha, tenho muito o que pensar. Mas obrigada, eu aviso vocês qualquer coisa.

Despido-me das meninas e cruzo o corredor tentando driblar o amontoado de cadeiras vazias do auditório. Minha intenção é sair pela porta principal, mas dou meia volta quando percebo que se passar por ali, Aidan vai me ver.

E eu não posso lidar com ele. Não agora.

Decido escapar por uma das saídas de segurança do outro lado do auditório, que me levam para as corredores vazios e escuros da escola que estudei durante toda a minha infância e adolescência.

Porém, depois de cinco minutos tentando me lembrar em qual esquina virar para encontrar a saída, considero a possibilidade de estar perdida. Faz milênios que não piso os pés ali e definitivamente não me lembro mais de muita coisa, especialmente me guiando na penumbra.

Paro perto de um balcão no centro do salão e olho ao redor. Há quatro caminhos por onde seguir e tenho quase certeza que estou no prédio do jardim de infância.

— Se eu não me engano, há uma saída para o estacionamento por aqui...

Sigo por um dos caminhos, viro à direita e encontro uma porta para o estacionamento no final do longo corredor escuro.

Sorrio.

— Finalmente!

Enquanto me apresso na direção da saída, uma sombra surge de outra passagem  que se encontra com o corredor onde estou e se coloca na minha frente.

— Te encontrei.

Eu engulo um grito assustado e paro abruptamente antes que meu corpo esbarre no de Aidan. Meus saltos arranham o chão no processo.

— Jesus Cristo, de onde você surgiu?! — Eu arfo, colocando a mão sobre o peito.

Ao invés de responder à pergunta, Aidan inclina a cabeça, olhando da saída para mim com um olhar desconfiado e um meio sorriso.

— Onde você pensa que vai?

Respiro fundo e ajeito os ombros, tentando manter a postura firme. Talvez se mostrar que falo serio, ele vá me deixar em paz. 

— Vou embora.

Rael cruza os braços.

— Ah, você vai?

— Vou.

Tento dar a volta e seguir adiante mas ele espelha meus movimentos e intercepta o caminho.

— Sai da minha frente. — Tento vencer seu bloqueio indo pelo outro lado. — Nós podemos conversar amanhã. Eu quero ficar sozinha e você tem um encontro para atender, lembra?

— Acho que o encontro pode esperar.

Um grito agudo escorrega da minha garganta quando Aidan passa a mão pela minha cintura e se abaixa para me lançar sobre os seus ombros.

— Que merda pensa que está fazendo?! — Eu rujo de raiva e começo a estapear suas costas. — Me põe no chão!

— Eu te avisei, não avisei? — Ele diz sorrindo enquanto me carrega todo o caminho de volta.

— Aidan, me solta!

— Negativo. Você e eu temos assuntos pendentes e não estou mais disposto a prolongá-los.

— E você acha que me forçando a fazer isso agora é  uma boa ideia?

— Não é uma boa ideia, mas a única que você me dá. Eu posso até ser cabeça dura, Maria Madalena, mas você...

Eu chacoalho meu corpo na esperança de afrouxar seu aperto, mas suas mãos me seguram com firmeza.

— Me coloca na porra do chão! — Eu berro, frustrada e já completamente descabelada. — Eu quero ir embora daqui.

— É, você sempre quer ir embora. Já percebeu isso?

Eu pisco, perplexa em meio à raiva.

— Desculpe, mas você entendeu o que aconteceu lá dentro? Por que eu ficaria ali? Eu assisti o seu showzinho, não era isso que você queria?

— Meu showzinho... — Repete para si mesmo, rindo. — Você é incrível, Madá.

Eu tento chutá-lo com as minhas pernas.

— Para onde está me levando?!

— Relaxa — Ele tem a audácia de dar dois tapinhas na minha bunda. — Não queria que você perdesse a outra parte do meu showzinho. Vai ter mais.

Eu bufo.

