Vante Astaire

By euastra

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[CONCLUÍDA/THREESHOT] Encontros dignos da Sessão da Tarde e um homem com um sapateado de tirar o fôlego eram... More

o ritmo acelerado dos teus pés e do meu coração
o alinhamento dos planetas quando você me dá sua mão

o sentimento que nos faz tropeçar e se chama paixão

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By euastra

E aqui estamos nós, no último capítulo dessa threeshot que me conquistou de forma avassaladora, o processo de escrita dela foi perfeito do início ao fim!

Ela é um xodó meu. A primeira postagem após Antares e a que me trouxe definitivamente para o mundo da escrita, então eu espero que gostem tanto quanto eu.

E logicamente, obrigada Gabi por ter betado todos os capítulos e me ajudado no que era necessário, eu te amo 💛

E como prometido, as referências estão listadas nas notas finais!

Até lá embaixo, estrelinhas!

[19.08.2021]


Depois de um mês e meio, era chegado o dia do baile de arrecadações.

O grande dia.

Para muitos seria apenas mais um evento de caridade, entretanto, para Jeongguk, era muito mais do que isso. 

O garoto sorriu assim que abriu os olhos, nada poderia abalar sua animação, estava radiante. Tomou um banho mais eufórico que o normal, cantarolando o tempo inteiro. Vestiu-se diferente do habitual, a manhã estava ensolarada e uma brisa fresca entrava pelas janelas, fazendo Jeongguk sentir no ar que aquele dia seria perfeito. Colocou uma camisa de botões listrada em azul e branco e calça de lavagem clara que possuía alguns rasgos. Por fim, calçou seus tênis, gostando do resultado quando olhou a imagem refletida no espelho.

Estava bonito.

Assustou-se com o som de seu celular tocando, sorrindo ao lembrar do dia que Taehyung mudou o toque dele. Suspirou ao ler o nome que piscava na tela.

— Bom dia, Tae-ssi! Como está? — sorrindo de ponta a ponta, perguntou.

"Bom dia, Gguk-ah! Estou muito bem" riu do outro lado da linha. "Acho que você também. Consigo imaginar o seu sorriso apenas pelo tom da sua voz."

— Eu 'tô muito bem, muito feliz — confirmou, deitando-se na cama.

"Ah, é? Por que?" Jeongguk não podia ver, mas imaginava que o Kim mordia os lábios ao falar.

— Hmm… É que um homem me convidou para um baile hoje à noite, sabe? — brincou.

"Oh! Agora estou enciumado!" fingiu aborrecimento, mas sorria enquanto conversava com o estudante. "Eu tinha a pretensão de fazê-lo… Poxa, ao menos ele é bonito?"

— Eu diria que é o homem mais bonito que já vi, sabe? — declarou, sentindo as bochechas esquentando. Nunca havia dito aquilo em voz alta. 

"Uh? Sério? E o que mais?"

— Ah, ele também é muito inteligente, divertido, sexy, carismático e um excelente dançarino, modéstia parte — suspirou. — Ele é um dos homens mais incríveis que já conheci, é um amor de pessoa — continuou, sem pensar muito em suas palavras. — Um homem por quem eu facilmente me apa-

"Facilmente o que?" incentivou, levemente eufórico para que aquela frase fosse concluída. "Gguk-ah, você está aí?"

"Apaixonaria." O loiro concluiu. Seu subconsciente falou mais alto, fazendo Jeongguk admitir pela primeira vez seus sentimentos — mesmo que em pensamento. Em um pulo levantou da cama, começando a andar em círculos. A palavra rondava sua mente como um fantasma, marcando presença.

— E-estou… Hm… — passou os olhos pelo quarto, desconcertado e em busca de uma resposta que não fosse a que passou por sua cabeça. — E-eu esto...

Olhou para as paredes, seu olhar pousando no relógio de ponteiros em cima da porta. Oito e quarenta e cinco. Estava muito atrasado.

— Estou atrasado! Muito, muito atrasado! — saiu correndo do cômodo, pegando sua mochila e outros pertences apressadamente. — Tenho que chegar em quinze minutos na Casa, Tae.

"Ah, sem problemas" Taehyung suspirou audivelmente, claramente aborrecido. "Fique bem, Gguk-ah. E não corra pelas ruas, pode se machucar."

— Não vou correr, prometo. Até mais tarde! — fechou a porta do apartamento, com o telefone apoiado entre a orelha e o ombro.

"Até, Jeongguk. Beijos." o mais velho desligou, encerrando a chamada.

Não podia dizer que estava triste, pelo contrário, estava incrivelmente alegre. Ouvir o garoto lhe elogiar era como música para seus ouvidos, principalmente por ninguém nunca ter dito aquilo acerca de sua personalidade. O ponto alto de tudo era que Jeongguk havia dito aquelas palavras. Jeongguk tinha aquela imagem dele. 

— Jeongguk, Jeongguk… Você ainda vai me deixar maluco. — levantou-se da bancada que havia no seu apartamento, recolhendo a louça do café da manhã.

— Não só maluco, apaixonado também. — ouviu a voz de Min Yoongi fazer-se presente no cômodo. 

— Se é que já não estou. — balançou a cabeça para os lados, pensando naquilo. Deixou o prato e o copo na pia, apoiando-se nela.

— Pode apostar que está — exclamou o baixinho, segurando no ombro do amigo, fazendo com que ficassem quase cara a cara. — Eu nunca te vi tão boiola, cara. 

Gargalharam e concordaram, Yoongi estava certo de qualquer forma. Nunca havia sentido nada assim com ninguém, muito menos feito tudo o que fizera com Jeongguk.

— Estou ferrado, não estou? — bufou.

— Na verdade, não 'tá não — abriu a geladeira, pegando uma maçã e apontando-a na direção de Taehyung. — Eu aposto que ele também 'tá caidinho por você.

— Será, Yoongi? — voltou para o balcão, apoiando os cotovelos enquanto observava o colega dar a volta na cozinha e sentar no sofá da sala. 

— Taehyung, eu já menti alguma vez pra você? — perguntou seriamente.

— Não.

— Já dei algum conselho errado? 

— Não…

— Então vai por mim, usa a oportunidade que você vai ter hoje e se declara pra ele. 

— Que oportunidade? 

— Incrível como você é inteligente pra umas coisas e um bocó pra outras — reclamou. — O baile, Taehyung. Use o baile ao seu favor.

— Ah, entendi — concluiu, mas com uma questão ainda não completamente respondida em sua mente. — Mas… Como?

— Essa parte é com você — deu de ombros. — Só não envergonha o menino na frente de todo mundo, nada de declarações muito grandes, tipo pegar o microfone e fazer um discurso na frente de geral.

— Mas é tão romântico — rebateu o homem.

