Jujutsu Kaisen - Orbitando um...

By adri_bertolin

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Aprisionado no Reino da Prisão, Gojo Satoru inicia um processo de fragmentação sobre os conceitos em relação... More

Vazio
Grandes olhos negros
Caos
Propósito
Igual
Ciúmes
Domínio incompleto
Entorpecência
Consumo
Anseio
Posse
Retaliação
Fôlego
Engrenagem
Bolha
Escolha
Capítulo Extra: Sequestro
Paz artificial
Busca
Renúncia
Receptáculo
Liberdade
Esperança
Destino
Surgindo das cinzas
Surto

Resgate

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By adri_bertolin

Em sua breve consciência, sentiu toda a sua energia sendo drenada de uma única vez, mesmo o que ia muito além do que ele era e o tornava algo muito mais do que uma divindade. Tudo se foi.

Apenas sentiu cada parte sua vibrar quando uma corrente de força passou por ele conforme ouvia algo como: Ryōiki Tenkai, Yuganda Genjitsu.

A sensação não durou mais do que 0,2 segundos, embora tenha parecido de que foi algo poderoso ao ponto de envolver todo o mundo. Coisa estranha.

Ele também se sentiu fraco, o que era mais bizarro ainda.

Prestou atenção em si mesmo. Porque estava com a própria mão enfiada em seu peito, segurando seu coração?

Satoru se retraiu imediatamente, liberando o órgão e se regenerando.

Assumiu que aquilo estava relacionado com o feiticeiro maligno com cara de estúpido ao lado dele, então destruiu seu corpo com energia amaldiçoada e deixou que ele fosse levado pelo mar.

Prestou atenção aos arredores. Havia essa intuição muito forte de que estava se esquecendo de algo, porém não conseguia dizer o que era.

Seus sentidos então o alertaram de um tsunami atingindo o continente e por mais que se sentisse exausto, moveu-se rapidamente para ajudar no que pudesse. Ao mesmo tempo em que esfregava a própria cabeça, sentindo-a confusa demais.

Quando chegou na costa de Sendai, percebeu uma energia familiar ali perto. Em cima de um pássaro, sobrevoando o local e afastando-se do caos, com o corpo de uma mulher no colo, estava Suguru. Fazia tanto tempo que não tinha noticias sobre o homem que sentiu seu coração apertar, mas o deixou ir, tinha coisas mais importantes a fazer agora.

Além de ajudar a resgatar civis do desastre, o clã Gojo possuía uma base ali perto, mesmo que não possuísse o habito de frequentar as casas mais importantes de sua família a anos, sentiu-se no dever de verifica-los. Eram seus protegidos, afinal.

Porém não se teleportou para lá, fazer isso sem saber se apareceria no mesmo lugar que outra pessoa parecia perigoso.

(...)

Aparentemente, receptáculos descontrolados atacaram seu clã durante uma visita da Segunda, do comando dos xamãs brasileiros. Dois já estavam mortos e ele matou o terceiro. Isso pareceu muito errado, mas não conseguia explicar o porque.

A idosa estava muito ferida, Shoko lhe contou que a única coisa que a manteve viva foi uma maldição que a obrigava a manter seu coração batendo. Sua aluna, uma mulher de cabelos verdes, que se lembrava vagamente de estar envolvida com o clã Inumaki, não sobreviveu. 

Por algum motivo, os estrangeiros procuravam por ajuda para investigar as causas de um massacre que houve em uma de suas principais comunidades.

Não possuía qualquer ligação com eles, não entendia como poderia ajuda-los, mas prometeu que, se soubesse de qualquer coisa sobre o assunto, os informaria.

Estava tentando conhecer mais das ramificações do jujutsu nos outros países, afinal.

(...)

Aquela confusão de antes passou. Era provável que só estivesse atordoado por aquele feiticeiro que causou o epicentro do maremoto que prejudicou tanto das terras que deveria proteger.

Não era algo com que deveria se preocupar.

Ele era o mais forte.

Não havia ninguém que conseguisse chegar perto de alcança-lo.

Satoru encontrou uma venda escura abandonada no chão da casa de Sendai.

Um presente de Geto, sabia. Algo que sempre mantinha por perto, mesmo que não usasse.

