Primaveril

By BrendhaPillar

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Livro 1 da duologia "Irmãos Theodore". Cassidy pertence a primavera, Louis tem certeza disso. Desde que aquel... More

PRIMAVERIL
Personagens
Prólogo
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
A Última Poesia
AGRADECIMENTOS

Capítulo 1

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By BrendhaPillar

Observei seu rosto na pintura, bem mais detalhado do que qualquer outro que já fiz. Seu maxilar perfeitamente marcado, aqueles lábios grossos que tiravam todo o meu fôlego e aqueles olhos... Aqueles olhos azuis que me deixavam instável e totalmente submisso a ele. Eu não entendo, nunca entenderia. Andrew Musgrove não era bom, não era gentil. Mas eu o desejava, o desejava mais do que qualquer coisa ou pessoa que já tenha passado por mim, que tenha tomado meus lábios ou corpo.

Ao lado da pintura de Andrew, está ela. A beleza incomparável de Florence Pringle retratada em uma pintura não tão detalhada quanto a do rapaz, mas ainda sim, muito bonita. A pele negra escura, os olhos que pareciam uma obsidiana, os cabelos castanhos e crespos amarrados em um coque que ela costumava usar no dia a dia. Florence tinha traços únicos, simplesmente a garota mais bonita que eu já vi em toda minha vida, tanto por dentro quanto por fora. Era ela quem meu pai me pressionava todos os momentos, desde da infância escrevendo meu destino e o de Florence. Segundo o querido prefeito Lewis Theodore, Florence Pringle é a garota perfeita para mim. Eu gosto de Florence, tenho um grande carinho por ela e ela por mim mas... Não temos a menor química.

Durante essas férias de inverno, tenho me encontrado muito as escondias com Andrew e sendo obrigado a participar de jantares luxuosos com Florence. Às vezes me pego pensando o quanto seria mais fácil se eu amasse um deles e tivesse coragem o suficiente para enfrentar meu pai e expressar tudo que me corrói e sufoca por dentro. Mas, infelizmente a sombra que me persegue se chama insegurança.

Desvio o olhar das pinturas e vejo a neve já começando a derreter pela janela, logo começaria a primavera.
Sou apaixonado pela estação das flores, mesmo que eu pertença mais a melancolia do inverno. Eu simplesmente amo como a grama fica deliciosamente verde, as flores cheirosas e belas tomam a nossa atenção e as chuvas frescas caem como lágrimas de um apaixonado.

— Pinturas novas? — Sou tirado de meus devaneios quando a porta é aberta bruscamente. A voz fina de minha mãe toma o cômodo silencioso. — Que quadro lindo esse da Florence, vocês formam um casal tão fofo. Espera... Esse é Andrew Musgrove?

Desviei o olhar para minhas mãos sujas de tinta.

— Pensei que você... — Escutei os passos dela se aproximando, seus típicos saltos pretos faziam um barulho conhecido. — Você não odeia Andrew Musgrove? Todo mundo o odeia.

— Eu não odeio ninguém. — Respondi calmamente. — Para sua alegria, eu não gosto dele. Apenas o pintei por um repentino vislumbre de inspiração.

— Ah — Ela murmurou, nem um pouco convencida. — O jantar está sendo servido, Judith iria te avisar mas resolvi vir. Você está a horas aqui, queria ver como estava...

Assenti, largando meu pincel — devidamente limpo — ao lado das pinturas.

— Se limpe antes, Seu pai vai enlouquecer se ver você nesse estado na mesa.

— É claro que vai.

O rosto de Rachel Theodore foi tomado por uma expressão melancólica. Suas mãos deslizaram pelo meu cabelo, um carinho com algum significado especial... Mas o qual eu não entendi. Escutei atentamente o barulho do seus saltos, evitei me virar antes que ela estivesse fora do cômodo. Suspirei cansado antes de me levantar, minhas costas doíam devido as horas que fiquei sentado pintando, minha postura era um tanto relaxada — menos na presença de Lewis — e sempre fora muito difícil para mim permanecer com ela perfeitamente ereta em momentos de lazer. Eu raramente pinto em pé, talvez isso esteja se tornando um problema.