— É ridículo. Sem contar o fato de que você não sabe se Jeongguk gostaria disso. 

— É verdade, ele é meio tímido para esse tipo de coisa — refletiu. — Não tem nenhuma sugestão? Nem uma?

— Você é criativo, Tae. Vai saber o que fazer — terminou, colocando sua série favorita para rodar na tevê, sinalizando que a conversa havia se findado.

🕺

Do outro lado da cidade Jeongguk estava dentro do metrô, torcendo para chegar a tempo no lar dos idosos. A manhã de hoje seria especialmente cansativa, afinal teria de participar da montagem da decoração para o evento que ocorreria no final do dia.

O baile.

O loiro estava nervoso sobre o que aconteceria lá. Não iria exatamente trabalhar, mas teria de estar à disposição caso precisassem da ajuda dele. O que o faziaimaginar se teria algum momento a sós com Taehyung, já que ele fizera questão de convidá-lo, apesar de que o Jeon iria de qualquer forma.

E pensar que quase havia se declarado minutos atrás.

Estava apaixonado por Kim Taehyung.

Pensava no que teria levado a sentir-se assim, percebendo ser meio óbvio. Os encontros, os momentos e os olhares compartilhados. Os toques e as palavras dirigidas. Tudo sendo muito íntimo e mágico, quando estavam juntos as coisas eram mais intensas.

Parecia ainda um pouco surreal, mas nem tanto. Não era nem um pouco difícil se apaixonar por aquele homem. O sorriso, os olhos, a boca, as mãos, a voz e até mesmo a dança… Tudo nele atraía Jeongguk. Agora sabia o motivo. Estava apaixonado. 

Completa e inteiramente apaixonado.

Pensando nisso, mandou uma mensagem para Jimin.

"Podemos conversar depois 
que eu sair da Casa?" 

"Mas e a aula?"

"Acho que o meu primeiro 

horário é vago hoje..."

"De qualquer forma, é importante."

"O meu não, mas
 isso é importante quanto?"

"É sobre o Tae…"

"É o que eu estou pensando?"

"Acho que sim, Chimmie."

"Hmmm"

"Se for isso mesmo, podemos
nos encontrar sim."

"Beleza, onde?"

"No Subway, a gente aproveita
e almoça, ok?"

"Ok"

Desligou o celular, aproveitando para levantar já que a próxima estação seria a sua.

🕺

— Bom dia, meu filho — uma senhora cumprimentou o garoto assim que o viu passar pelas portas de vidro, indo em direção ao jardim.

— Bom dia, tia Mina — sorriu para a mulher à sua frente. — Animada para hoje à noite?

— Apesar de não poder dançar como antes, estou animada sim. E antes que eu me esqueça, posso te contar um segredo? — pediu ao Jeon para aproximar-se com um gesto.

— Hmm, segredo é? — piscou um dos olhos — Pode. — chegou mais perto da idosa.

— O Sr. Baek me convidou para ir com ele — confidenciou ao jovem.

— Mas e a…? — não concluiu a frase, entretanto Mina entendeu, negando com um menear de cabeça. — Quando isso aconteceu?

— Ontem à noite — segurou no braço do loiro, puxando-o para uma mesa. — Ele foi ao meu quarto, levou uma flor e me pediu para acompanhá-lo no baile.

— Meu Deus! Que fofo — fez um biquinho involuntário ao final da fala.

— Pois é, aquele canalha finalmente tomou uma decisão — resmungou. — Não aguentava mais aquele lenga lenga todo.

— Que bom que ele te convidou. E como a sra. Sora está? 

— Não sei e nem quero saber! Quero que aquela velha tome no meio do rabo — Mina extrapolou na altura em que falava, pouco ligando se estava chamando atenção. — Mas acho que ela não sabe.

— Eu daria tudo para ver a cara dela quando souber que você e o Sr. Baek vão juntos. 

— Você não vai, querido? — curiosa como sempre, quis saber.

— Vou sim, mas provavelmente vão me chamar para ajudar a servir as comidas. 

— Deixe de besteira, tenho certeza que não vai ajudar a noite inteira. Inclusive… — levantou uma das sobrancelhas. — E Taehyung?

— O que tem ele?

— Você é tão besta, garoto — assustou Jeongguk. — O Taehyung te convidou? Você o convidou? Vocês vão juntos? 

— Ah, era isso… — inflou as maçãs em um sorriso. — Tae me convidou, mas não sei se vamos poder ficar juntos, ele vai se apresentar e eu vou trabalhar. Talvez nem nos vejamos muito.

— Tenho certeza que ele vai arranjar algum jeito de vocês ficarem juntos. Aquele garoto é esperto.

— Concordo, ele é muito esperto. — suspirou, bobo.

Mina notou a expressão do loiro. Reconhecia um jovem apaixonado a quilômetros de distância, suas rugas evidenciavam sua experiência de vida.

— Não deixe ele escapar, Jeongguk — tocou a mão do outro sobre a mesa.

— O que? 

— Taehyung é único. Um homem muito bom e um amigo melhor ainda, mas sei que vocês dois querem mais que isso, seus olhares não me enganam — acariciou o garoto. — Nem todo mundo tem a sorte de vocês, de encontrar alguém que te faça se sentir assim.

— "Assim" como?

— Como se o seu coração estivesse prestes a explodir e começassem a suar apenas na menção do nome um do outro — virou a mão de Jeongguk e tocou, fazendo-o perceber que realmente suava. E nem precisou ser comentado sobre o coração acelerado dele.

— Eu não sei, tia Mina — retirou a mão de cima da mesa, pousando-a juntamente da gêmea sobre o colo. — Não sei se ele sente o mesmo.

— Isso apenas Taehyung pode confirmar, mas vai por mim, ele sente — disse com aquele tom de quem sabia coisas além da imaginação de Jeongguk.

— Como pode ter tanta certeza? — abaixou o olhar.

— Conheço Taehyung desde que ele era uma criança terminando a escola, um garoto franzino. Desse tamanho — levantou o mindinho. — Chegou aqui com dezoito anos e nunca saiu. Vi aquele garoto passar por muitas situações, inclusive algumas decepções amorosas — apoiou-se no encosto da cadeira, pensativa. — Até trouxe duas pessoas para me apresentar. Então tenho certa credibilidade em falar que eu nunca vi ele olhar para alguém como te olha.

— E como ele me olha?

— Assim como você olha para ele.

— E como eu olho para ele? — tombou a cabeça para o lado.