Não sabia quando a deixou cair, mas voltou a guarda-la consigo. Ela cheirava a limão e um dia de verão, era bom. Sempre foi.

O país o glorificou por suas ações heroicas naquele dia, mas não conseguiu se sentir bem com isso. Se sentia vazio, incompleto.

Supunha que já deveria ter ser acostumado, havia acreditado que aquela ferida deixada pela traição de Suguru estivesse começando a melhorar, mas estava completamente errado, essa dor parecia pior do que nunca.

Sua vida parecia um tanto desequilibrada. Precisou de um instante para se lembrar de que isso nunca foi diferente, ou pelo menos não foi durante muito tempo.

Culpou o ex-amigo de novo por se sentir assim.

Porque aquela dor, aquela ausência, era tudo por causa dele, certo?

(...)

Quando voltou para sua casa, em Tokyo, seus olhos piscaram algumas vezes até se ajustarem a como aquele lugar parecia frio e solitário. Isso lhe deu um tipo de enjoo, relacionado as memórias de como sempre foi tão absurdamente isolado antes do controlador de maldições e das crianças.

Estava particularmente sensível hoje.

Ele buscou os Fushiguro e os soterrou com os brinquedos que tinha pelo imóvel para lhe darem atenção.

Megumi disse que deveria parar de gastar dinheiro com essas coisas porque eles já estavam naquela fase de desapego a essas bobagens, mas já havia comprado aquilo tudo a bastante tempo e a falta da sensação do calor de um pequeno sol o aquecendo enquanto estava com eles o distraiu demais para registrar suas reclamações.

(...)

Satoru foi afogado em uma serie de arquivos e papeis burocráticos quando o Japão se acalmou outra vez. Aparentemente havia uma serie de erros em seus registros e um dos responsáveis por isso decidiu alerta-lo antes que fossem crucificados por deixarem tais coisas acontecerem.

Eles já haviam desfeito as falhas mais graves, como um registro de casamento e a adoção de uma criança que ninguém ali conhecia, mas pequenos detalhes poderiam ter passado despercebidos, então precisava conferir. Uma grande merda, mas já estava acostumado com pessoas tentando se aproveitar de seu nome e recursos.

Estava entediado pra caralho.

Ficou por mais do que um minuto encarando uma declaração sobre o plano de saúde de um homem chamado Wasuke sem conseguir realmente lê-la. Parecia embaçado, confuso, como se não devesse estar ali, mas mesmo assim não a descartou, a considerou como uma despesa correta e a manteve.

Depois, a memória sobre isso se apagou naturalmente, não era importante.

Ele continuou se livrando das coisas que estavam no lugar errado. Mais pessoas também estavam fazendo o mesmo. Parecia certo.

(...)

Turistando pela cidade após uma missão, Satoru passou em frente a uma floricultura.

Não era comum que prestasse atenção à flores, já que as via mais como uma oferenda aos mortos. Embora pedras fossem ainda melhores para isso.

Mas aqueles girassóis chamaram sua atenção.

Voltou para casa com um monte de souvenirs aleatórios e um buquê de girassóis. Gostou de como aquilo deixava o lugar com uma aparência de lar.

(...)

Atendeu ao chamado da manifestação de varias maldições de nível alto em um hospital psiquiátrico, mesmo que quisesse nega-lo. Lugares assim sempre lhe davam a impressão de que deveria se juntar aos pacientes.

A janela lhe informou que as bestas são muito comuns nesse lugar, mas que agora estavam mais agressivas. Pareciam estar envolvidas com uma potencial feiticeira internada lá por amnésia.

A mulher se mantinha isolada para não machucar os demais e ninguém tentava chegar perto dela de qualquer forma. Como se a sensação de morte que a rodeava fosse demais para isso.

Ele deveria eliminar as criaturas e verificar o nível de consciência da interna quanto a causa da atração dos horrores, havia uma grande probabilidade de estar fazendo isso sem querer e não pretendia mata-la antes de ter certeza.

Seus seis olhos reconheceram a situação incomum imediatamente. Aquilo era muito pior do que o esperado. Mandou evacuarem a área e baixou uma cortina.

Lhe foi avisado que a desmemoriada era calma, mas perigosa, que feria as pessoas e ninguém sabia dizer como. Ela foi encontrada perdida, vagando pelas ruas como se procurasse por algo ou alguém, desconfiavam que havia sido vitima do dia 11 de março. Não haviam dados sobre quem ela era, apenas sabiam que provavelmente não era nativa do país e que nunca foi procurada por ninguém.

