Golden Eyes ☀️ OBX 2

By itsclarafelton

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Depois de todos os acontecimentos do verão, Outer Banks já não era mais a mesma para os Pogues, que tentavam... More

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01 | O fim do Verão
02 | De volta a vida "normal"
04 | A arma do crime
05 | Noite da pizza
06 | Charleston
07 | A Casa Limbrey
08 | A Volta
09 | Nada que é bom dura muito
10 | A pior hora
11 | Um dia peculiar
12 | A Chave e o Druthers
13 | Oceanos de distancia
14 | A coroa ainda é minha
15 | A festa da fogueira
16 | Ao pé do anjo
17 | Bon Voyage
18 | De mal a pior
19 | O Navio
20 | Poguêlandia
21 | Epílogo
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03 | Tipo FBI

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By itsclarafelton

Se você precisar de ajuda, eu vou apagar as luzes da cidade, vou mentir, enganar, eu vou implorar e subornar para te deixar bem

- Gone Gone Gone, Phillip Phillips

— Só para deixar claro, nunca duvidei deles. — JJ comentou enquanto o grupo seguia Kiara para a parte externa do restaurante de sua família. Sophia, que tinha seus dedos entrelaçados com os do garoto, lançou um olhar cerrado na direção dele como se perguntasse "tem certeza?" — Tá, não duvide deles na maior parte do tempo. — o loiro corrigiu.

— Te devo cinco pratas. — a morena brincou lembrando da pequena aposta feita.

— Hey, Kiara, preciso das mesas prontas até às cinco. — a Sra. Carrera exclamou quando o grupo passou ao lado da mesa onde ela trabalhava.

— Tem mais gente trabalhando aqui, sabia? — Kiara retrucou sem parar seu caminho.

— Mas nenhuma delas é minha filha.

— Bom te ver, Sra. Carrera. — Sophia olhou por cima do ombro acenando para a mulher.

— Você também, Soph. — ela retribuiu o gesto, sorrindo de forma gentil.

O grupo caminhou até o cais, deixando suas mochilas jogadas por cima dos bancos de madeira colocados lado a lado por uma boa extensão do lugar. Enquanto Sophia sentou no assento do banco, Kiara e Pope sentaram no encosto dele e JJ permaneceu de pé em frente a eles.

— Então a gente vai para as Bahamas ou não? — o Maybank deu de ombros.

— Cara, não tem como chegarmos às Bahamas. — Pope apoiou seus cotovelos na perna.

— O John B vai ser preso, cedo ou tarde. Para a gente limpar o nome dele, a gente tinha que ter começado isso ontem. — comentou Kiara intercalando o olhar entre os três.

Na pequena troca de mensagens, John B e Sarah contaram que estavam escondidos em Nassau, nas Bahamas, e o garoto fez um pedido aos amigos: limparem o seu nome, assim o casal poderia voltar para Outer Banks. Obviamente os quatro não pensaram duas vezes antes de concordarem em ajudar.

— Vamo fazer o seguinte... — JJ atraiu a atenção de todos ao andar pelo cais.

— Então você já planejou tudo? — Havia um tom de sarcasmo na voz de Pope.

— Na verdade — O loiro se virou para os três. — Já sim

— Deus nos ajude. — foi Sophia quem murmurou, fazendo seus outros dois amigos rirem.

— Aí, é um plano ótimo. — JJ protestou, apoiando um dos pés no banco e apoiando seu braço na perna. — A gente sequestra o Rafe...

— Peraí, o que? — Pope arregalou os olhos.

— A gente sequestra o Rafe, amarra ele e põe uma arma na boca dele, aí ele vai ter que confessar.

— Esse é o seu plano brilhante? — Sophia tombou a cabeça para o lado, encarando o loiro que assentiu. — Tem sorte de ser bonito.

— Sabia que tortura é crime? — Kiara encarou JJ com uma expressão entediada.

— Eu achei que era uma boa ideia. — ele deu de ombros.

— E como exatamente você planeja limpar o nome do John B de dentro de uma cela? Porque você vai ser preso. — Heyward constatou.

— Tá, então qual a sua ideia, Pope? — JJ abriu os braços — Eu tava tentando não complicar. Um lance rápido e acabou.

O garoto deu de ombros mais uma vez, sentando ao lado de Sophia e passando o braço pelo pescoço dela.