— Com os olhos — brincou. — Desculpe, não resisti. Mas a forma como vocês se olham é… Como eu posso dizer? — levou a mão ao queixo, coçando o local. Pensou e pensou, até encontrar uma forma de pôr em palavras o que queria dizer. E como se uma luz acendesse em sua mente, resolveu que usaria seu entendimento em astronomia para explicar. Jeongguk que lutasse pra entender. — É como se vocês fossem duas galáxias. Cada uma com sua individualidade, seu número de planetas e suas estrelas. Mas quando vocês se encaram um buraco de minhoca é formado, estabelecendo uma conexão inexplicável.

Parou um segundo.

— Ninguém sabe exatamente o que há nessa conexão, ninguém além de vocês. Estão unidos por algo único. E eu posso apostar noventa e nove por cento de tudo o que tenho que isso é a mais pura paixão. Então quando suas galáxias se encontram e… E as suas pupilas dilatam, vocês enxergam o cosmos que existe dentro de cada um e mostram-se dispostos a aventurarem‐se um no outro. E se tem uma coisa que meus anos me ensinaram, é que toda pessoa carrega um infinito dentro de si, e quando os infinitos se encontram, coisas maravilhosas podem acontecer.

— Nossa, tia Mina — Jeongguk encontrava-se em um estado letárgico. Não sabia exatamente como reagir, então resolveu fazer uma outra pergunta à senhora, ainda processando tudo o que ela havia dito. — Você já se apaixonou assim por alguém? Digo, da forma que eu e Taehyung…

— Da forma que vocês se apaixonaram? Mas é claro! — riu. — Uma pessoa com a vida bem vivida tem sempre uma história de amor para contar. A única diferença é que eu não pude passar minha vida com o meu, ele era estadunidense e não nos conhecemos em bons termos. Mas veja só, — limpou a garganta. — Um amor de verdade, mesmo quando se torna uma lembrança bonita, é sempre um amor de verdade.

— Que… Err... Tocante — riu nervoso e fez um movimento como se segurasse as mangas do usual casaco moletom, lembrando durante o ato que não vestia-o no momento. — Mas talvez não seja isso tudo, pode ser passageiro, sabe?

— Só o tempo pode dizer, garoto — levantou-se. — Agora me ajude a ir até a sala, daqui a pouco o bingo começa e eu sinto que dessa vez eu ganho.

— Mas a senhora não ganha desde que te conheci… — lembrou, ainda segurando a idosa pelo braço esquerdo.

— Calado, moleque insolente! — fez graça e Jeongguk gargalhou.

Aquele dia seria muito bom, e estava apenas começando.

🕺

O relógio de ponteiro pendurado na parede lateral do salão marcava meio-dia, horário em que o Jeon era dispensado.

— Hoseok, você pode me mandar os horários em que cada um vai ajudar hoje à noite? — questionou ao estudante de moda.

— Posso sim, só um segundo — o ruivo pegou o celular, soltando rapidamente a escada em que Jeongguk subia, esse que sentiu o celular em seu bolso traseiro vibrar anunciando a chegada de uma nova mensagem.

— Obrigado.

— De nada, cara — voltou a segurar o objeto de metal, não deixando que nenhum acidente acontecesse quando Jeongguk passou a descer dele.

— Acho que terminamos por aqui — colocou as mãos na cintura, olhando ao redor onde outros de seus colegas ainda finalizavam alguns detalhes da decoração. — Ficou bom, não ficou?

Hoseok apoiou-se em seu ombro.

— Os velhotes até vão gostar — riu acompanhado do amigo, que tinha consciência de que o ruivo não os chamava assim por maldade. — Vão poder mexer o esqueleto — rebolou de forma exagerada, tirando risadas das pessoas no local.

— Sim, sim… — concordou. — Mas então, vamos?

— Hoje eu passo, foi mal — saiu de perto do mais novo, indo em busca da bolsa transparente que havia largado em algum lugar. — Tenho encontro marcado com uma gatinha pro almoço. 

— É da faculdade? 

— Mais velha, formada — findou a procura pela bolsa, encontrando-a ao lado de uma das pilastras. — Ela é estrangeira. Veio dos ‘States, mas tem sangue latino. Quero chegar mais cedo pra impressionar.

— E é assim que pretende impressionar a garota? — referiu-se à vestimenta de Hoseok. 

Ele usava uma camisa de listras azuis e brancas semelhante a do Jeon, mas as faixas eram mais grossas, tinha mangas longas e era certamente numerações acima da sua. Vestia também uma calça clara com manchas azuis também larga e jordans escuros. Os óculos brancos complementavam o look excêntrico.

— Bom, se é pra Becky gamar no Seokie aqui, vai ter que ser por inteiro. — deu uma rodadinha, arrancando mais risadas pelo salão.

— Certo. Bom encontro, então. — acenou para o platinado.

Juntou seus pertences e despediu-se de todos, seguindo o que tinha combinado com Jimin, indo direto para a lanchonete que era ponto de encontro para todos os estudantes da Universidade de Seul — por estar perto dela. Pegou outro metrô, dessa vez dormindo durante todo o percurso.

No breve cochilo sonhou com o baile, com Taehyung e em como daria-se o fim daquela noite.

Acordou poucos segundos antes das portas abrirem em sua estação, correndo para fora do vagão. 

Não demorou para subir as escadas normais, já que as rolantes estavam lotadas devido ao horário de pico. Pouco tempo depois chegou ao local marcado, avistando a cabeleira verde em uma das mesas no canto.

— Jimin-ssi — chamou, despertando o esverdeado que estava concentrado em algo que lia no celular.

— Jeongguk, achei que fosse demorar — fez um toque com o loiro. — Não tinha que ajudar na decoração e tudo mais?

— E ajudei, mas foi mais rápido do que pensei — confirmou, roubando um pouco da coca do amigo. — E você? ‘Tava fazendo o quê?

— Conversando com aquele garoto, ele me chamou pra sair hoje à noite — sorriu sugestivo. — Vai me buscar na uni mais tarde.

— Hm, entendi… E você vai? 

— Acho que sim, não tenho nada pra fazer mesmo. Nossas provas só voltam mês que vem... — pensou em voz alta. — Se bem que ainda têm um trabalho do professor Sung.

— Verdade, já tinha me esquecido disso. Você não parava de falar dele no início do mês, fiquei de saco cheio — rolou os olhos. 

— De qualquer forma, eu vou. Não vou perder a chance de passar a noite com ele por nada — levantou as sobrancelhas. — Mas e aí? Quer conversar sobre o motivo de ter me chamado aqui?

— Eu quero, mas vamos pedir alguma coisa antes, 'tô morrendo de fome.

— Pode ser, eu também 'tô.

🕺

De pedidos feitos, pagos e barrigas cheias, Jimin resolveu voltar no assunto que levou os dois a estarem sentados ali.

— Agora sem enrolação, Jeongguk. Me conta logo o que 'tá passando nessa cabecinha.