Encontrou olhos muito negros o observando do gramado. A paciente estava rodeada por dezenas de maldições e as servia limonada com bolo, mas não para todos, apenas para os de nível dois, que eram a classificação mais alta presente. Parecia considera-los pessoas.

Ela demonstrou surpresa quando não viu medo nele mesmo que obviamente também conseguisse ver seus companheiros monstruosos. Satoru não entendeu porque as maldições não o atacaram de imediato, como a racionalidade limitada delas sempre as levava a fazer, mas isso apenas o deixou mais curioso quanto a natureza dos dons dela.

Havia um cheiro calmante em meio ao odor das bestas, algo que relaxou seu corpo e o convidou a se aproximar mais. Aquilo era pura energia amaldiçoada e estava afetando as criaturas também, deixando-as calmas, distraindo-as das provocações mais sutis.

- Estou começando a atribuir um novo significado para más companhias. - Comentou, com alguma diversão.

A mulher franziu o cenho para ele, o avaliando. Depois olhou para sua comida e bebida, em contemplação. Sua mão acenou em dispensa para as maldições de nível dois, que se afastaram muito ofendidas, embora nem tenham ganhado um único olhar da desmemoriada desde que ele chegou.

Ela se levantou animadamente e lhe serviu uma fatia generosa do bolo, junto da limonada. Mas pediu que esperasse, enquanto se afastava e voltava com um pote de açúcar, acrescentando colheradas generosas dos cristais doces em ambas as coisas.

O deus mortal ergueu uma sobrancelha para a estranha. Poderes de natureza pisicológica então.

- É para o mais forte. - Declarou. Levando a mão até a cabeça, como se sentisse dor. - Ele gosta de coisas doces. - Tentou explicar, seus olhos se fecharam. - Estive esperando...

- Bom, estou aqui e sou o mais forte. - Sorriu, despreocupadamente, se sentando ao gramado com um tipo de conforto que lhe era estranho. - É uma recepção muito amável, mais pessoas deveriam me tratar assim.

A mulher não se importou que o autodeclarado mais forte estivesse resmungando como uma criança. Pareceu muito contente que ele estivesse comendo do que lhe serviu. Satoru não pensou sobre os prós e contras de fazer isso, como fazia com quase tudo, qualquer coisa com aquela aparência não podia ser ruim.

Se surpreendeu com o gosto de paraíso que aquilo tinha. A massa era de chocolate ao leite e seu recheio se consistia de chocolate branco em uma textura diferente, junto de morangos suculentos. Era maravilhoso, quase a melhor coisa que colocou na boca. Não sabia como havia sobrevivido até então sem conhecer esse sabor.

Estava gemendo de satisfação e não conseguia entender como ela continuava o encarando com tanta simpatia. Talvez porque era paciente de um hospital psiquiátrico e não estivesse completamente sã.

- Himawari. - Ela falou com um suspiro, parecendo surpresa, o que chamou sua atenção. - Meu nome é Himawari.

- Prazer em conhecer, Himawari.

Sua mão se estendeu para um aperto de mão, mesmo que isso não fosse um costume. Não percebeu que havia abaixado o infinity até o momento que sentiu aquelas mãos calejadas tocando sua pele. Decidiu que gostava dela.

(...)

Himawari o assistiu matar as maldições enquanto aplaudia com alegria. Não havia apego pelas monstruosidades, parecia contente em vê-los morrer. Menos mal.

Satoru notificou a sua comunidade sobre a mulher estranha, mas ninguém soube dizer quem ela era, nem mesmo os de natureza mais sombria tinham algo a dizer.

Providenciou para que ela recebesse um tratamento adequado e a reivindicou como responsabilidade do clã, arcaria com suas despesas enquanto ela precisasse. Estava definitivamente intrigado.

Mas deu mais foco aos objetivos e armazenou esse pequeno pedaço de afeição para outro momento.

(...)

Em algum momento, havia se encolhido tanto dentro de si mesmo, que o infinito que o protegia se tornou uma percepção constantemente dolorosa sobre seu isolamento no topo do mundo.