— Gente, só precisamos de uma testemunha relevante — foi Pope quem explicou. — O avião do Ward voou sobre a gente com o ouro dentro. O Ward não tava pilotando, tinha outra pessoa lá que também viu a Peterkin ser morta. Só precisamos descobrir quem era e fazer ela confessar oficialmente.

— Mas como vamos fazer isso? — A pergunta veio de Kiara.

— Com um pouco de espionagem. — Pope disse simples.

Os quatro se entreolharam, sentindo os cantos de suas bocas se curvarem para cima.

— E reconhecimento tático. — acrescentou JJ com um sorriso travesso estampado em seu rosto.

— Tipo o FBI. — Sophia constatou por fim.

— Peraí, quer dizer que o piloto do Ward é o mesmo piloto do seu avô? — Pope franziu o cenho ao olhar para Sophia pelo retrovisor do carro.

— Pois é... — ela torceu a boca. — Vovô diz que é por ele ser o melhor piloto da ilha, é bem discreto também.

Os quatro estavam no carro de Kiara - os dois morenos na frente e os dois loiros nos bancos de trás - seguindo em direção ao endereço que Sophia havia conseguido.

— Então eu voto na abordagem direta. — anunciou JJ.

Sophia olhou surpresa para o lado ao ouvir o barulho de uma arma, vendo o JJ verificar a munição da pistola. Só podia ser brincadeira.

— O que? Não — Kiara, que dirigia, lançou um rápido olhar irritado para o loiro antes de voltar sua atenção ao trânsito.

— Qual é?

— Deixa essa arma aqui, cara — foi a vez de Pope olhar irritado para o amigo.

— A coisa tem que ser simples — ele retrucou — Se não, a gente nunca vai livrar a cara do John B.

— Mas ameaçar pessoas não é a melhor solução, além de ser ilegal. — A loira apontou para a arma e usando um tom autoritário acrescentou: — Guarda isso.

O loiro comprimiu os lábios, guardando - contrariado - a arma em sua mochila.

— Qual o plano então? — perguntou.

— Dar uma provocada — Pope mostrou a caixinha branca de seus fones sem fio.

— O que? — as duas garotas perguntaram juntas.

— Uma escuta.

— Isso também é ilegal, sabia disso né? — Sophia se inclinou para frente, apoiando a cabeça no encosto do banco do motorista.

— É melhor que a ideia do seu namorado. — o Heyward deu de ombros. — Vou deixar meu celular no carro dele e aí a gente escuta no fone sem fio. — explicou colocando os fones no ouvido. — Fala alguma coisa.

— Alguma coisa. — Kiara falou quando o garoto estendeu o celular em sua direção.

— Tenho o áudio.

Sophia levantou sua cabeça, olhando para a janela fechada do carro quando Kiara estacionou o veículo. Do outro lado da rua a loira avistou uma casa de tamanho mediano pintada com um tom de bege, cercada por plantas e árvores. A garagem era aberta, por isso era possível ver o carro estacionado.

— Tem certeza que é aqui? — Kiara perguntou sem desviar o olhar da casa.

— Certeza absoluta — A loira assentiu. — Tive que vir uma vez aqui com meu avô e ele me deixou esperando uns vinte minutos no carro.

— Tá legal — Todos olharam para Pope. — Se virem alguma coisa suspeita, buzinem, gritem ou qualquer coisa desse tipo.

— Não faça nada perigoso. — a cacheada pediu.

— Tá pensando que eu sou o JJ?

Sophia deixou um riso anasalado escapar com a fala do moreno, que já saia do carro.

— Que engraçado, Pope. — o loiro gritou, mesmo que o garoto já não pudesse mais ouvir.

Sophia voltou a se encostar no banco do carro, observando pela janela o amigo se esgueirar até a casa.

— E como vão as coisas com o Pope e tal? — a pergunta de JJ foi direcionada à cacheada.

— Tudo bem. — Kiara apenas assentiu, seu olhar focado no lado de fora.

— E na cama é meio esquisito, por ser o Pope? — JJ encolheu os ombros, exibindo uma expressão curiosa. Sophia fez uma careta ao encarar o garoto, assim como Kiara.

— Por que essa pergunta? — a Carrera quis saber.

— Sei lá, só tô curioso. Puxando papo.

— Não precisa puxar papo. — Ela ergueu as mãos, voltando a olhar para frente.