E Jeongguk contou. Deixou as palavras escorrerem como um rio de sua boca. Contou sobre tudo o que vinha acontecendo, e mesmo que Jimin já estivesse a par de tudo, falou novamente, sabia que havia mais intensidade agora.

Contou desde o primeiro olhar que trocaram na primeira vez que se viram, lembrando como Taehyung estava lindo no terno cor de caramelo apertado e com os primeiros botões da camisa social branca abertos. Sobre como ele dançava e lançava-lhe sorrisos apaixonantes. Reviveu a noite após a visita à creche e como queria ter beijado o Kim naquele dia. Como queria tê-lo beijado desde aquele dia, desde que ele o visitou em sua casa e dançaram ao som de The Kooks. Puxa! Queria tanto beijar aquele homem! Não sabia como estava aguentando até aquele momento. 

Disse a Jimin todos os seus anseios e medos também. Sua insegurança falando mais alto em alguns momentos, fazendo o esverdeado ter de consolar o amigo.

Em suma, revelou todos os motivos pelo qual encontrava-se apaixonado pelo dançarino, mas não admitindo-o.

— Minha criança cresceu tão rápido… — foi a primeira coisa que Jimin disse assim que Jeon terminou de falar, passando a mão pelo rosto do mais novo.

— É sério, Chimmie — fez um bico emburrado. — Eu não sei o que é tudo isso. Quero dizer, eu sei, só não entendo.

— O que exatamente você não entende, Jeon? 

— Esse sentimento! — falou exasperado, Taehyung lhe causava sensações que iam além de sua compreensão. — Eu nunca senti isso por ninguém. É tudo muito novo. Logicamente eu já entendi e aceitei o que é, mas é tão forte, tão... Tão… Aish! Dói tanto, mas é uma dor boa. Esquenta meu peito e congela minha barriga. Minhas mãos suam e tremem, meu coração parece querer sair do meu corpo só pra se encontrar com o dele — o loiro definitivamente não sabia se ria de desespero ou surtava. Estar apaixonado era um sentimento assustador. Mexia as mãos de um lado para o outro, gesticulando e gesticulando, se embolando nas palavras e gaguejando de vez em quando. Mal notou quando Jimin começou a rir de sua forma ansiosa. 

— Jeonggukie — chamou uma vez e foi ignorado.

— E quando ele começa com os galanteios… — falava de forma sonhadora, vez ou outra enrugando as sobrancelhas como se lembrasse de algo. 

— Jeongguk — chamou novamente.

— Espera Jimin — olhou de relance o amigo. — Eu nunca sei como reagir quando ele começa com aquelas maluquices…

— Jeon Jeongguk! — gritou, infelizmente chamando a atenção de outras pessoas que estavam na lancheria.

— O que é!? — bufou.

— Respira um pouco, você 'tá vermelho — segurou a mão direita do mais novo. Observou ele tomar um pouco de ar e lentamente as maçãs do rosto cheinho voltarem a um tom quase pálido — Pronto? — recebeu um murmúrio em resposta. — Parecia que você ia ter um ataque cardíaco, e olha que eu sei reconhecer os sintomas — brincou, aproveitando a distração alheia para dar um peteleco na testa dele. — E se o que você queria me perguntar é o que eu acho que ia, a resposta é sim.

— Sim? — estranhou. "Ele sabe ler pensamentos?" perguntou-se mentalmente. 

— Sim, ele também sente isso tudo que você diz. 

— Você é a segunda pessoa que me diz isso hoje e eu ainda insisto. Não sei por que estou tão inseguro… 

— Você mesmo disse — sorriu condescendente. — É a primeira vez que se apaixona tão forte por alguém. Logo tem medo de que esteja sentindo tudo sozinho, tem medo de ser algo unilateral. É totalmente compreensivo, Jeonggukie. 

— Mas e se ele apenas quiser ser meu amigo? — mordeu os lábios. — Taehyung já esteve em outros relacionamentos sérios, eu nunca. Se me achar patético demais para se apaixonar por mim ou até muito imaturo? Existem tantas possibilidades, Chimmie.

— E nenhuma delas está certa. Pensa comigo, sabe todas as vezes que vocês saíram juntos? 

— Sim.

— Pelo que você mesmo me disse, todas essas vezes foram dignas de um filme… — Sugeriu que Jeongguk terminasse a frase, usando as palavras dele contra si mesmo.

— Romântico — abaixou a cabeça, encabulado.

— Exato! Lembre de todas essas vezes, elas são minimamente parecidas com as coisas que nós dois fazemos? — sorriu arteiro. — E olha que já fizemos muitas coisas...

— Não, hyung. Definitivamente não. 

— Aí está a resposta que você queria, agora só precisa de uma confirmação do cavalheiro lá.

— Eu espero que você tenha razão, não quero ser feito de bobo… 

— Não vai, okay? — pousou a mão sobre o ombro alheio para transmitir um pouco de segurança. — E se fizer eu dou um jeito nele, aquele cara não vai dançar tão cedo se partir seu coração.

— Jimin você tem medo de machucar uma formiga, para de falar besteira.

— Eu sei apagar digitais — deu de ombros.

🕺

Depois da conversa que tiveram, Jimin foi para a universidade, enquanto o Jeon aproveitou o restante do tempo que tinha pelo horário vago para buscar sua roupa. 

Sem perder mais nenhum minuto, seguiu em direção à loja na qual havia comprado a vestimenta que usaria dali algumas horas, mais precisamente às seis. Infelizmente, não seria tudo como havia planejado e sonhado por diversas vezes. Taehyung não poderia passar para buscá-lo na porta de sua casa com o mustang azul escuro e nem levá-lo em alguma lanchonete no meio do caminho apenas para fazer algo diferente do habitual.

De qualquer forma, não deixaria que aqueles pensamentos lhe desanimassem.

A loja não ficava muito distante dos blocos da universidade, em poucos minutos chegou no local. Não era nada chique, poderia dizer que se assemelhava mais a um brechó do que qualquer outra coisa. Era pelo que poderia pagar no momento, afinal, ainda vivia da ajuda de sua mãe e não podia abusar muito de sua boa vontade. Entretanto, a vestimenta que havia alugado destacava-se em meio àquelas roupas cheias de pó e com origem duvidosa. O blazer era inteiramente branco ficava certo na altura do quadril, com botões na cor prata e mangas no tamanho certo. Parecia feito sob medida. A calça social justa e camisa levemente transparente de mesma cor da sobreposição também haviam sido compradas ali por um preço bem favorável ao seu bolso.

Sorriu ao passar as notas referentes ao valor de tudo para a moça bonita do caixa, que desejou-lhe uma boa tarde acompanhada do número de seu telefone pessoal na nota fiscal. Riu ao notar e apenas seguiu seu caminho sem pensar muito no que aconteceu. Aquilo não era novidade alguma, sempre foi um rapaz muito bonito e tinha consciência disso. Apesar de que mantinha-se envergonhado quando mulheres o elogiavam.