Era inegavelmente o mais poderoso, um deus entre os homens, o honrado. Esses eram fatos e sempre se vangloriaria disso.

Mas as vezes ele olhava para baixo e, mesmo com seus seis olhos, não conseguia enxergar ninguém que fosse remotamente próximo ao seu patamar ou parecido com o que se tornou.

Não era uma surpresa, estava acostumado com isso, com a distancia que os separava de todas as outras criaturas vivas.

Apenas era solitário pra caralho e fazia seu coração doer.

(...)

Inicialmente, ele havia pensado em assumir uma posição como professor na escola de jujutsu como uma piada, já que definitivamente não levava jeito para isso, porém pareceu-lhe certo.

Principalmente ao contemplar o titulo que lhe seria designado, Gojo-sensei.

Nem conseguia explicar o orgulho que lhe o invadiu por imaginar uma coisa tão simples. Era tão importante, tão significativo, tão cheio de valor, tão poderoso, tão...

Bem, agora sabia exatamente como se vincularia com aquela nova geração potencialmente forte que almejava, sabia como encontraria os seguidores que precisava e, principalmente, agora era capaz de libertar a mente dos mais jovens, com relação ao lixo que essa sociedade de merda os tornaria.

(...)

Panda era uma novo exemplar maravilhoso de existência.

Inumaki Toge era talentoso, uma raridade vantajosa e uma presença agradável, aos seus padrões.

Zen'in Maki era tão fraca que normalmente nem teria olhado para ela por mais do que acaso, mas sua determinação o cativou e encontrou divertimento em refina-la como arma apenas para destruir o orgulho de seu clã quando ela reivindicasse o lugar de líder.

Kinji Hakari possuía um temperamento péssimo, mas era exatamente o tipo de pessoa que precisava. Forte. Tão forte como aqueles que mais desejava ter ao seu lado.

Mas então surgiu Okkotsu Yuuta. Um garoto amaldiçoado que ele não permitiu ser executado pelo alto escalão por ter certeza absoluta de que havia uma forma de transformar aquele destino terrível em uma existência que pudesse salvar outras pessoas e fazer o bem.

Quase como já tivesse visto isso antes.

(...)

Geto morreu.

Fez um ataque genocida, matou muita gente, feriu seus alunos e marcou seu nome como uma das pessoas mais cruéis que já existiram em todo o mundo jujutsu. Tornou-se uma figura de terror, alguém tão podre quanto uma maldição, que todo mundo odiava e que era sinônimo de maldade.

Ele o matou. Tinha que fazer isso. Já deveria ter feito a muito tempo.

Mas nada disso o impedia de continuar ouvindo sua voz, sua risada, suas implicações e provocações. Ainda sentia falta do calor de sua pele, o prazer de sua presença. Ainda desejava que ele estivesse ao seu lado e ansiava que nunca houvesse partido.

Queria ter feito mais, o ajudado enquanto ainda eram próximos. Deveria ter visto sua dor, deveria tê-lo ajudado a suporta-la. Deveria ter sido a porra de um amigo melhor e não deixado as coisas chegarem a esse ponto.

Ainda sentia o sangue dele em suas mãos e não importava o quando as lavasse, essa sensação simplesmente não iria embora.

Algo nele se partiu naquele dia, se estraçalhou em um milhão de pedacinhos que jamais conseguiria colocar de volta no lugar.

Ele nem conseguiu ficar perto do corpo do amigo o suficiente para lhe dar um funeral digno ou uma despedida melhor. O abandonou em um beco sujo e escuro, esperando que a família que ele havia conquistado o buscasse, mas sem realmente conferir se eles o fizeram.

Uma melodia começou a tocar, superando o som da chuva.

Violino.

Notas bem definidas, executadas com perfeição. Carregadas de tanto sentimento que não conseguiu evitar as lágrimas que escorreram de seus olhos.

Himawari estava ali, em uma praça da escola, entregando uma melodia que falava sobre morte, que louvava as vidas perdidas. Tão triste. Era uma homenagem as inúmeras vitimas de seu amigo, com certeza, mas ele viu uma solitária rosa azul pendurada em sua orelha e imaginou que fosse para Suguru também. Que mais alguém pudesse estar tão destruído por aquela viva perdida quanto ele estava.