Assim que termino de lavar as mãos, me observo no espelho do banheiro. Felizmente não há nenhum resquício de tinta em minhas roupas — um fato sobre mim: Eu sou muito cuidadoso — Ajeito meu cabelo com as mãos e esfrego meu rosto, eu preciso despertar do meu estado de reflexões para conseguir lidar com Lewis.

Caminho em passos lentos até a sala de jantar. Observo pelo corredor — nas paredes — os quadros, fotografias e até mesmo pinturas dos antepassados de minha família. Os quadros que predominam são de homens, todos em seus ternos elegantes, exercendo suas funções na política. Em alguns anos, estarei em algum lugar ao lado deles. 

— Boa noite, pai. — Sinto minha língua dormente ao dizer a última palavra.

Lewis levanta o olhar para mim e abre um grande sorriso.

— Meu filho! Estávamos te esperando para jantar. Rachel me disse que você estava pintando. — Seu sorriso se dissipou assim que terminou a frase. — Você deveria estar lendo aquele livro que te indiquei.

Indicar na língua de Lewis significava obrigar. 

— Boa noite Louisa. — Sorri para minha irmã mais nova antes de sentar a esquerda do meu pai. —  Meu querido pai, irei começar aquele livro esta noite na biblioteca.

— B-boa noite! — Louisa respondeu animadamente, olhando em minha direção. Papai coçou a garganta olhando para ela com uma expressão fechada. O sorriso de Louisa desapareceu e ela abaixou o rosto, olhando para o prato vazio sobre a mesa. 

— Espero encontrá-lo ás nove na biblioteca então. — Disse autoritário. — Judith!

Judith que estava ao lado da cadeira de Lewis, se aproximou rapidamente murmurando um "Sim senhor?". O jantar logo estaria na mesa. 

Assim como Louisa, mamãe estava com os olhos focados no prato. Ela tinha uma expressão triste e abatida no rosto, aquilo me machucava tanto.

— Louis, daqui uma semana suas aulas voltam! Logo meu filhão estará terminando o ensino médio e começando a faculdade de ciências políticas. — Ele deu um sorriso presunçoso, olhando diretamente para mim. — Assim como eu fiz alguns anos atrás.

Senti minha garganta se fechar e não consegui fazer nada além de apenas balançar a cabeça. Quando Lewis me olhava daquela forma, sentia tanto medo de discordar de algo que ele dizia, que sempre tinha uma reação automática. Ao meu lado, minha irmã parecia nervosa. Louisa levantou o olhar e começou a mexer a perna sem parar, parecia extremamente ansiosa. Coloquei a mão sobre o ombro dela e sorri.

— Louisa também vai voltar — A feição de Lewis mudou quando eu disse o nome de minha irmã. — E ela vai começar o ensino médio! Isso é incrível! Muito incrível. 

— E-eu es-estou um pouco nervosa, espero m-m-me sair b-b-bem. — Ela desviou o olhar de mim, envergonhada por gaguejar na mesa de jantar.

O rosto do meu pai expressava puro desdém. 

— No seu lugar eu também ficaria. Além da gagueira, a notícia de que você foi diagnosticada com TDAH já deve ter se espalhado pela cidade toda. — Ele se inclinou, observando o prato de espaguete que estava sendo colocado sobre a mesa. — Ontem mesmo minha secretária levou uma cópia do jornal local no meu escritório. Adivinha quem estava protagonizando a primeira página?

Louisa apertou a barra do vestido azul que usava com força. Pude ver seus olhos escuros se enchendo de lágrimas. A raiva me consumia pouco a pouco. Lewis tinha prazer em ver sua filha mais nova aflita.

-— "Louisa Theodore, filha caçula do querido prefeito Lewis Theodore, foi diagnosticada com TDAH. A gagueira da Theodore mais nova já não era novidade para ninguém, mas todos tinham esperanças de que ela..." — Meu pai repetia as palavras inclinado sobre Louisa. 

