Dama De Ferro (EM EDIÇÃO)

By Giovannisilvamatos

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Querer o bem não é o bastante pra sobreviver na guerra em que a mais ínfima esperança se torna em pó junto co... More

Prólogo (Victória)
Prólogo (Kadna)
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5 - Parte 1
Capítulo 5 - Parte 2
Capítulo 7
Capítulo Filler 1
Capítulo 9
FELIZ NATAL
PREMIO DE CONCURSO
AVISO
Capítulo 6

Capítulo 1

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By Giovannisilvamatos

Nota:

Importante!: você que está esperando derramamento de sangue e tripas voando, sim você mesmo! (Eu sei onde você mora... Deixa uma estrelinha...).

Esse capítulo tem altas doses de paz e fofura, por isso recomendamos a leitura mediante a paz de espírito e amor no coração, caso deseje encher sua alma de escuridão e trevas, voltando para a ação, pule para o próximo.

Não se esqueça de deixar uma mensagem de paz e amor antes. Atenciosamente, os escritores sempre preocupados em criar as melhores cenas de caos e desordem! Bebem muito líquido e afiem suas facas, pois a ação vai ser frenética!
୧( ˵ ° ~ ° ˵ )୨
Também não se esqueçam de sorrir, pois isto libera endorfina e serotonina no teu cérebro, o que vai te deixar mais feliz =)

**************************************


Em meio a esses corredores sem fim, quem pode dizer quanto tempo já se passou?

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Victoria
(Antes do ataque ao Sítio)
***

Não se pode ganhar nada, sem antes sujar as mãos. Ainda mais quando se trabalha com argila, minhas mãos estavam totalmente sujas, remetendo a um dia bem trabalhado e como prova disso o vaso estava pronto.

Com cuidado o levei ao forno, as labaredas dançavam enquanto recebiam o vaso. Me sentei em meu banquinho, que na verdade era um toco de madeira.  Olhando fixamente para as chamas, ignorando a fumaça que não estava saindo pelo teto como deveria.

Meu coração gelava a cada momento que passava, havia investido atenção e tempo demais naquele vaso para o ver explodir pelo calor. Estremeci ao imaginar os entalhes de flores, formas de ondas e as belas nuvens, desaparecendo ao serem carbonizadas. Uma preocupação idiota eu confesso, minha vida é assim. Tudo se resume a desejos idiotas, nada complexo ou complicado. Talvez por isso gosto dessa vida no campo.

Sem grandes luxos e com grandes impostos, ainda assim não se pode reclamar, não era nenhuma exclusividade dos camponeses, de forma alguma, pelo que os comerciantes falam é uma facada direta no bolso para negociar no Condado, alguns centros comerciais e áreas urbanas têm taxas até maiores.

Reclamações constantes vagam como uma alma penada a noite, todavia da mesma forma que uma somem quando o sol surge pela manhã, junto aos poderosos nobres e suas infinitas leis.

A classe baixa, no caso eu ainda fico feliz, por ter a sorte de ter quase tudo que preciso aqui, para comer claro. Infelizmente ainda temos que manter algum comércio para pagar os impostos. Não pagam muito bem por hortaliças e legumes, mas ainda é melhor que se tornar um trabalhador do cadafalso.

Apelido apropriado, já que os trabalhadores sempre parecem que estão quase mortos, era basicamente a pior parte da terceira zona, que já não era grande coisa. Fico feliz de estar na zona rural.

Os sítios da nossa área são distantes uns dos outros, o que torna um tanto difícil a convivência entre vizinhos, ainda assim eu lembro que tínhamos uma boa relação com os Cortins, faziam um assado como ninguém e adoravam passar horas conversando ao redor de uma fogueira.

Boas pessoas, mas horríveis administradores, me lembro de ouvir relatos deles serem descendentes de nobres. Falavam com orgulho de seu sangue, mas não andavam muito bem de seus bolsos.

Apostaram tudo em uma enorme roça de milho. Eles perderam a aposta e como não iriam? Não deixaram a terra descansar ou a fertilizaram com cal ou adubo ou algum adubo. Mini espigas sem valor e nada para pagar os impostos, que são multiplicados pelo número de cabeças. Pelo que ficamos sabendo eles foram enxotados. Nunca voltei naquele lugar depois disso, os viajantes falam que se tornou algum tipo de orfanato.