Pois ele não poderia ser mais gay. 

Descobriu-se no auge de sua adolescência. Com seus 15 anos e algumas influências na escola, logo havia descartado a ideia de namorar uma menina. Não poderia negar que os garotos do último ano eram infinitamente mais gostosos em seus uniformes esportivos do que as meninas com suas saias esvoaçantes animando torcidas. Não que elas não fossem bonitas ou algo do tipo. Mas homens… Tinham algo que atraía o Jeon de uma forma mais quente. 

De qualquer forma, isso nunca foi uma espécie de empecilho em sua vida. Óbvio que passou por diversas situações preconceituosas no caminho, afinal de contas ainda morava na Coreia. Contudo, possuía o apoio de sua preciosa mãe, que deu à luz ao menino ainda muito nova e não desejava nunca que ele passasse pelas mesmas dificuldades que ela passou por se encontrar fora dos padrões daquela sociedade.

Então, por ser um rapaz de beleza chamativa, teve seus primeiros casos com outros garotos muito rápido, comprovando aquilo que seu corpo e coração já demonstravam há certo tempo. Era perdidamente atraído por garotos. Com o passar dos anos foi adquirindo gostos e preferências, em vários aspectos.

Kim Taehyung transcendia todos eles.

E mesmo que não terminassem juntos, seus padrões para futuros companheiros já eram severamente elevados. Não aceitava nada além de um homem com vinte e seis anos que soubesse dançar e dirigisse um mustang azul escuro.

Riu com esse pensamento e desceu as escadas que levavam no meio da calçada e davam acesso ao metrô. 

'Parece que passo metade dos meus dias aqui', riu ao pensar. 

🕺

O restante da tarde passou em um piscar de olhos.

A ansiedade consumia completamente Jeongguk, que mal conseguia prestar atenção nas palavras ditas por seus professores. Já havia passado por algumas aulas quando decidiu faltar o último horário, pois se ficasse na universidade até o final do dia certamente perderia o horário e chegaria atrasado no baile.

Decidido, caminhou novamente pelo campus, indo até a saída e deparando-se com uma cena meio incomum. Jimin não costumava faltar às aulas e encontrá-lo ali, enquanto certamente deveria estar em sua classe, foi uma surpresa e tanto. Ficava até admirado por ele ter faltado dois horários no mesmo dia, sendo o primeiro apenas para conversar consigo. 

Mas existia um pequeno detalhe que quase havia deixado passar: ele não estava sozinho.

— Jeongguk! — ouviu seu amigo chamar, tirando-o de sua pequena reflexão.

— Ah! Oi de novo, Chimmie — andou na direção do mais velho, sorrindo amarelo ao encarar por breves segundos o homem que o acompanhava. — E olá… 

— Yoongi — o de cabelos negros completou. — Você deve ser o “melhor amigo” de quem Jimin tanto fala — sorriu gengival e o Jeon quase que imediatamente assimilou sua aparência a de um gato. 

— Provavelmente sou eu sim, a não ser que ele tenha outros amigos tão bons quanto — olhou ameaçador para Jimin antes de completar: — Mas eu não acho que seja o caso.

— Atrevido! — Park acertou um tapa em Jeongguk. — Para a sua informação eu tenho muitos outros amigos tão bons quanto! — o loiro revirou os olhos. — Mas esse não é o motivo de eu ter te chamado aqui. 

— E qual é? Porque eu estou bem surpreso de você ter faltado à aula, ainda mais pela segunda vez seguida em um só dia.

— Então… — suas bochechas ficaram vermelhas antes dele dar continuação ao que tinha a dizer. — Você lembra que eu vinha conversando e me encontrando com uma pessoa há alguns dias? — não esperou a resposta de Jeongguk, que veio em um manear de cabeça. — Era Yoongi! 

— Ah… Então é você que vem arrancando suspiros do projeto de Hulk? — riu.

— Hmm… Acho que sim? 

— Yoongi — Jimin protestou.

— O que foi? Eu apenas concordei — aproximou-se do esverdeado. — E como assim “arrancando suspiros”, Jimin?

— Sinceramente, vocês só me fazem passar vergonha — virou-se para o amigo mais novo. — Eu nem planejava apresentar vocês tão cedo, mas aí vi você saindo e decidi que era um bom momento. Mas e aí? Já 'tá indo para o baile?

— Você também vai ao baile de arrecadações? — Yoongi interrompeu.

— Ah, vou sim. Você também vai?

— Jeongguk… Agora faz sentido — o Min murmurou. — Não vou, não. Mas um amigo que trabalha lá vai.

— Amigo? Quem? Talvez eu conheça ele! — Jeongguk deu pulinhos em animação.

— Kim Taehyung, conhece? — sorriu de canto.

— Oh… — ele e Jimin disseram quase ao mesmo tempo.

— Exatamente, “Oh”.

Jeongguk limpou a garganta antes de perguntar: — E você… Por acaso… Sabe como ele vai estar?

— Muito bonito. Certamente sem deixar um daqueles ternos centenários dele — fez Jeongguk rir com a piada que apenas os dois entenderam, afinal Jimin nunca viu o Kim pessoalmente.

— Verdade… Enfim, agora tenho que ir — despediu-se dos mais velhos. — Foi bom te conhecer, Yoongi-hyung!

Abanou as mãos enquanto caminhava para longe do casal. 

‘Eles realmente combinam’ 

Jeongguk voltava mais uma vez ao metrô, mas agora para se arrumar e ir de encontro com aquele que vinha tomando conta de seus pensamentos diariamente.

Aquela noite prometia.

🕺

— Mais alguma coisa, senhor Lee? — terminou de servir outro prato de canapés ao homem que não parava de lhe importunar.

— Na verdade, quero sim. Você poderia trazer outra taça de vinho para mim e para minha acompanhante, por favor?

— Mas senhor Lee, sua acompanhante está uma hora atrasada — revirou os olhos, sabia que ele fazia aquilo apenas para encher o saco.

— Ela está chegando! — bufou. — Agora traga-me o vinho.

— ‘Tá bom — virou-se e pôs-se a caminhar em direção à cozinha que possuíam naquele andar, encontrando Lisa vestida em um chapéu cômico de cozinheiro que em nada combinava com seu conjunto de terno e calça pretos. 

— O que ele quer agora? — a garota riu ao perguntar, estava achando aquela situação toda muito engraçada.

— Duas taças de vinho, uma para a “acompanhante” dele — fez aspas com os dedos.