E como sempre acontecia: Louisa levantou rapidamente da mesa, correndo para fora da sala de jantar. Mamãe iria atrás dela, mas Lewis pegou seu pulso sem a menor delicadeza.

— Eu exijo que minha esposa jante comigo. 

Mamãe se sentou novamente, com os olhos cheios de medo e lágrimas contidas. Senti meu estômago se embrulhar. Queria fazer algo, queria muito. Mas não consigo. Nunca consigo fazer nada. Sou apenas mais um fantoche nas mãos do meu... Nas mãos de Lewis.

Pouco tempo depois que mamãe saiu do quarto, fui atrás de Louisa.

— Louisa! — Bati cuidadosamente na porta alaranjada. — Abre pra mim.

Ela não respondeu.

— Não há ninguém no corredor. — Olhei ao redor. — Você não jantou... Trouxe algo.

Nenhuma resposta novamente.

— São doces e leite.

Escutei a porta sendo destrancada e logo minha irmãzinha estava na minha frente. Seus cabelos escuros e longos estavam amarrados em um coque tão desorganizado quanto o quarto. Ela já não usava o vestido azul fofo, mas sim uma camisola com algumas folhas outonais desenhadas. Seus olhos escuros não pareciam tão inchados como ontem.

— Men-men-mentiroso! — Ela ralhou assim que olhou para a bandeja em minhas mãos.

Em um movimento rápido, entrei no quarto de Louisa antes que ela fechasse a porta na minha cara.

— Louisa! Esse quarto tá um lixo. — Observei enquanto procurava um lugar em sua cama para me sentar.

O guarda-roupa de Louisa estava revirado, algumas roupas presas na gaveta mal fechada. O lençol de sua cama estava amarrotado e suas cobertas desdobradas e espalhadas pelo chão.

— E-eu não vou comer isso. — Ignorou completamente minha observação.

— Vai sim, você apenas almoçou hoje. — Insisti, colocando a bandeja com cuidado sobre a cama de solteiro.

Ela bufou, seu rosto foi tomado por um beicinho rabugento e ao mesmo tempo adorável. Em passos lentos ela se aproximou de mim, sentou na cama e encarou a tijela de sopa.

— A-abóbora? — Deduziu.

— Tem alguns pedacinhos de frango no meio. — Entreguei uma colher a ela. — Veja só, está alaranjada.

Louisa deu um sorriso fraco, esse que acentuou suas covinhas fofas. Não disse nada, apenas levou a tijela para perto da boca.

— E laranja é o que? — Insisti.

— Minha cor favorita. — Ela revirou os olhos enquanto bebia um pouco da sopa, ignorando completamente a colher que lhe entreguei. — Ugh! Essa sopa está fria como um defunto.

Passei com cuidado a mão por sua bochecha, limpando os resquícios de sopa no canto de sua boca. Ela fez uma careta e desviou os olhos ainda vermelhos.

— Até que-que não está tão ruim.

— Agradeça a Judith. Ela fez essa sopa no almoço para o Royer, ele está com o intestino preso — Louisa riu. — Mas ele não comeu tudo. Ela me viu fuçar nas geladeiras da cozinha e resolveu esquentar essa sopa para você, apesar de que acabou esfriando.

Louisa engoliu o resto da sopa, passando o braço pela boca com a menor delicadeza possível.

— E-eu não v-vou jantar na-na-na mesa amanhã. — Ela sempre gaguejava quando falávamos em ficar perto de Lewis.

— Você disse isso ontem. — Observei me jogando na bagunça de sua cama. — E anteontem, e semana passada...

— E-e-eu s-s-ei! P-p-para.