Irônico os nobres jogam uma família na rua, para poder construir um lugar para crianças abandonadas. Priorizando o crescimento de novos servos eu acho. Bernardo disse ter visto os Cortins, com suas cabeças baixas, olhos vazios, cabelos ralos e quebradiços e suas roupas em trapos, de acordo com ele, parecia que não restava mais alma.

Não quero lembrar disso, porém minha cabeça estava muito inquieta. Fazia um pouco de frio depois de uma boa chuva, o que me levava a ficar colada ao forno. O calor me lembrava das fogueiras, tanto as de minha infância quanto as que dividimos com os vizinhos, tem sido um tanto solitário por aqui desde então, quero dizer em relação aos vizinhos.

Ficamos um pouco isolados do mundo, ainda assim coisas incríveis acontecem nesse fim de mundo, como a sorte bater na porta ou nesse caso na caixa de correio.

Recebi uma oferta de quinze moedas de prata por um vaso, mesmo eu gostando do meu trabalho, ainda sei que um vaso de barro não deveria ser vendido por tanto. Era tentador demais e provavelmente era apenas uma brincadeira, mesmo assim fiz o vaso mais bonito que consegui, eu ainda conseguiria o vender de qualquer forma, então não seria um trabalho desperdiçado.

Sofia, minha filha, afirmou que esse foi o meu melhor trabalho e que de maneira alguma poderia ser vendido por menos que o valor combinado. Ela é uma criança sem experiência, todavia tem um bom gosto, refinado por vários dias a olhar para as borboletas e outros pequenos animais do campo, pena que isso não a tornava uma boa negociante.

Não que eu fosse muito melhor que ela, na maioria das vezes deixei meu esposo resolver na negociação, já que tenho o pulso mole de mais e a acabo saindo no prejuízo. Ele mantém o pulso firme, ao menos nas negociações, já que ele sabe que pode ser muito prejudicial ir contra a sua amada e perfeita esposa.

Enquanto estava distraída com o forno, Sofia entrou correndo, segurando uma vareta que balançava no ar enquanto fazia efeitos sonoros com a boca, andando ao redor do forno, usando sua capa amarela, que ganhou de seu pai depois de ter aprendido a ler algumas palavras.

A capa acabou influenciando a vontade dela de ler livros, que não são muito baratos e fáceis de encontrar, mesmo assim nós conseguimos comprar alguns para ela. Valia a pena o esforço, aos poucos estava se tornando uma jovem muita esperta, diferente da mãe que não sabia ler. Se podia dizer que eu detestava precisar ficar muito tempo aprendendo alguma coisa, o que era um defeito enorme, mas eu não conseguia mudar isso... Ou não seria... Tanto faz...

- Me enfrente guardiã do forninho! - Disse Sofia com o galho perto do meu rosto.

- Se isso machucar meu olho, eu vou te mostrar a guardiã da varinha de marmelo - A vareta sumiu de perto instantaneamente - Assim é melhor - Sorri vitoriosamente.

- Usando de ameaças contra uma pobre e indefesa criança, não sente vergonha de si mesma - Reclamou ela, empinando seu fino nariz, em seu rosto bronzeado.

- A poderosa guardiã da varinha de marmelo não sente vergonha, na verdade ela sente uma fúria que só pode ser abatida com um sacrifício! — Sorri movendo maliciosamente os dedos.

- Sendo assim, vou pedir para o papai lhe servir um prato de Jiló com Gengibre! - Gargalhou malignamente.

- E EU AINDA SOU O MONSTRO! - Fiz uma careta e então caímos na gargalhada.

Um barulho estridente roubou minha atenção, algo bateu forte contra o telhado da casinha que eu chamei de olaria, sendo arrastado pela sua extensão até cair ao chão.

Sem pestanejar Sofia curiosa foi para a saída, uma porta de madeira com uma tranca de metal, não era comum alguém querer roubar vasos de barro, mesmo assim nada é muito seguro.

Segundos se passaram e Sofia voltou chamando meu nome. Meu coração bateu pesado e acelerou, larguei o que estava fazendo e fui ao seu encontro. Ela estava abaixada ao lado de um barril de água, com um olhar triste focado em um grande pássaro no chão, se notava que estava todo quebrado, penas arrancadas e quebradas, se misturavam a muito sangue quente, precisei me aproximar para constar que era uma águia.

- Alguma coisa a acertou - Comentou Sofia com voz baixa, com um olhar triste e assustado, olhando para uma das asas que estava com um grande rombo.

O pássaro estava se esperneando tentando se levantar, sem resultados, enquanto seus grunhidos traziam uma agonia de sofrimento ao ar.