— O que aquele cara tem com você? Sinceramente… — Lisa observou enquanto o Jeon sentava-se em um banquinho que estava próximo da porta. — Se o senhor Lee continuar assim, vai acabar que nem o Hobi daqui a pouco.

— Ele ainda 'tá na pista de dança? — gargalhou. Hoseok havia roubado praticamente todos os champanhes que fora designado a entregar e agora dançava com os velhinhos alguma música que convenceu o DJ a tocar.

Lalisa não respondeu, ao invés disso apenas colocou uma garrafa de vinho e duas taças em cima da bandeja do loiro.

— Leva logo isso e aproveita pra chamar o Seok aqui, eu preciso que ele me ajude em um negócio.

— Beleza!

Levantou-se e fez o que a garota havia pedido, ignorando o velhote que infelizmente voltou a lhe atazanar para ir a procura de seu amigo. Não foi muito difícil achá-lo, Hoseok usava um conjunto de peças vermelhas que caíam muito bem em seu corpo, acompanhados de um óculos de lentes amarelas que apenas complementavam o look. Informou que Lisa procurava por ele e voltou a caminhar por entre as mesas, perguntando se precisavam de algo.

— Jeongguk, meu filho! — ouviu alguém chamá-lo, avistando Mina a alguns metros de si, acompanhada por Baek.

— Oi, tia Mina — sorriu. — Vejo que está muito bem acompanhada, hein?

— Olá, menino Jeongguk. Tudo bem com você? — o senhor cumprimentou.

— Estou bem sim, sr. Baek. Desejam alguma coisa? — curvou-se minimamente, apenas para poder ouvi-los melhor.

— Nada no momento, mas um passarinho passou por aqui e pediu para que eu te entregasse isso — puxou a mão de Jeongguk que não segurava a bandeja e depositou nela um guardanapo. 

— O que é isso? — Perguntou, confuso.

— Abra e leia, mas não demore muito, o show já vai começar — apontou para algo atrás do garoto.

Sem se virar, Jeongguk abriu aquele pedaço de papel e encontrou lá as palavras “Terraço, oito em ponto”

Sorriu, reconhecia aquela caligrafia.

Mas então praticamente todas as luzes do salão se apagaram, deixando apenas um holofote iluminando a grande porta que dava acesso ao salão. Logo em seguida os dois lados da porta foram abertos por Hoseok e um outro garoto que Jeongguk reconhecia de vista.

A primeira visão que teve foi de uma mulher. Ela estava usando um vestido vermelho vibrante e saltos de mesma coloração. O tecido apertava o corpo curvilíneo até a metade  de suas coxas, com babados soltos tando seus joelhos enquanto ela desfilava até o centro do salão como se fosse dona do lugar — e com aquela postura, Jeongguk facilmente acreditaria se ela dissesse realmente ser proprietária da Casa. 

O holofote acompanhava seus movimentos durante todo o percurso, iluminando a pele dourada como ouro e cabelos negros como o céu da meia-noite. Certamente não era uma mulher coreana. Por um segundo os olhos dela capturaram os de Jeongguk e ele ficou embasbacado por tamanha beleza. Os lábios combinavam com o tom da roupa e suas pálpebras estavam pintadas com um delineado preto longo. Deslumbrante.

— Apresento a vocês... — a voz do DJ ressoou nos alto-falantes. — Selena Quintanilla! 

A mulher sorriu quando os aplausos começaram, curvando-se em agradecimento pela recepção. 

— E fazendo companhia a ela na apresentação que teremos hoje… — usou um falso tom de suspense, afinal todo mundo sabia de quem se tratava. — O homem favorito de muitas senhoras e de alguns senhores… Vante Astaire!

E foi praticamente automático, os olhos de todos se voltaram para o homem parado em meio às portas do lugar. Sua pose era intimidadora, quase arrogante. 

Fez Jeongguk arrepiar-se dos pés à cabeça.

Sentiu-se letárgico por um momento, zonzo pela visão que tinha do Kim.

‘Ele está mesmo mascando um chiclete?’ pensou.

Por um momento jurou estar alucinando, pois Kim Taehyung em toda sua glória não poderia simplesmente ser real. O cabelo ondulado caído sobre os olhos encontrava-se com o aspecto de molhado, ele usava um terno preto mas que em certos ângulos refletia na cor vinho e contrastava com a camisa branca folgada devidamente enfiada na barra da calça. O Jeon não tinha palavras para expressar o que estava sentindo naquele momento.

E só quando o outro começou a andar que Jeongguk finalmente soltou o ar que não percebeu estar segurando, apenas para prendê-lo novamente.

— Puta merda… — disse sem nem ao menos pensar.

Assim que enfim o dançarino deu o primeiro passo, o loiro notou algo que definitivamente não estava lá na primeira vez que olhou para ele.

De longe não foi o lenço florido no pescoço dele, muito menos os anéis que enfeitavam aquelas mãos absurdamente lindas. Mas sim a camisa dele. Ou melhor, a camisa quase que totalmente desabotoada dele, presa por apenas um botão acima do umbigo. A camisa que, pelo movimento dos ombros largos de Taehyung, deu a visão de praticamente todo o peitoral marcado pela tatuagem de um dragão. Ela não era visível nem quando ele deixava um ou dois botões abertos, mas agora... Tatuagem. O desgraçado era tatuado.

Jeon Jeongguk salivou com a visão que teve.

Assim como a mulher fez, Taehyung desfilou em meio às pessoas, com uma mão no bolso e nariz empinado. Desviando sua atenção do centro somente quando passou pelo Jeon, deixando uma piscadela escapar ao encarar as feições do garoto.

“Eu avisei que ainda tinha muitas surpresas guardadas” movimentou os lábios, antes de finalmente parar ao lado de Selena, sorrindo no momento em que ela o cumprimentou com um abraço. Ele pousou uma das mãos na cintura dela. 

Então todas as luzes apagaram.

O que durou apenas alguns segundos, pois um holofote de luz vermelha começou a acender lentamente, iluminando o casal no centro do salão.

Taehyung estava de costas para Selena, que também estava de costas para ele. A latina apoiava sua cabeça no ombro esquerdo do Kim e sua mão direita segurava no pescoço dele e as pernas estavam pouco dobradas, para que o corpo ficasse apoiado em Vante.

A pose permaneceu a mesma até que enfim os alto-falantes tremeram, dando indício que música. 

Primeiro veio um estrondo, que fez os dois mudarem de posição e ficarem tensionados, como em alerta. 

O olhar de Selena era duro enquanto ela se virava para Taehyung, acompanhando o som de um violino solitário. Agora os dois se encaravam, apenas esperando para que a música finalmente fosse emitida. E esse momento veio, pois as caixas de som  soaram com a música exageradamente ornamentada. 