Louisa sempre gaguejava quando ficava nervosa ou quando se encontrava em uma situação desconfortável — como estar perto de Lewis — ou quando era colocada sob pressão ou quando... Eu já havia pensado muito sobre isso. Desde que ela aprendera a falar, eu via com meus próprios olhos sua dificuldade e rejeição por parte das pessoas da cidade e de Lewis. Afinal, era terrível que a filha do querido prefeito não fosse perfeita. Sempre fui considerado o "garoto perfeito", o menino perfeitamente bonito e educado, o mais inteligente e popular da turma, o queridinho dos professores, o... Enfim, esperavam que a garotinha 3 anos mais nova fosse como uma "versão feminina" de mim quando crescesse o que (felizmente) não aconteceu. Louisa era única, imperfeitamente perfeita em todos os aspectos possíveis. Imagino que, se ela fosse igual a mim, talvez não seríamos tão ligados como somos agora. Eu realmente não gostaria de uma cópia minha.

— S-será q-que i-i-i-isso n-n-nunca... — Saí dos meus devaneios com a voz embargada de Louisa.

Levantei rapidamente e vi minha irmã chorar mais uma vez naquela noite.

Um dos motivos pelo qual parei de considerar Lewis meu "pai" cabe ao fato de que ele nunca foi um de verdade para Louisa. E se ele não era um pai para Louisa, ele não era para mim também. Me cortava o coração, toda noite no jantar ele a humilhar quando ela dizia alguma palavra na mesa. Um homem cruel, que controla um filho como um fantoche e humilha a outra filha pode ser chamado de pai?

— Louisa... — Sussurrei, envolvendo seu pequeno e magro corpo com meus braços. — Vai ficar tudo bem.

Ela fungou, se soltando dos meus braços. Ela parecia não conseguir se concentrar em nada no quarto, o que a fez se levantar e andar de um lado para o outro.

— E-e-e-e-e-eu e-e... — Louisa fechou os olhos com força e respirou fundo. — E-eu estou cansada d-d-de tentar e tentar. E-e-eu nunca vou parar de g-g-g-gaguejar, sou um tre-tremendo fracasso! — Sua voz expressava raiva e melancolia ao mesmo tempo.

Me levantei indo até ela, que parou de andar quando toquei em seu ombro.

— Não fale assim Louisa. Você fala muito bem. Lembra quando éramos pequenos e você não conseguia formar uma palavra sequer? — Ela me puxou para um abraço, afundando o rosto em meu peito. — Acredite em você e no seu potencial! Vai ficar tudo bem e você vai mostrar a Lewis que é muito, mais muito mais do que ele pensa.

— Estou cansada das consultas com o fonoaudiólogo. Papai já desistiu de todo mês trocar de profissional... — Ela apertou minha camiseta preta. Passei carinhosamente a mão em seus fios da nuca. — Acho que ele está desistindo definitivamente de mim, depois de quase 10 anos tentando.

Ela ainda o chamava de pai, de papai... Mesmo que não recebesse amor, mesmo fosse humilhada todas as noites. Eu sentia que ela nunca desistiria de pensar que um dia ele voltaria a amá-la, como era antes dela começar a falar.

— Você falou sobre Lewis e não gaguejou em nenhum momento. — Sorri.

Eu sempre tentava diminuir as inseguranças de Louisa, mesmo quando as minhas me consumiam por completo. A resposta dela foi um bocejo cansado. Peguei em sua mão e a guiei até a cama.

— Você precisa descansar agora. Amanhã irei almoçar com você no jardim dos fundos, vamos poder chamar a mãe! Lewis nunca almoça aqui mesmo. — Repeti as palavras que dizia toda noite.

Ela deu um sorriso fraco. Louisa já devia ter decorado aquela frase.

— Amanhã é um novo dia. — Tentei convencer a mim mesmo dizendo aquilo. Às vezes parecia que eu vivia o mesmo dia todos os dias.

Beijei a testa de Louisa e murmurei um "Eu te amo" antes de sair do quarto, ela respondeu com um "eu também" e se deitou na cama, abraçada com seu travesseiro. Era sempre assim, todas as noites após o jantar.

Levei a bandeja com a tijela suja até a cozinha e chequei meu celular antes seguir até a biblioteca da casa, faltavam 10 minutos para ás nove da noite. Caminhei em passos lentos, desejando atrasar esse caminho o máximo que eu podia.

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