- Provavelmente um caçador a acertou na asa e caiu sem controle até parar aqui - Deduzi.

- Podemos fazer alguma coisa? - Perguntou Sofia ainda de cabeça baixa. Ela tem um bom coração, pena que apenas isso não pode resolver todos os problemas da vida.

- Olhe pra ela, está quase morta. A única coisa a fazer é acabar com o seu sofrimento - Sofia se calou, sem ir contra a minha sugestão - Vou ser rápida - Prometi.

A deixei alguns momentos sozinha ali, enquanto andava até a parte de trás de nossa casa. Lá ficava um pequeno barracão de madeira, onde ficavam guardadas todas as ferramentas. Enxadas, pás, facões e tudo o que fosse necessário para cuidar da terra.

Peguei uma foice. Poderia ser algo exagerado, mas era a ferramenta que mais me dava segurança do que eu estava prestes a fazer. Já que por muitas vezes matei cobras e outros animais pequenos com ela.

Voltei para cumprir o que havia falado. Sofia se afastou indo para trás do barril. Quando a foice acertou o pobre animal, os olhos de Sofia se fecharam e o som do animal se aquietou. Por alguns momentos tudo foi um total silêncio.

- Pode pegar uma pá para mim? - Pedi a Sofia.

- Pra quê? - Questiona ela se negando a abrir o olho.

- Vamos a enterrar, ela merece descansar ao invés de ser devorada por algum abutre.

Sofia abriu os olhos, ergueu uma de suas sobrancelhas, enquanto abaixou a outra. Fechou o punho e assentiu com a cabeça indo para o barracão. Eu poderia ter ido buscar, mas preferi mandar ela, enquanto eu procurava um pano para embrulhar o pássaro. Ela trouxe uma enxada... Mas será possível… se acalme... Seja uma mãe responsável.

— A pá sumiu... Só achei essa inchada — Sinto cheiro de Bernardo nisso, mas ainda não posso o acusar de roubo de pá sem provas, ainda!

— Obrigada — Peguei a enxada.

No fundo do terreno, em meio aos pinheiros e perto da pequena mina de água, tendo uma árvore para indicar o local, um buraco foi aberto e logo fechado de novo.

Sofia fez uma oração pela alma da águia, não sei se funciona assim, mas não quis contrariar, já que não encontrei mal naquilo. Compaixão era uma boa virtude.

Meu estômago alertou que era hora do almoço. Os vivos ainda precisavam comer, o estômago de Sofia também confirmou com um ronco, logo sua face estava a me olhar como um cachorro pedindo carinho, era fofa e misteriosa ao mesmo tempo.

- Certo, certo, vamos comer.

- Eba - Exclamou ela com pulinhos. A alegria nos olhos, me fazia lembrar de quando ela nasceu.

Foi a minha maior alegria em anos, uma bagunceira e pequena garotinha. Os potes de casa estavam sempre a quebrar, tudo acabava no chão, quando não tinha a vontade de colocar na boca. Estávamos com poucos vasos e potes, então precisei aprender a fazer alguns e o destino fez o resto.

Antes de ir comer corri para ver o vaso. Nada de mal havia acontecido. Tirei o vaso do forno e fechei a porta.

Fomos para casa, uma deliciosa fumaça branca era emanada da cozinha. Bernardo estava na janela piscando alguns legumes, ele sorriu para nós, quando notou que estávamos chegando. Enquanto descascava vários legumes, deixando suas cascas caírem no chão…

Bernardo se mostrou um ótimo cozinheiro, um tanto diferente de mim, que sempre fui chamada de morte na cozinha, se os ingredientes são os mesmo então como a minha receita saia preta? Essas coisas desanimam uma mulher, talvez eu tenha algum defeito de fabricação sei lá.

Sofia correu pulando o degrau da entrada. Quando estava prestes a entrar, ela parou paralisada, logo se virou para minha face levemente maligna. como se sentisse um medo mortal, que era justificado com a próxima fala.

- Foi sem querer - Atrás dela um caminho de lama.

- Tire a sua bota, que eu limpo isso depois - Ela tirou o mais rápido que conseguiu e então entrou. Posso me orgulhar de sua educação, mesmo que às vezes ela esqueça de algumas coisas básicas, como a limpeza na casa.

A mesa estava farta, nada muito sofisticado ou adornado, mas com o valor da simplicidade e o maravilhoso gosto do fogão a lenha.