— Mas numa escala...

Amor, pode só calar a boca? — Sophia se intrometeu na conversa. — Não. Nem pense em falar isso, é brega demais. — Ela apontou para o namorado ao ver um brilho malicioso se acender em seus olhos azuis.

— Vem calar. — O garoto cutucou o canto da boca com a língua. E Sophia revirou os olhos, mas não conseguiu evitar um sorriso.

— Eu juro que se vocês começarem a se pegar aqui, jogo os dois para fora do carro e passo com ele por cima de vocês. — alertou Kiara, sem nem ao menos ousar olhar para os dois.

— Empata. — foi JJ quem resmungou como uma criança irritada. — Acha que isso é porque ela quer voltar a falar do Pope? — O loiro olhou para a namorada.

— Com certeza — Sophia assentiu, rindo. Pelo retrovisor viu Kiara lançar um olhar mortal em sua direção.

— Tá, em uma escala de zero a dez, quem é melhor, o John B ou o Pope?

— Eu odeio vocês — a morena murmurou.

— Fase um concluída. — Pope anunciou ao entrar no carro. — Gente, o que foi? — ele franziu o cenho ao perceber a cacheada ainda com uma careta no rosto e os dois loiros rindo..

— Nada. — Sophia negou. — Qual a segunda fase do plano?

— Provocar. — o moreno disse simples. — Para isso, precisamos de um celular com crédito.

No mesmo instante os três direcionaram seus olhares a Sophia. A garota pegou seu celular dentro do bolso da frente de sua mochila entregando para Kiara.

— Por que tá me dando?

— Sei lá, algo me diz que vai se sair bem.

Ela deu de ombros. Não recusando quando sentiu seu corpo ser puxado delicadamente por JJ para mais perto dele. O garoto passou o braço pelo pescoço da namorada, deixando um beijo em sua têmpora - a fazendo sorrir.

— Tá, eu faço algum sotaque? — Kiara quis saber enquanto digitava o número de telefone que a amiga havia conseguido.

— Disfarça a voz.

— Disfarçar a voz como? Assim, quer que eu disfarce a minha voz assim? — A cacheada usou um sotaque que lembrava muito aquelas dublagens de filmes infantis ruins.

— Assim não. — os três negaram juntos.

— Batman.

— Batman. — ela usou um tom mais sério e rude.

— Agora sim.

— Perfeito, vamo lá. — JJ comentou. Ele e Sophia se inclinaram para frente, quando a amiga colocou o celular no viva voz ao ligar para o número.

Aló — a voz do homem soou do outro lado da linha.

— Não dá. — Kiara sussurrou para os amigos ao limpar a garganta depois de não conseguir usar o sotaque. — Eu não consigo.

— É só falar. — foi Sophia quem sussurrou de volta.

Aló? — o piloto falou outra vez.

— Posso falar com o Gavin? — Kiara pediu.

Sou eu. Quem fala?

— Eu sei o que aconteceu na pista — Foi possível ouvir uma risada sem graça do outro lado.

Quem é?

— Foi o Rafe Cameron, mas você já sabia disso e mentiu para eles...

Quem tá falando? — A voz de Gavin estava irritada.

— E nós vamos provar.

Olha aqui, você tem que me dizer quem tá falando agora mesmo.

— Você podia ter salvado ela, mas não salvou. E você não vai se livrar dessa.

Quem tá aí? — o homem gritou, mas Kiara desligou o telefone olhando para os amigos.

— Como foi?

— Olha eu fiquei com medo. Mandou bem — elogio JJ e Sophia assentiu.

— Legal, provocamos o cara. Fase dois concluída — Pope falou. — Agora a gente espera e escuta.

— Beleza — Kiara devolveu o celular para Sophia e o grupo teve que esperar apenas alguns segundos antes de ver as luzes do carro de Gavin se acenderem.

— Abaixem. Abaixem — o moreno murmurou para os amigos.

Os quatro se abaixaram sentindo as luzes brancas dos faróis iluminarem o carro e Sophia só torceu para que o homem não os visse ali abaixados.

— Ele não viu a gente — JJ levantou a cabeça para chegar se o carro já havia mesmo passado — Vamos.

Os quatro se ajeitaram nos bancos e a cacheada deu partida. Como não poderia faltar, Pope teve um pequeno desentendimento com seu cinto de segurança, o qual "travou" quando ele tentou puxar com muita força. E enquanto JJ e Kiara tentava dizer a ele que não era importante o cinto naquele momento, Sophia apenas ria da cena.