— Eu já vi o suficiente da sua palhaçada pra uma década, Aidan.

Ele escolhe uma porta aleatória e decide entrar. Emergimos em uma enorme sala de aula vazia com as janelas de frente para a quadra de futebol.

— Pronto, aqui vamos poder conversar.

Assim que ele me coloca no chão eu escapo de seus braços e tento correr para a porta, mas Aidan entra na frente.

— Pare de fugir, Madá.

Eu gemo de frustração.

— Eu estou com raiva de você! Não entende que não gosto de discutir quando estou assim?!

— Se você me deixasse explicar...

— Não quero escutar, não quero falar, não quero fazer mais nada desse morde e assopra cansativo! Já deu, Aidan.

Ele estreita os olhos.

— O que você quer dizer com isso?

Eu tento recuperar meu fôlego, mas o meu coração parece cada vez mais pequeno dentro do peito. Olho de relance para a porta, querendo novamente sair correndo por ela.

— Quero dizer que... Que não entendo o que está acontecendo, não entendo você. Primeiro os segredos e  a falta de confiança, depois tudo que aconteceu no leilão. Você diz uma coisa é então vai lá e faz exatamente o oposto do que prometeu. E me sinto uma completa idiota por ter acreditado em você. Eu já cometi esses erros antes e não pretendo cometê-los de novo, Aidan.

Ele balança a cabeça.

— Nós não somos um erro.

Eu franzo os lábios e começo a andar pela sala de aula, como se decidindo se quero mesmo dizer o que estou prestes a dizer.

— Talvez nós só precisemos de um tempo longe um do outro.

Há dez longos segundos de silêncio perplexo.

— Tempo? — Aidan repete e solta uma risada amarga.  —  Quanta besteira. Você não quer um tempo. Só está com medo.

— Eu estou tentando entender isso aqui, não é medo! Ninguém nunca despertou sentimentos tão extremos em mim, tanto bom quantos ruins — Engulo em seco, os lábios tremendo. — É esmagador sentir tanto de uma vez só.

— E como você acha que eu me sinto? Não é fácil para mim, mas eu estou tentando. E você deveria tentar também e parar com essa atitude covarde de querer fugir quando algo dá errado.

— Pare de me chamar de covarde, se eu tivesse medo, jamais nem teria me aproximado de você! Jamais nem teria ousado amar você como eu amo agora, jamais teria te dado tanto poder para quebrar meu coração!

— Maria Madalena...

— E pare de chamar assim! — Eu explodo, empurrando seu peito. Minha voz quebra em um sussurro:  — Não me chame assim, por favor.

Ele hesita, confuso.

— É o seu nome.

— E quando foi que você me chamou pelo meu nome?! Nunca!

Aidan franze o cenho, atordoado.

— Sente falta de que eu te chame de anjo?

Eu me viro e apoio os braços de frente para a mesa do professor.

— Eu sinto falta de nós dois antes de todo esse caos. É disso que eu sinto falta.

Quando ele não diz nada por alguns minutos, eu me empertigo e arrisco uma tentativa de sorrir.

— Eu perdi o leilão, ok? E a outra garota ganhou, já está feitos e deveríamos respeitar isso. Podemos fazer isso aqui em outro momento, ela deve estar esperando você.

Ouço Aidan suspirar pesadamente enquanto eu caminho na direção da porta.

— Eu comprei a mim mesmo no leilão, era isso que eu estava tentando dizer.

Eu instantaneamente paro e olho sobre para ele, confusa.

— O quê?

Aidan dá os ombros.

— Chamei uma amiga para me ajudar e ela registrou tudo no seu nome, então tecnicamente você me comprou. É isso. Deveria ter dito antes mas estávamos discutindo... Enfim, tudo deu errado.

— Você leiloou a si mesmo?

Ele assente.

— Sim.

— Para mim?

— Exatamente.

Eu pisco, numa mistura de perplexidade e emoção.

— Você comprou a si mesmo? Planejou isso?