Sentamos a mesa, Bernardo estava terminando um ensopado. Sofia ficou balançando na cadeira, eu por outro lado ficava pensando se nada aconteceria com meu vaso. Bernardo quando terminou trouxe a vasilha sobre a mesa, com um olhar recheado de escárnio.

- Que foi? - Indaguei em tom sério.

- Quem diria, Senhorita Victoria, Não imaginei que um dia te veria ignorando um chão sujo - Comentou Bernardo, colocando as vasilhas sobre a mesa.

- Apenas estou dando uma colher de chá - Adverti - E por falar nisso, você vai limpar esse chão.

- Hã? Por que ela ganha uma colher de chá e eu não? - Reclamou ele fazendo bico.

- Simples, por que eu sou fofinha! - Exclamou Sofia.

- Veremos - Bernardo se aproximou e apertou as bochechas de Sofia. Ela por sua vez se chacoalhou como um cão molhado.

Bernardo então se sentou na mesa rindo, suas mãos se juntaram e fechou seus olhos em uma oração. Sofia seguiu o exemplo ou mais ou menos, fechou um dos olhos e com o outro olhou para mim, com a sobrancelha levantada me intimando para me juntar a eles. Assim o fiz para agradar a ela. Amém em uníssono nos permitiu comer.

- Fizemos um enterro hoje - Soltou Sofia e Bernardo quase se engasgou, enquanto provava uma colher de sopa.

- Quem.. como... onde.. quero dizer...

- Entendi o que quer dizer, foi de uma águia. Ela caiu morta sobre a olaria, acredito que algum caçador está rondando por perto - Expliquei o ocorrido.

- As águias vão pro céu pai? - Perguntou ela inocentemente. Me senti um tanto aliviada dela não ter perguntado a mim, afinal não sabia o que responder.

- Cada ser vivo tem seu lugar de descanso, nós humanos temos o céu e os animais têm um lugar separado só para eles em um paraíso verdejante - Às vezes me questionava se ele acreditava mesmo nessas coisas, ou só não queria deixá-la sem resposta.

- Então um dia eu vou poder ver a Águia? - Os olhos de Sofia brilhavam ao imaginar o que seria o paraíso.

- Claro que sim querida. Agora me passe um copo de suco — Sofia obedeceu seu pai, eu gostava de falar isso, me fazia sentir parte de alguma coisa.

- Recebi uma carta - Revelei a ele.

- De algum parente?

- Não sei, melhor você a ler - Sugeri.

- Você poderia tentar as vezes, pode ficar mais fácil praticar - Comentou ele.

- Prefiro não passar vergonha. Vamos leia isso logo - Ordenei.

Bernardo disse que alguém viria discutir algo conosco amanhã, não tinha nome, mas a gramática era boa e o papel caro.

- Não me recordo de você ter parentes ricos - Comentei, enquanto Sofia estava no mundo da lua, imaginando várias coisas, por vezes ela ficava falando de seus sonhos a nós, sempre eram criativos e com muito brilho e cor.

- Não seriam seus parentes? - Indagou ele.

- Pouco provável, sabe que não tenho contato com nenhum deles - Não sei se tenho parentes vivos.

***

Como sempre estava sentada a frente da roda, na Olaria. Tudo ali era improvisado e funcional, não tinha todas as peças, mas com um pouco de criatividade e muito cambalacho consegui fazer funcionar e com o benefício de fazer um pouco de exercício com as pernas, deixando as mãos livres.

Pulando por todo o lado estava Sofia, brincando com uma vareta novamente, parecia que estava a duelar com o vento, usava um vestido sem adornos azul com um capuz, que já estava bem sujo, mesmo eu tendo lhe entregue limpo.

Havia ganho um livro sobre justiceiros e acabará de ler, usando capuzes e espadas, espero não ter sua espada quebrando meus vasos, que por sinal estava acabando mais uma leva de vasos.

O vaso que eu acabei ontem está guardado em uma caixa de madeira. Prevenir nunca é demais. Enquanto moldava um dos últimos vaso o som de cavalos trotando venho ao longe, depois venho o som do barulho do portão rangendo, que me assustou, de uma forma que acabei por desmanchar o vaso em minhas mãos.

Lavei minhas mãos no barril de água próximo e saí para ver o que estava a acontecer. Encontrei Bernardo puxando o portão para uma carruagem preta como o puro carvão adentrar. Uma flâmula preta com o brasão de uma vespa dourada, estava balançando com o movimento dos cavalos, que param na frente de nossa casa.

Bernardo deixou o portão aberto. Caminhei até me unir à Sofia, que esperava sentada nas escadas.