— É o Ward. — Pope contou aos amigos. O garoto usava seus fones sem fios que estavam ligados ao seu celular plantado no carro de Gavin — Ele tá falando com o Ward.

— O Ward? Uhhh — JJ murmurou animado. Tanto ele como Sophia estavam inclinados para frente, se apoiando nos bancos com suas atenções focadas no amigo.

— Chega mais perto, não dá para ouvir. — o moreno pediu a Kiara, que assentiu — Ele tá falando sobre renegociar alguma coisa — Ele franziu o cenho — O Gavin tá com a arma que o Rafe usou para matar a Peterkin.

— Ah meu Deus — Sophia exclamou baixo, sua boca se abrindo com a surpresa.

— Puta merda — os outros três murmuram juntos.

— Acho que ele tá tentando usar a arma como extorsão, como chantagem — Heyward comentou.

— Gente, ele tá parando — havia um claro tom de ansiedade na voz de Kiara.

Sophia ergue o olhar constatando o que a amiga acabava de informar, o carro tinha mesmo parado.

— Eu paro atrás dele?

— Da a volta na quadra. — JJ fez um gesto de círculo com a mão.

A morena assentiu passando reto pelo carro. É foi quando a confusão começou. Pope estava perdendo o sinal do telefone, o que resultou no garoto exclamando para Kiara acelerar, e de repente os quatro falavam um por cima do outro.

— Só pode ser brincadeira — Sophia exclamou ao ver a saída da rua bloqueada por placas de obras.

— Para, da meia volta. Dá meia volta — Pope apressava a amiga.

— Tá bom. Tá bom.

Kiara engatou a ré, mas como se tudo conspirasse contra eles naquele momento, um caminhão surgiu bem atrás do carro bloqueando a única saída que eles tinham.

— Aí, oi — JJ saiu do carro chamando a atenção dos trabalhadores — A gente ia dar ré, cês não podem fazer isso agora não.

— Pope — foi a Howard quem chamou quando viu o amigo sair correndo do carro.

— Preciso saber onde eles vão se encontrar. — ele gritou em resposta.

— A gente vai atrás dele, né? — a pergunta de JJ soava mais como uma afirmação. Seu olhar focado em Sophia, que deslizava para fora do veículo, sendo seguida pela outra garota.

— É claro que a gente vai.

Os três começaram a correr atrás do amigo, ouvindo os trabalhadores gritarem algo sobre eles não poderem deixar o carro ali. JJ se limitou a gritar "a gente volta depois" como uma resposta.

Eles chamaram pelo moreno quando adentraram o quintal de um terreno particular, os sensores de luzes se acendendo na direção do grupo como holofotes. Mas eles continuam a correr atrás de Pope chegando à área da piscina onde quatro adolescentes estavam na água.

— Sophia? — A loira reconheceu uma das garotas, que estava na sua turma de geografia.

— Oi — ela respondeu sem deixar de correr.

— Sean, então é aqui que você mora seu Kook. — provocou JJ ao passar pelo grupo na piscina.

E Sophia agradeceu mentalmente quando eles alcançaram Pope. O garoto estava atrás da cerca viva feita por arbusto que dividia o quintal da casa com a rua, por isso os quatro puderam ver quando o carro de Gavin voltou a andar, desaparecendo depois de uma curva.

— O que foi? — Kiara perguntou quando Pope virou com os olhos arregalados na direção dos três.

— O que você ouviu?

— Ele vai se encontrar com o Ward agora. — ele falou apressado. — A gente tem que ir.

O estrondoso barulho de um trovão irrompeu do céu nublado, as gotas espessas de chuva molhavam os quatro adolescentes escondidos atrás de um pequeno portão de madeira que ficava na espécie de um beco. Um pouco a frente, do outro lado da rua, a caminhonete de Ward Cameron estava estacionada próxima a um prédio em construção.

— Bela câmera. De onde desenterrou? — JJ franziu o cenho ao ver o amigo ao seu lado usar uma câmera antiga para filmar o carro de Ward. — Por que não usa o seu celular?

— Primeiro, eu curto meus eletrônicos vintage. E segundo, isso tem uma lente telefoto. Eu posso filmar em closes de longa distância. — ele explicou, voltando a olhar pelo visor da câmera.