Vante aproximou-se de supetão à Selena, agarrando com força em sua cintura e na mão esquerda dela. 

Sem deixar o olhar duro, a mulher apoiou a mão no ombro esquerdo dele, fincando as unhas vermelhas no terno como se fossem garras. 

Eles pouco demoraram em começar a dançar pelo salão. Movendo os pés com agilidade e as mãos com sensualidade. 

Os babados no vestido de Selena sacudiam de lá para cá quando ela movimentava os quadris de forma rápida, sendo acompanhada apenas pelas mãos grandes em sua cintura. 

Taehyung, apesar de representar o homem — aquele que conduz e dita os movimentos — era claramente submisso à Quintanilla na dança. Não fazia o papel de dominador forte e supremo que era exigido dele em diversas coreografias. Ao invés disso, possuía uma expressão serena — que não deixava de ser sedutora — a todo momento. Apoiava Serena quando era necessário, girava-a e até mesmo abaixava a cabeça quando ela virava de costas para ele, representando indiferença ao homem.

E puta que pariu, Jeongguk achava aquilo sensual demais.

Na metade da dança aconteceu aquilo que o loiro enxergou como um contra ataque do Kim. Os movimentos dele não eram mais sutis e seus pés batiam com força no chão, em protesto. Selena suavizou os movimentos, mudando seu olhar de duro para desafiador, como uma serpente. Jogou os ombros para trás no momento em que Taehyung bateu três palmas, ameaçada. 

A música ficou mais rápida.

Ela correu até o Kim e se debruçou contra ele, atacando-o devido à ameaça. Em contrapartida,  ele assumiu o olhar duro e levou as duas mãos à cintura dela, impedindo que a mulher se aproximasse. Giraram naquela briga, arrastando os pés com preguiça. 

Selena, dando-se por vencida, deixou que Vante conduzisse seu corpo. Ele levantava a coxa torneada da mulher, encaixando-a no próprio quadril ao passo que dirigia-se para longe do centro do salão, banhando a cena de sensualidade. 

Os idosos pareciam hipnotizados pela cena, e Jeongguk não negava a tensão sexual que eles exalavam. 

Enquanto isso, Taehyung continuava moldando o corpo da mulher. Ele não era mais arrogante nos movimentos, era como se estivesse ficando fraco devido à insistência na dominância. E Selena também estava. Desistiram completamente um do outro no final da dança, voltando ao centro quando a música findou. Pararam de costas, apoiando as cabeças no ombro um do outro.

A apresentação terminou e eles se curvaram, suados, para a plateia. Taehyung olhou na direção de Jeongguk quando saiu do salão.

🕺

Meia hora depois o loiro se dirigiu ao terraço.

Não encontrou nada lá.

O céu estava pouco nublado e um vento frio fazia seus pêlos arrepiarem. 

A Casa ficava no centro de Seul, em um ponto mais alto, então de lá conseguia ver boa parte da cidade. Carros levando pessoas às suas casas, pessoas saindo de casa e até mesmo homens levantando casas. Seul era linda. A vida ali era boa de ser observada.

Outra coisa que Jeongguk conseguia notar era a música melódica que tocava no andar de baixo. Antes de sair de lá viu Mina agarrar Baek pelas lapelas do smoking e plantar um selinho demorado nos lábios do homem. Pensando agora, não foi uma situação muito boa de ser observada, principalmente levando em conta que Sora derrubou vinho no vestido dela logo depois. Aquela rixa era muito besta, mas proporcionava boas risadas a todos.

O loiro chutou um prego que estava jogado por ali, lavando a mão aos bolsos da calça. Sentou-se em um caixote de madeira firme e suspirou. O ar saía numa fumaça fina de sua boca, ele ficou ali brincando com aquilo.

Pouco mais de cinco minutos depois, o som da porta de ferro sem óleo nas dobradiças fez com que ele despertasse dos devaneios aleatórios que surgiram em sua mente.

— Demorei muito? 

Jeongguk sorriu, de costas para a voz e ainda sentado no mesmo lugar.

— Um pouco. Sabe que não é bom deixar um príncipe esperando, não sabe? 

— E o que você fará a respeito disso, vossa alteza?

— Decapitação era moda na minha época, acho que terei que aderir.

— Tenha pena da minha pobre alma, ó grande príncipe. Sou apenas um romântico apaixonado…

Ainda virado para o horizonte, Jeongguk levantou e andou em direção ao parapeito do terraço. Feliz.

Parou pouco antes do limite, sentindo braços quentes circularem sua cintura e o Kim repousar o queixo em seu ombro.

— Apaixonado? — passou as próprias mãos pelas do outro, abraçando-se no conforto que era se aconchegar no peito dele.

— Perdidamente apaixonado — segurou os dedos da mão direita de Jeongguk, erguendo o braço dele. Fez o mesmo com o esquerdo. 

— Por quem? — permitiu-se tombar a cabeça para o lado, arrepiando quando Taehyung deixou um beijo na pele nua de seu pescoço.

O dançarino não respondeu. Deixou que os braços de Jeongguk permanecessem abertos enquanto deslizava os dedos pelo tecido branco do blazer. Tocou o antebraço dele, os bíceps, passou pelo tecido grosso e foi ao encontro da camisa fina, quase transparente. Apoiou os polegares na curva acentuada da cintura, apertando sutilmente. 

Quase permaneceu ali, amando o encaixe que tinham. Mas então subiu com os dedos pelo abdômen firme que Jeongguk tinha, chegando ao peitoral e voltando.

O Jeon sentia-se imerso naqueles toques, gostando da sensação dos anéis gelados de Taehyung quase contra sua pele. A espessura da camisa não ajudava em muita coisa. 

— Não sei, me diga você — afastou-se do loiro, permitindo que ele abaixasse as mãos.

Jeongguk se virou, jurando que estava mil vezes mais apaixonado quando encontrou seus olhos com o do Kim.

Ele era tão grato ao universo, aos deuses ou sabe-se lá quem que permitiu que conhecesse Taehyung. Sentia como se tivesse a vida toda esperando por aquele momento. Esperando que uma mudança repentina acontecesse em sua vida para que ele pudesse finalmente ser segurado por aqueles braços. 

Para que pudesse cantar na chuva, deitar nas ruas e olhar para estrelas. Para que pudesse dançar sem se importar com julgamentos e morrer de amores por encenações de tigres. Para que pudesse se sentir quente com um olhar.

Esperou pelo infinito de Taehyung.

Óbvio que não reclamava de como sua vida estava antes, mas agora seu peito transbordava uma cachoeira de sentimentos que esquentavam seu estômago, gelavam suas mãos e faziam sua pupila dilatar.

Mina estava tão certa.

— Posso tentar uma coisa? — Jeongguk perguntou.