O controlador de maldições amava rosas azuis. Porém uma risada dolorida saiu de sua garganta para isso, aquela mente confusa nem fazia ideia de quem o homem foi, ou o que ele significava para o mundo, ou para si. Ela era apenas uma mulher com o cérebro muito danificado que nunca apresentou melhoras e que possuía poder demais, com controle de menos, para existir sem supervisão. Como ela poderia entende-lo?

Não havia energia amaldiçoada saindo de seu corpo, era apenas musica. Uma musica tão sofrida e angustiada que parecia vir de uma alma morta.

Talvez apenas pudesse se identificar com isso.

- Hey. - Ele chamou, quando a canção terminou. Himawari estava encharcada, no meio chuva, mas prestou atenção nele imediatamente. Como seus olhos muito escuros sempre faziam. - Quer vir encontrar procurar por pedras comigo?

Ela pareceu confusa, não entendeu seu propósito, embora já se aproximasse e estivesse concordando.  

- Pedras são um presente duradouro que contam historias sobre o mundo, mesmo quando as coisas vivas ao seu redor não se lembrem mais dos acontecimentos de outrora. - Satoru explicou, esfregando seus olhos para esconder os resquícios das lágrimas. - É uma forma de oferenda aos que morreram.

A mulher apenas o encarou por um instante, absorvendo o significado das palavras.

Talvez ela tenha encontrado algum conforto nisso, porque o seguiu quando começou a se afastar para iniciar a busca.

(...)

Ele começou a usar aquela venda escura que era um presente de Geto depois disso.

(...)

Megumi e ele nunca tiveram uma relação que pudesse ser chamada de perfeita, mas estavam lá um pelo outro sempre que precisavam.

Treinavam juntos as vezes, se comportavam como se fossem uma família.

Por isso, podia dizer com certeza que nunca havia visto tanta dor nos olhos do menino quanto quando Tsumiki foi amaldiçoada e não acordou mais. 

Sua necessidade por ajuda-la, por fazer alguma coisa de útil, despertou sua vontade de se tornar um feiticeiro. Então Satoru o acolheu e o ensinou, o tornou seu aluno oficialmente e começou a trabalhar com aquele grande potencial que sempre soube que ele possuía.

(...)

Um garoto chamado Itadori Yuuji engoliu um dedo de Sukuna, sobreviveu e se tornou o receptáculo do Rei das Maldições.

Essa frase era tão esquisita de imaginar que não acreditaria no fato, se não houvesse o analisado com seus próprios olhos.

Mas eles viviam em um mundo muito estranho e coisas estranhas acontecem o tempo todo, nem sabia como ainda tinha a capacidade de se surpreender.

Confrontou o alto escalão para manter a criança viva unicamente porque Megumi pediu que o fizesse, mas poderia admitir que ficou rapidamente intrigado e interessado em ver o que se desencadearia depois disso.

Estava reunindo seu pequeno clube de pessoas com dons problemáticos que só estavam vivas por sua causa, já haviam três integrantes e estava com vagas abertas.

Acreditava completamente que o menino conseguiria lidar com esse fardo, se ele desejasse, aquele poderia ser um poder que faria toda a diferença na desconstrução dessa sociedade de merda!

Lhe irritava imensamente que aqueles velhos idiotas não conseguissem ver a situação com a mesma clareza que sua mente fornecia.

Yuuji poderia controlar Sukuna e usar o poder dele para o bem, nunca algo assim havia sido registrado, mas poderia ser completamente possível! Nunca saberia o que aconteceria, realmente, se não tentassem.

Além disso, o monstro não seria um problema total com Gojo Satoru vivo para interferir. O mataria no instante que se tornasse uma ameaça para a população.

Bem... Pensar sobre isso era bem mais fácil do que acreditar verdadeiramente nessa vontade.

- Gojo-sensei... - A voz do Fushiguro parecia quebrada ao telefone. - O Yuuji morreu.

(...)

Himawari e ele tinham o habito de se sentirem tristes por pessoas que os outros queriam ver mortas, aparentemente.

Quando o corpo de Itadori foi levado de volta para a escola, para ir ao necrotério, a mulher os observava de longe.

Ela gostava do rosado, mesmo que nunca houvesse estado perto dele e apenas fosse uma boa ouvinte em todas vezes que cruzava com sua presença fantasma, bem como uma fonte de receitas maravilhosas sempre que a deixavam usar a cozinha.