— Senhor dos nerds. — Kiara comentou.

— Pra conseguir uma prova concreta de suborno de testemunha vamos precisar de uma boa lente.

Sophia revirou os olhos de forma divertida pelo debate dos amigos, estava prestes a se meter na conversa quando seu olhar focou na figura de um homem correndo em direção ao prédio em construção.

— Gente, acho que é ele. — Sophia exclamou baixo, segurando a manga da blusa que o namorado usava.

Os quatro se abaixaram um pouco quando o homem passou por eles antes de voltarem a se levantar.

— É o Gavin. — foi Pope quem confirmou. — Aonde você vai sei filho da puta? — murmurou irritado ao ver os dois homens entrarem no prédio.

— Cacetada — A voz de Sophia soava como a de uma criança quando não conseguia o que queria.

— Espera aí. — o Maybank se afastou dos amigos, que continuam a encarar o prédio. Os três voltando seus olhares para trás ao ouvir um assovio. — Achei um lugar. Venham aqui. — o loiro chamou os amigos com um gesto de mãos.

Eles seguiram JJ para trás da loja fechada de conveniência, até uma escada de metal presa à parede de tijolos, cuja tinta já estava desgastada. E era por motivos como aquele que sempre usava um shorts por baixo do vestido, Sophia constatou mentalmente enquanto subia a escada atrás dos amigos.

O grupo chegou ao terraço da construção, ficando agachados atrás da mureta de proteção feita de concreto. Eles estavam bem de frente para um dos andares do prédio, o andar onde Gavin e Ward conversavam.

— Tá filmando, Pope? — Sophia olhou para o garoto ao seu lado direito que segurava o eletrônico vintage.

— Sim, eu tô filmando eles — o moreno assentiu sem desviar o olhar do visor do aparelho.

Os outros três voltaram seu olhar para a obra em construção, mas não conseguiam ver muita coisa por conta da chuva. Sophia afastou com a mão alguns fios molhados de cabelo do seu rosto, seu olhar sendo atraído para o céu ao ouvir o barulho de um trovão bem acima de suas cabeças. Espero não ser atingida por um, foi o pedido da garota, que logo voltou sua atenção aos dois homens no prédio a frente.

— O Ward deu alguma coisa para o Gavin. — Pope informou aos amigos. — Parece uma bolsa de ginástica.

— Eu tô achando que é um cala a boca. — comentou JJ. Mordendo o lado interno da boca como se pensasse.

— O Gavin não tá muito feliz agora. Parece que ele tá gritando com o Ward.

— Por quê? — foi Kiara quem perguntou, tendo que aumentar um pouco o tom da voz pelo barulho da chuva.

— Não sei, mas para estar zangado.

O grupo tinha toda a sua atenção focada no prédio à frente, e apesar de não conseguir ver muito Sophia conseguiu notar o momento em que os homens pareciam ter começado a brigar.

— Puta merda. — Heyward exclamou

— Opa, opa. O que tá rolando? — JJ não desviou o olhar do prédio.

— Eu não sei. Eles tão brigando por alguma coisa.

— A coisa tá séria. — o loiro se referiu a briga, que mesmo de longe era possível perceber ser bem agressiva.

— Essa deve ter doido. — Sophia fez uma careta ao ver um dos homens, que ela já não sabia mais identificar, chutar o outro.

— O Ward tá chutando o Gavin. — foi como se Pope tivesse lido a mente da garota.

— Por que eles tão brigando?

— Eu não sei. Tô tentando ver — se fez um minuto de silêncio entre os quatro antes do garoto exclamar: — Puta merda, o Ward tá armado.

— Aposto que é a arma do crime. — Kiara, que estava ao lado de JJ, olhou para os amigos.

— Quais as chances dela ser usada outra vez? — Havia um tom de sarcasmo e uma pitada de medo na voz de Sophia.

E quase que no mesmo instante sua pergunta foi respondida quando o barulho de dois disparos ecoou pela noite sob o barulho da chuva. Cem porcento de chance.

JJ rapidamente puxou Sophia para baixo pela cintura, a mantendo perto de si quando os dois se esconderam atrás da mureta, assim como seus amigos.

— Não, não, não — Kiara choramingou — O que tá acontecendo?

— Me fala que você filmou isso? — JJ olhou para Pope, que voltou a direcionar sua câmera para o prédio em construção.