Rael parece achar graça da minha incredulidade.

— É claro, por que eu iria querer ir a um encontro que não fosse com você? — Seus passos lentos e o trazem até à mim enquanto eu apenas o observo, sem acreditar. — Deveria ter sido uma surpresa e um pedido de desculpas, mas estraguei tudo flertando com a Jéssica. Foi adorável ver você tentando cobrir os lances, no entanto...

Não o deixo terminar de falar. Simplesmente tomo seu rosto nas minhas mãos e o beijo porque é a única reposta que parece adequada.

Há um gosto se alívio nos seus lábios e posso dizer que sinto o mesmo.

Isso era tudo que eu precisava, uma pontinha de esperança, uma oferta de paz, uma prova de que nem tudo está tão perdido quanto a minha cabeça me fez pensar que estava.

Sinto a mão de Aidan no meu rosto e ele levemente se afasta, seu dedão limpando uma lágrima que escapou dos meus olhos.

— Não chore, anjo.

Quase sorrio, sentindo a emoção toda acumulada ma base da minha garganta. Como eu disse, tudo que eu sinto em relação a Aidan Rael é extremo.

— Não são lágrimas de tristeza, eu só... — Balanço a cabeça, sem saber o que dizer. — Por Deus, eu estava tão confusa. Não entendi por que você estava fazendo aquilo, o leilão...

— Não saiu bem como o planejado, desculpe.

— E exatamente qual era o plano inteiro?

— Um plano pensando em reparar os danos da nossa briga. Vou te explicar tudo com calma, mas não aqui.

Suas palavras me surpreendem.

— Você realmente pensou sobre o que conversamos?

— Acho que não fui capaz de pensar em outra coisa que não fosse isso. Há muito que preciso eu te contar e sei que há muito para melhorar, mas você não pode querer fugir e se isolar toda vez que atingimos um ponto difícil. Você não precisa superar tudo sozinha, é para isso que tem a mim, Madá.

Eu solto um soluço e volto ao seu abraço porque sei que ele tem razão.

— Eu fiquei com tanto medo — Sussurro —,  por um momento acreditei que o meu passado estava se repetindo e eu não suportaria ficar para assistir e comprovar se aconteceria o mesmo com a gente.

É como se você tivesse certeza que o carro vai bater e tenta se proteger segundos antes do acidente por puro reflexo.

A nossa briga, o sentimento de perda e impotência que também já havia sentido antes quando entendi que o meu relacionamento passado não tinha salvação... Todos esses detalhes despertaram em mim o desespero de que isso pudesse estar acontecendo de novo.

E o meu reflexo foi deixar o carro antes que o acidente se concretizasse.

— Me prometa que você não vai mais ceder ao impulso de fugir.

Faço que sim a cabeça, me sentindo bastante confiante que esse velho hábito acabou de morrer pera sempre. Eu nunca quis fugir realmente, eu só queria um motivo que me mostrasse que vale a pena ficar.

— Eu não vou.

— Ótimo, porque ainda tenho algumas surpresas para você esta noite.

Franzo o cenho, assustada.

— Mais surpresas?

Aidan abre o seu usual sorriso charmoso pelo qual sou completamente apaixonada.

— É claro. Nós temos um encontro hoje, esqueceu? — Ele tira um cartão branco do bolso e e estende para mim. É o comprovante da compra e está no meu nome. — Por essa noite, eu sou todo seu.

Eu me inclino e passo os braços ao redor do pescoço dele, roçando a ponta do nossos narizes .

— Só por essa noite?

— E todas as outras depois dessa — Aidan sussurra no meu ouvido, puxando minha mão e me levando dali.

***

Desculpem pelo sumiço, não foi programado. Minha vida ficou uma loucura e precisava de um tempo pra me organizar.

Como faltam poucos capítulos, vou terminá-los e voltar a postar tudo de vez, sem precisar dessas pausas longas.

Mais uma vez sou muito grata pela paciência de vocês e pelo carinho!!

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