As vezes a mulher o procurava com muitos doces que havia feito, para que os entregassem aos seus alunos. Apenas não os reivindicava para si porque sempre havia uma porção ainda maior exclusiva para ele. Mas esse não era o ponto, parecia que, mesmo que nem se deixasse ser vista na maioria das vezes, também sentia uma vontade de cuidar de todos eles.

- Y-Yuuji... - Os lábios trêmulos dela murmuraram, como se aquele nome significasse mais do que um garoto jovem demais para estar morto.

Satoru acenou para ela em reconhecimento. Tocaria aquela sinfonia depressiva com junto dela dessa vez, apenas precisava estar com seu aluno enquanto Shoko fazia seu trabalho.

Além de, é claro, precisar confirmar que não havia nenhuma chance do garoto voltar a vida.

(...)

Himawari teoricamente não deveria saber que Itadori estava vivo, mas não a impediu de chegar perto dele quando ela tomou a iniciativa.

Havia o medo óbvio de que ela quebrasse o menino e trouxesse Sukuna para a superfície, mas nunca havia visto a mulher tão determinada a algo, então permaneceu apenas os observando conforme a interação acontecia.

Aquele outro garoto, Junpei, havia acabado de morrer e deveria ajudar seu aluno nesse momento, mas quis ver o que aconteceria.

Yuuji percebeu a presença dela quando sentia sua cabeça ficar estranhamente quieta e os seis olhos de Satoru registraram a forma com que o Rei das Maldições foi ainda mais suprimido, momentaneamente.

Em seguida o menino foi confortado por um cheiro de família que não conseguia reconhecer muito bem, mas que o relaxava e aceitou a tigela repleta de mochis que lhe era oferecido.

- Quem é você? - Perguntou, cauteloso, mas quase completamente aberto a estranha.

- Uma das coisas perigosas que Gojo-sensei salvou. - Ela sorriu, acolhedoramente. - Do tipo que poderia matar todo mundo aqui em um deslize.

Os olhos do Itadori se arregalaram para isso e ele ofereceu um lhe sorriso de volta.

- Deve ser algo realmente ruim, Sukuna está misteriosamente ausente.

- Oh, pode apostar que é. - Os olhos muito escuros brilharam. - Imaginei que precisaria de um pouco de silêncio hoje.

Aqueles ombros fortes que tentavam sustentar o peso do mundo se encolheram fragilmente.

- Obrigada por isso... - Falou baixinho, ferido.

Yuuji quase pulou para fora da própria pele quando Satoru se juntou a pequena bolha de paz, mas se aliviou automaticamente quando percebeu que era o seu professor incrível que estava ali.

Afinal, o deus mortal precisava se desculpar por não ter estado com ele quando precisou.

(...)

As vezes ficava o mais forte ficava tão confortável perto de Himawari que a aparente fragilidade dela despertava-lhe tensão sexual, algo raro, considerando quão poucas pessoas despertavam sua atração. Isso o fazia querer arruiná-la, sabendo que ela gostaria e aguentaria.

Mas não ficavam juntos por tempo o suficiente para tornar a situação insuportável e convence-lo de que era uma boa ideia quebrar ainda mais aquela coisa perigosa que quase não se mantinha estável.

Sexo definitivamente não era seu único interesse, não com ela e, principalmente, não hoje.

Estava muito inspirado em fazer uma festa de halloween naquele ano e obviamente sequestraria a mestra culinária mais talentosa que conhecia para ajudar.

A mulher nem se assustou quando ele apareceu na frente dela, repentinamente, para convoca-la a servi-lo com suas habilidades extraordinárias

Tinha vontade de esmagar suas bochechas sempre que ela embarcava em suas maluquices sem nem mesmo questiona-lo. A forma com que também parecia feliz com isso era muito fofa.

Ela não conseguia acompanha-lo muito bem, não conseguia acompanhar o mundo muito bem, mas era tão adorável que mesmo ele, que não gostava de coisas lentas, lhe dedicava paciência.

Juntos eles transformaram um monte de matéria em comida saborosa e assustadoramente grotesca. Havia descoberto um novo talento em relação a decoração de alimentos e era simplesmente muito bom nisso!