— O suficiente para esse babaca pegar prisão perpétua.

Mais dois disparos foram ouvidos, fazendo Sophia encolher os ombros. Aquela altura provavelmente já deveria ter se acostumado com o barulho de uma arma sendo disparada, mas tinha quase certeza de que ver alguém ser morto era algo com o qual ela nunca se acostumaria.

Sophia trocou um olhar apreensivo com JJ antes deles olharem outra vez por cima da mureta para o andar do prédio em construção onde os dois homens estavam.

— Essa não, se abaixem. — Pope sussurrou para os amigos ao ver Ward se levantar e olhar em volta.

Sophia prendeu a respiração, segurando firme a mão do namorado não querendo imaginar o que aconteceria com eles caso Ward descobrisse que estavam ali e tinham visto tudo.

— Puta merda. É melhor a gente ir agora. — disparou o Maybank, acariciando as costas da mão de Sophia com o polegar. — Pope, já tem o suficiente, né? — Ele olhou na direção do amigo.

— Já.

— Então vamos dar o fora daqui. — a loira pediu.

— Peraí, ele tá saindo. — Pope anunciou, fazendo Sophia resmungar mentalmente. Só queria sair daquela cena de crime. — Lá vai ele.

Sophia e JJ voltaram a olhar por cima da mureta, assim como os dois morenos, observando Ward procurar por algo pelo asfalto molhado.

— Acho que tá procurando a arma — foi JJ quem sugeriu, se referindo a pistola que o Cameron deixou cair do prédio.

— A arma caiu no bueiro — Pope exclamou animado, como se assistisse a uma reviravolta em uma novela — Ele tá procurando ela.

— Ele enfiou mesmo a mão no bueiro? Eca. — A loira fez uma careta, observando o homem ajoelhado no chão com a mão entre as grades do bueiro.

— Kiara, o que cê tá fazendo? — a voz surpresa de JJ atraiu o olhar dos outros dois para a cacheada que ficava de pé.

— Você vai pagar pelo que fez! — a Carrera gritou. — Assassino! Assasin...— Antes que ela pudesse continuar gritando a plenos pulmões, JJ tampou a boca da amiga a puxando para baixo outra vez.

— Mas que droga, Kie — Sophia deixou um tapa no braço da amiga.

— Você tá maluca, Kiara? — Pope lançou um olhar irritado para a morena.

— Eu não ligo se ele me ouvir — Kiara deu de ombros — Ele é um assassino.

— E aí ele vai matar a gente. — retrucou JJ.

— Pessoal — a voz de Pope soava desesperada. — Ele viu a gente.

— Tá falando sério? — os olhos de JJ se arregalaram ao encarar o amigo.

— A gente vai morrer — O medo de Sophia era praticamente palpável. — A gente vai morrer — murmurou outra vez encarando os amigos.

— Não se a gente der o fora daqui logo

JJ levantou em um pulo, puxando a namorada junto e correndo em direção às escadas. E Sophia teve certeza que nunca desceu uma escada tão rápido em toda a sua vida.

Assim que seus pés atingiram o chão, ela se afastou da parede vendo a catástrofe acontecer. Kiara pisou na mão de JJ que acabou chutando o rosto de Pope. E tudo que a Howard conseguiu fazer foi levar a mão à boca, soltando uma exclamação, ao ver os dois garotos caírem no chão.

— Desculpa. — Kiara parecia envergonhada enquanto descia os degraus da escada.

— Não, não, não. — todos voltaram seus olhares para Pope, que estava ajoelhado no chão com a sua câmera quebrada nas mãos.

— Tá de brincadeira? Derrubou ela? — JJ exclamou.

— Você chutou a minha cara. — o moreno retrucou se levantando e ficando de frente para o amigo.

— Ela pisou na minha mão — Ele apontou para Kiara como uma criança.

— Eu tava tentando correr!

— Vocês podem discutir isso depois que não estivermos correndo risco de morte? — Sophia se colocou entre os três, que parecem lembrar o porquê de estarem fugindo.

O grupo correu até a cerca de madeira. JJ impulsionou a namorada pela cintura a ajudando a pular, fazendo o mesmo logo em seguida. Sophia puxou a barra do seu vestido azul para baixo, sem deixar de correr, ao sentir o tecido molhado subir por suas coxas. O barulho da chuva se tornou abafado quando os quatro entraram no carro. Sophia sentia seu peito subir e descer em um ritmo descompassado, seu coração estava disparado por conta da adrenalina e gotas de água escorriam lentas por toda a sua pele.