O condutor da carruagem desceu. Bernardo se aproximou, perto o bastante para o cumprimentar. O homem era um baixinho mal encarado, não respondeu o cumprimento, nem ao menos fingiu se importar, com passos rápidos consecutivos se posicionou ao lado da porta da carruagem.

Ele aguardou alguns segundos, como se seguisse um procedimento padrão e então enfim abriu a porta daquela grande caixa preta.

A mão pálida de uma mulher foi a primeira coisa a saltar para fora, a luz do sol refletia nos anéis que estavam nos dedos, lisos sem sinais de qualquer trabalho bruto.

Logo o sol conseguiu banhar todo o seu corpo, contrastando com as penas pretas e brancas do vestido que usava, roubando a atenção de seus cabelos, também pretos levemente ondulados e compridos, que passeavam pela borda de seu rosto, tentando tapar a visão de seus olhos de ébano com uma franja. Sardas em suas bochechas tentavam mudar a vastidão branca da pele de seu rosto.

Minha roupa que já era velha e ainda por cima estava suja, uma situação que traz desgosto a uma mulher, por que não consigo parar de me comparar e me sentir como uma formiga?

Ela desceu e sorriu suavemente na direção de Sofia, que sem entender a situação sorriu de volta, admirada por ver tantas penas.

Me senti olhando para um espelho, mas ele refletia o oposto da minha imagem, o meu maior incômodo sem dúvidas era a visão perfeita de seus cabelos, tão leves e com aparência macia, diferente dos meus.

Queria me esconder em algum lugar, era como se a presença dela repelisse a minha, seus olhos vieram em minha direção me forçando a olhar para o chão para não manter contato visual.

- Deve ser o senhor Mercy, mandei uma carta avisando de minha vinda ao senhor - Ela inclinou a cabeça em um sinal de comprimento, que foi repetido por Bernardo.

- Me desculpe se parecer grosso, mas quem seria você? - Perguntou ele, com a face um tanto vermelha, isso me trás um pouco de irritação, mas não posso o culpar, havia um enorme decote à mostra e um abismo de classe entre nós, ainda assim eu iria reclamar muito depois!

- Me chamo Farlin Kaster - Meu sangue gelou, passando um arrepio por todo meu corpo, aquele nome não me era estranho - Vim para comprar o seu sítio, seus olhos parecem cada vez mais escuros, conforme ela olhava para Bernardo.

- Não estamos interessados - Afirmou ele sem dar tempo para esperanças.

- Isso é uma pena, poderia bem generosa - Um tom de flerte subiu ao ar, a vontade de lhe encher a cara de porradas veio à tona, na forma de uma veia, coloquei minha mão na face para disfarçar - E você, compartilha da mesma fala de seu marido?

Meu coração bateu forte como se fosse explodir, eu queria sair correndo, mas não pude fazer isso. Retirei a mão do rosto.

- Agradecemos a sua visita, mas não daremos o braço a torcer - Declarei me aproximando de meu marido.

- Victoria, certo - Afirmou ela com o sorriso que me deixou ainda mais nervosa.

- Não esperava que meu nome fosse conhecido.

- Como não seria, sendo que me interessei por você e até lhe fiz uma encomenda - Ela estalou os dedos e o condutor da carruagem se aproximou. Ele tirou do bolso um saco de moedas. Ela fez uma pausa e continuou:

- Pode pegar, foi o pagamento que eu prometi e eu não quebro minhas promessas - A situação estava estranha, todavia o dinheiro seria bem-vindo. A mão do homem se recusou a soltar o saco por alguns momentos, me levando a puxar com força.

- Se me der alguns minutos, pegarei a encomenda.

- Não é necessário. Tenho coisas a resolver por agora e não posso levar o vaso junto. Voltarei em alguns dias para buscar e também para quem sabe finalizar a compra.

- Não vamos mudar de ideia! - Disse Sofia batendo suas botas em ansiedade.

- Tudo pode acontecer - Terminando sua fala ela se virou e voltou a carruagem. Não demorou para seu serviço mal humorado lhe seguir, fechando a porta para ela e retomando o comando dos cavalos.

Se foram pela estrada.

- O que ela está tramando? - Questionei.

- Me pergunto a mesma coisa, comprar nosso sítio e ainda pagar tanto por um vaso - Comenta Bernardo.

- Ela queria conhecer a mamãe! Você é tão incrível que ela não se importou em pagar caro pelo seu trabalho - Afirmou Sofia sorrindo.

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