Também estavam fazendo um trabalho ótimo em decorar a casa para quando seus alunos fossem convocados, mais tarde.

Estava muito empolgado.

Muito.

Até a mulher parecia satisfeita, em uma demonstração de alegria tão sincera que rivalizava com a pureza de Itadori.

Entretanto, isso foi interrompido quando foi convocado para Shibuya.

(...)

Foi com estranheza que os seis olhos reconheceram o mundo exterior ao Reino da Prisão, seus sentidos automaticamente se adiantaram para registrar tudo o que estava acontecendo e porque de estar livre, embora não completamente.

A primeira coisa que percebeu foi Sukuna a poucos passos de onde estava. Não, um momento. Não era Sukuna. Aquele era Yuuji. Com as marcas do Rei das Maldições e acesso aos poderes dele.

O menino também estava mais velho do que se lembrava.

Seu sorriso de orgulho foi tão grande que ele não parecia saber o que fazer consigo mesmo, embora fosse um poço de expectativa.

Mas então Satoru percebeu a mulher na frente dele, que só não foi a primeira coisa que viu porque suas energias amaldiçoadas estavam fluindo de um para o outro como uma coisa física e única. Uma maldição do amor exposta, os tornando um só diante do mundo e de todas as coisas vivas, pelo pacto de casamento, pelo reconhecimento e retribuição de ambos.

Ali estava Himawari, não a mulher com amnésia que retirou de um hospital psiquiátrico anos atrás e sim a Himawari que era Uyara, sua amiga, sua companheira, sua esposa, sua rainha, líder e semelhante. Embora agora soubesse que elas eram a mesma pessoa.

Ela estava ali com seus óculos escuros, sorriso arrogante, cabelos curtos e as roupas dele, que lhe caiam tão bem.

Sua mão se estendeu para ela com sete anos de uma saudade que nunca havia conseguido justificar anteriormente e a puxou para mais perto, se deliciando com aqueles lábios com tanta fome que poderia morrer por falta dela, já que finalmente sabia a causa de seu maior anseio.

A sentiu retribuir com igual paixão e aceitou mover o seu corpo quando ela começou a vira-lo, mesmo que não entendesse seu propósito. Tinha tantas perguntas que não conseguia nem pensar direito. Estava tão cheio, tão deliciado, tão completo, que sentia que havia alcançado aquilo que mais desejou em sua vida sem nem mesmo perceber.

Logo o contato se quebrou e ele ficou tão bêbado pela presença dela que mal sentiu as mãos poderosas de Yuuji o afastando da mulher que amava.

- Não posso existir em um mundo que quero destruir sem que você esteja livre, Sato-kun. - Ela falou, sem lhe dar tempo para registrar suas palavras. - Tenho completa confiança de que você vai conseguir lidar com toda a merda criada na sua ausência e encontrar uma forma de me tirar daqui, vou estar esperando, então, por favor, não demore, ok?

Seu sorriso era tão lindo, mas suas palavras começaram a fazer sentido e ele começou a antecipar o que iria acontecer.

- Não... - Sussurrou, avançando para puxa-la de volta, mas o Itadori estava lá, o segurando.

Quando foi que ele se tornou capaz de segura-lo?

Não aconteceu por mais do que alguns segundos e isso era mais do que o suficiente para ela.

Uyara deu um passo para trás e rompeu a conexão dos dois.

O Reino da Prisão, que se abriu unicamente porque foi enganado para acreditar que seu prisioneiro estava do lado de fora, se fechou outra vez. Formando um cubo e trancando a mulher dentro dele.

Sai a deusa tirana do jogo e retorna o iluminado deus mortal.

A única pessoa que se importava com a aquele mundo o suficiente para salva-lo e tinha poder para isso.

Que comece a derrubada da Era dos Feiticeiros e o fim conquista global.

{...}

* Autora dando pulinhos de orgulho do próprio trabalho *

É isso galera! Acabou!

Não por espontânea vontade, infelizmente.

Estou iniciando meu ciclo de estudos para o vestibular que durará até o fim de novembro.

Mas ainda tenho muitas ideias para trabalhar com essa historia, começando pelo período entre a Uyara recuperar as memórias e resgate de Satoru!

Então isso não é uma despedida, é um até logo!

Muito obrigada pelo apoio de cada um que chegou até aqui!

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