— Alguém pode me explicar que merda foi essa que acabou de acontecer? — JJ esbravejou tirando seu boné encharcado da cabeça, deixando os fios loiros e molhados de cabelo a amostra — Cacete, eu não acredito.

— Isso quase superou a velha zumbi — Sophia constatou.

— A briga deles, era pelo que? — O loiro deu um tapinha no braço de Pope, que analisava a câmera quebrada em suas mãos.

— Pela arma que o Rafe usou para matar a Peterkin. Ele deve ter guardado.

— É claro. — JJ abriu os braços. — A arma do crime.

— Atende, atende... — Todos olharam para Kiara ao ouvirem a morena choramingar encarando a tela acesa de seu telefone. E como o aparelho estava no viva voz todos podiam escutar o familiar toque de chamada.

— Pra quem tá ligando? — JJ apoio o braço no banco da frente ao franzir o cenho.

— Pra quem você acha? — Ela estava irritada.

— Pra policia? — Os olhos de Pope se arregalaram ao olhar a garota ao seu lado.

— Pra quem mais eu ia ligar, Pope!

— Por que?! E o Ward. — foi JJ quem exclamou, também irritado.

Sophia apenas apoiou seus cotovelos nas pernas, abaixando a cabeça ao cobrir o rosto com as mãos; ouvindo JJ dizer que a polícia não resolveria nada, Pope xingar pela câmera quebrada e Kiara gritar para que os amigos calassem a boca enquanto uma voz falava do outro lado do telefone da garota. Aquilo só piorava cada vez mais.

— Foi aqui — Kiara indicou ao redor. — Foi bem aqui que o maníaco matou a outra vítima.

— A outra vítima? — Shoup olhou com descrença para a adolescente.

Sophia mordeu seu lábio inferior, desviando sua atenção para JJ que passava a mão pelo piso impecavelmente limpo atrás de algum sinal de sangue.

— A quanto tempo você disse que isso aconteceu?

— Uns 45 minutos, Shoup — o Maybank respondeu, levantando e indo para o lado da namorada.

— Certo — O policial anotou algo no bloco de notas em suas mãos. — Então, Ward Cameron pegou uma arma e atirou nele?

— Sim. — a morena assentiu.

— Foi tipo uma execução? E aí ele limpou tudo em 45 minutos?

— É óbvio — foi Pope quem respondeu dessa vez. O homem olhou mais uma vez com descrença para os adolescentes.

— A gente filmou tudo — Kiara se apressou em dizer. — Mas a gente não pode mostrar para você porque eu pisei na mão do JJ e ele chutou o Pope que derrubou a câmera e ela quebrou porque é uma merda.

— Senhor, isso é uma lente telefoto e a gente precisava para filmar de longe... — Pope interrompeu seu monólogo ao perceber o olhar entediado do policial. — Pois é, ela caiu e quebrou. O vídeo ficou estragado, mas a gente viu tudo.

— E o cachorro comeu o seu dever de casa?

JJ tirou seu boné vermelho, passando - irritado - a mão pelos cabelos. Seu maxilar estava trincado e Sophia percebeu ele apertar o tecido vermelho em suas mãos.

A garota se aproximou, segurando a mão livre do loiro e acariciando as costas dele com seu polegar. Eles trocaram um rápido olhar antes de desviarem o olhar para o policial outra vez ao ouvirem sua voz.

— Não sei o que esperam que eu faça com isso. Vocês me arrastam para cá no meio da noite pra não mostrar nada e com essas histórias malucas sobre o Ward Cameron sair por aí matando pessoas aleatórias.

— Mas não foi aleatório. — A exclamação de Sophia se sobressaiu as falas misturadas de seus amigos, fazendo os olhos do policial se focarem nela e os outros três se calarem — Não foi aleatório, o Gavin era o piloto do Ward.

— É — Pope apontou para a amiga — O Ward veio dar um cala a boca para o Gavin porque ele tava na pista de pouso no dia em que a Peterkin foi assassinada.

— O Gavin guardou a arma que o Rafe usou para matar ela e tava chantageando o Ward com isso. — acrescentou Kiara.