— Envolve decapitação? — o moreno brincou e recebeu um olhar divertido do mais novo. — Pode sim.

Revirando os olhos, Jeongguk sacou o próprio celular do bolso da calça, movendo rapidamente os dedos pela tela. 

Como o som do salão estava alto, foi possível que ouvissem quando um novo dispositivo conectou-se à rede bluetooth dos alto-falantes. Taehyung sorriu.

— Me concede uma dança, Vante? — enroscou seu dedo mindinho no do outro, ficando aliviado quando ele acenou.

As mãos grandes mais uma vez pousaram em seu corpo, em seus quadris. Levou as próprias aos ombros do mais velho.

"I don't need words, you don't need to say it" uma voz masculina cantou.

Taehyung conhecia a música. 

— Ótima escolha — começou a conduzir Jeongguk.

Não era nada muito elaborado, quase não levantavam os pés, balançando de um lado para o outro.

Go with the feeling, and I'll do the same. 

Engraçado, porque eles funcionavam exatamente assim. Movidos pelo sentimento. 

Não eram pessoas impulsivas, não mesmo. Viviam como pessoas normais, faziam coisas normais e levavam a vida assim. De uma forma ou de outra, monótonos. 

Eles eram a agitação que precisavam.

Eram a dança fora dos compassos que faltava para que aquela coreografia ficasse completa. Eram o sapateado Gene Kelly com o molejo de Fred Astaire. Eram a melodia e a letra, o piano e o pianista. O dançarino e a dança.

A coreografia mais perfeita que existia.

When you move, I move — Taehyung sussurrou.

Como era bom estar apaixonado. Ser correspondido. 

Taehyung comparava aquilo como quando se encontrou na dança. Quando se viu fazendo algo que tinha certeza que nunca mais abandonaria pelo resto de sua vida. Ele via Jeongguk e sentia que havia encontrado o estilo perfeito depois de muito tempo. 

E puta que pariu, que sentimento incrível era finalmente encontrar o parceiro de dança perfeito.

Porque Jeongguk não seguia seus passos. Ele não sabia a coreografia e se orgulhava disso. O Jeon pisava em seu pé e puxava-o para cantos que fugiam da ordem que considerava correta.

Ele precisava tanto disso.

Precisava tanto quanto precisava da boca dele na sua. 

Ainda embalados no momento gostoso, Jeongguk notou quando o Kim fixou os olhos em seus lábios, umedecendo os próprios.

— Já tem a sua resposta? — sorriu, tocando sua testa com a de Taehyung.

— Ainda não.

A dança parou. Os narizes respiravam próximos, misturando os gases em um único suspiro. A noite já não estava tão fria, mas sentiam a pele arrepiar com a proximidade dos rostos.

— Eu não sei dançar, Tae.

O moreno riu.

— Então eu espero que seja melhor com a sua boca do que com seus pés.

E Kim Taehyung beijou Jeon Jeongguk. 

No começo foi um leve encostar de lábios, um selinho curto que apenas serviu para matarem o desejo de sentirem a textura da boca um do outro. Mas logo evoluíram para algo mais apaixonado, para um beijo lento e ritmado que trazia a sensação de "quero mais". 

Era como o passo perfeito na hora perfeita. Um improviso que deu certo e fez a platéia ficar de pé. Pois é assim que as pessoas estariam caso vissem a representação em carne e osso do sentimento dos dois, e era assim que os astros estavam ao presenciar aquele beijo.

Saturno usava seus anéis para apertá-los um contra o outro, mercúrio doava seu calor aos corpos para que permanecessem quentes e a terra concedia seus oceanos para que pudessem mensurar a força de seus sentimentos.

O Kim poderia desmaiar ali mesmo caso o Jeon afastasse seu corpo, pois em alguns segundos viciou-se no sabor doce da boca dele. No beijo forte que ele dava, mas que suavizava quando chupava sua língua e deixava suas as pernas bambas. 

Seus lábios deslizavam um no outro, embolando as línguas e misturando os sabores das bocas. Jeongguk estava amando tudo aquilo. Estava amando o beijo, os apertos na cintura e Taehyung. Estava amando aquela dança e o dançarino.

Amando o ritmo acelerado dos pés dele e a forma como aceleravam seu coração. Sentindo os planetas se alinharem quando ele segurava sua mão. Tropeçando nesse sentimento que chamava de paixão.

— Definitivamente melhor com a boca — Taehyung deixou um selinho em cima do pequeno sinal que tinha embaixo do lábio inferior.

— Lembra do que você disse na primeira vez que nos vimos? — continuou de olhos fechados, apreciando o contato que vinha outrem.

— Não, o que era? — apertou mais a cintura fina.

— Que era melhor com os pés do que com as mãos — segurou o rosto do mais velho.

— E o que tem?

— Você teve uma melhora considerável com elas — aproximou-se do ouvido dele. — Gostaria de me mostrar?

Taehyung afastou-se, devorando Jeongguk com os olhos.

— Nunca é bom deixar um príncipe esperando.

🕺

Obrigada a todos que chegaram aqui, deixaram comentários e votos que aqueceram meu coração! O carinho de vocês me inspira!

Agora, nessa minha nova fase, pretendo postar mais das minhas histórias. A próxima será uma oneshot (taekook) inspirada no mundo de Alice no País das Maravilhas e eu estou depositando todo meu amor nela para que saia perfeita!

Agora a listinha de referências:

1° capítulo:

- Fala Jungkook na casa do Jimin "Dizem que os cavalheiros preferem loiros" referência a "Gentleman Prefers Blondes", filme de Marilyn Monroe.

- Roupas e encontro inspirados na cena clássica de Pulp Fiction onde Mia e Vincent tem uma batalha de dança.

- Pós encontro onde Taehyung e Jungkook deitam no chão da rua é referência à Diário de uma Paixão.

2° Capítulo

- Fala do Namjoon é um trecho de "Voice", música da primeira mixtape dele "RM".

- Canção que Jungkook usa para acalmar Sarang foi feita por mim para homenagear Wolf's Bane, da tkmutuals. Eu amo muito essa história, leiam.

- A cena na chuva é uma referência a Singing in the Rain, protagonizado e dirigido por Gene Kelly.

- O filme que Taehyung sugere para assistirem é uma referência a Lucky: o coelho da sorte. Uma fanfic muito boa, inclusive.

- Após os taekook limparem o apartamento do Jungkook, quando o Tae está dançando ao som de um cover de Closer, é uma cena real de um vídeo que o próprio postou no Twitter.

3° capítulo

- A mulher citada era uma pessoa real, Selena Quintanilla foi uma das maiores cantoras da história e até hoje serve de inspiração para muitas pessoas.

- Cena final é uma referência a Titanic.

Até logo, estrelinhas!

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