— E o Ward chamou ele aqui e tentou pagar ele, mas não era o suficiente, então ele atirou no Gavin — JJ abriu os braços irritado — Com a arma do crime.

Pela primeira vez desde que chegou ali, Sophia percebeu o policial intrigado com o que eles falavam, como se começasse a acreditar no que diziam.

— Como sabem?

A garota abriu a boca prestes a inventar uma boa história para a pergunta de Shoup, mas Kiara foi mais rápida em contar a verdade.

— O Pope plantou o celular no carro do Gavin.

— Eu ouvi a conversa inteira — o moreno assentiu. Em um gesto automático, Sophia bateu com a mão na testa. Lá se ia a chance de conseguirem o apoio do policial.

— Botou uma escuta nele? — O homem parecia não acreditar.

— Isso é ruim?

— Podem parar — Shoup apontou para os quatro. — Pra mim já chega.

— Do que tá falando? Vai fazer vista grossa outra vez?! — JJ esbravejou ao ver o homem se afastar. — Não pode acreditar na gente uma vez?!

— Alarme falso — o policial gritou ao descer as escadas. Os quatro adolescentes logo seguiram o homem ainda falando um por cima do outro tentando convencer Shoup a os ouvir. Mas ele já havia mandado todas as viaturas embora.

— Não pode fazer o seu trabalho por uns vinte minutos? — a pergunta da Carrera fez o policial, que estava prestes a abrir a porta do seu carro, virar para o grupo.

— Eu sei que estão chateados e que acham que seu amigo era inocente...

— Mas ele é — Sophia exclamou já cansada daquilo — Merda, Shoup, eu tava lá. Eu vi o Rafe matar a Peterkin, eu vi ela morrer, e eu acabei de ver Ward matar outra pessoa para salvar a pele do filho dele — A garota engoliu suas lágrimas, sentindo uma bola se formar na sua garganta, enquanto encarava o policial — Quantas pessoas mais vão ter que morrer pra você começar a fazer alguma coisa e nós escutar?

Houve um segundo de silêncio pesado, Shoup não encarava nenhum dos quatro. Sophia chegou a pensar que talvez o policial resolvesse pelo menos dar o benefício da dúvida a eles, mas não foi isso que ele fez.

— Eu sinto muito, mas seu avô disse para não dar mais ouvido a suas histórias — Sophia revirou os olhos, deixando um riso seco escapar. — As outras duas únicas testemunhas oculares dizem que seu primo é culpado, e ambas têm bem mais credibilidade do que qualquer um de vocês quatro no momento.

Shoup fez um gesto para o grupo, antes de focar seu olhar em Kiara ao acrescentar :

— Eu vi seu projeto artístico no muro do Ward. Não faça mais aquilo, beleza? Vai piorar muito mais as coisas.

Dito isso, Shoup apenas virou entrando na viatura. Kiara ainda continuou a gritar para o carro que se afastava. Já Sophia, abraçou o próprio corpo, desviando seu olhar para o asfalto ainda molhado pela chuva de alguns minutos atrás.

— Hey, princesa.

JJ se aproximou da loira, erguendo o queixo dela com delicadeza para que seus olhos pudessem se encontrar. E Sophia não precisou dizer uma palavra para que o garoto entendesse o sentimento estampado em seus olhos claros: ela estava exausta daquela merda toda.

Com um gesto simples, JJ puxou Sophia para perto de seu peito, envolvendo o corpo gelado da garota com seus braços. Ela se aninhou ao namorado, respirando fundo, sentindo o perfume do loiro tomar conta de seus sentidos e a tensão em seus músculos diminuir com o calor do abraço.

— Gente — a voz de Pope fez com que Sophia se afastasse de JJ só o suficiente para olhar o amigo. Kiara, que ainda olhava irritada para a rua, também virou para encarar o garoto — Isso ainda não acabou. Ainda podemos pegar a arma.

Os três seguiram o olhar de Pope até o bueiro. Aquilo seria um trabalho sujo, a loira pensou voltando a encostar a cabeça no peito de JJ.

Capítulo extra longo, eu sei. Mas eu realmente não queria dividir ele, então vocês que lutem...🤭

E a louca dos edit - vulgo eu mesma - viu uma montagem dessa no Instagram e teve que fazer para o livro. Com vocês JJ sendo cadelinha da Sophia:

Enfim, espero que estejam gostando.

Beijos  💕

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